Nossa Força

Espírito Santo

 

ADMITINDO que pregamos somente a Palavra, que estamos cercados por uma igreja modelo, o que para nosso pesar não é sempre o caso; mas, admitindo que seja assim, a seguir, devemos considerar NOSSA FORÇA. Ela deve vir do ESPÍRITO DE DEUS. Cremos no Espírito Santo e em nossa absoluta dependência dele. Cremos, mas será que cremos na prática? Irmãos, em relação a nós mesmos e nosso trabalho será que cremos no Espírito Santo? Será que cremos por que temos o hábito de provar a verdade da doutrina? Precisamos depender do Espírito em nossa preparação. Será que isso é o que acontece com todos nós? Será que você tem o hábito de buscar o significado dos textos por meio da direção do Espírito Santo? Todo homem que vai à terra do conhecimento celestial precisa conquistar seu caminho para lá, mas precisa conquistá-lo pela força do Espírito Santo ou chegará a alguma ilha do mar da imaginação e nunca alcançará as terras sagradas da verdade. Você não conhece a verdade, meu irmão, por que leu Hodge's Outlines [Os esboços de Hodge], ou Fuller's Gospel worthy of all Acceptation [O evangelho de Fuller digno de toda aceitação] ou Owen on the Spirit [Owen no Espírito], ou qualquer outro clássico de nossa fé. Você não sabe a verdade, meu irmão, meramente por que você aceitou a Confissão de Westminster e a estudou toda. Não, nós nada sabemos até que o Espírito Santo nos ensine, pois ele sussurra em nosso coração, não em nossos ouvidos. Um fato maravilhoso é que nem ouvimos a voz de Jesus até que o Espírito repouse sobre nós. João diz: "No dia do Senhor achei-me no Espírito e ouvi por trás de mim uma voz forte" (Ap 1.10). Ele não ouviu aquela voz até que estivesse no Espírito. Quantas palavras celestiais deixamos de escutar porque não permanecemos no Espírito!


Não podemos ter êxito em súplicas a não ser que o Espírito Santo ajude nossas enfermidades, porque a verdadeira oração é orar "no Espírito Santo" (Jd 1.20). O Espírito cria uma atmosfera em torno de cada oração viva, e ele vive e prevalece nesse ambiente; fora dele, a oração é uma formalidade morta. Quanto a nós mesmos, portanto, temos de depender do Espírito Santo em nosso estudo, em nossa oração, em nosso pensamento, em nossa palavra e em nossa ação.


No púlpito, descansar real e verdadeiramente no auxílio do Espírito

No púlpito descansamos real e verdadeiramente no auxílio do Espírito. Não censuro nenhum irmão por sua maneira de pregar, mas preciso confessar que me parece muito estranho quando um irmão ora para que o Espírito Santo possa ajudá-lo na pregação, e depois o vejo tirar um manuscrito do bolso, arrumado de tal modo que possa pô-lo no centro de sua Bíblia, e lê-lo sem que ninguém veja. Essa precaução para assegurar discrição dá a entender que o homem estava com um pouco de vergonha de ler o papel; mas eu acho que ele deveria ficar mais envergonhado de suas precauções. Ele espera que o Espírito de Deus o abençoe enquanto pratica um truque? E como Deus pode ajudá-lo quando ele lê sua pregação o que qualquer outra pessoa poderia fazer sem o auxílio do Espírito? O que o Espírito Santo tem a ver com essa atitude? De fato, ele pode ter tido algo que ver com a composição do manuscrito, mas no púlpito seu auxílio é supérfluo. O mais verdadeiro seria agradecer o Espírito pelo auxílio prestado e pedir que aquilo que nos capacitou, a pôr naquele papel que trazemos no bolso, possa agora entrar nos corações das pessoas. Ainda assim, se o Espírito Santo tivesse qualquer coisa para dizer às pessoas que não estivesse naquele pedaço de papel como poderá dizê-lo por meio de nós? Parece-me que ele efetivamente ficou bloqueado quanto à novidade da palavra falada por meio desse método utilizado. Contudo, não me cabe censurar, embora silenciosamente possa pedir liberdade no profetizar e ensejo para o Senhor nos dar naquela mesma hora o que falar.


Depender do Espírito de Deus em nossos resultados

Além disso, precisamos depender do Espírito de Deus em nossos resultados. Nenhum homem dentre nós realmente acha que poderia regenerar uma alma. Não somos tão tolos a ponto de reivindicar poder para mudar um coração de pedra. Talvez não ousemos presumir algo tão grandioso, contudo, podemos achar que, pela nossa experiência, podemos ajudar as pessoas a passar por suas dificuldades espirituais. Será que podemos? Podemos ter esperança que nosso entusiasmo mova a igreja viva diante de nós e empurre o mundo morto para trás de nós. Isso pode acontecer? Quem sabe, imaginamos que se pudéssemos apenas conseguir um avivamento, poderíamos facilmente assegurar um grande acréscimo à igreja? Vale à pena conseguir um avivamento? Os verdadeiros avivamentos não são presenteados?


Podemos nos persuadir que tambores e trompetes e gritos farão muito. No entanto, meus irmãos, "o SENHOR não estava no vento" (1Rs 19.11). Resultados que valem à pena vêm daquele silencioso, mas onipotente Obreiro, cujo nome é o Espírito de Deus: nele, e somente nele, precisamos confiar para a conversão de uma única criança da escola dominical e para todo avivamento genuíno. Devemos olhar para ele para conservar nosso povo junto e edificá-los em um templo santo. O Espírito poderia dizer, assim como disse nosso Senhor: "Sem mim vocês não podem fazer coisa alguma" (Jo 15.5).


O que é a igreja de Deus sem o Espírito Santo? O que seria o Hermom sem o orvalho ou o Egito sem o Nilo? Veja a terra de Canaã, quando a maldição de Elias caiu sobre ela, por três anos não sentiu orvalho nem chuva: assim seria o cristianismo sem o Espírito. O que os vales seriam sem seus córregos, ou as cidades sem seus poços, o que os campos de milho seriam sem o sol, ou a safra de vinho sem o verão--assim seriam nossas igrejas sem o Espírito. Como não podemos pensar no dia sem luz, na vida sem respiração, no céu sem Deus, também não podemos pensar no culto cristão sem o Espírito Santo.


Nada pode substituí-lo: os pastos são um deserto, os campos frutíferos são áridos, o Sarom definha e o Carmelo é consumido pelo fogo. Bendito Espírito do Senhor, perdoa-nos por tê-lo desprezado, por tê-lo esquecido, por nosso orgulho auto-suficiente, por resistir a sua influência e apagar seu fogo! Daqui em diante opere em nós de acordo com sua excelência. Faça nosso coração ternamente impressionável, depois nos faça como cera para o sinete e estampe em nós a imagem do Filho de Deus. Com tal oração e confissão de fé, deixe-nos perseguir nosso objetivo no poder do bom Espírito de quem falamos.


O que o Espírito Santo faz? Amado, que boa ação ele não faz? Ele desperta, convence, ilumina, limpa, guia, preserva, consola, confirma, aperfeiçoa e usa. Quanto pode ser dito de cada uma dessas ações! É ele quem opera em nós para o querer e o fazer. Ele que operou todas as coisas é Deus. Glória seja dada ao Espírito Santo por tudo que realizou em naturezas tão pobres e imperfeitas como a nossa! Nada podemos fazer à parte da seiva de vida que flui para nós de Jesus, a Videira. Aquilo que é de nós mesmos só serve para nos causar vergonha e confusão. Não damos um passo em direção ao céu sem o Espírito Santo. Não guiamos outros para o caminho do céu sem o Espírito Santo. Não temos nenhum pensamento aceitável, nem palavra, nem ato sem o Espírito Santo. Mesmo o levantar dos olhos e da esperança ou a oração exclamatória que exprime o desejo do coração deve ser obra dele. Todas as coisas boas, do começo ao fim, vêm dele e por meio dele. Não há risco de exagero aqui. Contudo, será que traduzimos essa convicção em nossa conduta atual?


Em vez de me estender sobre o que o Espírito de Deus faz, deixe-me recorrer a sua experiência e fazer uma ou duas perguntas. Você lembra de ocasiões em que o Espírito de Deus esteve graciosamente presente, em plenitude de poder, com você e seu povo? Bons tempos aqueles! Aquele Dia do Senhor foi um dia elevado. Aqueles cultos pareciam com a adoração de Jacó quando disse: "Sem dúvida o SENHOR está neste lugar!". Que sinalização mútua há entre o pregador no Espírito e o povo no Espírito! Seus olhos parecem nos falar tanto quanto nossas línguas falam a eles. Nesse momento, eles são um povo muito diferente do que em ocasiões comuns: há até beleza em seus rostos enquanto glorificamos ao Senhor Jesus, e eles se deleitam e sorvem nosso testemunho.


Você já viu um senhor da escola moderna apreciar a própria pregação? Nossos pregadores evangélicos estão muito felizes em pregar aquilo que nossos amigos liberais gostam de chamar de "seus chavões"; mas os modernos, em sua sabedoria, não sentem tal alegria. Você pensa que por trás do ardor com que nossos amigos galeses dizem "Tintim!" há um Decadente? Com que seriedade eles dissertam sobre a teoria Pós-Exílica! Lembram-me a expressão de Ruskin: "Turner não teve alegria com seu moinho". Admito, não há nada para se alegrar, e evidentemente eles ficam contentes em terminar sua tarefa de empilhar ossos descarnados. Eles estão em pé diante de uma manjedoura vazia, divertindo-se em ser sarcásticos em relação a essa manjedoura que é deles também. Terminam sua pregação e estão bastante entorpe-cidos, até que chegue a segunda-feira com alguma partida de futebol, ou um entretenimento na sala de aula ou uma reunião política. Para eles pregar é "trabalho", embora não se empenhem muito nesse trabalho.


Os velhos pregadores e alguns daqueles que vivem hoje, chamados de "obsoletos", pensam no púlpito como um trono ou uma carruagem triunfal e que estão perto do céu quando são ajudados a pregar com poder. Pobres tolos que somos, pregando nosso evangelho "antiquado"! Nós gostamos da tarefa. Nossas doutrinas melancólicas nos fazem muito felizes. Estranho, não é? É claro que o evangelho é tutano e gordura para nós, e nossas crenças--embora, com certeza, sejam muito absurdas e nada filosóficas--nos satisfazem e nos deixam muito confiantes e felizes.


Sobre alguns de meus irmãos, posso dizer que seus olhos parecem faiscar e suas almas brilhar, enquanto descortinam a graça gratuita e o amor vicário. Assim, irmãos, quando Deus está presente, nós e nossos ouvintes somos transportados em deleite celestial. E isso não é tudo. Quando o Espírito de Deus está presente, cada santo ama seu irmão santo, e não há disputa entre nós a não ser para ver quem é o mais amável. Portanto, a oração é lutar e prevalecer, e o ministério é semear boa semente e colher grandes braçadas. Assim, as conversões são numerosas, as restaurações abundantes e por toda parte são vistos avanços na graça. Aleluia! Com o Espírito de Deus vai tudo bem.


Mas você conhece a condição oposta? Espero que não. É morte em vida. Espero que você nunca, em seus experimentos científicos, tenha sido suficientemente cruel para pôr um ratinho em uma bomba de ar e aos poucos exauri-lo. Eu li sobre esse experimento fatal. Pobre ratinho! À medida que o ar fica cada vez mais rarefeito seu sofrimento aumenta, e quando o ar acaba, ele cai morto. Você já não esteve em uma bomba de ar em que se sentiu exausto espiritualmente? Você só esteve ali o tempo suficiente para perceber que quanto mais cedo escapasse, melhor.


Um dia desses, uma pessoa me disse: "Bem, quanto ao sermão que ouvi do divino pensador moderno não houve grande mal nele, porque nessa ocasião ele se manteve longe da falsa doutrina, mas toda a experiência foi intensamente fria. Senti-me como o homem que cai na fissura de uma geleira: confinado como se não pudesse respirar o ar do céu." Você conhece aquele frio ártico que ocasionalmente pode ser sentido mesmo quando a doutrina é sólida. Quando o Espírito de Deus se foi, mesmo a verdade se torna um iceberg. É terrível uma religião fria e sem vida! O Espírito Santo se foi, e levou toda energia e entusiasmo. A cena fica como aquela descrita no poema The Ancient Mariner [A balada do velho marinheiro], quando o navio estava em uma calmaria:


O próprio abismo apodrecia... Como, ó Cristo,
Aquilo foi se dar?
Coisas viscosas e com pernas rastejavam
Sobre o viscoso mar


Dentro do navio tudo era morte. E já vimos isso na igreja. Sou tentado a usar os versos de Coleridge em relação ao muito que pode ser visto nessas igrejas que merecem o nome de congregações de mortos. O poeta descreve como os corpos dos mortos eram inspirados e o navio prosseguia, cada morto cumpria seu ofício de forma morta e formal:


Manobra o Timoneiro, a nave se desloca,
E sem nenhuma aragem;
Os marujos se põem a trabalhar nas cordas,
E tal como antes agem;
Instrumentos sem vida tornam-se seus membros...
Que tétrica equipagem!


Faltava qualquer viva camaradagem, pois o velho marinheiro diz:


Algo semelhante acontece naquelas congregações "respeitáveis" em que ninguém conhece ninguém e um digno isolamento toma o lugar de toda santa comunhão. Para o pregador, se ele é o único ser vivo na congregação, a igreja produz uma triste comunidade. Seus sermões caem em ouvidos moucos.


Plácida a noite, era alta a lua; e vi reunidos os mortos nesse instante.
Todos de pé lá no convés, que deveria Ossário se chamar;
Todos em mim fixavam seu olhar de pedra, Que brilhava ao luar.


Sim, o frio e melancólico luar do pregador, cai sobre faces que são semelhantes a essa luz. O discurso impressiona seus intelectos impassíveis e fixa seus olhos duros como pedra; exceto o coração! Bem, o coração não está em voga nessas paragens. O coração é para o reino da vida; mas sem o Espírito Santo o que as congregações conhecem da vida verdadeira? Se o Espírito Santo se foi, a morte reina, e a igreja é um sepulcro. Portanto, precisamos rogar que ele habite em nós, e não podemos descansar até que ele faça isso. Ó irmãos, que não seja eu quem fale com vocês sobre isso, para depois permitir que o assunto morra; mas que cada um de nós busque com o coração e a alma para que o poder do Espírito Santo habite em nós.


A certeza da presença do Espírito Santo

Temos recebido o Espírito Santo? Ele está conosco agora? Se esse é o caso, como podemos ter certeza de sua presença no futuro? Como podemos compeli-lo a habitar em nós?


Primeiro, trate-o como deve ser tratado. Adore-o como o Senhor Deus digno de adoração. Nunca trate o Espírito Santo como se fosse um objeto, nem fale dele como se fosse uma doutrina, uma influência ou um mito ortodoxo. Reverencie o Espírito, ame-o, e creia nele com confiança familiar, porém reverente. Ele é Deus, deixe-o ser Deus para você.


Aja em conformidade com a obra dele. O marinheiro que vai para o leste não pode criar os ventos a seu bel-prazer, mas ele sabe quando os ventos alísios sopram e aproveita a estação para imprimir velocidade a sua embarcação. Saia ao mar em santo empreendimento quando o vento celestial está a seu favor. Aproveite a maré sagrada enquanto ela avança. Aumente suas reuniões quando sente que o Espírito de Deus as abençoa. Insista na verdade com mais veemência que nunca, quando o Senhor abre ouvidos e corações para aceitá-la. Você logo aprenderá a conhecer quando há orvalho em volta--valorize a graciosa visitação. O fazendeiro diz: "Trabalha enquanto é dia". Você não pode fazer o sol brilhar; isso está completamente fora de seu alcance; mas você pode usar o sol enquanto brilha. "Assim que você ouvir um som de passos por cima das amoreiras, saia rapidamente" (2Sm 5.24). Seja diligente na estação e fora dela, mas em uma estação cheia de vida seja duplamente laborioso.


Sempre ao começar, continuar e terminar qualquer e toda boa obra, dependa conscientemente e em verdade do Espírito Santo. Até a consciência de sua necessidade dele, ele precisa lhes dar, e as orações com que suplicam por sua presença devem partir dele. Vocês estão empenhados em um trabalho tão espiritual, tão acima de todo poder humano que esquecer-se do Espírito é certeza de derrota. Façam o Espírito Santo ser o sine qua non de seus esforços, e digam a ele: "Se não fores conosco, não nos envies" (Êx 33.15).


Descansem apenas nele e reservem para ele toda a glória. Lembrem-se especialmente disso, porque esse é um ponto delicado para ele: ele não dará sua glória a outro. Tenham o cuidado de louvar o Espírito de Deus do fundo do coração, e gratamente se admirem de que ele aceite trabalhar a seu lado. Agradem-no ao glorificar Cristo. Honrem-no ao ceder sua pessoa aos impulsos dele e ao odiar tudo que o entristece. A consagração de todo seu ser é o melhor salmo que pode fazer em louvor dele.


Há algumas coisas de que gostaria que se lembrassem, depois termino. Lembrem-se, o Espírito Santo tem seus meios e métodos, e há algumas coisas que ele não fará. Lembrem-se, ele não faz nenhuma promessa de abençoar acordos. Se fizermos acordo com o erro ou o pecado, é por nossa conta e risco. Se fazemos qualquer coisa sobre a qual não temos clareza, se manipulamos a verdade ou a santidade, se somos amigos do mundo, se fazemos provisão para carne, se pregamos com desânimo ou fazemos pacto com engana-dores, não temos nenhuma promessa de que o Espírito Santo está conosco. A grande promessa vai em outra direção: "'Saiam do meio deles e separem-se', diz o Senhor. 'Não toquem em coisas impuras, e eu os receberei e lhes serei Pai, e vocês serão meus filhos e minhas filhas', diz o Senhor todo-poderoso" (2Co 6.17,18).


No Novo Testamento apenas em um único lugar, com exceção do Livro de Apocalipse, Deus é chamado de "Senhor todo-poderoso" (2Co 6.18). Se você quer saber que grandes coisas o Senhor pode fazer como Senhor Todo-Poderoso, separe-se do mundo e daqueles que apostatam da verdade. O título "Senhor todo-poderoso" é citado do Antigo Testamento. "El Shaddai", Deus Todo-suficiente, o Deus de muitos ventres. Não conheceremos o poder supremo de Deus para suprir todas nossas necessidades até que cortemos de vez a ligação com tudo que não está de acordo com a mente dele.


Abrão foi grande quando disse ao rei de Sodoma: "Não aceitarei nada"--, uma veste babilônica ou uma cunha de ouro? Não, não. Ele disse: "Não aceitarei nada do que lhe pertence, nem mesmo um cordão ou uma correia de sandália" (Gn 14.23). Esse foi o "corte pela raiz". O homem de Deus não aceita ter nada com Sodoma nem com a falsa doutrina. Se você vir qualquer coisa má, corte-a pela raiz. Afaste-se daqueles que afastaram a verdade. Então você está preparado para receber a promessa, não antes disso.


Irmãos amados, lembrem-se, onde houver grande amor, com certeza, haverá grande ciúme. "Amor é tão forte quanto a morte" (Ct 8.6). O que vem em seguida? "O ciúme é tão inflexível quanto a sepultura". "Deus é amor" (1Jo 4.8,16) e exatamente por essa razão "o SENHOR, o seu Deus, é Deus zeloso; é fogo consumidor" (Dt 4.24). Passe longe de tudo que contamina ou entristece o Espírito Santo; pois se ele estiver aborrecido conosco, logo passaremos vergonha diante do inimigo.


A seguir, observe que ele não faz nenhuma promessa à covardia. Se você permitir que o temor do homem o governe e desejar se salvar do sofrimento ou ridículo, encontra pouco conforto na promessa de Deus: "Pois quem quiser salvar a sua vida, a perderá" (Mt 16.25). As promessas do Espírito Santo para nós, em nossa guerra, são para aqueles que se portam como homens e pela fé são tornados corajosos na hora do conflito. Desejo que cheguemos a esse ponto, desprezando o ridículo e a calúnia.


Ah, esquecer de si mesmo como aquele mártir italiano de quem Foxe fala! Condenaram-no a ser queimado vivo, e ele ouviu a sentença calmamente. Mas queimar mártires, por mais deleitável que seja também é caro; e o prefeito da cidade não tinha interesse em pagar pela lenha, e os sacerdo-tes que o haviam acusado também queriam fazer o trabalho sem ter despesa. Por isso, tiveram uma briga feia, e lá estava de pé e quieto o pobre homem para quem essa lenha era destinada, ouvindo as mútuas recriminações daquelas autoridades. Vendo que não podiam resolver o assunto, ele disse: "Senhores, acabarei com sua disputa. É pena que qualquer dos senhores precisem gastar tanto com lenha para me queimar, assim, por amor a meu Senhor, pagarei pela lenha que me vai queimar, se me permitem."


Eis um lindo exemplo de escárnio, bem como de mansidão. Não sei se teria pago aquela conta; mas tenho me sentido inclinado a sair um pouco do caminho para ajudar os inimigos da verdade, para que encontrem combustível para suas críticas contra mim. Sim, sim; serei ainda pior, lhes darei mais para reclamar. Por amor a Cristo, vou até o fim com a controvérsia e nada farei para aquietar a ira deles. Irmãos, se vocês adornarem um pouco, se tentarem salvar um pouco de sua reputação junto aos homens da apostasia, isso é ruim para vocês. Aquele que se envergonha de Cristo e de sua Palavra nesta geração má verá que, no fim, Cristo se envergonha dele.


Serei muito breve sobre esses pontos. Depois, lembre-se, o Espírito Santo nunca põe seu selo sobre a mentira. Nunca! Se o que você pregar não for verdade, Deus não reconhecerá isso. Prestem muita atenção a isso.


Além disso, o Espírito Santo nunca põe sua assinatura em um papel em branco. Isso seria falta de prudência no homem, e o santo Senhor não faria tal tolice. Se não pregarmos uma doutrina clara com discurso inteligível, o Espírito Santo não assinará tagarelice vazia. Se não fizermos claramente nossa apresentação de Cristo, e de Cristo crucificado, podemos dar adeus ao sucesso verdadeiro.


Depois, lembre-se, o Espírito Santo nunca sanciona o pecado; e abençoar o ministério de alguns homens seria sancionar o mau caminho. "Sejam puros, vocês, que transportam os utensílios do Senhor" (Is 52.11). Que seu caráter corresponda a seu ensino, e que sua igreja seja purgada dos transgressores que erram abertamente, para que o Espírito Santo não rejeite seu ensino, não pelo ensino em si, mas por causa do mau cheiro da vida impura que o desonra.


Lembre-se, também, ele nunca incentiva o ócio. O Espírito Santo não nos resgatará da negligência voluntária da Palavra de Deus e do estudo. Se passamos a semana toda de lá para cá, sem nada fazer, não podemos subir ao púlpito e pensar que o Senhor está lá para nos dizer sobre o que devemos falar. Se fosse prometido auxílio a tais pessoas, então quanto mais preguiçoso o homem, melhor seria o sermão. Se o Espírito Santo trabalhasse apenas por meio de oradores improvisados, quanto menos lêssemos nossas Bíblias e medi-tássemos sobre elas, tanto melhor. Se fosse errado citar livros, não seria ordenado: "Dedique-se à leitura" (1Tm 4.13). Tudo isso é um absurdo óbvio, e nenhum de vocês acredita em tal ilusão. Com certeza, somos obrigados a meditar muito e nos entregar inteiramente à Palavra de Deus e à oração, e quando nos dedicamos a essas coisas podemos esperar a aprovação e cooperação do Espírito. Devemos preparar o sermão como se tudo dependesse de nós e confiar no Espírito de Deus, sabendo que tudo depende dele. O Espírito Santo não envia ninguém à colheita para dormir entre os feixes, mas para suportar o peso do trabalho e o calor do dia. É bom orarmos a Deus para que mande mais "trabalhadores" para o vinhedo, pois o Espírito está com a força dos lavradores, mas não é amigo dos ociosos.


Mais uma vez, pondere, o Espírito Santo não nos abençoa para sustentar nosso orgulho. É possível que desejemos uma grande bênção para que sejamos considerados grandes homens? Isso atrapalha nosso êxito: a corda do arco está avariada e a flecha cai para o lado. O que Deus faz com homens orgulhosos? Ele os exalta? Creio que não. Herodes fez um discurso eloqüente e vestiu uma toga de prata reluzente que brilhava ao sol, e quando o povo viu suas vestimentas e ouviu sua voz charmosa, exclamou: "É voz de deus, e não de homem" (At 12.22), mas o Senhor o feriu, e ele foi comido por vermes. Vermes têm o direito prescritivo de comer carne orgulhosa; e quando nos tornamos muito poderosos e grandes, os vermes esperam fazer de nós uma refeição. "O orgulho vem antes da destruição; o espírito altivo, antes da queda" (Pv 16.18). Conserve-se humilde se quiser ter consigo o Espírito de Deus. O Espírito Santo não tem prazer na oratória inflamada do soberbo. Como poderia? Você o imagina sancionando linguagem bombástica? "Ande humildemente com o seu Deus" (Mq 6.8), Ó, Pregador! pois não podes andar com ele de nenhuma outra maneira; e se não andar com ele, teu andar será em vão.


Lembre-se, de novo, o Espírito Santo não habita onde há contenda. Que sigamos em paz com todos os homens e, especialmente, conservemos a paz em nossas igrejas. Alguns de vocês ainda não foram favorecidos com essa bênção e é possível que não seja sua culpa. Você herdou antigas contendas. Em muitas comunidades pequenas, todos os membros da congregação são primos uns dos outros, e, em geral, parentes concordam em discordar. Quando primos enganam primos, as sementes do rancor são semeadas e embrenha-se até mesmo na vida da igreja. A arrogância de seu antecessor pode criar muita disputa por anos. Ele era um homem de guerra desde a mocidade e mesmo depois que se foi, os espíritos que chamou de vasta profundeza ficaram para assombrar o local. Temo que você não possa esperar muita benção, pois a Pomba Santa não habita águas turbulentas, ela escolhe vir onde há amor fraternal. Arriscamos a paz pessoal por grandes princípios e assuntos de disciplina santa, mas que não o façamos por nós mesmos ou por nossos interesses.


Por fim, lembre-se, o Espírito Santo só abençoa em conformidade com seu propósito determinado. Nosso Senhor explica qual é esse propósito: "Ele me glorificará" (Jo 16.14). Ele veio para essa grande finalidade e não se contentará com nada menos que isso. Portanto, se não pregarmos Cristo, o que o Espírito Santo fará com nossa pregação? Se não fizermos com que o Senhor Jesus seja glorificado, se não o elevarmos alto na estima dos homens, se não nos esforçarmos para fazê-lo Rei dos reis e Senhor dos senhores; não teremos o Espírito conosco. Vãs são a retórica, a música, a arquitetura, a energia e a posição social: se nosso projeto não for engrandecer o Senhor Jesus, trabalhamos sozinhos e em vão.


Isso é tudo que tenho a lhes dizer nesta hora, mas, irmãos queridos, isso é um grande tudo se primeiro for considerado e depois executado. Que possa ter efeito prático sobre nós! Terá, se o grande Operador usá-lo, e não o contrário. Ó soldados de Jesus vão adiante com "a espada do Espírito, que é a palavra de Deus" (Ef 6.17). Vão em frente, em companhia dos devotos a quem guiam, e que todo homem seja forte no Senhor e na força do seu poder. Como homens vivos que vêm da morte, vão em frente no poder vivificador do Espírito Santo, vocês não têm outra força. Que a bênção do Deus Triúno repouse sobre vocês, sobre cada um de vocês e todos, por amor do Senhor Jesus Cristo! Amém.