67. O PRÓXIMO E O SEGUNDO

Ele cancela o primeiro para estabelecer o segundo (Hebreus 10.9).

 

O caminho de Deus é ir do bom para o melhor.

Isso estimula a admiração e a gratidão.

Isso faz os homens desejarem, orarem, crerem e esperarem. Isso ajuda o homem em sua capacidade de receber as coisas melhores. A primeira coisa boa é removida, para que a segunda possa vir mais aptamente. Nesse último fato, vamos meditar, notando:

 

I. A GRANDE INSTÂNCIA.

Primeiro vieram os sacrifícios judaicos e, então, veio Jesus para fazer a vontade de Deus.

1. A remoção das ordenanças instrutivas e consoladoras. Enquanto duraram foram de grande valor, e foram removidas porque, quando Jesus nasceu:

- Foram desnecessárias como tipos.

- Teriam provado ser pesadas como serviços religiosos.

- Poderiam ter sido perigosos como tentações ao formalismo.

- Teriam tirado a mente da substância que antes prenunciavam em sombra.

2. O estabelecimento da expiação real, perfeita, eterna. Este é um avanço abençoado, pois:

- Ninguém que vê Jesus lamenta Aarão.

- Ninguém que conhece a simplicidade do evangelho deseja ser trazido sob as perplexidades da lei cerimonial.

- Ninguém que sente a liberdade de Sião deseja voltar à servidão de Sinai. Cuidado com levantar quaisquer outras ordenanças; pois isso seria edificar de novo o que Deus derrubou, se não fazer até pior. Cuidado ao imaginar que o segundo plano pode falhar como o primeiro falhou. O primeiro foi "tirado", mas o outro é estabelecido pelo próprio Deus.

 

II. INSTÂNCIAS NA HISTÓRIA.

Há muitas. Aqui estão algumas.

1. O paraíso terrestre foi retirado pelo pecado; mas o Senhor nos tem dado salvação em Cristo, e o céu.

2. O primeiro homem falhou; eis o segundo Adão.

3. O primeiro pacto está quebrado, e o segundo toma seu lugar gloriosamente.

4. O primeiro templo, com suas glórias transitórias, sumiu, o ouro derreteu; mas a segunda casa, a espiritual, surge sob o olho e a mão do Grande Arquiteto.

 

III. INSTÂNCIAS NA EXPERIÊNCIA.

1. Nossa primeira justiça foi tirada por convicção de pecado, mas a justiça de Cristo está estabelecida.

2. Nossa primeira paz foi detonada como se fosse uma cerca bamba, mas nós nos abrigamos na rocha eterna.

3. Nossa primeira força provou ser pior do que fraqueza, mas o Senhor é nossa força e nosso cântico; ele também se tornou a nossa salvação.

4. Nossa primeira orientação nos conduziu à escuridão; agora nós desistimos do nosso eu, de superstição, e filosofia--e confiamos no Espírito de nosso Deus.

5. Nossa primeira alegria morreu como espinhos que crepitam sob uma panela; mas agora nós nos alegramos em Deus.

 

IV. ESTÁGIOS A SEREM ESPERADOS.

1. Nosso corpo decadente será renovado na imagem de nosso Senhor ressurreto.

2. Nossa terra se acabando, e seus elementos sendo dissolvidos, haverá novos céus e uma nova terra.

3. Nossa família removida uma a uma, seremos encantados pela grande reunião na casa do Pai lá em cima.

4.Todo nosso ser tirado, nós encontramos mais do que tudo em Deus.

5. Nossa vida na vazante, a vida eterna vem rolando numa maré cheia de glória. Não choremos o retirar da primeira. Esperemos o estabelecimento da segunda.

 

MELHORA

A Lei é um Evangelho prefigurado, e o Evangelho uma Lei consumada (Bispo Hall).

O destruidor do pecado chegando, nós não estamos mais sob o revelador do pecado (Martin Boos).

Não é preciso haver profetas para se indagar
O Sol surgiu - e estrelas já se vão.
O Consolador é vindo, para brilhar
sobre nós com sua santa unção (Joseph Conder).

Quando Alexandre saiu em uma expedição esperançosa, ele doou seu ouro, e quando lhe perguntaram o que guardou para si, respondeu: "Spero majorum et meliorum"--a esperança de coisas maiores e melhores... O moto de um cristão é, ou sempre deve ser, Spero meliora--Espero melhores coisas (Thomas Brooks, em "The Best Things Reserved Till Last").

Num dia frio, de vento, em março, um senhor parou numa banca de maçãs, cujo proprietário era um italiano rústico. Ele aludiu ao tempo, quando, com um sorriso e tom alegre, o italiano respondeu com seu sotaque: "Si, bene frio, mas depôs--pensa disso!" Em outras palavras, o tempo de céus quentes e cânticos estava perto, e era para ser pensado. O humilde vendedor pouco pensou na impressão feita por suas poucas palavras. "Mas depois--pense nisso!"

Os rabinos judaicos relatam (com que verdade não se sabe) que quando José, nos tempos gordos, tinha colhido muito milho no Egito, ele jogou os resíduos no rio Nilo, para que, fluindo às cidades e nações mais remotas, eles pudessem saber que havia abundância armazenada, não só para si, mas para outros também. Assim Deus, em sua bondade abundante, para que soubéssemos que glória há no céu, já jogou algumas cascas para nós aqui neste mundo, para que, provando dessa doçura, possamos aspirar à fartura que há lá em cima e tirarmos essa conclusão feliz para o grande consolo de nossas almas preciosas -- que se um pouco de glória terrestre nos faz admirar, o que fará a celestial? Se houver tal glória no estrado dos pés de Deus, o que há no seu trono? Se ele nos dá tanto na Terra de nossa peregrinação, o que não nos será dado em nosso próprio país eterno: Se ele concede tanto aos seus inimigos, o que não dará a seus amigos? (John Spencer).

Há certas palavras que, ocorrendo freqüentemente, são como um molho de chaves, e nos possibilitam abrir os tesouros nesta epístola. Uma chave dessas é "melhor" e nós encontramos o Senhor Jesus descrito como sendo melhor do que anjos (1.4, ilustrado em João 5.4-6), melhor do que Moisés (3), Josué (4) e Arão (7), seu sangue dizendo melhores coisas que o de Abel (12.24). O velho pacto baseado na promessa ao homem (Êx 19.8; 24.7-8) foi quebrado em quarenta dias; mas o desempenho pelo filho de Deus foi o fundamento do pacto melhor. "Moisés desceu do monte levando nas mãos as duas tábuas da Aliança" (Êx 32.15; Gl 3.19), mas a lei de Deus está dentro do coração de nosso Fiador (Sl. 40.8, compare Dt 10.1-2). Aquela palavra foi falada por anjos (Hb 2.2; At 7.53), mas esta por aquele que é "tão melhor do que os anjos" (E. A. H.--Mrs. Gordon).