Capítulo 12: Uma lição-modelo para professores

Ensine-lhes moralidade: "Guarde a sua língua do mal e os seus lábios da falsidade. Afaste-se do mal e faça o bem; busque a paz com perseverança" (Sl 34.13-14). Ora, não ensinamos moralidade como o caminho para a salvação. Deus nos livre de algum dia misturarmos as obras do homem com a redenção que está em Cristo Jesus! "Pois vocês são salvos pela graça, por meio da fé, e isto não vem de vocês, é dom de Deus" (Efésios 2.8). Contudo, ensinamos moralidade enquanto ensinamos espiritualidade; e sempre descubro que o evangelho produz a melhor moralidade. Eu prefiro um professor de Escola Dominical vigilante sobre a moral dos meninos e meninas de quem cuidam, que fale com eles particularmente sobre os pecados que são mais comuns entre a criançada. Ele poderá dizer às crianças honesta e convenien-temente muitas coisas que ninguém mais pode dizer, especialmente quando faz com que eles se lembrem do pecado da mentira, tão comum às crianças, ou do pecado do pequeno roubo, da desobediência aos pais, da quebra do dia do Senhor. Preferiria que o professor fizesse muita questão de mencionar esses males um por um; pois pouco adianta falar-lhes sobre males em grande quantidade; é preciso mencioná-los um a um, assim como Davi fez. Primeiro cuide da língua: "Guarde a sua língua do mal e os seus lábios da falsidade" (Sl 34.13). Depois cuide da conduta inteira: "Afaste-se do mal e faça o bem; busque a paz com perseverança" (Sl 34.14). Se a alma da criança não está salva por outras partes do ensino, esta parte pode ter um efeito benéfico sobre a vida dela, e até aí tudo bem. A moralidade, no entanto, por si só, é uma coisa comparativamente pequena. A melhor parte daquilo que você ensina é a piedade divinamente inspirada. Muitas pessoas são religiosas de certo modo, sem serem piedosas. Muitas têm todas as marcas externas da piedade, todo o lado de fora da piedade; a essas pessoas chamamos de "religiosos", mas elas não têm o pensamento certo com respeito a Deus. Pensam sobre seu lugar de culto, seu domingo, seus livros, mas nada sobre Deus. Quem não respeita a Deus, nem ora a Deus, nem ama Deus, é uma pessoa ímpia, qualquer que seja sua religião externa. Trabalhe para ensinar a criança a ter sempre um olho voltado para Deus; faça com que ela grave na memória estas palavras: "Tu me vês, ó Deus." Faça com que se lembre de que cada ato e pensamento dela é visto por Deus. Nenhum professor de Escola Dominical cumpre sua obrigação a não ser que frise sempre o fato de que há um Deus que tudo observa. Deveríamos ser mais piedosos, conversarmos mais sobre a piedade, e a amarmos mais.

A terceira lição é o mal do pecado. Se a criança não aprender isso, ela nunca aprenderá o caminho para o céu. Nenhum de nós sabia o que Cristo Salvador era até sabermos que coisa terrível é o pecado. Se o Espírito Santo não nos ensinar a grande pecaminosidade do pecado, nós nunca conheceremos a bem-aventurança da salvação. Busquemos a graça do Santo Espírito, então, quando ensinamos, para que possamos sempre ser capazes de dar ênfase à natureza abominável do pecado. "O rosto do Senhor volta-se contra os que praticam o mal para apagar da terra a memória deles" (Sl 34.16). Não poupe sua criança; deixe-a saber a que o pecado leva. Não tenha medo, como têm algumas pessoas, de falar claramente sobre as conseqüências do pecado. Ouvi falar de um pai que tinha um filho muito ímpio, e foi levado de modo bem repentino.

Ao contrário do que algumas famílias fariam, o pai, vencendo seus sentimentos naturais, pela graça divina, reuniu seus filhos e lhes disse: "Meus filhos, o irmão de vocês morreu; temo que esteja no inferno. Vocês conheciam sua vida e conduta, viram como se comportou; e agora Deus o apanhou em seus pecados." Então, ele lhes contou solenemente sobre o lugar do infortúnio em que acreditava - sim, quase tinha certeza que ele tinha ido, implorando que eles o evitassem, e fugissem da ira vindoura. Assim, ele foi o meio de levar seus filhos a um pensamento sério; mas tivesse ele agido, como alguns teriam feito, com ternura de coração, mas sem honestidade de propósito, e dito que esperava que seu filho tivesse ido ao céu, o que as outras crianças teriam dito? "Se ele foi para o céu, então não precisamos temer; podemos viver como quisermos." Não, não; eu mantenho que não é falta de cristandade dizer de alguns homens que eles vão para o inferno, quando já vimos que suas vidas eram infernais. Mas, pergunta-se: "Você pode julgar seus semelhantes?" Não, mas posso conhecê-los pelos seus frutos. Eu não os julgo, nem os condeno; eles julgam a si mesmos. Já vi seus pecados irem a juízo de antemão, e não duvido que eles seguirão atrás. "Mas não podem ser salvos na décima primeira hora?" Eu soube de uma pessoa que foi, mas não sei se isso aconteceu com outras pessoas, e não posso dizer que haverá outra algum dia. Seja honesto, pois, com seus filhos, e ensine-os, com a ajuda de Deus, que "o mal matará os maus".

Mas isso não é tudo e você não terá feito o suficiente se não ensinar cuidadosamente a quarta lição--a necessidade absoluta de uma mudança de coração. "O Senhor está perto dos que têm o coração quebrantado e salva os de espírito contrito" (Sl 34.18). Ah! possa Deus capacitar-nos para conservarmos isso constantemente na mente dos que são ensinados, que é preciso haver um coração quebrantado e um espírito contrito, que boas obras de nada valerão a não ser que haja um arrependimento verdadeiro e total do pecado, e um abandono completo do pecado pela graça e misericórdia de Deus! Se precisar escolher, tenha a certeza de ensinar às crianças os três "r"--ruína, redenção e regeneração. Diga às crianças que a ruína deles veio pela queda e que há salvação para eles somente com o ser redimido pelo sangue de Jesus Cristo, e regenerado pelo Espírito Santo. Conserve constantemente diante deles essas verdades vitais porque assim terá a tarefa agradável de lhes contar o doce assunto da lição do final.

Em quinto lugar, então, fale às crianças sobre a alegria e bênção de ser cristão. "O Senhor redime a vida dos seus servos; ninguém que nele se refugia será condenado. Quem nele confia não ficará desolado" (Sl 34.22). Não preciso falar como você deve tratar deste assunto; pois, você sabe o que é ser cristão. Quando nos aprofundamos neste assunto, nossa mente não pára de trabalhar. Como disse o salmista: "Como é feliz aquele que tem suas transgressões perdoadas e seus pecados apagados!" (Sl 32.1). "Como é feliz o homem que põe no Senhor a sua confiança" (Sl 40.4). Sim, feliz é o homem, a mulher, a criança que confia no Senhor Jesus Cristo e que nele espera. Enfatize sempre este ponto - que os justos são pessoas abençoadas, que a família escolhida de Deus, redimida pelo sangue e salva pelo poder, são pessoas abençoadas aqui na Terra, e que eles serão abençoados para sempre lá no Céu. Faça com que suas crianças vejam que você também pertence a este grupo. Se eles sabem que você está com problemas, se possível, apresente-se diante de sua sala com um sorriso em sua face, para que seus alunos possam dizer: "O professor é um homem abençoado, embora esteja enfrentando problemas". Regozije-se sempre para que seus meninos e meninas saibam que sua religião é uma realidade abençoada. Que esse seja o ponto principal de seu ensino, que embora "o justo passa por muitas adversidades", porém, "o Senhor o livra de todas; protege todos os seus ossos; nenhum deles será quebrado. O Senhor redime a vida dos seus servos; ninguém que nele se refugia será condenado" (Sl 34.19, 20, 22).

Falamos aqui de dei cinco lições, e, com toda instrução que você possa dar a suas crianças, todos precisam estar profundamente conscientes de que não são capazes de fazer nada na aquisição da salvação da criança, mas que é Deus que, do começo ao fim, precisa efetuar toda ela. Você é simplesmente uma caneta; Deus pode escrever com você, mas você não pode escrever nada. Você é uma espada; Deus pode com você matar o pecado da criança, mas você não pode matá-lo. Esteja, portanto, sempre consciente disso, de que primeiro você precisa ser ensinado por Deus e, depois, você precisa pedir a Deus que o use para ensinar; porque a não ser que um professor que lhe seja superior trabalhe com você, e instrua a criança, a criança deve perecer. Não é a sua instrução que pode salvar a alma de suas crianças; é a bênção de Deus, o Espírito Santo, acompanhando seus labores. Possa Deus abençoar e coroar seus esforços com sucesso abundante! Ele o fará se você instar em oração, for constante nas súplicas. Até hoje, nunca o professor ou pregador "trabalhou em vão no Senhor", e muitas vezes se viu que o pão lançado sobre as águas foi encontrado após muitos dias.