Este sinal miraculoso, em Caná da Galiléia, foi o primeiro que Jesus realizou. Revelou assim a sua glória, e os seus discípulos creram nele (Jo 2.11).

Nesta ocasião, não considerarei o relacionamento desse milagre com a abstinência total. O vinho que Jesus fez era vinho bom, e era feito de água; não temos a probabilidade de encontrar algo assim neste país, em que o vinho é raras vezes feito do suco puro de uvas, e não se sabe quem o fez, e de que é feito. O que agora é chamado vinho é um líquido muito diferente do que nosso Senhor produziu divinamente. Usamos nossa liberdade cristã para nos abster do vinho, e julgamos que o Salvador aprovaria nossa abstinência do que, nos dias atuais, faz o irmão tropeçar. Nós, que deixamos de lado o copo inebriante dos nossos dias, temos nossos modos de considerar a ação do Mestre nesse caso, e não achamos difícil ver nela sabedoria e santidade; mas ainda que não pudéssemos interpretar assim o que ele fez, não ousaríamos questioná-lo. Onde os outros levantam objeções, nós adoramos. Mesmo esse tanto que falei é mais do que pretendia; pois meu objetivo nesta manhã está muito longe dessa controvérsia. Estou seguindo um tema espiritual, e oro, pedindo socorro do alto para tratá-lo de modo correto.

Achamos esse milagre somente em João; Mateus, Marcos e Lucas não têm uma só palavra dele. Como João veio a conhecê-lo? Parcialmente, por estar presente; mas a parte introdutória, com referência à mãe de Jesus, pensamos, chegou-lhe de outra maneira. Lembrem-se das palavras do Senhor, dirigidas, do alto da cruz, a João, e como está escrito: "Daquela hora em diante, o discípulo a recebeu em sua família" (Jo 19.27). Acredito que ninguém conhecia a palavra dirigida por Jesus à sua mãe senão a própria Maria. Foi segundo o modo delicado dele, de emitir uma palavra de dedicação a ela somente. Mas quando João e a respeitada mãe conversavam, posteriormente, ela, com toda a probabilidade, o fez lembrar do milagre, e contou-lhe do engano dela. Os santos recebem coisas preciosas da parte dos servos de Deus, pobres e provados; e os que acolhem a viúva e o órfão não passarão sem recompensa. Se minha conjectura for correta, vejo a santa modéstia da "mãe de Jesus" -- que narrou a própria falta, e não proibiu João de mencioná-la. O Espírito Santo inspirou o evangelista a registrar, não somente o milagre, mas também o erro de Maria. Foi sábio; pois trata-se de um argumento conclusivo contra a noção de que a mãe de Jesus possa interceder a nosso favor com seu Filho, e exercer autoridade com ele. Fica evidente nessa narrativa que nosso Senhor não toleraria semelhante idéia, quer na mente dela, quer na nossa. "Que temos nós em comum, mulher?", é uma sentença que soa o toque fúnebre de qualquer conceito de nosso Senhor ser afetado por qualquer grau de parentesco segundo a carne. Jesus, com todo o respeito amoroso, mas de modo muito decidido, exclui toda a interferência da parte de Maria; pois seu reino devia ser segundo o espírito, e não segundo a carne. Deleito-me em acreditar, no tocante à mãe de Jesus que, apesar de incorrer em um erro natural, ela não persistiu nele, nem por um instante; e, ainda, não o escondeu de João, mas provavelmente tenha tido o cuidado de o contar-lhe, a fim de nenhum outro chegar a cair em erro semelhante por ter dela um conceito impróprio.

Nunca se esqueça de que a "mãe de Jesus" tinha fé muito firme e prática no Filho, a respeito de quem os anjos e os profetas testemunharam a ela. Ela o tinha visto na infância, e observado quando ele era menino; e não deveria ter sido fácil crer na divindade de quem pegara no colo para amamentar no peito. Ela cria nele desde o momento do nascimento maravilhoso, e agora, ao receber um tipo de repulsa da parte dele, sua fé não enfraquece; mas, com toda a calma, volta-se para os servos e os manda ficar de prontidão para obedecer às ordens dele, sejam quais forem. Ela sentia, com toda a certeza, que ele faria a coisa mais bondosa e necessária. Mesmo valendo-se das palavras de Jesus: "A minha hora ainda não chegou", é provável que ela tenha entendido que sua hora chegaria mesmo. Sua fé era acompanhada por imperfeições, mas era do tipo certo. Perseverava debaixo das dificuldades; e no fim, foi triunfante, pois o vinho que estivera em falta voltou a ser sobejante, e o que ele providenciou foi de qualidade imbatível. Tenhamos fé que consiga sobreviver a uma repreensão. Que possamos cantar, como Maria: "O meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador" (Lc 1.47); e que Jesus seja para nós, como era para ela -- o amado digno de confiança, em quem a alma aprendeu a esperar em confiança. Com esse objetivo, adoto esse assunto para meu sermão. Quem dera que os discípulos confiassem nele cada vez mais! João disse, em outro lugar, no tocante às ações do Senhor: "Mas estes foram escritos para que vocês creiam que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus e, crendo, tenham vida em seu nome" (Jo 20.31). Realmente, posso dizer que este sermão é pregado a fim de que meus ouvintes amados possam crer no Senhor Jesus e ser salvos.

Consideraremos três coisas referentes ao texto: primeira: a relevância desse primeiro sinal miraculoso. Entendendo o "sinal miraculoso" no sentido de um milagre que é um sinal, e ficamos perto do significado original. Esse "primeiro sinal miraculoso" visava, assim como todos os demais que se seguiram, a ser um sinal instrutivo. Em segundo lugar, observemos seu aspecto especial como manifestação: "Revelou assim a sua glória". E depois, em terceiro lugar, sua suficiência como confirmação da fé:

"E os seus discípulos creram nele". O Senhor tinha o propósito de estabelecer-lhes a fé, e assim fez.

 

I. Para começar, pensemos na relevância desse primeiro sinal miraculoso. Que o Espírito Santo ajude graciosamente nossos pensamentos, e aqueça-nos o coração!

O primeiro sinal miraculoso operado por Cristo foi a transformação de água em vinho na festa de casamento em Caná da Galiléia; é comum julgar a carreira de um homem pelo início, e o começo é muitas vezes a chave do que se segue; assim podemos aprender o teor dos milagres de nosso Senhor com base neste.

Note, primeiro, que esse milagre revelou sua abnegação. Nosso Senhor tinha ficado, uns dias antes, no deserto e, depois de quarenta dias de jejum, estava com fome. Tinha poder para ordenar que as pedras se tornassem em pães; e se o tivesse feito, o primeiro sinal miraculoso teria sido um milagre operado para atender às próprias necessidades. Mas esse começo não teria sido semelhante ao decurso da sua vida e, em especial, teria sido bem diferente do fim dela, quando foi dito a seu respeito: "Salvou os outros, mas não é capaz de salvar a si mesmo!" (Mt 27.42). Não queria fazer pão para si mesmo, mas fará vinho a favor dos outros; e o fato de que foi vinho, e não pão, que ele fez, torna o milagre mais notável. Não fez mero pão para os homens -- uma necessidade; foi além, e fez para eles vinho, que é um luxo, embora sequer pão quisesse fazer para si mesmo. Vocês percebem o nítido contraste entre a recusa de ajudar a si mesmo, que seja uma crosta de pão, e a disposição de dar aos homens, não somente o necessário para a vida, mas também o necessário, apenas, para sua alegria. Quando faltou vinho, o único perigo era que a noiva e o noivo ficassem magoados, e a festa de casamento desonrada; nosso Senhor impediu esse acontecimento. Não permitiu que a humilde festa de dois aldeões terminasse antes do tempo, depois de tão bondosamente lhe terem convidado e a seus discípulos. Recompensou-lhes a cortesia com generosidade espontânea. Quão grandemente devemos admirar nosso Senhor divino! Vejam sua generosidade! Nele não há nada de egoísmo. Cada um de nós pode exclamar: "Ele me amou, e se entregou por mim". Entregou a vida pelas pessoas -- deu tudo de si aos outros. Nenhum propósito egoísta manchou sua vida consagrada. Para si mesmo não reservou nenhuma medida nem grau de poder: em prol dos outros empregou seu poder sem reservas. Este primeiro sinal milagroso é demonstração de uma operação altruísta. A consideração pelo próximo brilhou naquele milagre, como o sol no céu.

Em seguida, observe que o milagre foi marcado com beneficência. Era "o primeiro sinal miraculoso", e o primeiro é a nota tônica para os demais: somos benditos porque o primeiro milagre está cheio de bênção! Moisés começou sua obra no Egito com um milagre de juízo. Lançou no chão uma vara, e ela se tornou em serpente; e transformou água em sangue: mas Jesus venceu a serpente com a vara das Escrituras, e transformou água em vinho. Ele não operou nenhuma praga, mas sarou nossas enfermidades. Bendito Mestre,

A missão de Jesus é uma obra de felicidade, e por isso tem início com uma festa de casamento; a intenção dela é trazer júbilo e alegria ao coração pesaroso, e assim começa pelo ato de munificência real. Nas ocasiões de coroação de reis, os encanamentos de Cheapside conduzem vinho, e aqui, os potes para água ficaram cheios até a borda com vinho. Todos os milagres a partir de então eram benéficos. É verdade que ele fez murchar uma figueira infrutífera, mas era um ato benéfico murchar a árvore que atraía as pessoas para fora do caminho mediante falsas promessas de frutos, de modo que provocavam amargas dores de decepção para os viajantes famintos que passavam mal. Foi grande vantagem ensinar a todos nós a lição prática de sinceridade, uma despesa tão grande paga pela perda de uma árvore imprestável. Todas as ações do Senhor para com as pessoas estão repletas de benevolência e graça reais. Haverá um dia em que o Cordeiro ficará irado, e, como Juiz, condenará os ímpios; mas enquanto durar a presente dispensação, ele é para nós todo misericórdia, amor, bondade e munificência. Se você, meu ouvinte, quiser vir até ele, verá que o coração dele se estenderá até você; e ele o abençoará livremente com vida, repouso, paz e alegria. O Senhor o abençoará, e tirará de você a maldição.

O primeiro sinal miraculoso foi operado em uma festa de casamento para demonstrar grande beneficência. O casamento era a última relíquia do paraíso deixada entre os homens, e Jesus ficou bem disposto a honrá-lo com seu primeiro milagre. O casamento é ordenança do Pai, pois foi ele quem levou Eva a Adão; e nosso Senhor operava em harmonia com o Pai. Tocou simbolicamente nas próprias fontes da humanidade, e sancionou essa ordenança mediante a qual a raça é perpetuada. Jesus compareceu em um casamento, e deu sua bênção ali, a fim de que saibamos que a vida familiar está sob seus cuidados. Quanto mais devemos às alegrias dos relacionamentos domésticos! É dessa maneira que a vida é transformada da água para o vinho. Às vezes pensamos que era quase a comprovação da divindade do cristianismo, que pudessem existir lares tão felizes como são alguns dos nossos lares, pela presença de nosso querido Senhor, a quem convidamos à nossa festa de casamento, e que a partir de então nunca foi embora, mas permanece conosco todos esses anos felizes. Foi um milagre, ao honrar o casamento, a confirmação dessa instituição cheia de felicidade para nossa raça.

E, em seguida, era um milagre muitíssimo compassivo. Os milagres do Senhor foram operados, um por um, para atender a uma necessidade. O vinho falhara na festa do casamento, e nosso Senhor interveio no momento da aflição, quando o noivo tinha receio de passar vergonha. A necessidade foi uma grande bênção. Se tivesse havido vinho suficiente para a festa, Jesus não teria operado o milagre, e os hóspedes nunca teriam provado deste vinho melhor e mais puro. Abençoada é a necessidade que dá ensejo para Jesus intervir com milagres de amor. É bom sofrermos falta, para sermos obrigados a recorrer ao Senhor na necessidade, pois ele fará mais que supri-la. Meu caro ouvinte, se não tiver nenhuma necessidade, Cristo não virá até você; mais se sofrer necessidade calamitosa, sua mão se estenderá. Se suas necessidades ficarem diante de você como cântaros gigantes, ou se sua alma estiver tão cheia de mágoa quanto os cântaros depois de repletos de água até a borda, Jesus pode, mediante sua doce vontade, transformar toda a água em vinho -- os suspiros em cânticos. Alegre-se por ser muito fraco, pois assim o poder de Deus repousa sobre você. Quando a mim, estou cada vez mais dependente do Senhor para cada partícula de força, e meus diáconos e presbíteros sabem quão freqüentemente nos domingos de manhã, antes de subir ao púlpito, dou graças a Deus porque é assim. Estou feliz por ser totalmente dependente do Senhor, e por ter tamanho fracasso quanto ao vinho natural ma minha capacidade, que possa haver ocasião para meu Senhor acudir e suprir o vinho da fortaleza, de qualidade diferente e mais divina. Temos mais probabilidade de fazer melhor nosso trabalho quando mais sentirmos nossa insuficiência e, assim, somos levados a recorrer a Deus com o pedido de ajuda. Se nos dirigirmos do modo desajeitado ao serviço, fracassaremos; mas se formos com pouca confiança em nós mesmos, mas olhando com confiança para o Senhor, seremos mais que vencedores. Se tivermos uma grande necessidade, se algo essencial se esgotou, se tivermos a probabilidade de sermos desprezados pelo fracasso, tenhamos, pela fé, a expectativa de que o Senhor Jesus nos trará o livramento. Com esse milagre entendendo que o Senhor olha para as necessidades do homem, e não para suas posses. Ele enxerga nossos misteres e necessidades, e faz da nossa aflição a plataforma sobre a qual manifesta sua glória ao suprir todas as nossas necessidades.

Além disso, não posso deixar de notar quão condescendente era esse milagre! Duas vezes a narrativa nos conta que foi realizado em Caná da Galiléia. O fato é mencionado duas vezes, para que o observemos bem. Nosso Senhor não escolheu os lugares proeminentes de Jerusalém, nem as cidades notáveis da Palestina, como cenário do primeiro milagre; mas foi em uma aldeia quieta na Galiléia dos gentios, distrito muito desprezado, e ali operou o primeiro milagre na cidade dos juncos e caniços -- lá mesmo em Caná da Galiléia. Realizou o sinal, não em uma ocasião religiosa e sagrada, e não diante dos eclesiásticos e cientistas. Alguns parecem imaginar que todas as realizações do Senhor devem ser feitas em igrejas e catedrais. Não, não; esse milagre foi realizado em uma casa particular, e mesmo assim, não em uma reunião de oração, nem em um encontro de leitura bíblica, mas no casamento de camponeses pobres, cujos nomes nem foram citados. Veja como Jesus se condescende dos lugares comuns da vida, e derrama uma bênção no lado secular de nossa existência!

Quem ofereceu a festa eram pessoas de parcos recursos. O vinho não teria se esgotado tão rapidamente se tivessem sido ricos. É verdade que vieram à festa sete pessoas mais do que esperavam; mesmo assim, se os anfitriões fossem ricos, teriam mais que o suficiente para satisfazer a sete hóspedes adicionais; isso porque os orientais mantinham as portas abertas para quase todas as pessoas durante a semana do casamento. Não se tratava, de modo algum, de uma festa entre a aristocracia, nem de uma reunião dos notáveis de Israel. Por que nosso Senhor não começou os milagres diante do rei, ou do governador, ou pelo menos na presença do sumo sacerdote, dos escribas e dos mestres da lei? Nosso Senhor optou por não fazer seu primeiro apelo aos grandes e aos dignitários. Sinto muito consolo nesse fato: para mim, é doce consolo que sua vinda a indivíduos corriqueiros. Você e eu, quanto à posição social e às riquezas, podemos estar bem embaixo na classificação; mas Jesus condescende às pessoas de condição humilde. Aos lugares corriqueiros como essa região de Newington, no lado sul do Tâmisa, o Senhor veio visitar seu povo; aqui, também, tem realizado suas transformações, e muitas vidas diluídas passaram a ser ricas e plenas mediante sua graça.

Meu caro ouvinte, Jesus pode vir a você, embora seja um simples servente, ou empregado, ou camelô, ou esposa de artífice. Nosso Senhor ama os pobres. É grande freqüentador de casas pobres. Não vem para as grandes ocasiões; mas faz sua habitação com os humildes. Ele está repleto de condescendência.

Este primeiro milagre foi muito munificente. No casamento, não multiplicou os pães; mas lidou com um luxo, e regozijou o coração deles com o que era igual ao sangue puro da uva. Quando nosso Senhor alimentou a multidão no deserto, ele poderia ter dado um pedaço de pão a cada um, para evitar que passassem fome; mas ele nunca faz as coisas como se lidasse com mendigos ou com pessoas em um instituto de trabalhos forçados, e por isso acrescentou peixes, para formarem um lanche com o pão. Nosso Senhor não somente outorga existência, mas a existência feliz -- a vida verdadeira. Ele não dá aos homens apenas o suficiente para suas necessidades, mas também dá até o grau superior que chamamos fruição. Aqui, transforma água boa e saudável em uma bebida mais doce, mais rica, mais nutritiva; talvez saibamos pouco a respeito de quão verdadeiramente boa e sustentadora a bebida feita por Deus era para quem teve o privilégio de provar dela. Nosso amado Mestre dará a todos os seus seguidores uma alegria indizível e cheia da glória. Não somente terão graça bastante para viver por ela, com pouca capacidade para ter esperança e prestar serviço; mas beberão do "vinho envelhecido bem refinado", e então terão graça com que possam cantar, graça para se regozijar, graça para os encher da certeza da salvação, e para levá-los a transbordar de deleite. Nosso Amado não somente nos levou à casa do pão, mas também ao banquete do vinho. Temos o céu aqui embaixo. Jesus não distribui a graça por conta-gotas, como os laboratórios fazem com seus remédios, mas dá liberalmente; seus vasilhames ficam cheios até a borda. E a qualidade é tão notável como a quantidade: ele oferece o melhor do melhor -- alegrias, embevecimentos e êxtases. Ó minha alma, em que mesa real estás assentada! Ele a carrega diariamente de benefícios.

Que milagre gracioso este foi! Quão espontâneo e sem constrangimento! Jesus não precisava de pressões para operá-lo! Maria não devia interferir. Fique para trás, mulher virtuosa; pois o Senhor sabe que necessidade existe, sem dizer a ele. Caro amigo, talvez você pense que precisa orar até completar determinada quantidade; mas o Senhor está muito mais disposto a dar, do que você está para orar. Não é sua oração que o deixará disposto a abençoá-lo; porque ele está disposto, mesmo agora, para fazer você muito mais abundante do que pedir ou até mesmo pensar.

Para a obtenção do suprimento de vinho, é digno de nota que nada foi requerido da parte dos homens senão o que era muito simples e fácil. Apressem-se, servos obedientes, para buscar água; é só tirá-la do poço; derramem-na nos grandes potes para água; é só isso que vocês têm que fazer! O Senhor Jesus não chega até nós com situações severas e condições exigentes. Nem sonhem que, para ser salvos, vocês precisem fazer ou sentir alguma coisa grandiosa. Assim como estão, poderão crer em Jesus para a vida eterna. Tenham fé suficiente para tirar a água mediante a ordem dada pelo Senhor, e ficarão atônitos diante da existência do vinho onde antes somente havia água. O Senhor, pelo seu Espírito, pode transformar seu coração, e renovar seu espírito, de modo que, onde existia somente um pouco de pensamento natural, haverá vida e sentimento espirituais. Ele fará assim sem pressão e persuasão. A graça é livre. Jesus tem coração de ternura para com os pecadores necessitados: a lança o abriu, uma oração o tocará.

O primeiro milagre foi profético. Em um casamento, nosso Senhor começa seus sinais; tudo chegará ao término em uma festa de casamento. A história da Bíblia termina como os contos bem contados -- casaram-se, e viveram felizes para todo o sempre: quanto à comprovação disso, leia o Livro do Apocalipse. Nosso Senhor virá para celebrar as bodas entre si mesmo e sua igreja, e todo o vinho que beberão naquela festa sublime será providenciado por ele mesmo, e toda a alegria e bem-aventurança será dada por ele. Ele é o sol no céu; ele é a glória dos glorificados. Ele cuidará para que, durante a era milenar, sim, e durante toda a eternidade, a alegria dos seus escolhidos nunca falhe; mas se regozijarão em Deus e em nosso Senhor sem medida e sem limites.

Nosso Senhor começou por esse milagre especial, como para nos mostrar que viera para cá a fim de transformar e transfigurar todas as coisas; de cumprir a lei e todos os seus tipos, e de colocar dentro dela substância e realidade; lançar mão do homem, e levantá-lo da condição de criatura caída em filho e herdeiro, de nascença celestial. Jesus veio para livrar das névoas que envolvem esse planeta, e para adorná-lo com vestes de glória e de beleza. Em breve, veremos novos céus e nova terra. A nova Jerusalém descerá do céu da parte de Deus, preparada como uma noiva adornada para o seu marido. Jesus veio para enaltecer, e para cumprir; e ele dá o penhor disso, neste seu primeiro sinal miraculoso.

 

II. Em segundo lugar, quero que vocês notem neste milagre sua condição especial como manifestação. "Este sinal miraculoso, em Caná da Galiléia, foi o primeiro que Jesus realizou. Revelou assim a sua glória". Creio que haja uma conexão muito clara entre o primeiro capítulo deste Evangelho e o texto que temos diante de nós. João, no primeiro capítulo, disse: "Aquele que é a Palavra tornou-se carne e viveu entre nós. Vimos a sua glória, como do Unigênito vindo do Pai, cheio de graça e de verdade" (Jo 1.14). Aqui vocês têm o desvendar da graça e glória.

Observem que ele manifestou sua glória. É verdade que glorificou ao Pai, pois esse era seu grande propósito e alvo; mas também manifestou a própria glória ao agir assim. Notem que sua glória foi manifestada. Isto nunca foi dito a respeito de qualquer profeta ou santo. Moisés, Samuel, Davi, Elias -- nenhum destes chegou a manifestar glória própria; na realidade, não tinham nenhuma glória para manifestar. Aqui está alguém maior que um profeta; aqui está alguém maior que o mais santo dos homens. Manifestou sua glória; não poderia ser de outro jeito. Acho que devo adorar a meu Senhor enquanto leio essas palavras. Jesus revelou a própria glória como Deus e homem. Durante todos os anos anteriores, essa glória estivera vendada. Ele tinha sido um menino obediente em casa, um jovem industrioso como carpinteiro em Nazaré; naquele tempo, sua glória era como um nascente fechado, uma fonte lacrada; mas agora começou a sair fluindo na correnteza vermelha desse grande milagre. Se você pensar a respeito, verá com mais clareza que glória era essa.

Jesus era um homem como outros homens, mas, mesmo assim, transformou água em vinho segundo sua vontade. Era um homem que tinha mãe, e ela estava presente para nos lembrar de que ele nascera de mulher. Era um homem que tinha mãe, porém era tão verdadeiramente "Deus sobre tudo", que criou, por vontade própria, muito vinho. Era apenas um entre muitos convidados no casamento, ele e seus seis humildes seguidores; mas não deixou de desempenhar seu papel de Criador. Eles não se sentou exibindo as vestes de sumo sacerdote, nem usava os filactérios dos fariseus, nem qualquer forma de ornamento que representasse algum cargo ou profissão eclesiástica; no entanto, realizou maiores maravilhas do que eles poderiam sequer tentar. Era simplesmente um homem entre homens e, no entanto, era Deus entre homens. Sua vontade era lei na esfera da matéria, de modo que a água recebeu as qualidades do vinho. Adorem-no, irmãos! Adorem-no com reverência! Curvem-se diante do que era homem, um homem genuíno, e ao mesmo tempo, operava da maneira que só o Senhor pode agir! Adorem o que não conta usurpação ser igual a Deus, e, no entanto, é achado entre os convidados de um casamento humilde, e manifesta mesmo ali sua glória.

Observem: ele manifestou sua glória por meio de operar além do poder da natureza. A natureza não transforma água em vinho em um só momento: se assim acontecer, só pode ser diretamente pela mão do Senhor. É verdade que existem processos por meio dos quais as gotas de orvalho entram na baga da uva e gradualmente, por processos não vistos, são transformadas no suco que refrigera; mas por qual poder a água pode ser tirada de um pote de barro e transformada em vinho ao ser levada à mesa? Ninguém, senão o próprio Deus, poderia fazer isso, e visto que Jesus o fez, nisto demonstrou sua divindade. Ao fazer assim, demonstrou possuir todo o poder na Terra. Ele pode fazer como quer, e por esse único ato de criação, ou transformação, manifesta a glória do seu poder.

Assim fez, em parte, por operar sem nenhum instrumento. Quando Moisés tornou doce a água amarga, foi por meio de uma árvore que o Senhor lhe mostrou. Quando Eliseu purificou as fontes, lançou sal na água. No caso em estudo, não temos nenhuma instrumentalidade. Sempre que o Senhor usou meios visíveis, tomou o cuidado de selecionar os obviamente inócuos para seu propósito, ou mesmo opostos a seu desígnio; como na cura do cego fazendo barro com saliva, e de colocá-lo nos seus olhos -- algo que serviria para bloquear-lhe mais a vista, em vez de abrir seus olhos. No presente caso, porém, nosso Senhor não usou nenhum instrumento. Sequer falou uma palavra: "Água, enrubesça, até ser vinho". Não, ele simplesmente determinou, e foi feito. Quão divinamente manifesta sua glória neste aspecto!

E operou de modo tão fácil e majestoso, que nisto nos lembra do método e modo do grande Deus. Simplesmente fala: "Encham os potes com água", e os servos cumprem suas ordens com entusiasmo, pois ele é o Mestre de todas as intenções. Diz ele: "Agora, levem um pouco", e no ato de levar a água ao encarregado da festa, a água foi transformada em vinho. Aqui não há nenhum esforço, nenhum respirar fundo de quem reúne forças para realizar uma proeza. A terra gira, mas a roda da natureza nunca fica rangendo no eixo. Deus age de conformidade como suas leis de modo perfeitamente natural e sem constrangimento. A criação e a Providência permanecem no silêncio majestoso que provém da onipotência. Tudo funciona com facilidade onde Deus está. Com sua natureza ele pode fazer todas as coisas a nosso favor, e em um só momento transforma nossas águas de mágoa em alegria.

Nosso Senhor manifestou sua glória por meio de operar naturalmente e sem ostentação. Acredito realmente que se você pudesse ter operado essa maravilha, teria dito ao encarregado da festa. "Chamem todos os hóspedes para notar que o vinho chegou ao fim, e que estou para criar um novo suprimento. Vejam esse cântaro gigante. Notem como o mandei encher de água, a fim de que saibam que nele não há água. Fiquem observando enquanto opero a transformação". Então teriam falado algo em voz bem alta, ou teriam passado por uma série de encenações. Jesus não fez nada desse tipo. Ele odeia demonstrações; não quer que seu reino venha com exibições. Repudia a pompa, fanfarra e cerimônia; mas age como Deus cujas maravilhas são demasiadas para serem questões notáveis para ele mesmo. Da parte do Senhor, era divino realizar tamanha obra sem parecer estar fazendo nada de incomum.

Que ele realmente operou o milagre foi confirmado por testemunhas imparciais. João, ou Filipe, ou todos os seis juntos, poderiam ter dito: "Mestre, nós encheremos os potes com água". Mas assim não devia ser, para que não houvesse a suspeita de colusão entre o Mestre e os discípulos. Os empregados comuns deviam encher os potes com água. Da mesma forma, os discípulos teriam ficado muito contentes em levar o vinho ao encarregado da festa, dizendo: "Aqui está o vinho que nosso grande e bom Mestre fez para você". Não; os empregados levariam o vinho, sem nada dizer a respeito de onde veio; e a testemunha principal de que o que trazem é realmente vinho, e vinho da melhor qualidade, será o encarregado da festa -- cavalheiro este sem a mínima mentalidade espiritual, mas que esteve presente em muitas dessas festas, que conhece o costume delas, e que tem um provérbio para definir esse costume. Fica claro que se tratava de quem era bom juiz da qualidade do vinho, e podemos aceitar com segurança seu veredicto: "Você guardou o melhor até agora". No presente caso, quanto menos espiritual o homem, tanto melhor seu testemunho a respeito da realidade do milagre. Se fosse um seguidor de Jesus, suspeitariam de estar envolvido em um plano de Jesus e dos discípulos; mas vocês conseguem perceber que é um homem de molde totalmente diferente. A obra de Deus é fato, não é ficção: apela à fé, e não à imaginação. Deus realiza sua obra transformadora de tal maneira que tenha testemunhas à disposição para atestá-la.

Quando Cristo ressuscitou dentre os mortos, havia testemunhas estabelecidas para certificar o acontecimento; também seu primeiro milagre é certificado, além de toda questão, como real e verdadeiro pelas melhores testemunhas. Havia uma razão especial para isso. Oh, meus amados ouvintes, se vierem a Cristo ele não os decepcionará; suas bênçãos não são sonhos. Se vierem e confiarem em Jesus, a obra que ele lhes fará será tão real quando o que realizou em Caná. Mesmo os ímpios serão obrigados a enxergar que Deus realizou uma transformação em vocês. Quando virem sua vida nova, dirão: "Aqui há uma coisa boa nele, que nunca vimos antes". Venham, peço-lhes, e aceitem Cristo para ser tudo para vocês; e ele será, na pura verdade, tudo o que precisarem. Confiem todos os seus pecados nas mãos dele, e ele lhes dará perdão real. Confiem sua aflição nas mãos dele, e ele lhe dará repouso real. Confiem sua natureza iníqua nas mãos dele, e ele os renovará. Ele não finge fazer obras que não opera realmente. Segundo o testemunho de todas as pessoas presentes no casamento, transformou verdadeiramente água em vinho de qualidade especial; e assim também agora pode transformar seu caráter de um jeito que a natureza, mesmo com a melhor educação, nunca poderá produzir. Digo de novo: a qualidade especial desta manifestação acha-se nisto: que revelou o Senhor Jesus, por seu poder onipotente, enaltecendo tudo em que tocava, transformando homens, objetos e fatos, em coisas mais nobres do que eram antes, e que poderiam ter chegado a ser. Essa é a qualidade especial da manifestação de Cristo: ele diz: "Eis que faço novas todas as coisas". Ele apresenta o melhor no fim. Enaltece os pobres da fome para a festa. Enaltece a humanidade caída em algo tão glorioso que fica, na pessoa de Cristo, perto do trono de Deus. Em tudo isso, Cristo é revelado, e seu nome é glorificado.

 

III. E agora, em último lugar, acho que temos aqui uma suficiência para a confirmação da fé. Está escrito: "E os seus discípulos creram nele".

Irmãos, notem aqui alguma coisa. Como João sabia que os discípulos creram nele? Ora, porque era um deles, e ele mesmo creu em Cristo. O melhor testemunho é de quem participou dos fatos. Quando você sente pessoalmente uma coisa, tem plena certeza dela. João sabia que os outros cinco discípulos creram em Jesus, pelo que lhe contaram; pois os sentimentos deles coincidiram com os de João. Cuidemos de também compartilhar na fé que as maravilhas de nosso Senhor têm o desígnio de produzir.

Notemos que todos os convidados da festa participaram do vinho, mas que os discípulos receberam algo bem melhor na festa: o aumento na fé. Outros comiam e bebiam; mas esses homens viram Deus em Cristo Jesus manifestar sua glória.

Nossa pergunta é: que havia neste milagre que tendesse a confirmar-lhes a fé? Notem que digo confirmar a fé. Não foi a origem da fé, mas a estabeleceu. Sua fé fora originada pela palavra do Senhor, pregada por João Batista: tinham crido em Jesus, o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo. Em segundo lugar, tinham desfrutado do convívio pessoal com Jesus, por terem ido até ele, e habitado com ele. Isso fortaleceu grandemente sua fé. E agora começaram a desfrutar do sabor do benefício da associação com Jesus, e a ver por si mesmos o que Jesus é poderoso para fazer. Assim cresceu-lhes a fé. Seus discípulos já criam nele, mas esse milagre confirmou sua confiança.

O milagre justificou os discípulos na crença implícita em Jesus; pois fica manifesto que um só milagre comprova o poder para operar todos os milagres. Se Cristo pode transformar água em vinho por sua vontade, ele é poderoso para realizar toda e qualquer maravilha. Se Jesus exerceu uma só vez o poder além da natureza, podemos facilmente crer que ele poderá fazê-lo de novo: não há limites para seu poder. Ele é Deus, e com Deus, todas as coisas são possíveis. Assim, o primeiro milagre confirmou-lhes, corretamente, a fé.

E ainda demonstrou a prontidão do Mestre para satisfazer dificuldades inespe-radas. Ninguém previra que o vinho faltasse. Jesus não foi ao casamento pronto e preparado -- como diz a linguagem humana. O mister surgiu de modo repentino, e o suprimento também veio repentinamente; o vinho chegou ao fim, e Jesus estava pronto para enfrentar a dificuldade. Isso não confirma sua fé? Cristo está sempre pronto para toda e qualquer emergência. Amanhã, poder acontecer alguma coisa que você nem levara em conta; Cristo estará pronto para o inesperado. Entre aqui e o céu, você topará com um grande número de acontecimentos improváveis; mas não serão surpresas para ele. Ele tem nítida previsão: quando surgir a provação, ele proverá: "No monte do Senhor se proverá" (Gn 22.14).

Além disso, eles tiveram a fé confirmada porque ele demonstrara que não deixaria falhar nada com que estava ligado. Gosto de sentir segurança que Jesus está comigo em qualquer empreendimento, porque então saberei que o beneplácito do Senhor prosperará na sua mão. Embora não fosse o casamento de algum dos seus parentes ou discípulos, não deixou de ser um casamento no qual ele era convidado; e não permitiria a declaração de falta de suprimentos na presença dele. Talvez tenha sido remota sua conexão com a festa, mas pelo menos era alguma conexão; e as mínimas conexões são observadas pelo Senhor Jesus. Ó minha alma, se eu tão-somente conseguir tocar na fímbria das suas vestes, dele sairá poder para mim. Entro no mesmo barco com Jesus, e se eu me afogar, forçosamente Jesus terá que se afogar também: e por isso sei que estou em segurança! Ó meu coração, se eu tão-somente conseguir a mão de Cristo na minha mão, ou a minha mão na mão dele, ficarei vinculado com ele, e nada poderá nos separar. Nessa união está a minha vida, a minha segurança, o meu sucesso; pois nada que ele toca, ou que toca nele, falhará em ocasião alguma. Ele é apenas um dos convidados do casamento, mas, por estar ali, as coisas forçosamente irão bem. Acho que esse fato deve ter estimulado muito os discípulos quando, em tempos posteriores, começaram a pregar: sua confiança seria que Jesus estava com eles, e que por isso prevaleceriam. Eram homens pobres e incultos, e toda a erudição da época estava em formação de batalha contra eles; mas eles diziam para si mesmos: "Não tememos, pois Jesus está nesta controvérsia, e ele nos acompanhará até o fim vitorioso". Tenhamos Cristo conosco na contenda a favor do pacto de Deus e da sua verdade, e não mais haverá dúvidas quanto ao resultado da batalha. Se, na questão da sua salvação, a fé traz o Salvador para dentro do assunto, você pode confiar na certeza da vida eterna.

Demonstrou-lhes, ainda -- e isto deve ter grandemente confirmado a fé -- que ele podia usar os meios mais pobres. Para fazer o vinho, o Senhor tinha à disposição apenas águas e seis grandes potes. Sim, mas ele consegue fazer melhor vinho valendo-se da água que os homens conseguem fazer valendo-se das uvas. Vejam seus tonéis e lagares: seis potes de pedra, para água. Você e eu -- o que somos nós? Pois bem, somos pobres vasos de barro, e um pouco rachados, lamento dizer. Existe pouco conteúdo em nós, e o pouco que temos é fraco como água; mas o Senhor pode produzir dentro de nós o vinho que alegrará o coração de Deus e dos homens -- palavras de fé que agradarão a Deus e salvarão os homens. Os discípulos, em dias posteriores, se reconheceriam como nada mais que vasos de barro, mas se lembrariam de que seu Senhor pudesse realizar milagres por meio deles.

Quando viram a facilidade majestosa da sua operação, você não acha que isso lhes confirmou a fé? Ele não invocou a presença de anjos, não fez uma oração prolongada, e muito menos repetiu um encantamento sagrado. Bastava ser esta a sua vontade, e a ação foi realizada. Na próxima ocasião que se viram em uma dificuldade, os discípulos teriam fé de que o Senhor pudesse aparecer a favor deles com bastante facilidade. Ficariam quietos e contemplariam a salvação da parte de Deus. De uma maneira ou de outra, o Senhor proveria, e ele operaria maravilhas sem nenhuma dificuldade. Irmãos, ainda sairemos pela parte ampla do chifre, pois Deus está conosco.

Demonstrou-lhes, também, que a partir de então, nunca precisariam estar ansiosos. Você, que lê seu Novo Testamento Grego quer notar a expressão aqui? Está escrito, "Seus discípulos creram a ele?". Não. "Creram nele?". Não. Mais correto seria para dentro dele. O grego diz "eis": seus discípulos acreditaram para dentro dele. Acreditavam de tal modo que pareciam submergir-se em Jesus. "Para dentro dele" -- pense no que isso significa! João, André, Natanael e os demais, lançaram em Jesus preocupações vitalícias, e achavam que nunca precisariam ter outros cuidados. Jesus os acompanharia vitoriosamente até o fim. Deixariam tudo nas mãos de Jesus. Maria pegou um pouco a questão nas próprias mãos, mas nisto ela errou; os discípulos entraram em Jesus pela porta aberta desse milagre confirmador, e ali descansaram. É esta sua condição: "Lancem sobre ele toda a sua ansiedade, porque ele tem cuidado de vocês" (1Pe 5.7). Creram, até bem dentro de Jesus. Uma coisa é crer nele, outra coisa é lhe dar crédito; é tranqüilizador lançar nossa fé sobre ele, mas o melhor de tudo é crer totalmente para dentro dele, de modo que nossa personalidade seja engolida em Cristo, e você sinta a grande felicidade da união viva, amorosa, e permanente com ele. Aqueles seis homens não poderiam ter produzido uma só gota de vinho para o casamento; mas contando seu Mestre entre eles, e os sete poderiam inundar as ruas com ele, se houvesse necessidade. Entrando em parceria com Jesus sua fé raiou como uma manhã sem nuvens. Agora estavam seguros, inabaláveis, fortes; pois sua fé fraca e diluída ganhara a plenitude e a riqueza do vinho generoso.

Terei chegado ao fim depois de ter dito a qualquer pessoa aqui que não está decidida -- veja, meu caro ouvinte, Jesus Cristo visita pessoas como você é. Ele está disposto a visitar o lar de pessoas simples, mesmo quando têm uma festa em andamento. Peça-lhe que venha a você assim como está.

Veja como pode abençoar a alegria humana! Você pensa, talvez, que irá a Jesus da próxima vez que estiver triste; mas eu lhe digo: venha a ele imediatamente, enquanto estiver na alegria. Você que tem sucesso nos negócios, que se regozija por causa do filho recém-nascido, que está recém-casado, que foi aprovado com a nota maior em uma prova, venha a Jesus na alegria, e peça-lhe que eleve sua felicidade a um grau e qualidade superiores, até tocar na alegria no Senhor. Jesus consegue enaltecê-lo, amigo amado, e transformá-lo em algo melhor, mais pleno, grandioso, nobre, santo e mais semelhante a Deus. Que ele o faça agora! Creia nele, creia a ele, lance sua fé sobre ele, creia para dentro dele, e assim será feito. Amém.