E havia ali um oficial do rei, cujo filho estava doente em Cafarnaum. Quando ele ouviu falar que Jesus tinha chegado à Galiléia, vindo da Judéia, procurou-o e suplicou-lhe que fosse curar seu filho, que estava à beira da morte. Disse-lhe Jesus: "Se vocês não virem sinais e maravilhas, nunca crerão". O oficial do rei disse: "Senhor, vem, antes que o meu filho morra!". Jesus respondeu: "Pode ir. O seu filho continuará vivo". O homem confiou na palavra de Jesus e partiu. Estando ele ainda a caminho, seus servos vieram ao seu encontro com notícias de que o menino estava vivo. Quando perguntou a que horas o seu filho tinha melhorado, eles lhe disseram: "A febre o deixou ontem, à uma hora da tarde". Então o pai observou que aquela fora exatamente a hora em que Jesus lhe dissera: "O seu filho continuará vivo". Assim, creram ele e todos os de sua casa. (Jo 4.46-53)

Essa narrativa ilustra a ascensão e progresso da fé na alma. Enquanto tento falar dela, oro para que possamos seguir a pista de modo experimental, com o desejo de semelhante fé subir ao coração, fazendo progresso em nosso espírito, e se torne mais forte em nós do que era nesse oficial do rei. A questão em pauta, meus irmãos, não é só ouvir dizer a respeito dessas coisas, mas repeti-las na alma de cada um de vocês. Queremos levar a efeito um negócio sério, e tornar as coisas de Deus questões sólidas e práticas para nós mesmos: não somente saber a respeito desse oficial em Cafarnaum, ou a respeito de qualquer outra pessoa, mas ver na nossa alma a mesma obra da graça operada neles. O mesmo Cristo vivo está aqui conosco, e temos tão grande necessidade da sua ajuda quanto esse oficial já teve. Que possamos buscá-la como ele a buscou, e achá-la como a achou! Assim o Espírito Santo, que inspirou essa narrativa diante de nós, será achado reescrevendo-a, não nas páginas de um livro, mas nas tábuas de carne, no coração de cada um de nós.

Observem, portanto, já no início, que a aflição levou a Jesus essa personagem da corte. Se tivesse vivido sem provações, poderia ter esquecido do seu Deus e Salvador, mas a tristeza chegou à sua casa -- e se tratava do anjo de Deus sob disfarce. Pode ser, caro amigo, que você esteja passando aflições agora; e, se for assim, oro para que a aflição seja o cavalo negro que leve a misericórdia montada sobre si até a porta. Alguns homens têm o seguinte jeito triste e lastimável: tanto melhor o Senhor lida com eles na Providência, quanto pior seu comportamento diante dele. Por outro lado, há corações que se voltam ao Senhor quando ele os fere. Quando acabam levados às águas profundas, quando dificilmente acham pão para comer, quando a doença ataca-lhes o corpo, e especialmente quando seus filhos são feridos, então começam a pensar em coisas melhores, principalmente em Deus. A disciplina imposta pelo grande Pai é abençoada nesse caso. Fica bem para os aflitos, se a tribulação fere o coração a ponto do arrependimento, e o arrependimento os leva a buscar perdão e achá-lo.

A forma específica da provação que visitou esse oficial do rei foi a doença do filho. Tinha um filhinho -- a quem amava com ternura -- e ele estava acamado com febre mortífera. O pai parece ter sido uma pessoa naturalmente bondosa e afetuosa. Talvez seus servos sentissem muita simpatia por ele, e na aflição doméstica que o afligia, pois vocês podem observar com que disposição foram ao encontro dele, a fim de informar-lhe da recuperação do filho. O coração do pai estava tristemente ferido porque seu filho querido estava à morte. Com certeza, ele teria usado todos os remédios então conhecidos, e mandado buscar todo médico que pudesse ser achado a vários quilômetros de Cafarnaum; e agora, tendo ouvido falar de Jesus de Nazaré, que em Caná transformara água em vinho, e em Jerusalém operara muitas obras poderosas, recorre a ele com ardente petição como última esperança. Talvez nunca tivesse pensado em procurar Jesus se não fosse o menininho querido que estava morrendo. É muito freqüente que os filhos, embora não sejam anjos, são usados para fazer obras melhores que as realizadas pelos anjos; pois docemente levam seus pais a Deus e ao céu! Eles conseguem envolver totalmente nosso coração, e depois, se os virmos adoecer, e notarmos suas dores, nosso coração de compaixão é contorcido de angústia, e clamamos: "Ó Deus, poupa meu filho! Senhor, tem misericórdia do meu pequenino!". As primeiras orações provenientes de muitos corações são ocasionadas (segundo a Providência de Deus), pelas aflições pelos pequeninos, muitíssimo amados. Não está escrito: "E uma criança os guiará" (Is 11.6b). Foi assim com este homem; foi levado a Jesus pela aflição; conduzido a Jesus pela ansiedade a respeito de uma criança. Estou convencido, neste momento, de que falo a certas pessoas não-convertidas, mas que vieram para cá por estarem sofrendo grande tristeza: possivelmente uma criança querida esteja definhando, e seu coração esteja clamando a Deus, pedindo que, se ele permitisse, essa vida preciosa fosse poupada. Na casa de oração sentem-se um pouco consolados; mas o coração está se partindo pela perda tão temida. Quanto oro a nosso Senhor para tornar essa aflição um meio de graça!

A provação era a ocasião, o prefácio à obra da graça divina. Agora passamos a examinar a parte salvífica, ou seja: a fé nascida no coração desse oficial. Perscrutaremos, em primeiro lugar, a centelha da fé; e depois, o fogo latejante da fé -- abafado com muita coisa empilhada, a ponto de ser mais fumaça que fogo. Em terceiro lugar, examinaremos a chama da fé, ou a fé que, depois de algum tempo, se evidencia de modo decidido; e, em quarto lugar, a conflagração da fé, quando a fé, finalmente, ardia com força no homem, acendendo toda a sua natureza, e se propagou por sua família: "Creram ele e todos os de sua casa.". Repito: procuremos seguir na prática este estudo e não somente na meditação.

 

I. Quero que você note com cuidado a centelha da fé, dizendo, durante o tempo todo: vou examinar e ver se tenho semelhante centelha da fé; e se eu a achar, vou prezá-la grandemente, e orarei para que o Espírito Santo sopre suavemente sobre ela, para que venha a ser algo mais permanente e poderoso.

A fé desse oficial baseava-se, de início, inteiramente no relato de terceiros. Ele morava em Cafarnaum, lá embaixo, à beira do mar da Galiléia; e entre os novidadeiros era assunto o surgimento de um profeta operador de grandes maravilhas. Ele mesmo nunca vira Jesus, nem o ouvira falar; mas acreditava no relatório dos outros; e tinha razão de fazer assim, por serem pessoas dignas de crédito. Sem dúvida, muitas pessoas estão nas etapas iniciais da fé: ouviram seus amigos dizer que o Senhor Jesus acolhe pecadores, remove o pecado, acalma a consciência, transforma a natureza, atende a oração, sustenta os seus na hora da aflição. Essas coisas ouviram falar da parte de amigos de boa reputação, os quais têm em alta estima, e por isso acreditam neles. Amigo, você está dizendo a si mesmo: "Não duvido da veracidade de tudo isso, mas fico imaginando se algum dia se tornará verdade no meu caso. Estou aflito; o Senhor Jesus me ajudará? Tenho no momento pressões sobre meu espírito: fazer-lhe uma oração me aliviará?". Você não pode dizer, com base em algo já visto nele, que Jesus o abençoaria desse modo, mas infere que ele o fará, com base no que seus amigos lhe dizem. Pois bem: a fé muitas vezes começa dessa maneira. Os homens acreditam no relato feito por pessoas conhecidas que experimentaram o poder do amor divino, e assim, no começo, acreditam por causa do relato da mulher. Em tempos posteriores, virão a crer por causa de terem ouvido, visto, provado e tocado, por conta própria; mas o começo já é bom. Essa fé, proveniente de um relato alheio, é uma centelha genuína. Zele por ela. Deus lhe conceda graça para orar a respeito, de modo que a centelha se transforme em chama!

Observe que essa fé era tão pequena que somente dizia respeito à cura da criança doente. O oficial não sabia da necessidade de cura do próprio coração; não percebia sua ignorância a respeito de Jesus, nem a própria cegueira no tocante ao Messias; talvez não soubesse da imperiosidade do nascer de novo; sequer entendia que o Salvador pudesse lhe dar vida e luz espirituais. Tinha pouco conhecimento do poder espiritual do Salvador, e assim sua fé tinha alcance bem estreito. O que acreditava mesmo, era que o Senhor Jesus, se visitasse a casa dele, impediria seu filho de morrer de febre. Chegara até esse ponto; e a fé que possuía foi colocada imediatamente em uso prático. Amigo, você ainda não sabe quão grande é meu Senhor, e quais coisas maravilhosas ele faz a favor dos que nele confiam; mas você diz: "Certamente ele pode me ajudar nesta manhã na prova presente, e me livrar da dificuldade atual". Isto é muito bom, como começo. Empregue a fé já possuída. Leve diante do Senhor a provação da hora. Quero encorajá-lo a fazer assim. Se não puder vir até ele buscando coisas celestiais, comece, por enquanto, pelas tristezas e provações da terra; se não puder vir até ele pedindo a bênção eterna, peça um favor passageiro, e ele estará pronto a ouvi-lo. Embora sua oração dissesse respeito meramente a coisas terrestres, e ela seja nada mais que uma oração natural, ore mesmo assim, pois "[Ele dá alimento] aos filhotes de corvos quando gritam de fome" (Sl 147.9), e estou certo de que eles não fazem orações espirituais. Tudo o que os corvos conseguem pedir é minhocas e moscas, mas Deus não deixa de os atender e alimentar; e você, sendo humano, embora nesta ocasião ore pela misericórdia muito corriqueira, por uma bênção menor, pode orar, não obstante, se tiver alguma fé no Senhor gracioso. Embora a fé seja mera centelha, e nada mais, eu não desejaria apagá-la; e o Senhor Jesus não a apagará, porque disse que não apagaria o pavio fumegante (Is 42.3). Se você sentir o mínimo desejo por ele, ou tiver algum grau de fé nele, deixe-o viver, e leve-o aos pés do Mestre amado.

A fé do oficial era tão fraca que restringia o poder de Jesus à presença local. Por isso, sua oração era: "Senhor, vem, antes que o meu filho morra!". Se ele conseguisse induzir o Senhor Jesus a entrar no quarto onde o menino doente estava acamado, acreditava que o Senhor falasse à febre e ela fosse aliviada; mas não tinha a mínima idéia de que o Senhor Jesus Cristo pudesse operar à distância de quarenta quilômetros; não tinha nenhuma noção de que a palavra do Senhor pudesse operar à parte da sua presença. Melhor, porém, era ter fé limitada a não ter fé. Vocês, filhos de Deus, quando consideram limitado o Santo de Israel, são culpados de pecado grave; mas se quem busca o Senhor for achado atribuindo limitações a ele, por ignorância ou por fraqueza na fé, fica mais desculpável. O Senhor Jesus trata isso de modo gracioso, e o remove mediante suave repreensão. O iniciante ser fraco na fé e cair na desconfiança não é o mesmo que vocês com longa experiência de fruição da bondade de Deus. Por isso lhes digo, entre os quais o Senhor está começando a operar, se não tiverem mais fé do que simplesmente: "O Senhor Jesus poderia me curar se estivesse aqui; o Senhor me ajudaria, e responderia ao meu clamor, se estivesse aqui" -- é melhor ter semelhante fé que ser incrédulo. Sua fé estreita limita-o grandemente, e o encerra em um lugar muito apertado; e por isso, não espera que ele realize muitas obras poderosas a seu favor; no entanto, ele irá com vocês até a medida da sua fé e os abençoará. Como a questão da graça soberana não prometida, ele pode até fazer muito mais que você pede ou até mesmo pensa. Por isso, eu trataria sua fé como uma criancinha: eu a pajearia até conseguir ficar em pé sozinha, e estenderia meu dedo para ajudá-la até seus passos cambaleantes se firmarem. Não culpemos o nenê por não poder correr ou pular, mas o tratemos com carinho, e o encorajemos a ficar cada vez mais forte; e, no devido tempo, chegará a ter forças. Nosso Senhor Jesus Cristo merece a máxima fé da parte de cada um de nós. Não o entristeçam por suspeitar de sua capacidade. Entreguem a ele a fé que têm, e peçam mais.

A fé no Senhor Jesus Cristo, embora fosse mera centelha, não deixou de influenciar esse oficial. Levou-o a empreender uma viagem considerável para achar o Senhor. De Cafarnaum, subiu pelas colinas até Caná, a fim de poder implorar a Jesus. E foi pessoalmente. Isso é mais notável por ser um homem de categoria e posição. Não sei se era Cuza, mordomo de Herodes. Não me causaria estranheza se ele o fosse, pois não recebemos notícia de outra família da nobreza estar ao lado de Cristo; mas temos registro da esposa de Cuza, mordomo de Herodes, ministrando ao Senhor com seus bens. Ouvimos falar de Manaém, que fora criado com Herodes. Pode ter sido um destes; não sabemos; mas a nobreza era raridade na igreja naqueles dias; como, na realidade, também agora. Esperamos, naturalmente, receber mais notícias de uma pessoa como esta; e já que temos menção honrosa destas duas, não seria precipitação nossa imaginar que esse oficial pudesse ser um deles. Ora, os nobres não pensam, via de regra, em empreender viagens por conta própria, por terem tantos servos à disposição; mas este oficial veio pessoalmente a Cristo, e implorou-lhe a cura do filho. Se você tem fé fraca em certos aspectos, porém forte o suficiente no relato dos outros para levá-lo pessoalmente a Cristo, e a orar pessoalmente a ele, trata-se de fé aceitável.

Se sua fé levá-lo a orar ao Senhor de todo o coração, rogando a ele, sua fé é do tipo certo. Se levá-lo a implorar a Cristo por misericórdia, trata-se da fé que salva a alma. Pode ser tão pequena como um grão de mostarda, mas sua inconveniência revela a pungência -- é mostarda verídica. Cavalheiro, você está começando a orar nesta ocasião por causa da tristeza? No silêncio da alma, você exclama: "Ó Deus, salva-me hoje! Vim a Londres a fim de tratar de outros assuntos, e entrei aqui esta manhã sem o ter planejado; que seja este o dia em que seja ajudado a sair da minha aflição, e eu mesmo seja salvo?". Se a sua fé o levar a orar, ela é filha reconhecida da graça; pois a fé realmente nascida sempre chora. Se a fé o ajudar a agarrar em Jesus com resoluta firmeza, dizendo: "Não te deixarei ir, a não ser que me abençoes" (Gn 32.26), pode se tratar de fé pequena, mas verdadeira. É operada na alma pelo Espírito de Deus, e trará consigo uma bênção. Você será salvo por ela, para a maior glória de Deus, e para seu consolo.

Noto como a fé desse homem o ensinou a orar do modo certo. Repare no argumento empregado: rogou-lhe que fosse curar o filho à beira da morte. Não apresentou nenhum mérito, mas pleiteou a grande tristeza do caso. Não disse que o menino era de nascimento nobre -- teria sido uma maneira péssima de persuadir Jesus; nem insistia tratar-se de uma criança belíssima -- este teria sido um argumento muito insuficiente; mas pleiteou que o filho estava à beira da morte. Sua extremidade era a razão para a urgência: a criança estava às portas da morte; por isso, o pai implora a abertura da porta da misericórdia. Quando você, meu amigo, for ensinado pela graça a orar corretamente, apresentará com urgência os fatos que revelam seu perigo e aflição, e não os que o levariam a parecer rico e justo. Lembre-se como Davi orou. "Senhor", disse, "perdoa o meu pecado, que é tão grande!" (Sl 25.11). Isso é petição evangélica. A maioria dos homens teria dito: "Senhor, perdoa meu pecado, pois ele foi desculpável, e de modo nenhum chegou à hediondez do meu próximo". Davi sabia melhor. Seu clamor é: "Perdoa o meu pecado, que é tão grande!". Pleiteie diante de Deus, miserável pecador, o grande vulto da sua necessidade, a calamidade do seu mister; diga que está à beira da morte, que a questão a respeito da qual pleiteia é de vida ou morte: esse argumento tem a certeza de comover o coração de compaixão infinita. Qualquer matiz de bondade que o orgulho acrescentaria ao quadro, acabaria por estragá-lo; aplique as cores negras em tríplice camada bem grossa. Pleiteie com Deus por amor à sua misericórdia, pois a misericórdia é o único atributo divino ao qual você pode se dirigir enquanto for um pecador não perdoado. Não peça ao Senhor que o abençoe por algum merecimento ou mérito possuído, pois você não tem o mínimo sinal de nada semelhante; mas seria aconselhável implorar com base nas suas necessidades. Clame: "Ó Deus, tem misericórdia de mim, pois preciso de misericórdia!". Declare a situação do seu filho, e diga: "Pois ele está à beira da morte". É esta a chave que abre a porta da misericórdia.

Meus caros ouvintes, vocês não-convertidos, estão acompanhando esse pensamento? Existe em você algum desejo, pelo menos, de vir ao Senhor Jesus Cristo, embora apenas porque uma aflição temporária esteja lhe fazendo dolorosa pressão? O cavalo não precisa de uma dúzia de esporas para levá-lo a correr. E a que agora fere sua ilharga já é bastante afiada, e está afundada ali de tal maneira que forçosamente a sente. Renda-se a ela, a fim de não haver necessidade do chicote, além da espora, para levá-lo a se mexer. Se você for um dos escolhidos do Senhor, terá que vir, e quanto mais prontamente o fizer, tanto melhor lhe será. Venha imediatamente. Não seja como o cavalo ou o burro, que não têm entendimento (Sl 32.9); mas venha a Jesus enquanto ele o atrai suavemente. Embora seja com fé tão fraca que receie ser mais incredulidade que fé, não deixe de se aproximar dele. Venha como está, levante os olhos a Jesus, e ore; pois na oração haverá esperança, ou, melhor, certeza do alívio. O grande coração de Jesus sentirá sua oração, e dirá: "Pode ir em paz".

 

II. Assim, vimos a fé na forma de centelha; agora examinaremos o fogo da fé, que se esforça para se manter, e que aumenta paulatinamente. Vejamos como o fogo arde sem chama, e a matéria empilhada começa a fumegar, de modo revelador do fogo lá dentro.

A fé desse homem era legítima, dentro das suas limitações. Isso é um grande elogio para ele. Ficou em pé diante do Salvador, com a firme resolução de não se afastar dele; sua única esperança para a vida do filho achava-se nesse grande Profeta de Nazaré, e por isso não pretendia deixá-lo antes de ter o pedido atendido. Não recebeu, de início, a resposta que queria, mas persevera, e continua implorando. Isso demonstrava que sua fé continha coração e vitalidade. Não era veneta, nem impulso repentino, mas a convicção genuína do poder de Jesus para curar. Que bênção é estar livre da fé falsificada! É melhor ter fé pequena, mas genuína, que possuir um grande credo, porém não dar ao Senhor Jesus nenhum crédito de todo o coração. Diga-me, ouvinte, você tem fé real e prática no Senhor Jesus?

O oficial dentro das suas limitações tinha fé genuína: mas era prejudicada pelo desejo de sinais e maravilhas. Por isso, o Senhor a repreendeu suavemente, dizendo: "Se vocês não virem sinais e maravilhas, nunca crerão". Ora, sei que muitos de vocês acreditam que o Senhor Jesus pode salvar, mas vocês fixaram na mente o modo pelo qual teria de fazê-lo. Vocês andaram lendo determinadas biografias religiosas, e descobriram que determinado homem foi levado ao desespero, tinha pensamentos horríveis, e assim por diante; por isso, vocês resolvem na própria mente que terão horrores semelhantes, ou estarão perdidos. Vocês determinam como deverão ser salvos, ou de modo nenhum. Isso é certo? Isso é sábio? Vocês pretendem ditar ordens ao Senhor?

É possível que tenham lido ou ouvido que certas pessoas eminentes foram convertidas por meio de sonhos singulares, ou por atuações notáveis da Providência, e que digam a si mesmos: "Algo igual deve acontecer comigo, senão, não crerei no Senhor Jesus". Nisto, vocês erram de modo semelhante ao oficial real. Esperava que o Salvador descesse à sua casa, e realizasse algum ato peculiar ao cargo profético. Na realidade, esse oficial é a reprodução, no Novo Testamento, de Naamã, do Antigo Testamento. Vocês se lembram como Naamã disse: "Eu estava certo de que ele sairia para receber-me, invocaria em pé o nome do Senhor, moveria a mão sobre o lugar afetado e me curaria da lepra" (2Rs 5.11). Naamã planejara tudo na própria mente, e por certo previa uma teatralização muito adequada e artística; e, portanto, quando o profeta disse simplesmente: "Vá e lave-se sete vezes no rio Jordão", ele não queria acolher um evangelho tão singelo e sem ornatos; era por demais corriqueiro, por demais livre do ritual. Muitas pessoas, por meio dos preconceitos mentais, gostariam de limitar o Senhor da misericórdia a tal e tal modo de salvá-las; mas o Senhor não nos permite sujeitá-lo a tamanho constrangimento; por que o deveria? Ele salvará a quem quiser, e da maneira que quiser. Seu evangelho não é: "Sofram tanto horror e desespero, e vivam"; mas, "Crê no Senhor Jesus Cristo, e será salvo". Ele vem a muitas pessoas, e as chama de modo eficaz, pelos sussurros doces do seu amor: é só confiar nele, e entrar na paz espiritual imediata. Com pouco sentimento notável, horrível, extático, exercem na quietude a confiança, como de criança, no Senhor crucificado, e acham a vida eterna. Por que isso não acontecerá com você? Para que vai se manter longe do consolo espiritual, para determinar tal e tal programa, e exigir que o Espírito livre e soberano preste atenção a ele? Deixe-o salvar do modo que ele mesmo determina. Fora com os preconceitos tolos!

Mesmo assim, há um elogio que podemos fazer a respeito da fé do oficial do rei: ele conseguiu sobreviver a uma repreensão. É só pensar que o Mestre respondeu a esse pobre pai angustiado: "Se vocês não virem sinais e maravilhas, nunca crerão". Era a triste verdade, mas soava muito franca e honesta. Oh, os amados lábios de Jesus; são sempre como lírios, gotejando mirra de cheiro doce! A mirra, vocês sabem, é amarga ao gosto, e parecia haver amargura nas palavras dirigidas ao oficial; mas o pai não abriu mão da petição, nem se virou para ir embora, dizendo: "Ele me trata duramente". Disse para si mesmo: "Para quem irei?", e por isso não foi longe. Era como a mulher para quem os lábios do Senhor gotejaram uma porção mais pungente de mirra, ao dizer: "Não é certo tirar o pão dos filhos e lançá-lo aos cachorrinhos". No entanto, ela achou o cheiro doce naquela mirra, e perfumou sua oração com ela ao responder: "Sim, Senhor, mas até os cachorrinhos comem das migalhas que caem da mesa dos seus donos" (Mt 15.26,27). A resposta desse oficial do rei a nosso Senhor foi mais inconveniência. Ele não iria embora; de jeito nenhum! Oh, querido, que você tenha tamanha fé em Cristo que, embora ele o repreendesse, você não desistirá dele. Imite John Bunyan quando falou palavras mais ou menos assim: "Fui forçado a uma situação tão angustiosa que tive necessariamente que ir a Jesus; e se ele me recebesse com uma espada desembainhada na mão, teria preferido lançar-me contra o fio dela a ser afastado dele; pois eu sabia ser ele minha última espe-rança". Ó alma, apegue-se ao Senhor, aconteça o que acontecer!

Veja, então, com quanta paixão esse homem pleiteou. Exclamou: "Senhor, vem, antes que o meu filho morra"; foi como se tivesse dito: "Senhor, não me questione neste momento a respeito da minha fé. Ó meu Senhor, rogo-te que não penses nada a meu respeito, mas cura meu filho querido, ou ele morrerá! Ele estava à beira da morte quando o deixei: desce rapidamente para o salvar". Essa fé era limitada, porque ainda pede que Cristo desça para lá, e parece considerar essencial que o Senhor faça a viagem até Cafarnaum para realizar a cura; mas note quão intensa, sincera, perseverante era sua petição. Se a fé faltava na profundidade, superava na força. Caro amigo ansioso, mantenha-se bem perto do exemplo que agora está diante de nós. Ore, e ore de novo; continue se mantendo firme, e agüente; continue clamando, e clame em voz alta; não cesse até o Senhor do amor lhe conceder a resposta que traz a paz.

 

III. Chegamos à etapa superior, e observamos a chama da fé. A centelha aumentou a ponto de ser um fogo que arde sem chama, e agora o fogo se revela em chamas. Observe que Jesus disse a quem lhe dirigiu a petição: "Pode ir. O seu filho continuará vivo". E o homem creu mesmo, e seguiu caminho.

Note, aqui, que ele creu na palavra de Jesus mais que em todos os preconceitos anteriores. Imaginara que Cristo pudesse curar se descesse a Cafarnaum; mas agora acredita, mesmo Jesus permanecendo onde está, e apenas por sua palavra. Amigo, você está disposto a crer, neste momento, no Senhor Jesus Cristo tendo por base somente sua palavra? Sem determinar regras quanto ao modo de ser salvo, você confiará nele? Você receita convicções sombrias, sonhos vívidos, sensações estranhas? Quer cessar semelhante estultícia? Quer crer em Jesus Cristo como ele é revelado nas Escrituras? Ele pode salvá-lo agora mediante a simples confiança nele. Não ouviu falar da sua paixão e morte na cruz a favor dos culpados? Não ouvir dizer que todo tipo de pecado e iniqüidade serão perdoados aos homens se crerem nele? Não sabe que quem nele crê tem a vida eterna? Quer acabar com sua tolice a respeito de "Desce e me salva", ou: "Faz-me sentir isso ou aquilo, e crerei em ti?". Quer crer nele agora, a despeito de todos os seus pensamentos, pretensões e desejos anteriores, e disser, apenas: "Confiarei a Cristo a minha alma, e crerei que ele poderá me salvar?". Você será salvo tão seguramente quanto assim confia.

A coisa seguinte que esse homem fez para comprovar a sinceridade da fé foi obedecer imediatamente a Cristo. Jesus lhe disse: "Pode ir (ou vá para casa). O seu filho continuará vivo". Se o homem não tivesse acreditado nessa palavra, teria se demorado ali, e continuaria implorando e procurando sinais favoráveis; mas já que creu, fica satisfeito com a palavra do Senhor, e segue o caminho sem mais nada dizer. "O seu filho continuará vivo", basta para ele. Muitos de vocês têm dito, depois de ouvir o evangelho pregado: "Você nos manda crer em Cristo; mas nós continuaremos na oração". Não é assim que o evangelho lhes ordena. Ouço dizerem: "Continuarei a ler minha Bíblia, e a atender aos meios da graça?". Esse não é o preceito do Salvador. Você não está satisfeito com sua palavra? Não quer aceitar a palavra, e seguir seu caminho? Se crer nele, seguirá o caminho em paz: crerá que ele o salvou, e agirá como quem sabe ser a verdade. Você se alegrará e regozijará no fato de ser salvo. Não parará para criticar, nem para questionar, e seguir todos os tipos de experiências e sentimentos religiosos; mas você exclamará: "Ele me manda crer, e eu creio nele. Ele diz: 'Quem crê em mim tem a vida eterna' (Jo 6.47); e creio mesmo nele, e por isso tenho a vida eterna. Talvez não sinta nenhuma emoção específica, mas tenho a vida eterna. Quer eu veja minha salvação, quer não, estou salvo. Está escrito: 'Voltem-se para mim e sejam salvos, todos vocês, confins da Terra' (Is 45.22). Senhor, olhei, e estou salvo. Minha razão para crer é que tu assim falaste. Fiz como me mandaste, e guardarás tua promessa". Esse modo de raciocinar deve-se ao Senhor Jesus. Merece receber crédito quanto à sua palavra, e confiança bem sincera.

Agora, a fé desse oficial realmente se tornou uma chama. Não acreditou meramente em um relato, mas na palavra de Jesus. Não espera o sinal, mas escuta a palavra, e nela coloca a confiança. Jesus disse: "Pode ir. Seu filho continuará vivo"; e ele volta, a fim de achar seu filho com vida. Ó alma que busca, que Deus, o Espírito Santo, a leve imediatamente a esse estado, a fim de poder dizer agora: "Ó Senhor, não esperarei mais por qualquer tipo de sensação, evidência ou sinal, mas confiarei na palavra selada no teu sangue tudo que sou eternamente, pois agora aceito tua promessa, e por crer nela, seguirei em paz pelo caminho".

Apesar disso, sou obrigado a dizer a respeito da fé desse homem nesta etapa que, ainda está um pouco aquém do que poderia ter sido. Era coisa maravilhosa ter progredido tanto, mas ainda faltava mais distância para percorrer. Esperava menos do que poderia ter esperado, e por isso, quando viu seus servos, perguntou-lhes quando o filhinho querido começou a passar melhor. Ficou cheio de júbilo quando praticamente disseram: "Não começou a melhorar; a febre o deixou de uma só vez; recuperou-se à uma hora da tarde". Vocês percebem que ele esperava uma restauração paulatina. Aguardava o decurso comum da natureza; mas aqui havia uma obra miraculosa. Recebeu muito mais do que contava. Quão pouco sabemos a respeito de Cristo, e quão pouco cremos nele mesmo quando confiamos! Medimos seus tesouros ilimitados segundo a medida das nossas bolsas parcas. No entanto, a fé que nos salva nem sempre alcança estatura total: há lugar para crermos mais e para esperarmos mais da parte do nosso bendito Senhor. Quem dera que fizéssemos assim!

Mas aqui ainda quero mencionar algo mais, embora eu não o entenda bem; talvez vocês possam discerni-lo. O pai viajou com a despreocupação da confiança. A distância para Cafarnaum era de uns quarenta ou cinqüenta quilômetros, e não duvido que o bom homem tenha começado a viagem imediatamente após o Mestre ter dito: "Pode ir". Sem dúvida, partiria imediatamente, em obediência à ordem, e progrediria pela estrada até sua casa. Mas lemos que seu servos vieram a seu encontro. Começaram a viagem tão logo a criança foi curada? Se fosse assim, poderiam ter encontrado com ele pela metade do caminho, ou algo assim. Para eles, era uma subida pelas colinas: podemos imaginar, portanto, que percorreram dezesseis quilômetros; e que os vinte e quatro ou trinta sobraram para o oficial percorrer. Os servos disseram: "A febre o deixou ontem, à uma hora da tarde". Uma hora da tarde era a "sétima hora" do dia romano, e aquele dia era "ontem". Sei que o dia se encerrava no pôr-do-sol, mas dificilmente alguém falaria em "ontem" sem a intervenção de uma noite. O oficial levou quinze ou dezesseis horas para empreender aquela viagem parcial? Se for assim, não viajou com velocidade excessiva. É verdade que quarenta quilômetros é uma boa viagem para um camelo, porque no Oriente as estradas são execráveis; mas, mesmo assim, realmente me parece que o pai feliz se movimentava com a calma do crente em vez de a pressa do pai ansioso.

O progresso comum de um oficial por meio das aldeias era lento, e ele não alterou o ritmo, porque daria a aparência de pressa já que sua mente repousava na fé. Sentia-se bem certo de que o filho passasse bem, e por isso a febre da ansiedade se afastou do pai, como a febre deixara o filho. A mente ansiosa, ainda quando acredita, tem pressa para ver, mas esse bom homem sentia tanta segurança que não permitiu que o amor de pai o levasse a agir como se restasse alguma sombra de dúvida. Está escrito: "Aquele que confia, jamais será abalado" (Is 28.16); e nele, isso foi literalmente cumprido. Ele prosseguiu viagem no mesmo estilo esperado de um funcionário do palácio real, acompanhado por um séqüito condigo, e assim, todos podiam ver que sua mente estava despreocupada no tocante ao filho. Gosto dessa quietude consagrada; é adequada para a fé sólida. Quero que todos vocês, quando crerem em Jesus Cristo, creiam completamente. Não ofereçam a fé pela metade, mas íntegra; quer no tocante a uma criança, ou a respeito de si mesmo, creia com toda a sinceridade. Digo: " 'Seja Deus verdadeiro, mas todo homem mentiroso'(Rm 3.4). Minha alma repousa na sua palavra. Vou 'descansar no Senhor, e esperar com paciência por ele'. E se nenhum júbilo raia pelo meu espírito? Deus disse: 'Quem crê em mim tem a vida eterna' (Jo 6.47); e por isso tenho vida eterna. E se eu não me levantar de um só pulo e começar a dançar de alegria? Mesmo assim, ficarei sentado, quieto, e cantarei na minha alma, porque Deus visitou seu servo fiel. Não vou esperar até regozijos elevados chegarem até mim, mas, entrementes, confiarei, e não terei medo".

Meu amigo, você está me acompanhando em tudo isso? Está disposto a exercer, dessa maneira, confiança substancial e revigorante em Jesus?

 

IV. A fé desse oficial do rei já cresceu, mas agora a veremos tornar-se a conflagração da fé. Enquanto voltava para casa, seus servos foram a seu encontro, levando boas novas. Na quietude da fé, deleitou-se quando lhe disseram que seu filho estava vivo. O recado veio a ele como o eco da palavra de Jesus. "Ouvi isso", disse ele, "ontem, à uma hora da tarde; pois então Jesus disse: 'O seu filho continuará vivo'. Outro dia chegou, e eis que meus servos me saúdam com a mesma palavra: 'O seu filho está vivo'". A repetição deve tê-lo deixado atônito. Noto muitas vezes no tocante à pregação da Palavra, como as frases impressionam vocês, mesmo as próprias palavras, quando Deus as abençoa. As pessoas me dizem: "O senhor disse a mesmíssima coisa que estávamos conversando no caminho para cá; descreveu nossos casos até o pormenor dos nossos pensamentos, e mencionou certas expressões que tínhamos empregado em nossa conversa; seguramente, Deus estava falando por seu intermédio". Sim, não raro é dessa forma; a própria palavra de Cristo é muito ecoada na boca dos seus servos comissionados. A Providência do Senhor governa as palavras da mesma forma que as ações, e leva as pessoas a falar as palavras certas sem saber por que as dizem. Deus está tão graciosamente onipresente que todas as coisas o revelam, quando são ordenadas a assim fazer.

Agora, a fé do oficial do rei é confirmada pela resposta às orações. Sua experiência contribuiu para confirmar a fé. Ele crê, no sentido mais garantido que antes. Viu comprovada a veracidade da palavra do Senhor, e por isso sabe e é persuadido de que ele é Senhor e Deus. A fé do pecador que vem a Cristo é uma coisa; a fé do homem que já foi a Cristo, e obteve a bênção, é outra coisa, mais forte. A primeira fé, a mais simples, é a que salva; mas a fé adicional leva ao espírito consolo, alegria e forças.

"Minha oração foi atendida", diz ele; e então conversa com os servos, e, mediante a obtenção de informações, sua fé foi sustentada por todos os pormenores. Ele exclamou: "Contem-me tudo a respeito: quando foi?". Quando lhe responderam: "A febre o deixou ontem, à uma hora da tarde", lembrou-se de que, naquele mesmo momento, estava lá em Caná, acima das colinas, o Senhor Jesus Cristo que dissera: "Pode ir. O seu filho continuará vivo". Quanto mais ele estudava o caso, mais maravilhoso se tornava. Os pormenores confirmavam de modo singular sua confiança, e por meio deles, galgou a fé mais nítida e firme. Irmãos, quantas confirmações assim alguns de nós temos recebido! Os que duvidam, procuram argumentar contra nós por causa das singelezas do evangelho; e querem lutar conosco no próprio fundamento do raciocínio especulativo. Cava-lheiro, isso não é propriamente justo em nosso caso. Nosso fundamento é de tipo bem diferente. Não somos estranhos aos assuntos da fé, mas adeptos nela; e você deve creditar algo à nossa experiência pessoal da fidelidade do Senhor Deus. Temos mil lembranças acalentadas de pormenores felizes, que não podemos contar-lhes. Não os chamamos "porcos", mas, ao mesmo tempo, não ousamos lançar nossas pérolas diante de vocês. Temos um grande número de coisas armazenadas; mas não podemos repeti-las, pois nos são demasiadamente sagradas; por isso, não podemos usar em argumento as razões que, para o nosso coração, são mais convincentes. Temos mais argumentos do que optamos a pôr em debate em um tribunal público. Não se surpreendam se parecermos obstinados; vocês não sabem quão intensa é a nossa segurança. E não conseguirão nos tirar, por argumentos, da nossa consciência interna; não surtiria mais efeito que tentar tirar nossos olhos das órbitas mediante argumentos. Nós sabemos, e temos certeza; pois temos visto, e ouvido, e provado, e manuseado a boa Palavra do Senhor. Certas coisas estão tão entrelaçadas com nossa vida, que elas nos servem de âncora. "Coincidências", dizem vocês. Pois bem! digam o que quiserem; para nós, não são a mesma coisa! Nossa alma tem clamado, vez após outra: "Isto provém do dedo de Deus". Um homem ajudado a sair de uma aflição muito severa não pode se esquecer do seu libertador. Você responde: "Que felizardo para sair desta?". Ó cavalheiro, essa observação me parece ser bastante desalmada!

Se você tivesse passado pela situação que passei, e experimentado o que experimentei, você reconheceria o fato de o Senhor estender sua mão, e salvar seu servo; você teria a mesma convicção solene que tenho: Deus estava presente, operando a salvação. Sei que não posso criar em você essas convicções por lhe contar a minha. Se você está resoluto no sentido de não crer, não aceitará meu testemunho, mas me consideraria uma pessoa iludida, embora eu não tenha mais tendência de ser iludido que você. No entanto, se você se dispõe a crer ou descrer, eu não estou em semelhante hesitação. Sinto-me obrigado a crer, pois quanto mais cuidadosamente examino minha vida, tanto mais convicto fico de que Deus deve ter operado em mim e a meu favor.

No mesmo momento em que Cristo disse: "O seu filho continuará a viver", o filho do oficial do rei realmente viveu; a mesma palavra que Jesus usou a falar com o pai, foi também usada pelos servos que tinham ficado a quarenta e oito quilômetros de distância e, por isso, o pai sentia convicção de que alguém mais do que um ser humano tivera contato com a sua vida. Você se maravilha disso? Além disso, o menino querido, a quem o pai achou com saúde e passando bem, era um argumento poderoso. Você não poderia, com argumentos, tirar o pai da fé que lhe dera tamanha alegria. A criança estava à beira da morte, mas então a fé acolheu a palavra do Senhor Jesus, e então a febre fugiu. O pai devia crer: você queria que ele duvidasse?

Fortalecido na fé pela experiência, tendo crido exclusivamente na palavra de Jesus, o bom homem agora vê a palavra cumprida, e crê em Jesus no sentido mais pleno; crê no tocante a tudo; para seu corpo, e para sua alma; para tudo que ele é, e para tudo que ele possui. A partir daquele dia, torna-se discípulo do Senhor Jesus. Ele o segue, não somente como o que Cura, Profeta ou Salvador, mas como seu Senhor e Deus. Sua esperança, fé e confiança se fixam em Jesus como o verdadeiro Messias.

O que se segue é tão natural, porém tão jubiloso, que oro que venha a ser uma realidade para todos vocês: sua família também acredita. Quando ele chega em casa, sua esposa lhe vem ao encontro. Oh, quanto deleite brilha nos olhos daquela mulher! "O menino querido está passando bem", disse ela, "ele está tão bem quanto já estive em toda a sua vida. Não precisou ficar de cama durante semanas a fim de recuperar as forças depois da influência enfraquecedora da febre; mas a febre se foi totalmente, e ele passa bem. Oh, meu marido querido, que Ser maravilhoso deve ser o que atendeu às suas orações, e de tão grande distância deu a palavra para nosso filho ser curado! Creio nele, marido; creio nele!". Estou certo de que ela teria falado daquele jeito. Os mesmos processos mentais que operaram no seu marido também tinham operado nela. Agora, pensem no menino. Aqui vem ele, tão feliz e animado; e o pai lhe conta tudo a respeito daquela febre, e como foi ver o maravilhoso Profeta em Caná, e como este disse: "O seu filho continuará vivo". O menininho exclama: "Pai, creio em Jesus. Ele é o Filho de Deus". Ninguém duvida da fé da querida criança: ele não era jovem demais para ser curado, e ele não é jovem demais para crer. Desfrutou de uma experiência especial, mais pessoal que a dos pais. Sentira o poder de Jesus; e não era de admirar que tenha crido. Entrementes, o pai se regozija porque não será um crente solitário, pois ali estão sua esposa e seu filho também confessando sua fé. Mas isso não é o fim da questão, porque os servos ao redor exclamam: "Senhor, não podemos deixar de crer em Jesus, também; pois observamos a criança querida, e o poder que a curou era forçosamente divino".

Todos eles seguem o exemplo da fé em Jesus dado pelo senhor. "Fiquei sempre acordada ao lado do menino querido", diz a velha babá; "nem queria pegar no sono, pois pensava que se adormecesse, poderia achá-lo morto ao acordar. Fiquei observando-o, e exatamente à uma hora da tarde vi uma mudança deliciosa passar por ele, e a febre o deixou". "Glória seja a Jesus!", exclamou a idosa: "Nunca vi semelhante coisa, nem ouvi falar dela; é o dedo de Deus". Os demais servos eram da mesma opinião. Família feliz! Houve um grande batismo pouco depois, onde todos foram confessar a fé em Jesus. Não somente foi curada a criança, mas a família inteira foi curada. O pai não sabia, quando foi pleitear socorro para o menino, que ele mesmo precisava ser salvo; a mãe, também, provavelmente ficasse pensando somente no filho; mas agora a salvação chegara à família inteira, e a febre do pecado e da incredulidade sumira com a outra febre. Que o Senhor opere semelhante maravilha na casa de todos nós! Se alguém entre vocês geme sob o fardo da aflição, confio que receba tamanho alívio que, quando contar à sua esposa a respeito, ela também crerá em Jesus. Que a querida criança dos seus cuidados creia em Jesus enquanto ainda pequena; e que todos quantos fazem parte do seu círculo doméstico também pertençam ao Senhor divino! Concede, nessa hora, o desejo do teu servo, ó Senhor Jesus, por amor à tua glória! Amém.