58. CRUCIFICADO NO MADEIRO

Quanto a mim, que eu jamais me glorie, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, por meio do qual o mundo foi crucificado para mim, e eu para o mundo (Gálatas 6.14).

 

Paulo vigorosamente repreendeu aqueles que se desviavam da doutrina da cruz (v. 12-13).

Quando nós repreendemos aos outros, precisamos ter o cuidado de agir certo nós mesmos; por isso, ele diz, conforme uma tradução: "Deus não permita que eu me glorie, senão na cruz."

Nossa própria aderência resoluta à verdade, quando desenvolvida de modo prático, é um argumento muito forte contra adversários.

Paulo se exalta e acalora sobre a verdade quando pensa nos adversários da cruz. Ele logo que toca no assunto já se acende e pega fogo.

Contudo, ele tem suas razões e as declara com clareza e força nas últimas palavras do texto. Aqui estão três crucificações:

 

I. CRISTO CRUCIFICADO.

"A cruz de nosso Senhor Jesus Cristo."
Paulo menciona a morte substitutiva de Jesus nos termos mais claros e mais odiosos possíveis. A cruz era tão vergonhosa como é a árvore do enforcamento.

Mas com o contraste mais claro quanto à pessoa suportando-a, pois para ele deu as plenas honras no glorioso título "nosso Senhor Jesus Cristo".

Ele se refere à doutrina da justificação gratuita e plena expiação pela morte de Jesus na cruz.

Nisso, ele se gloriava de modo a não se gloriar em mais nada, pois ele a via:

1. Como uma mostra do caráter divino. "Deus estava em Cristo" (2Co 5.19).

2. Como a manifestação do amor do Salvador (João 15.13).

3. Como o aniquilar do pecado pela expiação (Hb 9.26).

4. Como a aspirar de esperança, paz e alegria para a alma desanimada.

5. Como o grande meio de tocar corações e mudar vidas.

6. Como privando a morte de terror, visto que Jesus morreu.

7. Como assegurando o céu para todos os que crêem. De qualquer um desses pontos de vista, a cruz é o pilar de luz, flamejando com glória indizível.

 

II. O MUNDO CRUCIFICADO.

"O mundo foi crucificado para mim."
Como o resultado de ver todas as coisas à luz da cruz, Paulo viu o mundo sendo como um criminoso executado sobre uma cruz.
1. Seu caráter condenado (João 12.31).

2. Seu juízo condenado. Quem se importa com a opinião de um criminoso naquela posição.

3. Seus ensinos desprezados. Que autoridade podem ter?

4. Seus prazeres, honras, tesouros, rejeitados.

5. Suas atividades, aforismos e espírito lançados fora.

6. Suas ameaças e agrados nem valorizados.

7. Ele mesmo logo se extinguindo, sua glória e sua moda desbotando.

 

III. O CRENTE CRUCIFICADO.

"E eu para o mundo."
Para o mundo, Paulo não era melhor do que um homem crucificado.
Se fiel, um cristão pode esperar ser tratado como só servindo para ser colocado numa morte vergonhosa.
Ele provavelmente encontrará:
1. A si mesmo como primeiro intimidado, ameaçado e ridicularizado.

2. Seu nome e honra tidos em pequena consideração por causa de sua associação com os pobres piedosos.

3. Suas ações e motivos representados erroneamente.

4. Ele mesmo desprezado como um tipo de louco ou de intelecto dúbio.

5. Seus ensinos descritos como detonados e antiquados.

6. Seus modos e hábitos considerados puritanos e hipócritas.

7. Ele mesmo caso perdido e portanto morto para a sociedade.

Gloriemo-nos na cruz, porque ela mata a glória do mundo, e a honra e o poder!

Gloriemo-nos na cruz quando homens levam embora de nós toda outra glória.

 

MEMORANDOS

É assunto para regozijo e glória nós termos tal Salvador. O mundo o olhou com desprezo, e a cruz foi escândalo para os judeus e loucura para os gregos. Mas para o cristão, essa cruz é o assunto do gloriar. É assim por alguns motivos: (1) do amor daquele que ali morreu; (2) da pureza e santidade de seu caráter, pois o inocente morreu pelos culpados; (3) da honra ali colocada sobre a lei de Deus por ele morrer para o manter sem mancha; (4) da reconciliação feita ali pelo pecado, fazendo-se ali o que nenhum outro sacrifício podia fazer e por nenhum poder do homem; (5) do perdão conseguido ali para os culpados; (6) do fato que por ele nós nos tornamos mortos para o mundo e somos tornados vivos para Deus; (7) do apoio e da consolação que vem daquela cruz para nos sustentar em tribulação; e (8) do fato que isso conseguiu para nós a entrada no céu, um título para o mundo de glória. Tudo é glória em volta da cruz. Foi um glorioso Salvador quem morreu, foi glorioso amor que o levou a morrer; foi um glorioso objetivo redimir um mundo, e é uma glória indizível à qual ele levantará pecadores perdidos e arruinados pela sua morte. Ah, quem é que não se gloriaria em um Salvador desse! (Albert Barnes).

Se você ainda não descobriu que Cristo crucificado é o fundamento do volume todo, você por enquanto tem feito pouco proveito de sua Bíblia. Sua religião é um céu sem sol, um arco sem pedra fundamental, uma bússola sem uma agulha, um relógio sem mola nem pesos, uma lâmpada sem óleo. Não vai confortá-lo, não vai livrar sua alma do inferno (J. C. Ryle).

Não fique satisfeito juntamente com tantos outros só de saber que a cruz tem em seu poder expiar pecados. A glória da cruz é que ela não foi só para Jesus o caminho para a vida, mas que a cada momento ela pode tornar-se para nós o poder que destrói pecado e morte e nos conserva no poder da vida eterna. Aprenda do seu Salvador a arte santa de usá-la para isso. Fé no poder da cruz e sua vitória de dia em dia tornam mortos os feitos do corpo, as concupiscências da carne. Esta fé lhe ensinará a contar a cruz, com sua continuada morte de si, toda a sua glória. E porque você vê a cruz, não como alguém que ainda está no caminho da crucificação com a expectativa de uma morte dolorosa, mas como um para quem a crucificação já passou, um que já vive em Cristo, e agora só leva a cruz como o instrumento bem-aventurado através do qual o corpo do pecado foi destruído (Rm 6.6). A bandeira sob a qual vitória completa sobre o pecado e o mundo é para ser ganho na cruz (Andrew Murray).

Quando Inácio, pastor da igreja na Antioquia, foi condenado pelo imperador Trajano para sofrer a morte em Roma, ele teve medo que os cristãos ali, pela sua grande afeição a ele, pudessem tentar evitar o seu martírio; e por isso escreveu uma carta de Esmirna aos cristãos romanos, que ele mandou na frente, na qual pediu sinceramente que não tomassem medidas para a continuação de sua vida, e entre outras coisas, disse, "Eu anelo pela morte", acrescentando como motivo seu desejo de testificar seu amor a Cristo: "Meu amor está crucificado."

Amor torna a cruz fácil, amável, admirável, deliciosa.

Irmãos, a cruz de Cristo é sua coroa; o opróbrio de Cristo, suas riquezas; a vergonha de Cristo, sua glória (Joseph Aleine, em A prisão comum).