De repente deixamos o continente do vasto Salmo 119 pelas ilhas e ilhotas
das "canções dos degraus". É louvável
empenhar-se em devoção longa em uma ocasião especial,
mas não se deve dar menos atenção aos sagrados atos
breves que santificam a vida piedosa no dia-a-dia. Aquele que inspirou
o salmo mais longo foi também o autor das composições
curtas que o seguem.
TÍTULO
UM CÂNTICO DE PEREGRINAÇÃO dos degraus. Já dedicamos
bastante espaço à consideração deste título
em sua aplicação a este salmo e às quatorze composições
que o seguem. Estes nos parecem ser Salmos de Peregrinos, mas não
temos certeza de que foram sempre cantados em grupo, pois muitos deles
estão na primeira pessoa do singular. Sem dúvida havia peregrinos
solitários bem como tropas que iam à casa de Deus em grupo,
e existiam hinos parar esses solitários.
ASSUNTO
Certo autor supõe que este hino foi cantado por um israelita ao
deixar sua casa para ir a Jerusalém. Ele imagina que o bom homem
tenha sofrido de calúnia de seus vizinhos, e estivesse contente
de se distanciar de seus fuxicos, e passar seu tempo nos compromissos mais
felizes das festas sagradas. Pode ser, mas esperamos que pessoas piedosas
não tenham sido tão tolas a ponto de cantar sobre seus vizinhos
maus ao se distanciar delas por uns poucos dias. Se desejavam deixar suas
casas em segurança e voltar ao lar para um ambiente simpático,
teria sido o cúmulo da tolice provocar aqueles que deixavam ali,
cantando em voz alta um salmo de queixa contra eles. Não sabemos
porque esta ode ocupa o primeiro lugar entre os Salmos dos Degraus, ou
Cânticos de Peregrinação, e preferimos não arriscar
uma conjectura nossa. Preferimos o velho sumário dos tradutores
- "Davi ora contra Doegue" - a qualquer suposição
artificial: e se foi este o cenário do salmo, vemos de imediato
porque ele ocorreu a Davi no local da arca, onde chegou para levá-la
embora. Ele vinha para conduzir a arca, e ao encontrá-la pensou
em Doegue, e derramou sua queixa a respeito dele. O autor tinha sido caluniado
terrivelmente, e se torturava de amargura pelas acusações
falsas de seus perseguidores, e aqui está seu apelo ao grande Árbitro
do certo e errado diante de cujo selo da justiça nenhum homem sofrerá
de línguas caluniadoras.
DICAS PARA O PREGADOR
VERS. 1. Uma reminiscência.
1. É tripla: aflição, oração, livramento.
2. Tem uma função tripla: estimula minha esperança,
estimula minhas petições, e suscita minha gratidão.
VERS. 1.
1. Aflição especial: "Na minha angústia".
2. Oração especial: "Eu clamo pelo Senhor".
3. Favor especial: "Ele me responde" (G. R.).
VERS. 2. Os que são difamados injustamente têm, além
da majestade vingadora de seu Deus para protegê-los, muitas outras
consolações, tais como:
1. A consciência de serem inocentes para sustentá-los.
2. A promessa de favor divino para dar-lhes apoio: "Você será
protegido do açoite da língua" (Jó 5.21).
3. Há esta consideração para amainar: "Bem-aventurados
serão vocês quando os homens os insultarem e os perseguirem".
4. O fato de a mentira geralmente não ter vida longa.
5. E finalmente, para consolo, há a influência reparadora
do tempo (R. Nisbet).
VERS. 2. Uma oração contra a calúnia. Somos sujeitos
a ela; ela quer nos fazer grande dano e nos causar grande dor; e ninguém
senão o Senhor pode proteger-nos dela, ou tirar-nos dela.
VERS. 3. As recompensas da calúnia. Quais podem ser? Que deveriam
ser? O que têm sido?
VERS. 3.
1. O que o caluniador faz a outros.
2. O que ele faz a si mesmo.
3. O que Deus fará com ele.
VERS. 4. A natureza da calúnia e o castigo do caluniador.
VERS. 4.
1. A língua é mais afiada do que uma flecha.
(a) É atirada confidencialmente.
(b) Leva veneno na ponta.
(c) É polida com aparente bondade.
(d) É apontada à parte mais sensível.
2. A língua é mais destrutiva do que o fogo. Seus escândalos
se espalham com mais rapidez. Consomem aquilo que outros fogos não
podem tocar, e são mais difíceis de ser apagados. "A
língua", diz um Apóstolo, "é um fogo...
e incendeia o curso da natureza, e é acesa no fogo do inferno."
Um dardo inflamado do maligno (G. R.).
VERS. 5. Maus alojamentos. Somente os maus podem se sentir em casa com
os maus. Nossa morada com eles é penosa, e contudo pode ser útil.
(1) Para eles.
(2) Para nós: prova as nossas graças, revela nosso caráter,
abate nosso orgulho, força-nos a orar, e faz-nos ansiar por nosso
lar.
VERS. 5.
1. Ninguém senão os maus apreciam a companhia dos maus.
2. Ninguém senão os mundanos apreciam a companhia de mundanos.
3. Ninguém senão os justos apreciam a companhia dos justos
(G. R.).
VERS. 6.
1. Companhia penosa.
2. Comportamento admirável.
3. Conseqüências indesejáveis: "Ainda que eu fale
de paz, eles só falam de guerra".
VERS. 7. O caráter do homem de Deus. Ele está em paz. Ele
é pela paz. Ele é paz. Ele terá paz.
VERS. 7.
1. Piedade e paz são unidas.
2. Também o mal e a guerra (G. R.).