O filho da mulher sunamita (2) Veja onde a criança morta tinha sido colocada: "Quando Eliseu chegou à casa, lá estava o menino, morto, estendido na cama." Esta era a cama que a hospitalidade da sunamita havia preparado para Eliseu, a famosa cama que, com a mesa, o banquinho e a lamparina, nunca será esquecida na igreja de Deus.
Continuando a leitura, encontramos: "Ele [Eliseu] entrou, fechou a porta e orou ao Senhor" (2Re 4.33). Agora, o profeta está no seu trabalho com seriedade, e nós temos uma oportunidade nobre de aprender com ele o segredo de levantar crianças dos mortos. Se você voltar para a narrativa de Elias, verá que Eliseu adotou o método ortodoxo de proceder, o método de seu mestre Elias: "E ele [Elias] disse: Dê-me o seu filho. Elias o apanhou dos braços dela, levou-o para o quarto de cima onde estava hospedado, e o pôs na cama. Então clamou ao Senhor: 'Ó Senhor, meu Deus, trouxeste também desgraça sobre esta viúva, com quem estou hospedado, fazendo morrer o seu filho?' Então ele se deitou sobre o menino três vezes e clamou ao Senhor: 'Ó Senhor, meu Deus, faze voltar a vida a este menino'. O Senhor ouviu o clamor de Elias, e a vida voltou ao menino, e ele viveu" (1Re 17.19-24). O grande segredo está na súplica poderosa. "Ele entrou, fechou a porta [sobre eles dois - kjv] e orou." O velho provérbio é: "Todo púlpito verdadeiro é erguido no céu", o que significa que o verdadeiro pregador passa muito tempo com Deus. Se não oramos a Deus por uma bênção, se o alicerce do púlpito não for edificado em oração particular, nosso ministério aberto não será um sucesso. Assim é com você; o poder de cada professor verdadeiro precisa vir do alto. Se você nunca se recolher para orar e fechar a porta, se nunca rogar junto ao lugar celeste de misericórdia por sua criança, como pode esperar que Deus o honrará com a conversão dela? É um método excelente, creio eu, levar as crianças, uma por uma, para o seu quarto e orar com elas. Você verá suas crianças convertidas quando Deus individualizar seus casos, agonizar por elas, e levá-las uma de cada vez, e com a porta fechada, para orar com elas e por elas. Há muito mais influência na oração oferecida em particular do que em oração dita publicamente na classe - não mais influência com Deus, é claro, mas mais influência com a criança. Tal oração muitas vezes será a própria resposta; pois Deus pode, enquanto você está derramando sua alma, fazer sua oração ser um martelo para quebrantar o coração que meras mensagens nunca haviam tocado.
Depois de orar, Eliseu adotou os meios. A oração e os meios devem andar juntos. Meios sem oração pressupõem oração sem meios: hipocrisia! Ali estava deitada a criança, e ali estava de pé o venerável homem de Deus! Assista seu proceder singular: ele se abaixa sobre o corpo e põe sua boca sobre a boca da criança. A boca fria e morta da criança foi tocada pelos lábios quentes e vivos do profeta, e uma corrente vital de hálito quente novo foi mandada lá para as passagens da boca do morto que eram frias como pedra, e para a garganta e os pulmões. Em seguida, o santo homem, com o ardor amoroso da esperança, colocou seus olhos sobre os olhos da criança, e suas mãos sobre as mãos da criança; as mãos quentes do velho cobriram as palmas frias da criança que partiu. Então, ele se estendeu sobre a criança, e a cobriu com seu corpo todo, como se quisesse transferir sua própria vida àquele corpo inerte, morreria com ele ou o faria viver. Era uma vez, um caçador de antílope que estava trabalhando como guia de um viajante cheio de medo; quando chegaram a uma parte muito perigosa da estrada, ele usou uma tira para amarrar o viajante a si mesmo firmemente, e disse: "Ou nós dois ou nenhum dos dois." Com isso, quis dizer: "Viveremos os dois ou nenhum de nós viverá; nós somos um." Assim, o profeta efetuou uma união misteriosa entre ele e o garoto, e na sua mente estava resolvido que ou ele gelaria com a morte da criança ou esquentaria a criança com sua vida.
O que isso nos ensina? As lições são muitas e óbvias. Vemos aqui, como num quadro, que se nós queremos trazer vida espiritual a uma criança, precisamos perceber muito vivamente o estado dessa criança. Ela está morta, morta. Deus fará com que você sinta que a criança está tão morta em dívidas e pecados como você esteve um dia. Deus quer que você entre em contato com essa morte através de dolorosa, esmagadora, humilhante solidariedade. Para ganhar almas, devemos observar como nosso Mestre operou; então, como ele operou? Quando ele quis nos erguer da morte, o que lhe coube fazer? Ele precisou morrer: não houve outro meio. Assim é com você. Se você quer fazer viver aquela criança morta, você precisa sentir o frio e o horror da morte dessa criança. É necessário um homem moribundo para levantar homens moribundos.
Para tirar uma brasa do fogo, você teria de colocar a sua mão suficientemente perto para sentir o calor do fogo. Então você tem, mais ou menos, uma idéia precisa da terrível ira de Deus e dos terrores do juízo que virá, porque se não tiver, vai lhe faltar energia em seu trabalho, e assim faltará um dos aspectos essenciais do êxito. Na minha opinião, o pregador nunca fala bem sobre tais tópicos antes que os sinta pressionando-o como um fardo pesado vindo do Senhor. "Eu preguei em cadeias", disse John Bunyan, "para homens em cadeias". Pode crer, quando a morte que está em suas crianças o assusta, deprime e domina, então Deus está prestes a abençoá-lo.
Assim reconhecendo o estado da criança, e como que pondo sua boca sobre a boca da criança, e suas mãos sobre as mãos dela, você precisa em seguida procurar se adaptar até onde for possível à natureza, aos hábitos e ao temperamento da criança. Sua boca precisa descobrir as palavras da criança, para que ela entenda o que você quer dizer; você precisa ver as coisas com os olhos de uma criança; seu coração precisa sentir os sentimentos de uma criança, para ser seu companheiro e amigo; você precisa ser um estudante do pecado juvenil, precisa condoer-se das provações juvenis; precisa, até onde for possível, entrar no espírito das alegrias e tristezas juvenis. Não pode se irritar com a dificuldade desse assunto, ou sentir que isso é humilhante. Se é exigido algo difícil, você precisa fazê-lo e não achar difícil. Deus não ressuscitará uma criança morta por meio de você se você não estiver disposto a ser todas as coisas para aquela criança, se você não estiver disposto a tornar-se todas as coisas para aquela criança, para que, se alguma possibilidade houver, você possa ganhar a sua alma.
O profeta "se estendeu sobre o menino". Era de esperar que estivesse escrito "ele se contraiu"! Afinal, ele era um homem feito, e o outro um mero menino. Não devia ser "ele se contraiu"? Não, "ele se estendeu"; e pode crer, nenhum estender é mais difícil do que para o homem estender-se a uma criança. Quem sabe falar com crianças não é tolo; um simplório está muito enganado se acha que sua tolice pode interessar meninos e meninas. São necessários nossa melhor inteligência, nossos estudos mais zelosos, nossos pensamentos mais sinceros, nossas capacidades mais maduras, para ensinar os nossos pequenos. Você não vivificará a criança até que se tenha "estendido"; e embora pareça estranho, ainda é verdade. O homem mais sábio precisará exercitar todas as suas capacidades se quiser tornar-se um professor bem-sucedido de crianças.Vemos, então, em Eliseu, uma percepção da morte da criança e uma adaptação sua ao seu trabalho, mas, acima de tudo, vemos solidariedade. Enquanto o próprio Eliseu sentia o frio do corpo morto, seu calor pessoal estava penetrando o corpo morto. Isso por si só não levantou a criança; mas Deus operou através dele--o calor do corpo do velho passou para a criança, e tornou-se o meio de vivificá-lo. Que todo professor pese bem essas palavras de Paulo: Nós "nos tornamos carinhosos entre vós, qual ama que acaricia os próprios filhos" (1Ts 2.7, ara). "Sentindo, assim, tanta afeição por vocês, decidimos dar-lhes não somente o evangelho de Deus, mas também a nossa própria vida, porque vocês se tornaram muito amados por nós" (1Ts 2.8 nvi). Deus abençoará pelo seu Espírito nossa forte afinidade com a sua própria verdade, e fará com que faça aquilo que a verdade sozinha falada com frieza não realizaria. Aqui, então, está o segredo. Você precisa comunicar ao pequeno sua própria alma; você precisa se sentir como se a ruína daquela criança fosse sua própria ruína.
O resultado do trabalho do profeta logo apareceu: "O corpo do menino foi se aquecendo" (2Re 4.34b). Como Eliseu deve ter ficado contente; mas seu prazer e satisfação não diminuíram seus esforços. Nunca se satisfaça em achar suas crianças num estado apenas esperançoso. O que você quer não é mera convicção, mas conversão; você deseja não apenas impressionar, mas regenerar. Vida, vida de Deus, a vida de Jesus. É isso que seus pupilos precisam ter, e nada menos deve contentá-lo.
"Eliseu levantou-se e começou a andar pelo quarto." Observe o desassossego do homem de Deus; ele não pode ficar à vontade. A criança está quentinha (bendito seja Deus por isso), mas não vive ainda; então, em vez de se sentar à mesa, o profeta caminha para lá e para cá, com pés inquietos, gemendo, respirando rapidamente, ansiando, nem um pouco à vontade. Não podia suportar olhar para a mãe desconsolada, nem ouvi-la perguntar: "A criança já está restabelecida?", mas ele continuou andando na casa porque sua alma não estava satisfeita. Imite essa inquietude consagrada. Quando você vir um menino ficando um tanto sensibilizado, não se sente para dizer: "A criança tem esperança, graças a Deus; estou perfeitamente satisfeito". Desse jeito, você nunca ganhará a jóia inestimável de uma alma salva; você deve se sentir triste, inquieto, preocupado, se você se tornar um pai na igreja.
Depois de um tempo caminhando para lá e para cá, o profeta novamente "subiu na cama e debruçou-se mais uma vez sobre a criança". O que é bom fazer uma vez, convém fazer uma segunda vez. O que é bom duas vezes, é bom sete vezes. Deve haver perseverança e paciência. Tão certo quanto o calor passou de Eliseu à criança, assim pode passar o seu frio para a sua classe, a não ser que você esteja num estado de espírito bem sincero.
Eliseu se estendeu na cama novamente com muita oração, muito suspiro, muita confiança, e, finalmente, seu desejo lhe foi concedido. "O menino espirrou sete vezes e abriu os olhos." Qualquer forma de ação indicaria vida, e deixaria o profeta contente. A criança "espirrou", alguns dizem, porque morreu com uma doença da cabeça, pois antes ele disse ao seu pai, "Minha cabeça! minha cabeça!", e o espirro limpou as passagens de vida que se tinham bloqueado. Isso não sabemos. Ao entrar novamente nos pulmões, o ar poderia bem forçar um espirro. O som não era nada muito articulado ou musical, mas indicava vida. É só isso que devemos esperar de crianças pequenas quando Deus lhes dá vida espiritual. Alguns membros de igreja esperam muitas coisas mais, mas eu fico satisfeito se as crianças espirram--se dão qualquer indicação verdadeira de graça, por mais fraquinha ou indistinta que seja.
Talvez se Geazi tivesse estado lá, não tivesse achado esse espirro nada demais, porque não havia se estendido sobre a criança, mas Eliseu ficou contente com isso. Mesmo assim, se você e eu temos realmente agonizado em oração pelas almas, perceberemos rapidamente o primeiro sinal de graça, e ficaremos muito agradecidos a Deus mesmo que o sinal seja só um espirro.
Então, a criança abriu os olhos, e arriscamos dizer que Eliseu pensou que nunca antes tinha visto olhos tão lindos. Não sei que espécie de olhos era, castanhos ou azuis, mas sei que qualquer olho que Deus o ajudar a abrir será para você um olho lindo.