SALMO 104


OBSERVAÇÕES GERAIS
Temos aqui um vôo dos mais amplos e longos da musa inspirada. Este salmo oferece uma interpretação às muitas vozes da natureza, e canta docemente tanto a criação como a providência. O poema contempla um cosmos completo, mar e terra, nuvem e sol, planta e animal, luz e escuridão, vida e morte, todos provas eloqüentes da presença do Senhor. Traços dos seis dias da criação estão muito evidentes, e, embora a criação do homem, a obra coroadora do trabalho do sexto dia, não seja mencionada, isso se explica por ser o próprio homem o cantor: alguns têm até discernido sinais do descanso divino no sétimo dia em Sl 104.31. É a versão de um poeta do Gênesis. Não é apenas a presente condição da terra o assunto deste canto, mas há uma alusão àqueles tempos mais santos quando veremos "uma nova terra na qual habita a justiça", na qual o pecador será destruído, Sl 104.35. O espírito de louvor ardente a Deus percorre todo o salmo, bem como uma percepção distinta do Ser divino como uma existência pessoal, a qual se ama, em quem se confia e que se adora.
Não temos informação quanto ao autor, mas a Septuaginta o atribui a Davi, e não vemos razão para atribuí-lo a outra pessoa. Seu espírito, estilo e modo de escrever estão bem patentes nele, e se o salmo precisa ser atribuído a outro, deve ser a uma mente muito similar, e nós só poderíamos sugerir o filho sábio de Davi, Salomão, o pregador poeta, a cujas anotações sobre história natural em Provérbios alguns dos versículos se assemelham bastante. Quem quer que tenha usado a pena humana, a glória extraordinária e a perfeição da autoria divina do próprio Espírito Santo ficam claras a qualquer mente espiritualizada.


DIVISÃO
Depois de atribuir bem-aventurança ao Senhor, o salmista devoto canta a luz e o firmamento, que foram a obra do primeiro e segundo dias, Sl 104.1-6. Com uma modulação fácil, ele descreve a separação das águas da terra seca, a formação das chuvas, ribeiros e rios, e o crescimento de ervas verdes, que foram o produto do terceiro dia, Sl 104. 7-18. Então, o desígnio para que o sol e a lua fossem os guardiões do dia e da noite dirige a admiração do poeta (Sl 104.19-23), e assim, ele louva o trabalho do quarto dia. Já tendo aludido a uma variedade de criaturas vivas, o salmista prossegue com o Sl 104.24-30 para cantar a vida com que o Senhor ficou satisfeito em encher o ar, o mar e a terra; essas formas de existência foram o produto especial do quinto e sexto dias. Podemos contar os versículos finais, Sl 104. 31-35, como uma meditação de sábado, hino e oração. Tudo se estende diante de nós como um panorama do universo visto pelo olho da devoção. Que Deus nos dê graça para render o devido louvor ao Senhor enquanto o lemos.


DICAS PARA O PREGADOR
VERS. 1 (primeira cláusula). Uma exortação ao nosso próprio coração.
1. Para lembrar-se do Senhor como a primeira causa de todo bem. Bendiga não ao homem, ou à sorte, e sim ao Senhor.
2. Faça isso de maneira amorosa, agradecida, com louvor. Bendiga ao Senhor.
3. Faça isso agora - por várias razões e de todos os modos possíveis.
VERS. 1 (segunda cláusula) Ele é tudo isso essencialmente, e na natureza, providência, graça e juízo.


VERS. 2 (primeira cláusula). A mais clara revelação de Deus ainda é um ocultamento; até mesmo a luz é apenas uma cobertura para ele. Deus é vestido de luz quando nós o vemos em sua onisciência, sua santidade, sua revelação, sua glória, no céu e sua graça na terra.


VERS. 3 (última cláusula).
1. Deus tem vagar em sua pressa: "ele cavalga".
2. Deus é rápido enquanto vai devagar: "ele cavalga nas asas do vento".
3. As conclusões práticas são que há tempo suficiente para os propósitos divinos, mas nenhum para nosso desperdício; e que nós devemos esperar com paciência para a vitória de sua causa bem como apressá-lo com atividade santa.


VERS. 4.
1. A natureza dos espíritos angelicais.
2. O Senhor dos anjos. "Que faz". Qual deve ser a espiritualidade própria daquele que faz espíritos?
3. O ministério de Anjos.
(a) Seu ofício: "ministros".
(b) Sua atividade ou zelo: "um fogo flamejante".
(c) Sua dependência: feitos ministros (G. Rogers).


VERS. 7. O poder da palavra divina na natureza mostra seu poder em outras esferas.


VERS. 9.
1. Todas as coisas têm seus limites ordenados.
2. Ultrapassar esses limites sem permissão especial de Deus é transgressão. "Tu estabelecestes um limite que eles não podem ultrapassar".
3. Casos extraordinários devem ser seguidos pela volta a obrigações ordinárias. "Para não voltarem de novo" (G. R.).


VERS. 10. Deus é atencioso para com aqueles que, como os vales, estão embaixo, ocultos e necessitados: o caráter de permanência de seus suprimentos; e os resultados alegres de seu cuidado.
VERS. 10. O cuidado de Deus pelas criaturas selvagens; reflexões sobre isso.
1. Ele não cuidará muito mais ainda de seu povo?
2. Ele não olhará pelos homens rudes, errantes?
3. Nós também não devemos cuidar de todos que vivem?
VERS. 10. Da fertilidade, vida e música que marcam o curso de um ribeiro, ilustre as influências benéficas do Evangelho (C. A. Davis).


VERS. 14. No Monte de Feno. (Sermões de Spurgeon, n. 757. Abrigo da chuva. Reunião de Oração dentro do abrigo do feno. Oração e um Movimento Estudantil Missionário.)
1. O capim é em si instrutivo.
(a) Como símbolo de nossa mortalidade: "Toda carne é capim".
(b) Como símbolo dos ímpios.
(c) Como figura dos eleitos de Deus, Is 35.7; 44.4; Sl 72.5, 16.
(d) O capim é comparável à comida com que o Senhor supre as necessidades de seus eleitos, Sl 23.2; Sf 1.7.
2. Deus é visto no cultivo do capim.
(a) Como trabalhador: "É o Senhor que faz". Veja Deus nas coisas comuns - nas coisas solitárias.
(b) Veja Deus como zelador: "O Senhor faz crescer o pasto para o gado". Deus cuida dos animais, dos que precisam de amparo, mudas e sem palavras, providenciando comida que serve para eles: "pasto". Vejamos sempre, então, a sua mão na providência.
3. Deus operando no pasto para o gado dá-nos ilustrações com respeito à graça.
(a) Deus "cuida de gado" e satisfaz seus desejos: então deve haver algo em algum lugar para satisfazer as necessidades da mais nobre criatura homem e sua alma imortal.
(b) Embora Deus providencie o capim para o gado, o gado precisa comê-lo. O Senhor Jesus Cristo é providenciado como alimento da alma. Precisamos, pela fé, receber e alimentarmo-nos de Cristo.
(c) Impedir a graça pode ser visto aqui em um símbolo: antes que o gado fosse criado, neste mundo havia o capim. Houve suprimentos da aliança para o povo de Deus antes que eles estivessem no mundo.
(d) Eis uma ilustração da graça disponível: o gado nada traz para comprar o alimento. Por que é assim?
(1) Porque eles lhe pertencem, Sl 100.3.
(2) Porque ele entrou numa aliança com eles para alimentá-los. Gn 9.9, 10.
No texto há um forte golpe dado contra o livre arbítrio: "Ele faz crescer o pasto". A graça não cresce no coração sem uma causa divina. Se Deus cuida de fazer crescer o pasto, ele também nos fará crescer em graça. Ou, por outra, o pasto não cresce sem finalidade, é "para o gado"; mas o gado cresce para o homem. Para que, então cresce o homem? Observe que a existência do pasto é necessária para completar a cadeia da natureza. Assim o mais desprezível filho de Deus é necessário à família.


VERS. 16. "Os Cedros do Líbano" (Sermão de Spurgeon, 529).
1. A ausência de toda a cultura humana. Estas árvores são especialmente árvores do Senhor, porque:
(a) Devem seu plantio inteiramente a ele: "que ele plantou".
(b) Não são dependentes do homem para serem regadas.
(c) Nenhum poderio mortal as protege.
(d) Quanto à sua inspeção - preservam uma sublime indiferença ao olhar humano.
(e) Sua exultação é toda para Deus.
(f) Não há um cedro no Líbano que não seja independente do homem em suas expectativas.
2. A mostra gloriosa do cuidado divino.
(a) Na abundância de seu suprimento.
(b) São sempre verdes.
(c) Observe a pujança e tamanho dessas árvores.
(d) Sua fragrância.
(e) Sua perpetuidade.
(f) São bem veneráveis.
3. A plenitude do princípio vital. "As árvores do Senhor são cheias de seiva".
(a) Isto é vitalmente necessário.
(b) É essencialmente misterioso.
(c) É radicalmente secreto.
(d) É perenemente ativo.
(e) É externamente operante.
(f) É abundantemente desejável.


VERS. 17-18. "Lições da natureza" (Sermão 1.005).
1. Para cada lugar Deus preparou uma forma de vida adequada: para "os pinheiros", para "a cegonha", "os montes elevados", "o bode selvagem". Assim, para todas as partes do universo espiritual Deus providenciou formas adequadas de vida divina.
(a) Cada época tem seus santos.
(b) Em cada fileira serão encontrados. A religião cristã se adapta igualmente bem em todas as condições.
(c) Em toda igreja encontra-se vida espiritual.
(d) O povo de Deus será encontrado em todas as cidades.
2. Cada criatura tem seu lugar apropriado.
(a) Cada homem tem de Deus uma posição conferida a ele.
(b) Isso também é verdade para nossa experiência espiritual.
(c) Também é verdade quanto à individualidade de personalidade.
3. Toda criatura que Deus fez é provido de um abrigo.
4. Para cada criatura o abrigo é apropriado.
5. Cada criatura usa seu abrigo.


VERS. 19.
1. A sabedoria de Deus conforme apresentada nos céus. Nas mudanças da lua e variedade das estações.
2. A bondade de Deus conforme apresentada ali, inspirando confiança em suas criaturas pela sua regularidade.
"Assim como o sol, possa eu cumprir
Os deveres que me deu o meu Mestre
Com mente disposta e vontade no agir,
Ir em frente em meu rumo celeste."


VERS. 20. A escuridão e os animais que começam a sair de mansinho.
1. Ignorância de Deus, e paixões irrestritas (Rm 1.21). Pecados descobertos. Animais estavam lá antes, mas não notados, agora apavoram o homem.
2. Desânimo espiritual, desalento, desespero.
3. Letargia da igreja. Todo tipo de heresias, começam a aparecer de mansinho.
4. Influência papal. "Monges", "frades", "sacerdotes" caminham nesta era de treva.


VERS. 20.
1. Trabalho noturno é para feras selvagens: "Trazes trevas".
2. Trabalho diurno é para homens: "O homem sai" (v. 23). Trabalho bom é de dia; os maus gostam da noite: sua operação é no escuro. Os ministros que entram no escritório à noite e "rugem à procura da presa" e "buscam seu alimento de Deus" parecem mais feras do que homens racionais ( G. R.).


VERS. 21. Orações não articuladas, ou quão falha pode ser a expressão e contudo como pode ser verdadeira a oração na estima de Deus.


VERS. 22. Do efeito do raiar do sol sobre as feras silvestres, assim a influência da Graça Divina sobre nossas paixões vis (C. A. D.).


VERS. 24.
1. A linguagem da admiração: "Quantas são as tuas obras". Seu número, variedade, cooperação, harmonia.
2. De admiração: "Com sabedoria fizeste". Em toda parte a mesma sabedoria é apresentada. Deus, diz dr. Chalmers, é tão grande nas minúcias como na magnitude.
3. De gratidão: "A terra está cheia" (G. R. ).
VERS. 24.
1. As obras do Senhor são múltiplas e variadas.
2. São construídas de maneira a mostrar a mais completa sabedoria em seu projeto, e na finalidade para a qual foram formadas.
3. São todas propriedade de Deus, e devem ser usadas somente em referência à finalidade para a qual foram criadas. Todo abuso e desperdício das criaturas de Deus são espólio e roubo na propriedade do Criador (Adam Clarke).


VERS. 26. Nele passam os navios.
1. Nós vemos que os navios passam.
(a) Os navios são feitos para ir.
(b) Os navios ao ir finalmente desaparecem da vista.
(c) Os navios ao passar estão indo a negócio.
(d) Os navios navegam em um mar variável.
2. Como navegam os navios?
(a) Eles devem navegar conforme o vento.
(b) Mas o marinheiro não segue o vento sem trabalho algum de sua parte.
(c) Eles têm que ser guiados e dirigidos pelo leme.
(d) Aquele que maneja o leme se direciona por mapas e luzes.
(e) Eles andam de acordo com seu porte.
3. Vamos fazer sinal a eles.
(a) Quem é seu dono?
(b) Qual é sua carga?
(c) Onde você vai?


VERS. 27. Trace a analogia no mundo espiritual. Os santos aguardando, Sl 5.27; sua sustentação da mão estendida, Sl 5.28; seu problema sob a face oculta, sua morte se o Espírito tiver desaparecido, Sl 5.29; seu avivamento quando o Espírito retorna, Sl 5.30.


VERS. 30.
1. O começo da vida é de Deus: "Quando sopras o teu fôlego".
2. A continuação da vida é de Deus: "Renovas".
3. O declínio da vida é de Deus: "Escondes o rosto".
4. O cessar da vida é de Deus: "(Tu) lhes retiras o fôlego".
5. A ressurreição da vida é de Deus: "Renovas a face da terra" (G. R.).
VERS. 30. A estação da Primavera e suas analogias morais.


VERS. 32.
1. O que há em um Olhar de Deus. "Ele olha".
(a) O que há num olhar de ira.
(b) O que há num olhar de amor. Ele olhou da coluna de fogo sobre os egípcios. "O Senhor olhou de seu pilar de glória". Ele dirigiu outro olhar da mesma coluna para Israel.
2. O que há num Toque de Deus: "(Ele) toca". Um toque dele pode elevar uma alma para o céu, ou afundar uma alma até o inferno (G. R.).


VERS. 33.
1. O cantor - "Eu".
2. O canto - "louvores".
3. O auditório - "O Senhor", "Meu Deus".
4. A extensão do canto - "toda minha vida; enquanto eu viver" (A. G. B.).
VERS. 33. Dois verbos no futuro. "Cantarei... louvarei..."
1. Porque ele me fez viver.
2. Porque ele me fez viver nele.
3. Porque ele é Jeová e "meu Deus".
4. Porque eu viverei para sempre, no melhor sentido.


VERS. 34.
1. A contemplação de Davi.
2. A exultação de Davi (Thomas Horton).


VERS. 35.
1. Aqueles que não louvam a Deus não merecem estar na terra: "Sejam os pecadores eliminados".
2. Muito menos merecem estar no céu.
3. Aqueles que louvam a Deus estão aptos tanto para a terra como para o céu. Embora outros não o louvem aqui, os santos o louvarão. "Bendiga o Senhor a minha alma" (G. R.).