Capítulo 6: Bisbilhotices

Em um canto da igreja Walton, em nossa aldeia, há um freio para bisbilhoteiras que era usado tempos atrás para segurar a língua das mulheres que causassem problemas para os maridos e para os vizinhos. Eles faziam coisas incríveis naqueles bons tempos antigos. Seria esse freio uma prova daquilo que nosso pastor chama de sabedoria de nossos ancestrais ou seria um pouco de crueldade desnecessária?


"Não é nada – apenas um abafador de mulheres", é um ditado desagradável e malicioso que, como o freio, surgiu do senso comum de que as mulheres constroem um mundo de injúrias com suas línguas. Isso é verdade ou não? João Lavrador deixará outra pessoa responder, pois ele admite que não consegue manter sozinho um segredo e, como todo mundo, gosta de um dedo de prosa; só que ele não dá importância ao caráter forte das pessoas e odeia a calúnia, que é tão doce quanto os dentes de algumas pessoas. João apresenta a questão para homens mais sábios que ele. Será que as mulheres são tão piores que os homens nesse assunto? Dizem que o silêncio é uma jóia rara em uma mulher, mas muito pouco usada. Será mesmo? Será verdade que a mulher esconde apenas o que não sabe? Será que as línguas femininas são como as caudas dos cordeiros, sempre balançando? Isso é falso ou não? Seria o velho ditado verdadeiro? "Livre-nos das armas poderosas e das línguas das mulheres". João tem uma mulher muito boa e quieta, cuja voz é tão doce que ele não consegue ouvi-la com muita freqüência e, por isso, não pode ser um juiz imparcial. Mas ele está um pouco temeroso de que logo outras mulheres preguem, em vez de orar e não precisem de chá forte para continuar batendo palmas. Contudo, todos têm os mesmos direitos, e alguns homens são tão bisbilhoteiros quanto as mulheres.


Que pena que não exista imposto para as palavras, a rainha conseguiria uma ótima renda com isso. Infelizmente, a palavra não paga imposto; as mentiras pagariam o dobro, e o governo poderia pagar a dívida nacional, mas quem conseguiria coletar o dinheiro? O boato popular é uma mentira barata. Quase sempre metade dos "ouvi dizer" são mentira. Quem conta um conto acrescenta um ponto. Da mesma forma que a bola de neve cresce conforme vai rolando, também a história aumenta. Os que falam muito mentem muito. Teríamos um mundo pacífico se os homens só dissessem a verdade. O silêncio raramente produz bisbilhotice; mas a palavra é uma praga para a igreja. O silêncio é sabedoria, portanto homens e mulheres sábios são raros. As águas calmas são as mais profundas, mas os riachos rasos os mais ruidosos. Isso mostra como temos abundância de tolos. Boca aberta é sinal de cabeça vazia. Se no baú tivesse ouro ou prata, ele nem sempre ficaria escancarado. O dom da palavra nos vem naturalmente, mas é preciso muito treino para aprender a falar mansamente; quanto à verdade, cada homem honesto deveria ter na boca um pouco dela, já na língua de cada mulher boa deveria ser colocado um freio.


Se precisamos falar, livrarão menos livremos-nos da difamação, evitando que nossas línguas fiquem feridas com a calúnia. A maledicência pode ser um esporte para os mexeriqueiros, mas é a morte para suas vítimas. Podemos cometer homicídio tanto com a língua como com a mão. O pior mal que você pode causar a um ser humano é injuriar seu caráter, conforme o quaker disse ao seu cão: "Eu não baterei em você, não abusarei de você, mas darei a você um mau nome". Nem todos para quem os cães ladram são ladrões, mas geralmente são tratados como se fossem. A maior parte das pessoas acredita que "onde há fumaça, há fogo" e que o que todo mundo diz deve ser verdade. Assim, sejamos cuidadosos para não magoar nosso próximo em um ponto tão delicado como seu caráter, porque é muito difícil desfazer o mal depois de feito; e quando um homem está na lista negra do povo dificilmente consegue sair dela. Seria melhor falar o menos possível para ter certeza de que estamos certos e para não falar de forma imprópria, porque se dividirmos os pecados humanos em dois grupos, a metade deles é pecado da língua. Se o homem não ofende com palavras, ele é perfeito e capaz de frear também todo o resto do corpo.


As bisbilhotices de homens e mulheres deixam a marca vergonhosa de mexeriquice; não sejam mais os foles do demônio soprando o fogo da discussão. Deixem de pegar as pessoas pela orelha. Se vocês não cortarem um pedaço da língua, pelo menos tempere-as com o sal da graça ao falar. Louvem mais a Deus e culpem menos os vizinhos. Qualquer ganso pode grasnar; qualquer mosca pode encontrar um lugar ferido; qualquer barril vazio pode ressoar; e qualquer arbusto espinhoso pode rasgar a carne humana. As moscas não entram pela sua garganta se você ficar com a boca fechada, da mesma forma, nenhuma palavra má sai. Pense muito, mas fale pouco; seja rápido para trabalhar e calmo para falar e, acima de tudo, peça ao Senhor para vigiar seus lábios.