O filho da mulher sunamita (1) O profeta Eliseu realizou um milagre muito instrutivo, conforme registrado no Livro de Reis. A hospitalidade da mulher sunamita havia sido recompensada com a dádiva de um menino; mas, todas as misericórdias terrestres são de posse incerta, e depois de certo tempo a criança adoeceu e morreu.
A mãe aflita, mas crente, foi imediatamente ter com o homem de Deus; por meio dele é que Deus tinha transmitido a promessa que satisfez o desejo de seu coração, e ela resolveu declarar a ele o seu caso, para que ele o pudesse expor diante de seu Mestre Divino, e obter para ela uma resposta de paz. A ação de Eliseu está registrada nos seguintes versículos:
Então Eliseu disse a Geazi: "Ponha a capa por dentro do cinto, pegue o meu cajado e corra. Se você encontrar alguém, não o cumprimente e, se alguém o cumprimentar, não responda. Quando lá chegar, ponha o meu cajado sobre o rosto do menino". Mas a mãe do menino disse: "Juro pelo nome do Senhor e por tua vida que, se ficares, não irei." Então ele foi com ela. Geazi chegou primeiro e pôs o cajado sobre o rosto do menino, mas ele não falou nem reagiu. Então Geazi voltou para encontrar-se com Eliseu e lhe disse: "O menino não voltou a si." Quando Eliseu chegou à casa, lá estava o menino, morto, estendido na cama. Ele entrou, fechou a porta e orou ao Senhor. Depois deitou-se sobre o menino, boca a boca, olhos com olhos, mãos com mãos. Enquanto se debruçava sobre ele, o corpo do menino foi se aquecendo. Eliseu levantou-se e começou a andar pelo quarto; depois subiu na cama e debruçou-se mais uma vez sobre ele. O menino espirrou sete vezes e abriu os olhos. Eliseu chamou Geazi e o mandou chamar a sunamita. E ele obedeceu. Quando ele chegou, Eliseu disse: "Pegue seu filho." Ela entrou, prostrou-se a seus pés, curvando-se até o chão. Então pegou o filho e saiu. (2R 4.29-37).
Eliseu teve de se haver com uma criança morta. É verdade que, neste caso, foi uma morte natural; mas a morte com a qual você tem de entrar em contato não é uma morte menos real por ser espiritual. Meninos e meninas estão, tão certamente como adultos, "mortos em delitos e pecados". Ninguém deve deixar de perceber plenamente o estado no qual todos os seres humanos se encontram por natureza. A não ser que você tenha uma clara percepção da ruína total e da morte espiritual das crianças, você será incapaz de se tornar uma bênção para elas. Vá ao encontro delas, eu lhe rogo, não como pessoas que dormem e que você pelo seu próprio poder pode acordar de seu sono, mas, sim, como defuntos espirituais que só podem ser despertados para a vida por um poder divino. Eliseu visava nada menos do que a restauração da criança para a vida. Que você nunca se contente com benefícios secundários, ou mesmo em consegui-los; que lute pelo maior de todos os propósitos, a salvação de almas imortais. Sua tarefa não é meramente ensinar crianças a ler a Bíblia, não é simplesmente inculcar os deveres da moralidade, nem mesmo de instruí-las nas letras da Bíblia, mas sua alta vocação é ser o meio, nas mãos de Deus, de levar vida do céu a almas mortas.
Ressurreição, portanto, é nosso objetivo! Levantar os mortos é nossa missão. Como realizar um trabalho tão surpreendente? Se cedermos à descrença, ficaremos confusos pelo fato evidente de que o trabalho para o qual o Senhor nos chamou está bem além de nosso próprio poder pessoal. Não podemos levantar os mortos. No entanto, não somos mais impotentes do que Eliseu, porque ele, por si mesmo, não podia restaurar o filho da sunamita. Esse fato precisa nos desanimar? Em vez disso, ele não nos dirige ao nosso verdadeiro poder ao nos cortar nosso poder imaginado? Acredito que todos nós já sabemos que o homem que vive na fé habita a esfera dos milagres.
Eliseu não era um homem comum agora que o Espírito de Deus estava sobre ele, chamando-o para a obra de Deus, e ajudando-o a realizá-la. E você, professor de oração devotado, ansioso, não continue mais sendo um ser comum; você já se tornou, de maneira especial, o templo do Espírito Santo. Deus habita em você, e, pela fé, você entrou na carreira de um operador de milagres. Você foi enviado ao mundo não para fazer as coisas que são possíveis aos homens, mas para aquelas impossibilidades que Deus opera pelo Espírito dele, por meio de seu povo crente. Você deve operar milagres e fazer maravilhas. Você não deve, portanto, olhar a restauração dessas crianças mortas, que em nome de Deus você é chamado para reavivar, como sendo coisa pouco provável ou difícil quando você se lembra quem é que trabalha através de sua fraca instrumentalidade.
Teria sido bom se Eliseu tivesse recordado que ele antes foi servo de Elias, e se tivesse, assim, estudado o exemplo de seu mestre de forma a imitá-lo. Se tivesse, ele não teria mandado Geazi com um cajado, mas teria feito imediatamente o que foi constrangido a fazer. Em 1Reis 17, você encontrará a história de Elias levantando uma criança morta, e verá ali que Elias, o mestre, tinha deixado um exemplo completo para seu servo; e foi só quando Eliseu o seguiu em todos os aspectos que o poder miraculoso se manifestou. Teria sido prudente, penso eu, se Eliseu tivesse imitado logo o exemplo do mestre cujo manto ele vestia.
Com mais vigor, eu lhe digo que tudo ficará bem se, como professores, imitarmos os modos e métodos de nosso Mestre glorificado, e aprendermos aos seus pés a arte de ganhar almas. Assim como ele veio com a maior solidariedade ao contato mais íntimo com nossa humanidade sofrida, e condescendeu abaixar-se à nossa condição triste, assim precisamos chegar bem perto das almas com as quais temos de nos ocupar, sensibilizarmo-nos com elas com o desejo amoroso dele, e chorar por elas com as lágrimas do Mestre, se nós as queremos ver livres do estado de pecado. Só imitando o espírito e a maneira do Senhor Jesus é que nós nos tornaremos sábios para ganhar almas.
Temo que muitas vezes a verdade que nós libertamos nos seja alheia; como um cajado que seguramos em nossa mão, mas que não é parte de nós mesmos. Levamos verdade doutrinária e prática, como Geazi fez com o cajado, e a deitamos sobre a face da criança, mas nós mesmos não agonizamos em favor de sua alma. Tentamos essa doutrina e aquela verdade, essa história e a outra ilustração, esse modo de ensinar uma lição e aquele modo de apresentar uma mensagem; mas enquanto a verdade que nós libertamos for um assunto alheio a nós e desligada de nosso ser íntimo, ela não terá mais efeito sobre uma alma morta do que o cajado de Eliseu teve sobre a criança morta. Não sabemos ao certo se Geazi estava convencido de que a criança estava realmente morta; ele falou como se estivesse apenas dormindo e precisasse ser acordada. Deus não abençoará esses professores que não compreendem, no coração o estado realmente caído de suas crianças. Se você acha que a criança não está realmente corrompida, se você favorece idéias tolas sobre a inocência da infância e a dignidade da natureza humana, não deve ficar surpreso se permanecer estéril e infrutífero.
Observe cuidadosamente o que Eliseu fez quando foi frustrado em seu primeiro esforço. Quando falhamos em uma tentativa, nem por isso devemos desistir de nosso trabalho. Se você não tem tido sucessos até agora, não deve inferir daí que não é chamado para o trabalho, não mais do que Eliseu poderia ter concluído que a criança não podia ser restaurada. A lição de sua falta de sucesso não é--cesse a obra, e sim--mudar o método. Não é a pessoa que está fora do lugar, é o plano que não é prudente. Se seu primeiro método não foi bem-sucedido, você precisa melhorar o plano. Examine onde foi que você falhou, e então, mudando seu modo, ou espírito, o Senhor poderá prepará-lo para um grau de utilidade muito além de sua expectativa. Eliseu, em vez de ficar desanimado quando viu que a criança não estava desperta, arregaçou as mangas e se apressou a realizar o trabalho que tinha pela frente.