TÍTULO
Uma oração do aflito, quando ele é esmagado e derrama
sua queixa diante do Senhor. Este salmo é uma prece muito mais no
espírito do que nas palavras. Os pedidos formais são poucos,
mas uma forte torrente de súplicas vai do começo ao fim,
e como uma subcorrente, consegue achar o caminho para os céus através
dos gemidos de aflição e confissões de fé que
compõem a maior parte do salmo. É uma oração
dos afligidos ou de "um sofredor", e leva as marcas da idade
dos pais, como está registrado em Jabez que "sua mãe
o deu à luz em tristeza", assim podemos dizer deste salmo,
ainda como o Benoni de Raquel, ou filho da tristeza, era também
seu Benjamim, ou filho de sua mão direita, assim é este salmo
tão eminentemente expressivo de consolação como de
desolação. Não chega a ser correto chamá-lo
de salmo penitente, pois a tristeza é mais de alguém sofrendo
do que pecando. Tem seu próprio amargo, e não é o
mesmo daquele do salmo cinqüenta e um. O sofredor está aflito
mais pelos outros do que por si mesmo, mais por Sião e a casa do
Senhor do que por sua própria casa. É quando ele está
oprimido, ou muito preocupado e deprimido. Nem os melhores dos homens são
sempre capazes de abafar a torrente de tristeza. Mesmo quando Jesus estava
à bordo, a embarcação podia se encher e começar
a afundar. E ele derrama sua queixa ante o Senhor. Quando um copo é
enchido demais ou virado, naturalmente cai tudo que estava nele; grande
dificuldade remove do coração toda a reserva e faz a alma
se derramar sem detença; é bom quando aquilo que está
na alma é tal que pode ser derramado na presença de Deus,
e este é o caso quando o coração foi renovado pela
graça divina. A palavra traduzida "reclamação"
nada tem nela da idéia de achar defeito ou queixar-se, mas deve
antes ser traduzida como "gemido" - expressão de dor,
não de rebeldia. Para ajudar a memória chamaremos este salmo
de O GEMIDO DO PATRIOTA.
ASSUNTO
É o lamento de um patriota sobre a situação angustiosa
de seu país. Ele se veste das aflições de sua nação
como se fosse uma roupa de estopa, e lança seu pó e cinzas
sobre sua cabeça como os sinais e causas de sua tristeza. Ele tem
suas tristezas particulares e seus inimigos pessoais, ele está também
muito afligido no corpo por doença, mas as misérias de seu
povo lhe causam angústia mais amarga, e isso ele derrama num lamento
sincero e comovente. Contudo, não sem esperança o patriota
chora; ele tem fé em Deus, e espera pela ressurreição
da nação através do favor onipotente do Senhor; isso
o faz caminhar entre as ruínas de Jerusalém, e dizer com
espírito esperançoso: "Não, Sião, nunca
perecerás. Teu sol não se pôs para sempre; dias mais
claros estão guardados para ti". É inútil indagar
do ponto preciso na história de Israel que comoveu assim a alma
do patriota, pois muitas vezes a terra foi oprimida, e em qualquer de seus
tempos tristes este cântico e oração teria sido uma
fala bastante natural e apropriada.
DIVISÃO
Na primeira parte do salmo, Sl 102.1-11, o gemido monopoliza todos os versículos;
a lamentação não cessa, a tristeza reina. A segunda
porção, de Sl 102.12-28, tem uma visão de coisas melhores,
uma visão do Senhor gracioso, e sua existência eterna, e cuidado
de seu povo, e assim é intercalada com luz solar bem como sombreada
pela nuvem, e termina muito gloriosamente com confiança calma no
futuro e doce descanso no Senhor. A composição completa pode
ser comparada a um dia que, começando com vento e chuva, se aclara
ao meio-dia e se esquenta com o sol; continua com tempo bom, alguns chuviscos
intermitentes, e finalmente termina com um pôr de sol radiante.
DICAS PARA O PREGADOR
1. Homens aflitos podem orar.
2. Homens aflitos devem orar mesmo quando dominados pela situação.
3. Homens aflitos podem orar - pois o que é preciso é um
derramamento de sua queixa, não um espetáculo de oratória.
4. Homens aflitos são aceitos na oração - pois esta
oração é registrada.
VERS. 1-2. Cinco passos para o propiciatório. O salmista ora por:
1. Audiência: "Ouve a minha oração".
2. Acesso: "Chegue a ti o meu grito de socorro".
3. Remoção do véu: "Não escondas de mim
o teu rosto".
4. Um ouvido atento: "Inclina para mim os teus ouvidos".
5. Resposta (C. Davis).
VERS. 1, 17, 19-20. Uma dissertação interessante pode ser
baseada nestas passagens.
1. Implora-se ao Senhor que ouça - Sl 102.1.
2. A Promessa é dada de que ele ouvirá - Sl 102.17.
3. O Registro é que o Senhor já ouviu - Sl 102.19-20.
VERS. 2.
1. Oração na dificuldade é mais necessária.
2. Oração na dificuldade é mais escutada.
3. Oração na dificuldade é mais acelerada: "Responde-me
depressa".
Ou:
1. Oração da aflição: "Quando estou atribulado".
2. A oração da aflição: "Não escondas
o teu rosto", não removas a provação, mas esteja
comigo nela. Uma fornalha em fogo é um paraíso quando Deus
está lá conosco (G. R.).
VERS. 2 (primeira cláusula). Ele deprecia a perda da face divina
quando está em aflição.
1. Isso intensificaria a aflição mil vezes.
2. Isso tiraria dele a força para suportar a aflição.
3. Isso evitaria de ele agir de modo a glorificar Deus na aflição.
4. Isso poderia prejudicar o resultado da dificuldade.
VERS. 2 (última cláusula).
1. Nós muitas vezes temos que ter uma resposta depressa.
2. Deus pode responder assim.
3. Deus tem respondido assim.
4. Deus prometeu responder assim.
VERS. 3-11.
1. As causas da tristeza.
(a) A brevidade da vida, Sl 102.3.
(b) Dor no corpo, Sl 102.3.
(c) Depressão no espírito, Sl 102.4-5.
(d) Solidão, Sl 102.6-7.
(e) Repreensão, Sl 102.8.
(f) Humilhação, Sl 102.9.
(g) As vezes em que Deus esconde a face, Sl 102.10.
(h) Definhar, ser consumido, Sl 102.11.
2. A eloqüência da tristeza.
(a) A brevidade da vida é como "fumaça" que se
esvai.
(b) Dor corpórea é fogo nos ossos.
(c) Depressão no espírito é "relva ressequida".
Quem pode comer quando o coração está triste?
(d) Solidão é como a coruja no deserto, o pássaro
solitário no telhado".
(e) Repreensão é como estar cercado por loucos - a "lançar
maldições".
(f) Humilhação é "comer cinzas" como pão
e "beber lágrimas".
(g) As ocultações da face de Deus são como levantar-se
para ser lançado abaixo.
(h) Definhar é uma sombra declinando e relva murchando (G. R.).
VERS. 4. Tristeza descrente faz-nos esquecer de usar os meios apropriados
para nosso sustento.
1. Esquecemos as promessas.
2. Esquecemos o passado e suas experiências.
3. Esquecemos do Senhor Jesus, nossa vida.
4. Esquecemos o amor eterno de Deus. Isso nos leva à fraqueza, à
debilidade e deve ser evitado.
VERS. 6. Como texto, junto com o Sl 103.5, este faz um contraste interessante,
e dá espaço para muito ensino experimental.
VERS. 7. Os males e benefícios da solidão; onde pode ser
procurado, e quando se torna uma tolice. Ou, o observador tristonho - sozinho,
fora do âmbito da comunhão, insignificante, desejoso do intercâmbio,
isolado para vigiar.
VERS. 9. As tristezas dos santos - seu número, sua amargura, fontes,
corretivos, influências e consolações.
VERS. 10 (última cláusula). A prosperidade de uma igreja
ou de um indivíduo é muitas vezes seguida de deterioração;
engrandecimento mundano freqüentemente é seguido por aflição;
grande alegria no Senhor muito geralmente é seguida por provação.
VERS. 11-12. Eu e Tu, ou o contraste notável.
1. Eu: meus dias são como sombra.
(a) Porque sombra é inconsistente; porque compartilha da natureza
da escuridão que vai absorvê-la; porque quanto mais longa
ela se torna tanto mais breve sua continuação.
(b) Sou como relva cortada pela foice, queimada por ser seca.
2. Tu. Senhor. Duras para sempre. Sempre memorável. Sempre o estudo
de gerações passadas de homens (C. D.).
VERS. 13.
1. Sião muitas vezes precisa de restauração. Precisa
de "misericórdia".
2. Sua restauração é certa: "Tu te levantarás".
3. As estações de sua restauração estão
determinadas. Há um "tempo" para favorecê-la; um
tempo "determinado".
4. Intimações dessas estações que vêm
são dadas muitas vezes "O tempo certo é chegado"
(G. R.).
VERS. 13-14.
1. Visitação esperada.
2. Conta-se com a predestinação.
3. A evidência é observada.
4. A indagação sugerida - Temos prazer em suas pedras?
VERS. 13-14. O interesse do povo do Senhor nos interesses de Sião
é um dos sinais mais certos do retorno de sua prosperidade.
VERS. 15. A prosperidade interior da igreja é essencial ao seu poder
no mundo.
VERS. 16. Deus é o comprador, o arquiteto, o construtor, o habitante
e Senhor de Sião.
1. Sião edificado. Conversões freqüentes; confissões
numerosas; união firme; edificação sólida;
missões estendidas.
2. Deus glorificado. Em seus próprios fundamentos; pelo seu ministério;
pelas dificuldades e inimigos; por trabalhadores fracos; materiais pobres
e até por nossos fracassos.
3. Esperança despertada. Porque podemos esperar que o Senhor se
glorificará.
4. Averiguação sugerida. Estou eu interessado em saber como
é construído, ou está sendo construído, não
só doutrinariamente, e sim experimentalmente?
VERS. 17.
1. Os necessitados oram.
2. Eles oram mais.
3. Eles oram melhor.
4. Eles oram com mais eficácia. Ou, o modo mais certo de ser bem-sucedido
na oração é orar como fazem os destituídos;
mostre a razão disso.
VERS. 18.
1. Um memorial.
2. Um magnificante (W. Durban).
VERS. 18-21.
1. Extrema miséria.
2. Divindade observadora.
3. Deidade assistindo.
4. Glória publicada em conseqüência.
VERS. 19-22.
1. A observação que Deus faz do mundo, Sl 102.19.
(a) O lugar de onde ele o vê: "do céu", não
de um ponto de vista terreno.
(b) O jeito como ele o olha; "do alto do santuário", de
seu propi-ciatório.
2. O que mais atrai a sua observação no mundo. O gemido do
prisio-neiro e daqueles marcados para a morte.
3. O propósito para o qual ele os observa. "libertar";
"anunciar".
(a) Para consolo humano.
(b) Para sua própria glória.
4. Quando ele fixa sua observação sobre a terra. "Quando"
Sl 102.22 (G. R.).
VERS. 23. Para os doentes.
1. Submissão - O Senhor mandou a tribulação - "Ele
me abateu".
2. Serviço - exonera de algum trabalho, agora requer de mim paciência,
sinceridade.
3. Preparação - para ir ao lar.
4. Oração - por outros para ocuparem meu lugar.
5. Expectativa - logo estarei no céu, agora que meus dias estão
abreviados.
VERS. 24.
1. A oração. "Não me leves".
(a) Não no meio da vida, é a oração de alguns.
(b) Não no meio da prosperidade mundana, é a oração
de muitos, por amor daqueles que dele dependem.
(c) Não no meio de crescimento espiritual, é a oração
de não poucos: "Ó, me poupe, para que eu possa recuperar
a força".
(d) Não no meio do trabalho cristão e utilidade, é
a oração de outros.
2. A prece. "Teus anos"; anos são abundantes contigo,
portanto dar-me mais longos dias será uma dádiva fácil
- e os teus próprios se estendem através de todas as gerações
(G. R.).
VERS. 25-27.
1. A imutabilidade de Deus em meio a mudanças passadas: "de
há muito".
(a) Ele era o mesmo antes como depois que ele deitou os fundamentos da
terra.
(b) Ele era o mesmo depois como antes.
2. A imutabilidade de Deus em meio a mudanças futuras. "Eles
perecerão".
(a) O mesmo antes de perecerem como depois.
(b) Depois como antes.
3. A imutabilidade de Deus no passado e o futuro. "Tu és o
mesmo" (G. R.).
VERS. 26-27.
1. Até onde Deus pode mudar - só em suas roupas, ou manifestações
externas da criação e providência.
2. Em que ele não pode mudar - sua natureza, atributos, pacto, amor.
3. As verdades confortáveis que seguramente podem ser inferidas
ou que ganham suporte desse fato.
VERS. 26-27.
1. O universo material de Deus.
(a) Nada mais para ele do que uma veste para quem o põe.
(b) Sempre ficando velho, mas ele o mesmo.
(c) Logo para ser mudado e deixado para perecer, mas de seus anos não
há fim.
2. Nosso relacionamento com cada um.
(a) Nunca amemos o traje mais do que o usuário.
(b) Nem confiemos mais no mutável do que no permanente.
(c) Nem vivamos para aquilo que morrerá, que passará.
VERS. 28. A verdadeira sucessão apostólica.
1. Sempre haverá santos.
2. Freqüentemente, serão a semente dos santos segundo a carne.
3. Serão sempre a semente espiritual dos piedosos, porque Deus converte
um por meio de outro.
4. Devemos ordenar nossos esforços com um olho no futuro da igreja.