AO MESTRE DE MÚSICA
Para ser cantado, portanto, e cantado no culto do templo! Mesmo assim não
é nada fácil imaginar a nação inteira cantando
tais maldições. Nós próprios, mesmo assim,
sob a dispensação do evangelho, achamos muito difícil
infundir neste salmo um sentido do evangelho, ou um sentido compatível,
por pouco que seja, com o espírito cristão; e portanto, imaginaríamos
que os judeus teriam achado difícil salmodiar linguagem tão
forte sem sentir o espírito de vingança excitado, e o despertar
desse espírito não poderia nunca ter sido o objetivo do culto
divino em tempo algum - sob a lei ou sob a graça. De início
esse título mostra que o salmo tem como sentido que fica bem homens
de Deus terem comunhão diante do trono do Altíssimo: mas
qual será esse sentido? É uma pergunta de grande dificuldade,
e só um espírito muito infantil poderá ser capaz de
respondê-la.
Um salmo de Davi. Portanto não é o desvario de um misantropo
malévolo, ou as abominações de um espírito
vingativo esquentado. Davi não abateria o homem que buscava seu
sangue, ele freqüentemente perdoou aqueles que o trataram vergonhosamente;
e portanto estas palavras não podem ser lidas em um sentido amargo,
vingativo, pois isso seria alheio ao caráter do filho de Jessé.
As sentenças imprecatórias diante de nós foram redigidas
por alguém que, junto com toda sua coragem em batalha, era um homem
de música e de coração terno, e queriam ser dirigidas
a Deus na forma de um salmo, e por isso sem a menor possibilidade de desejarem
ser mero praguejamento irado.
A não ser que se possa provar que a religião da velha dispensação
era completamente dura, morosa e draconiana, e que Davi tinha um espírito
mal-intencionado e vingativo, não se pode conceber que este salmo
contenha o que um autor ousou chamar de "um ódio incompassivo,
uma malignidade refinada e insaciável". A tal sugestão
não podemos dar espaço nem por uma hora. Mas que outra opção
se tem diante de linguagem tão forte? Na verdade é um dos
pontos mais difíceis da Escritura, uma passagem que a alma treme
para ler, contudo, sendo um salmo a Deus, e dado por inspiração,
não nos compete tecer julgamento a seu respeito, mas apurar o ouvido
para o que Deus o Senhor nos diria.
Este salmo se refere a Judas, pois assim Pedro o citou, mas atribuir suas
denúncias amargas ao nosso Senhor na hora de seus sofrimentos é
mais do que nós ousamos fazer. Estas não são coerentes
com o silencioso Cordeiro de Deus, que não abriu sua boca quando
levado à matança. Pode parecer muito piedoso pôr tais
palavras em sua boca; esperamos que seja nossa piedade que evita de o fazermos.
DIVISÃO
Nos primeiros cinco versículos (Sl 109.1-5), Davi roga humildemente
a Deus que ele possa ser livrado de seus inimigos sem remorso e de coração
falso. Em Sl 109.6-20, cheio de um fervor profético, que o leva
inteiramente além de si mesmo, ele denuncia o juízo sobre
seus inimigos, e então, em Sl 109.21-31, ele volta à sua
comunhão com Deus em oração e louvor. A parte central
do salmo, no qual a dificuldade se encontra, precisa ser vista não
como o desejo pessoal do salmista de sangue frio, mas como sua denúncia
profética de pessoas tais como ele descreve, e enfaticamente de
um especial "filho da perdição" que ele enxerga
com olho presciente. Nós todos oraríamos pela conversão
de nosso pior inimigo, e Davi teria feito o mesmo, mas vendo os adversários
do Senhor, e executores de iniqüidade, como tais, e como incorrigíveis
nós não podemos lhes desejar o bem; pelo contrário,
desejamos sua derrota e destruição. Os mais ternos corações
se afogueiam com indignação quando ouvem falar de barbaridades
feitas a mulheres e crianças, de complôs ladinos para arruinar
os inocentes, de opressão cruel de órfãos desamparados,
e ingratidão gratuita aos bons e mansos. Uma maldição
sobre os que cometem atrocidades na Turquia pode não ser menos virtuoso
do que uma bênção sobre os justos. Nós desejamos
o bem a toda a humanidade, e por essa razão às vezes nos
inflamamos de indignação contra os seres desumanos que pisam
cada lei que protege nossos semelhantes, e por quem cada ditame da humanidade
se torna nulo.
DICAS PARA O PREGADOR
VERS. 1. O silêncio de Deus. O que pode significar, o que envolve,
como podemos procurar quebrá-lo.
VERS. 1. Deus de meu louvor. Um texto que pode ser exposto em seu sentido
duplo.
VERS. 1-3.
1. Deus está a favor de seu povo quando os maus estão contra
eles (Sl 109.1):
(a) Por amor de seu povo.
(b) Por amor de si.
2. Os maus estão contra seu povo quando ele está a favor
deles (Sl 109.2-3):
(a) De ódio de Deus.
(b) De ódio do povo dele (G. R.).
VERS. 2. Difamação. Sua causa - maldade e malícia.
Seus instrumentos - engano e mentiras. Sua freqüência - Jesus
e os santos foram difamados. Seu castigo. Nossa saída quando provados
por ela - oração a Deus.
VERS. 4. Sobre a excelência da oração.
VERS. 4. Os adversários do Senhor, e seu recurso.
VERS. 4-5.
1. O espírito e conduta de Davi para com seus inimigos.
(a) Seu espírito é amor - amor por ódio; por isso
suas denúncias são contra os pecados deles, em vez de contra
eles.
(b) Sua conduta. Devolvia o bem pelo mal; intercedia por eles.
2. O espírito e conduta deles para com ele.
(a) Ódio por amor.
(b) O mal pelo bem (G. R.).
VERS. 5. O mal pelo bem. Isso é como o diabo. Será que os
homens não se sentem culpados disso diante dos pais, diante daqueles
que lhes deram avisos, diante de santos e ministros, e especialmente diante
do próprio Senhor?
VERS. 5. Como o Redentor tem sido recompensado? Mostre o que ele merece,
e o que ele recebe de vários indivíduos. Ele sente a grosseria
da parte daqueles que não são agradecidos.
VERS. 6. É a lei de retribuição punir os maus por
meio dos maus (Storke).
VERS. 7. Quando pode a oração tornar-se pecado. Dependendo
do que se procura, como é procurado, por quem é procurado,
e para quê é procurado.
VERS. 8. Seja a sua vida curta. O pecado é o que mais abrevia a
vida humana. Depois do dilúvio a raça inteira viveu menos
anos; a paixão e o cuidado avaro encurtam a vida, e alguns pecados
têm o poder especial de fazer isso, paixão lasciva, bebedice.
VERS. 20-21.
1. Davi deixa seus inimigos na mão de Deus (Sl 109.20).
2. Ele se entrega às mesmas mãos (Sl 109.21) (G. R.).
VERS. 21. O rogo de um crente precisa ser tirado de seu Deus, seu "nome"
e sua "misericórdia". O hábito oposto de buscar
argumentos em si é muito comum e desilude muito.
VERS. 21. A bondade especial da misericórdia divina.
VERS. 22. As tristezas íntimas de um santo. Suas causas, efeitos,
consolações e cura.
VERS. 26-27.
1. A oração.
2. O título quando se Crê: "Senhor, meu Deus".
3. O atributo em que se confia.
4. O motivo para o pedido.
VERS. 28. A cura divina para a má vontade humana, e o temperamento
do santo quando ele confia nela - "o teu servo se alegrará".
VERS. 29.
1. Uma oração para o arrependimento dos adversários
de Davi.
2. Uma profecia de sua confusão se permanecerem impenitentes (G.
R.).
VERS. 29. O último manto do pecador.
VERS. 30. Louvor vocal. Deve ser pessoal, resoluto, inteligente, abundante,
forte. Deve atrair outros, unir-se com outros, estimular outros, mas nunca
perder a sua personalidade.
VERS. 30-31.
1. A vontade de Davi em relação a si mesmo: "darei...
louvarei" (Sl 109.30).
2. O futuro de Davi em relação a Deus: ele agirá (Sl
109.31) (G. R.).
VERS. 30-31. Ele promete a Deus que ele louvará a Deus (Sl 109.31).
Ele se promete que terá causa para louvar a Deus (Sl 109.31) (Matthew
Henry).
VERS. 31.
1. A quem a promessa é feita - ao pobre.
2. O perigo a que está exposto - àqueles que condenam sua
alma.
3. O livramento que lhe é prometido - divino, oportuno, eficaz,
completo, eterno.