66. COMPAIXÃO DOS IGNORANTES

"Ele é capaz de se compadecer dos que não têm conhecimento e se desviam (Hebreus 5.2).

 

Homens que são ignorantes não devem ser recebidos com desprezo, nem crítica, nem negligência, pois eles precisam de compaixão.

Devemos fazer todo o possível para ser indulgentes com esses para o bem deles. Um discípulo, a quem tem sido ensinado tudo o que sabe por um gracioso Salvador, deve ter compaixão dos "ignorantes." Um viandante que tem sido restaurado deve ter compaixão "daqueles que estão fora do caminho".

Um ministro deve ter compaixão das pessoas com quem ele é uma carne e sangue, e certamente nosso Senhor, que é nosso grande Sumo Sacerdote, tem compaixão abundante para com os ignorantes.

Vamos agradecer sua grande piedade para com eles.

 

I. O QUE É ESTA IGNORÂNCIA?

É moral e espiritual, e trata de coisas eternas.

1. É terrivelmente comum entre todas as categorias.

2. Deixa-os estranhos para consigo mesmos.

- Não conhecem nem sua própria ignorância.

- Estão desapercebidos da depravação do coração.

- Estão inconscientes da crueldade de seu pecado real.

- Eles não sonham com seu perigo presente e eterno.

- Eles não descobriram sua incapacidade para tudo que é bom.

3. Isso faz deles desconhecedores do caminho da salvação. Optam por outros caminhos.

- Eles têm noção mista e injuriosa do caminho único.

- Muitas vezes questionam e contestam o caminho único.

4. Isso os deixa sem ter o conhecimento de Jesus. Eles desconhecem sua pessoa, suas posições, sua obra, seu caráter, sua capacidade, sua prontidão para salvá-los.

5. Deixa-os estranhos ao Espírito Santo.

- Eles não percebem os esforços interiores.

- Eles ignoram a regeneração.

- Eles não podem compreender a verdade, que ele ensina.

- Eles não podem receber sua santificação.

6. É muito ruinoso em suas conseqüências:

- Conserva os homens fora de Cristo.

- Não os desculpa quando é proposital, como geralmente é.

 

II. O QUE HÁ NESSA IGNORÂNCIA QUE É CAPAZ DE PROVOCAR-NOS E QUE, PORTANTO, EXIGE COMPAIXÃO?

1. Sua tolice. A sabedoria fica preocupada com os absurdos da ignorância.

2. Seu orgulho. A ira é excitada pela vaidade da presunção.

3. Seu preconceito. Não escuta nem aprende, e isso é irritante.

4. Sua teima. Recusa razão; e isso exaspera muito.

5. Sua oposição. Contende contra a verdade clara, e isso é cansativo.

6. Sua estupidez. Não se consegue esclarecê-la: é profundamente tola.

7. Sua descrença. As testemunhas de verdade divina não são acreditadas.

8. Sua teimosia. Opta por não saber. É duro ensinar tais pessoas.

9. Suas reincidências. Volta à tolice, esquece e recusa sabedoria, e isso é uma aflição dolorosa para o amor verdadeiro.

 

III. COMO A COMPAIXÃO DE NOSSO SENHOR PARA COM OS IGNORANTES É DEMONSTRADA.

"Ele pode ter compaixão dos ignorantes".

Isso ele mostra claramente:

1. Oferecendo-se para ensiná-los.

2. Realmente recebendo-os como discípulos.

3. Instruindo-os pouco a pouco, muito condescendentemente.

4. Ensinando-os as mesmas coisas outra vez, pacientemente.

5. Nunca os desprezando, apesar de sua falta de esperteza.

6. Nunca lançando-os fora por canseira com sua lerdeza. A um Senhor tão compassivo cheguemo-nos, ignorantes como somos.

Por um Senhor tão compassivo deixar-nos trabalhar entre os mais ignorantes e nunca cessar de ter piedade deles.

 

ANOTAÇÕES

É uma coisa triste para o cego que tem de ler os tipos em relevo, quando as pontas de seus dedos endurecem, porque então ele não pode ler os pensamentos de homens em relevo na página, mas é muito pior perder a sensibilidade de alma, pois, nesse caso, você não pode repassar o livro da natureza humana, mas não lhe é ensinado na literatura sagrada do coração. Talvez você tenha ouvido falar do "duque de ferro", mas um cristão de ferro seria uma pessoa muito terrível: um coração de carne é o dom da graça divina, e um de seus resultados certos é o poder de ser compassivo, terno e cheio de compaixão (C. H. S.).

Ignorância é a faculdade do diabo (Christmas Evans).

O que os papistas proclamam para o alto como a mãe da devoção, nós clamamos para baixo como o pai da superstição (William Secker).

Que um homem morra ignorante se tinha capacidade para o conhecimento, isso eu considero uma tragédia. Se isso acontecesse mais do que vinte vezes no minuto, seria uma seqüência enorme de tragédias!

A miserável fração da ciência que nossa humanidade unida, num vasto universo de necessidade, adquiriu, por que não é diligentemente repartida entre todos? (Thomas Carlyle).

A total ignorância é uma fortaleza muito eficaz para um mau estado da mente. O preconceito talvez possa ser removido; pode-se arrazoar com a descrença, talvez; até demônios são forçados a dar testemunho da verdade, mas a tolice de ignorância confirmada não só derrota a eficácia final dos meios para tornar homens mais sábios e melhores, como se posta em desafio preliminar ao próprio ato de sua aplicação. Lembro-me de um fato contado em um dos relatos das Campanhas Egípcias Francesas, sobre a tentativa de reduzir uma guarnição colocada num forte volumoso de barro. Fossem as defesas de madeira, os sitiadores poderiam ter ateado fogo e os queimado; fossem de pedra, poderiam tê-las abalado e, por fim, aberto uma brecha pela bateria de seus canhões, ou poderiam tê-los minado e explodido. Mas o grande monte de barro não tinha nada suscetível ao fogo ou a qualquer outra força; os mísseis da artilharia foram disparados, só para serem enterrados na massa opaca; e todos os meios de demolição foram frustrados (John Foster).

Em Eyesight, Good and Bad (Visão, boa ou ruim), R. B. Carter diz: "Nada é mais comum do que a visão defeituosa ser punida como se fosse obstinação ou estupidez. Da minha parte, há muito tempo aprendi a ver crianças obstinadas e burras como se fossem principalmente produções artificiais, e não me esquecerei do prazer com que ouvi do mestre da grande escola elementar em Edimburgo, aonde mil e duzentas crianças vão diariamente, que seu princípio fundamental de administração era que não existem meninos malcriados e bobos."

Eu costumava repreender a mim mesmo pela estupidez religiosa quando não me sentia bem, mas vejo agora que Deus é meu bondoso pai, não meu capataz duro esperando que eu esteja cheio de vida e zelo quando fisicamente exausto. Leva muito tempo para aprender tais lições. É preciso penetrar fundo no coração de Cristo para começar a conhecer sua ternura, simpatia e paciência.