Capítulo 18: Homens de duas caras

Até mesmo os homens maus valorizam a firmeza de caráter. Os ladrões gostam dos homens honestos, pois eles são os melhores para se roubar. Quando você sabe onde encontrá-lo vê que ele tem boa pontuação com todos; mas ninguém tem nada de bom a dizer a respeito do camarada que uiva com os lobos e bale com as ovelhas, a não ser o diabo. De qualquer maneira, é muito comum pessoas que carregam duas caras sob um chapéu. Muitos se empoleiram com as aves e, depois, dividem-nas com Reynard (nome da raposa em um poema medieval). Muitos parecem incapazes de praticar qualquer mal, mas logo cospem fogo quando não conseguem seus propósitos. Li outro dia uma propaganda sobre casacos reversíveis; o alfaiate que os vendeu deve estar ganhando uma fortuna. Pôr os pés em duas canoas ainda está na moda. A firmeza é rara no mundo, como o almíscar em um canil.


Você confia em certos homens tão logo os vê, mas não vá além disso, pois as novas companhias fazem deles novos homens. Como água, eles fervem e congelam de acordo com a temperatura ambiente. Alguns agem dessa forma por falta de princípios; têm a convicção de um cata-vento, portanto giram conforme o vento. É mais fácil medir a lua que saber quem são esses homens de verdade. Eles acreditam em quem paga mais. Eles sempre avaliam tudo como lã de ouro; se o dinheiro estiver à vista, "o que cai na rede é peixe". Eles acompanham qualquer vento, norte, sul, leste, oeste, nordeste, noroeste, sudeste, sudoeste, nor-nordeste, su-sudeste ou qualquer outro que haja no mundo. Eles, como o sapo, vivem na terra ou na água e não têm nada de especial. Como o gato, eles sempre caem de pé e param em qualquer lugar se untar seus dedos. Amam com carinho seus amigos, mas seu amor repousa no armário; mas se isso não for suficiente, o amor deles corre como um rato para a próxima despensa. Eles dizem: "Deixar você, cara menina? Nunca, enquanto você tiver uma moeda". Se você vir o mau, como eles fogem rápido! Como ratos, eles abandonam o navio que naufraga.

Quando não há uma iguaria,
Esses amigos ainda estão empacotando.

 

O coração deles segue o pudim. Enquanto a panela ferve, eles sentam perto do fogo; quando o pote de alimento fica vazio, eles mudam de atitude. Eles acreditam no cavalo vencedor; usam o casaco de qualquer pessoa que consigam para lhes dar um; eles podem ser comprados às dúzias como ovos, mas quem oferecer uma moeda por eles desperdiça seu dinheiro. O lucro é o deus deles; e se tirarem o dinheiro de você ou do seu inimigo, tanto faz é bom do mesmo jeito. Se ganham, cabeças e caudas são a mesma coisa. A estrada principal ou a viela de trás são a mesma coisa, desde que cheguem em casa com o pão na cesta. São amigos dos gansos, mas comem seus miúdos. A água apesar de enlameada move a roda deles, mas isso não é o pior; são capazes de queimar o caixão da própria mãe se estiverem sem lenha e de vender o próprio pai se conseguirem algumas moedas pelos ossos do velho senhor. Nunca perdem uma chance de pensar na melhor oportunidade.


Os outros são volúveis porque gostam tanto de boas amizades. "Salve companheiro, você apareceu no momento certo!", esse é o cumprimento deles para viajantes ou caminhoneiros. Eles são tão agradáveis que precisam concordar com todo mundo. São sobrinhos do sr. Qualquer Coisa. Seus cérebros estão na cabeça das outras pessoas. Em Roma, beijam o pé do papa, mas em casa eles ficam roucos de tanto gritar: "Abaixo o papismo". Admiram o vigário de Bray cujo postulado era ser o vigário de Bray quer a igreja protestante, quer católica. Eles são meros servidores do tempo, com esperança de que os tempos possam servi-los. Eles pertencem ao grupo que amarela. Bajule-os e se alimentará deles como se fossem nabos. Puxe a corda, e eles tocam como sinos e no ritmo que você quiser: fúnebre ou repique de casamento, para a igreja ou para o diabo. Eles não têm espinha dorsal, você pode vergá-los com se fossem varinhas de salgueiro, para trás e para frente, como lhe agradar. São como as ostras, qualquer um que consegue abri-las pode temperá-las. Eles são agradáveis com você e com seu inimigo. Eles sopram quente e frio. Tentam ser o João faz tudo para os dois lados e merecem ser chutados como uma bola de futebol por ambas as partes.


Alguns são hipócritas por natureza, escorregadios como enguias e sem raça como a égua do fazendeiro Smoothey. Como um homem bêbado, eles não conseguem andar em linha reta se tentam. Eles circulam aqui e ali, como as alamedas de Surrey. Eles são crias de São Judas. O jogo duplo é o favorito deles, e a honestidade sua grande aversão. Sua língua tem mel, mas seu coração tem fel. Eles não têm raça como os cães dos ciganos. Como as patas dos gatos eles mostram almofadas macias, mas escondem garras afiadas. Se os dentes deles não estiverem podres, a língua está, e o coração é como túmulos de pessoas mortas. Se falar a verdade e mentir dessem lucro da mesma forma, eles naturalmente prefeririam mentir; pois é mais da natureza deles, como a imundice é para o porco. Eles invalidam, bajulam, adulam e desprezam; como serpentes deixam rastro em seu caminho, mas o tempo todo eles odeiam você de coração e só esperam uma oportunidade para golpeá-lo. Cuidado com os que vêm da cidade da Fraude: os srs. Duas Caras, Discurso Justo, Duas Línguas são vizinhos que é melhor manter à distância. Apesar de olharem para um lado, como fazem os barqueiros, eles estão puxando para o outro; eles são falsos, como as promessas do diabo, e cruéis, como a morte e a sepultura.


Os enganadores de religião são os piores vermes, receio que eles abundem tanto como ratos em um monte de trigo.

Eles são como um alfinete de prata
Brilhantes por fora, mas enferrujados por dentro.

 

Eles cobrem sua carne negra com plumas brancas. Os sábados e os domingos operam uma diferença maravilhosa neles. Eles têm muito mais temor do ministro que de Deus. Sua religião é a imitação dos religiosos; eles não têm nenhuma religiosidade enraizada neles. Carregam o livro de hinos sacros do dr. Watts nos bolsos, enquanto entoam uma canção estrondosa. Talvez seus paletós domingueiros sejam sua melhor parte; quanto mais perto do coração deles você chega, mais emporcalhado fica. Eles tagarelam como papagaios, mas seu modo de falar não combina com seu jeito de andar. Muitos estão pescando fregueses, e falar um pouco de religião é uma propaganda barata; se o assento na igreja ou a reunião custar uma ninharia, eles compensam depois. Eles não adoram a Deus enquanto fazem negócio, mas eles negociam durante o culto de adoração ao Senhor. Os da classe mais baixa vão à igreja pela sopa, pelo pão e pelos cupons para carvão. Eles adoram a comunidade por causa do dinheiro das esmolas. Algumas das queridas e velhas senhoras Goodbodies querem um asilo abençoado, por isso, declaram ser tão abençoadas pelo abençoado ministro ou pastor a cada abençoado domingo. A caridade favorece-as, se a fé não o faz; elas sabem de que lado está a manteiga do pão.


Outros apresentam um espetáculo religioso decente para acalmar a própria consciência que usam como um ungüento para suas feridas. Seria ótimo para eles, se pudessem satisfazer o paraíso com tanta facilidade como acalmam a si mesmos. Foi sorte encontrar alguns que progrediram muito na profissão, e até onde pude constatar, apenas pela alegria de pensar que estão em boa situação. Eles conseguiram um pequeno grupo de amigos para acreditar em sua conversa barata e considerar tudo que dizem como evangelho. A opinião deles é a verdadeira medida em relação à integridade do pregador e poderiam resolver tudo com o próprio conhecimento, eles têm galões de conhecimento para os que gostam de alguma coisa quente e forte; mas, meus queridos, se eles tivessem apenas condescendência em mostrar também um pouco de prática cristã, como a vida deles teria mais peso! Essas pessoas são como as corujas que tentam parecer pássaros grandes, mas não são, apesar de terem penas, e elas parecem extremamente inteligentes no crepúsculo, mas à luz do dia, são bem sem graça.


Os hipócritas de todos os tipos são abomináveis, e quem convive com eles se arrepende. Quem tenta enganar o Senhor sempre está pronto para enganar seus companheiros. Em geral, muito alarido significa pouca lã. Muitos fumeiros em que esperamos encontrar bacon e presunto não têm nada de bom, apenas ganchos e fuligem negra. Os moinhos de vento de alguns homens não passam de quebra-nozes, e seus elefantes não são mais que leitãozinhos. Nem todos que vão à igreja, ou fazem uma prece verdadeira, ou cantam mais alto são os que mais louvam a Deus, nem que os que têm expressão mais ansiosa são os mais sinceros.


O que quer dizer que os animais devem ser hipócritas! Fale de doninhas-fétidas e fuinhas, elas não são nada comparadas a eles. É melhor ser um cão morto que um hipócrita vivo. Com certeza, para o diabo ver hipócritas fazendo seu joguinho é tão bom quanto um jogo direto com ele; ele tenta os verdadeiros cristãos, mas deixa estes sós porque são do seu time. Ele não precisa atirar contra os incapazes; seu cão pode comê-los quando quiser.


Conte com isso, amigos, se uma linha reta não vale a pena, menos ainda uma curva. O que se ganha com truques é perigoso. Ele pode proporcionar um momento de paz para pôr a máscara, mas a fraude vem para casa com você e também traz tristeza. A honestidade é a melhor política. Se não vestir a pele do leão, nem tente a da raposa. Seja verdadeiro como o aço. Deixe que sua face e suas mãos sempre mostrem, como o relógio da igreja, como vão suas obras interiores. É melhor que riam de você como do Toninho, o Conta Verdade, que ser louvado como Charlie, o Astucioso. O comportamento sincero pode nos causar problemas, mas é melhor que fazer truques. No final, os justos terão sua recompensa; mas para o inconstante alcançar o céu é tão impossível quanto um homem atravessar o oceano Atlântico com uma mó embaixo de cada braço.