Justo adorador,

Esta é a primeira parte deste tratado que foi escrito sob seu teto e, portanto, apresento este exemplar não como um presente, mas como propriedade sua; não para sua proteção, mas para sua instrução e orientação; pois nunca os vi como aqueles homens, possessos por um espírito maligno que faz com que os homens escutem seus mestres como se fossem seus servos, a fim de censurar a doutrina deles, ou para apenas ser entretido por eles, em vez de aprender com eles. Tampouco, tenho a intenção de publicar esta carta para divulgar suas virtudes, pois vocês sabem muito bem em qual julgamento devem permanecer ou cair. O julgamento dos homens é algo pequeno: se você for sentenciado como justo no tribunal de Cristo, e for chamado por ele, o abençoado de seu Pai, não importa muito por qual nome você é chamado aqui. Todos os santos não têm a si mesmos em alta consideração e, portanto, não têm sede de que os outros os tenham em alta estima. Aquele que conhece o que o orgulho fez no mundo, e ainda faz, e como esse horripilante pecado se apega à natureza de todos nós, certamente não considera amigo aquele que alimenta o fogo com mais combustível; nem julga o soprar o carvão uma atitude amigável. No entanto, aquele que aceitou tão gentilmente a caixa com perfumes de uma mulher, os quais excederam em muito a quantia que Judas achou suficiente receber pela vida de seu Senhor, a ponto de a história ficar registrada em seu evangelho, para que essa boa ação possa ser lembrada por todos que o lêem, assegura-me, por seu exemplo, a anexar a menção de seus favores a este tratado. E a ingenuidade usual comanda-me a reconhecer com gratidão que vocês, assim que souberam que fui acometido de extrema fraqueza, acorreram a vários condados para buscar-me onde me encontrava aquartelado e, ao não me encontrar, novamente foram buscar para que eu ficasse em sua casa, onde, por muitos meses, encontrei um hospital, um médico, uma enfermeira e amigos verdadeiros; ainda, e acima de tudo, orações diárias e incessantes pelo restabelecimento de minha saúde; e desde que sai da casa de vocês, sua profusão de gentileza ainda me acompanha. E tudo isso por um homem que era um desconhecido para vocês, a quem jamais tinham visto antes, exceto entre soldados, um fardo para vocês; e fizeram isso por alguém que não fez insinuações argutas para ganhar o favor de vocês, nem era cínico o suficiente para retribuir-lhes com bajulação; sim, alguém que tinha grandes obstáculos entre seu coração e sua língua, a ponto de ele mal poder expressar belamente apenas um pouco de seu agradecimento e de estar muito mais incapacitado de retribuir-lhes por tudo. A melhor retribuição que posso lhes oferecer por seu amor é recomendar que pratiquem essa divina responsabilidade; assim solicito que vocês sejam mais diligentes e infatigáveis, pois vocês podem dedicar mais tempo a ela que as pessoas pobres, e vocês, portanto, têm muito mais tentações para desviá-los; e é extremamente mais difícil para aqueles que têm muitas coisas aqui a realmente colocar sua felicidade na outra vida e, desse modo, pôr seu coração ali, como o local de seu descanso, algo que precisa ser feito por todos aqueles que serão salvos. [...] Todas as coisas deste mundo não oferecem consolo para a alma que está prestes a partir! Minha oração constante por vocês é para que Deus permita que todas as coisas estejam abaixo dele no coração de vocês, e que vocês possam dominar totalmente os desejos da carne e mortificá-los, e que vocês possam viver acima, no Espírito, com o Pai dos espíritos, até que vocês cheguem em sua morada final junto ao espírito aperfeiçoado dos justos.

Seu muito agradecido servo,

RICHARD BAXTER.