Piedade "desde a juventude" em Obadias

Obadias possuiu piedade cedo--"Eu, que sou teu servo, tenho adorado o Senhor desde a minha juventude" (1Re 18.12). Ah, que todas as nossas crianças cheguem à idade adulta, homens e mulheres, e possam falar a mesma coisa! Felizes são as pessoas que estão em tal situação!

Como Obadias veio a temer o Senhor na juventude, nós não podemos saber. O instrutor por meio de quem ele foi levado à fé em Jeová não é mencionado. Contudo, é razoável concluirmos que ele teve pais crentes em Deus. Por menor que possa parecer a prova, acho que é bastante firme quando eu lhes faço lembrar seu nome. Naturalmente, deve lhe ter sido dado pelo seu pai ou sua mãe, e como significa "o servo de Jeová", creio que indicava a piedade de seus pais. Nos dias em que existia perseguição em toda parte contra os fiéis, e o nome de Jeová estava sendo desprezado porque os bezerros de Betel e as imagens de Baal estavam expostos em toda parte, não acho que pais incrédulos teriam dado ao filho o nome que significasse "o servo de Jeová", se eles não sentissem reverência diante do Senhor. Não teriam sem motivo se exposto aos comentários de seus vizinhos idólatras e à inimizade dos grandes. Numa época em que nomes significavam alguma coisa, eles o teriam chamado de "o filho de Baal", ou de "o servo de Camos", ou de qualquer outro nome que expressasse reverência aos deuses populares, se o temor de Deus não estivesse diante de seus olhos. Para mim, a escolha desse nome revela seu desejo sincero de que seu menino pudesse crescer para servir a Jeová, e nunca dobrar os joelhos diante dos detestados ídolos da rainha sidônia. Quer tenha ou não sido assim, é bem certo que milhares dos crentes mais inteligentes devem sua primeira inclinação para a piedade às doces associações do lar. Quantos de nós poderíamos ter tido um nome como o de Obadias; pois nem bem vimos a luz, nossos pais procuraram nos iluminar com a verdade. Fomos consagrados ao serviço de Deus antes de sabermos que existia um Deus. Muita oração comovida e sincera foi feita sobre nossa fronte infantil e selou-nos para o céu; fomos amamentados na atmosfera de devoção; quase nenhum dia passava sem que insistissem conosco para que fôssemos fiéis servos de Deus, e ainda jovens pediam que buscássemos a Jesus e déssemos nosso coração a ele.

Se Obadias não teve pais cheios de graça, não posso lhes dizer como ele veio a ser um crente no Senhor naqueles dias tristes, a não ser que tenha chegado a ter a companhia de algum professor bondoso, alguma ama gentil, ou talvez um bom servo na casa de seu pai, ou quem sabe um vizinho piedoso, que ousou reunir criancinhas à sua volta e contar-lhes sobre o Senhor Deus de Israel. Alguma santa mulher pode ter instilado a lei do Senhor em sua mente juvenil antes que os sacerdotes de Baal pudessem envenená-la com suas mentiras. Nenhuma menção é feita em relação à conversão desse homem em sua juventude, e não faz mal, faz? Você e eu não queremos ser mencionados se nós somos servos de Deus de coração correto.

Essa piedade juvenil de Obadias teve as marcas da sinceridade. O modo como ele a descreveu é bastante instrutivo. "Tenho adorado o Senhor desde a minha juventude." Quase não me lembro em minha vida toda de ter ouvido a piedade de crianças descrita em conversa comum nesses termos, mas é expressão comum nas Escrituras. Nós dizemos: "A criança querida amava a Deus." Falamos delas "ficarem tão felizes" etc., e não questiono se a linguagem está certa; o Espírito Santo fala do "temor do Senhor" como sendo "o princípio da sabedoria"; e Davi diz: "Venham crianças, ouçam-me: eu lhes ensinarei o temor do Senhor." As crianças receberão muita alegria pela sua fé no Senhor Jesus, mas, essa alegria, se é verdadeira, está cheia de reverência humilde e admiração pelo Senhor.

Nem é preciso que eu lhes fale das vantagens da piedade vir cedo. Vou, no entanto, fazer um resumo. Ser crente em Deus cedo na vida é ser salvo de mil arrependimentos. Esse indivíduo nunca precisará dizer que leva nos ossos os pecados de sua mocidade. Desde cedo, a piedade nos ajuda a formar associações importantes para o resto da vida e também nos salva daquelas que são prejudiciais. O moço cristão não cairá nos pecados que são comuns aos homens novos, e não estragará a saúde de seu corpo com excessos. Provavelmente, se casará com uma mulher cristã, e assim terá uma companheira santa em sua marcha em direção ao céu. Escolherá como compa-nheiros aqueles que serão seus amigos na igreja e não no bar; seus ajudantes na virtude, e não seus tentadores no vício. Muita coisa depende de quem escolhemos como companheiros quando começamos a vida. Se começamos em má companhia, é difícil mudar. O homem levado a Cristo cedo na vida tem essa vantagem, ele é ajudado a formar hábitos santos e é salvo de se tornar escravo dos hábitos contrários. Hábitos logo se tornam parte de sua natureza; formar novos é difícil; mas aqueles formados cedo na vida permanecem na velhice. Tem sentido o verso:

É mais fácil começar,
Conforme Cristo disse;
Quem se acostuma a pecar
Não muda na velhice.

Estou certo de que é assim. E mais, noto que, com freqüência, aqueles que são levados a Cristo quando novos crescem na graça mais rapidamente, mais prontamente do que outras pessoas. Não têm tanta coisa para desaprender, e nem têm um peso tão grande de antigas memórias para carregar. Essas pessoas escapam das cicatrizes e feridas abertas que vêm de ter passado anos a serviço de Satã, porque Deus as traz para sua igreja antes de terem andado longe no mundo.

Por isso, recomendamos a piedade cedo na vida. A graça fica mais bonita nos jovens. Aquilo que não seria notado no homem crescido nos chama a atenção imediatamente quando visto numa criança. A graça numa criança tem uma força convincente; o infiel larga a arma e admira. Uma palavra dita por uma criança fica na memória, e sua naturalidade no jeito toca o coração. Quando o sermão do ministro falha, a oração da criança pode obter vitória. E mais, a religião nas crianças sugere encorajamento àqueles de anos mais maduros; pois outros, vendo o pequeno salvo dizem de si para si: "Por que nós também não vamos achar o Senhor?" Com um certo poder secreto isso abre portas fechadas, e dá uma volta na chave na fechadura da descrença. Onde nenhuma outra coisa pode ganhar entrada para a verdade, o amor de uma criança realiza isso. Ainda é verdade: "Da boca de pequeninos e crianças de peito suscitaste força, por causa dos teus adversários, para fazeres emudecer o inimigo e o vingador" (Sl 8.3).