Alguma coisa boa de Abias (1) (1Reis 14.13) Jeroboão provou ser falso para com o Senhor que o havia colocado no trono de Israel, e o tempo de ser derrubado do trono tinha chegado. O Senhor, que geralmente mostra a vara antes de levantar o machado, mandou doença para a casa dele: Seu filho, Abias, caiu doente. Então, os pais se lembraram de um velho profeta de Deus, e desejaram saber dele o que aconteceria com a criança. Temendo que o profeta denunciasse pragas sobre ele e seu filho se soubesse que quem perguntava era a esposa de Jeroboão, o rei implorou à princesa egípcia com quem ele se casara que se disfarçasse de esposa de fazendeiro e, assim, conseguisse do homem de Deus uma resposta mais favorável. Pobre rei tolo, imaginar que um profeta que podia enxergar o futuro não poderia também ver através de qualquer disfarce com o qual sua rainha pudesse se cercar! Tão ansiosa estava a mãe para saber a sorte de seu filho, que ela saiu do quarto do menino doente para ir a Siló ouvir a sentença do profeta. Foi em vão o seu disfarce! O profeta cego ainda era um vidente, e não só a discerniu antes que entrasse na casa, como viu o futuro de sua família. Ela chegou cheia de superstição para saber sua sorte, mas saiu com o peso da tristeza, tendo ouvido seus defeitos e seu fim.
Nas terríveis novas que o profeta Aías transmitiu a essa esposa de Jeroboão havia só um ponto de luz, só uma palavra de consolo; e parece não ter consolado à rainha pagã. A criança misericordiosamente estava marcada para morrer, "pois é o único da família de Jeroboão em quem o Senhor, o Deus de Israel, encontrou alguma coisa boa" (1Re 14.13).
Vamos olhar o pouco que sabemos do jovem príncipe, Abias. Seu nome era apropriado. Um bom nome pode pertencer a um homem bem mau; mas, neste caso, um nome gracioso foi bem empregado. Ele chamava Deus de seu Pai, e seu nome quer dizer isso. Ab é a palavra para Pai, e Jah é Jeová--Jeová era seu Pai. Eu não teria mencionado o nome não tivesse sua vida tornado isso verdade. Ah, vocês que têm bons nomes bíblicos, tratem de não desonrá-los!
Havia nessa criança "alguma coisa boa para com o Senhor Deus de Israel"; mas o que era? Quem o definirá? Um campo ilimitado de suposições se abre diante de nós. Sabemos que havia nele algo bom, mas que forma esse bem tomou não sabemos. A tradição já fez afirmações, mas como são meras invenções para preencher lacunas, nem vale a pena mencioná-las. É provável que nossas reflexões se aproximem tanto dessas evidências como essas tradições improváveis. Poderemos aprender muito com o silêncio das Escrituras: não nos dizem precisamente qual era a coisa boa, porque qualquer coisa boa para com o Senhor é um sinal suficiente de graça. Embora a fé da criança não seja mencionada, acreditamos que ela tinha fé no Deus vivo, visto que sem isso nada nele teria agradado a Deus; pois "sem fé é impossível agradar a Deus". Ele era uma criança crente em Jeová, o Deus de Israel: talvez sua mãe tivesse deixado que ele mesmo pedisse para procurar o profeta do Senhor. Muitos falsos profetas estavam por ali no palácio: seu pai poderia não ter mandado ninguém a Siló, se o menino não tivesse pedido. O menino acreditava no grande Deus invisível que fez os céus e a terra, e ele o adorava em fé.
Não me surpreenderia, porém, se, naquela criança, seu amor fosse mais aparente do que sua fé; porque crianças convertidas na maioria das vezes falam em amar Cristo mais do que de confiar nele: não porque não tenham fé interior, mas porque a emoção do amor é mais compatível com a natureza da criança do que o ato mais intelectual da fé. O coração da criança é bem grande, e o amor, portanto, torna-se seu fruto mais notado. Não duvido que essa criança tenha mostrado uma afeição desde cedo para com o Jeová não visto, e uma aversão pelos ídolos da corte do pai. Possivelmente, tenha demonstrado horror do culto de Deus sob a figura de um bezerro. Até uma criança seria capaz de entender que devia ser errado igualar o grande e glorioso Deus a um animal com chifres e patas. Talvez a natureza aguçada da criança também achasse repugnantes aqueles sacerdotes baixos, dos confins da Terra, que seu pai tinha reunido. Não sabemos exatamente a forma que assumiu, mas havia "alguma coisa boa" no coração da criança para com Jeová, Deus de Israel.
Não se tratava apenas de uma boa inclinação que havia nele, nem um bom desejo, mas sim uma virtude substancial, realmente boa. Havia nele uma verdadeira e substancial existência de graça, e isso vai muito além de um desejo passageiro. Qual a criança que nunca, em uma ou outra ocasião, se foi treinada no temor do Senhor, sentiu tremores de coração e aspirações em direção a Deus? Essa qualidade é tão comum como o orvalho da manhã; mas, ai!, também acaba tão depressa como o orvalho. O jovem Abias possuía algo em seu interior suficientemente real e substancial para isso ser chamado de uma "boa coisa"; o Espírito de Deus operara uma obra segura nele, e deixara nele uma jóia valiosa de graça. Admiremos esta coisa boa, embora não possamos descrevê-la com precisão.
Admiremos, também, que esta "coisa boa" estivesse no coração da criança, porque sua entrada é desconhecida. Não podemos dizer como a graça penetrou no palácio de Tirza e ganhou esse coração juvenil. Deus viu a coisa boa, pois ele vê as menores coisas boas em nós, visto que tem um olho rápido para perceber qualquer coisa que se volta para sua direção. Mas como essa obra preciosa chegou à criança? Não nos é dito, e esse silêncio é uma lição para nós. Não é essencial sabermos como uma criança recebe graça. Não precisamos ficar ansiosos para saber quando, onde ou como uma criança é convertida; pode ser até impossível saber, pois o ato pode ter sido tão gradual que não se possa conhecer o dia e a hora. Mesmo aqueles que são convertidos em anos mais maduros não podem descrever sua conversão em detalhe, muito menos podemos manear a experiência de crianças que nunca entraram em pecado externo, mas que o comedimento de uma educação piedosa tem observado os mandamentos desde a sua mocidade, como o jovem da narrativa no evangelho.
Como foi que essa criança passou a ter essa "coisa boa" em seu coração? Até aqui sabemos: estamos certos de que Deus a colocou ali; mas por meio de quê? A criança, com toda probabilidade, não ouviu os ensinamentos dos profetas de Deus; ele nunca foi levado, como o menino Samuel, para a casa do Senhor. Sua mãe era uma princesa idólatra, seu pai estava entre os piores dos homens, e mesmo assim a graça de Deus alcançou seu filho. Será que o Espírito do Senhor operou no seu coração através de seus próprios pensamentos? Teria ele pensado no assunto, e chegado à conclusão de que Deus era Deus, e que ele não precisava adorá-lo como seu pai o adorava, sob a imagem de um bezerro? Até uma criança podia ver isso. Será que algum hino a Jeová foi cantado embaixo do palácio por algum adorador solitário? Tinha a criança visto seu pai naquele dia em que ele ergueu a mão contra o profeta de Jeová no altar de Betel, onde de repente sua mão direita se encolheu ao seu lado? Será que as lágrimas apareceram nos olhos do menino quando viu seu pai assim paralisado no braço de sua força? E será que riu de pura alegria de coração quando pela oração do profeta seu pai ficou bom de novo? Aquele grande milagre de misericórdia fez com que ele amasse o Deus de Israel? Será mera imaginação pensar que isso pode ter acontecido? Uma mão direita mirrada num pai, e esse pai um rei, é uma coisa que é quase certo a criança ter ouvido contar, e se foi restaurada pela oração, a admiração naturalmente encheu o palácio, e era assunto para todos, e o príncipe o ouviria.
Ou será que essa criança pequena teve uma ama piedosa? E se alguma menina como aquela que servia a esposa de Naamã foi a mensageira de amor para ele? Carregando-o para lá e para cá, a babá cantava para ele um dos cânticos de Sião, e lhe contava sobre José e Samuel? Israel não tinha deixado seu Deus há tanto tempo que estivesse sem muitos seguidores fiéis do Deus de Abraão, e talvez por intermédio de um deles suficiente conhecimento tenha sido transmitido à criança para se tornar o meio de passar o amor de Deus à alma dele. Podemos supor, mas não podemos falar que temos certeza, de que tenha sido assim, nem há necessidade disso. Se o sol se levanta, faz pouca diferença quando o dia amanheceu. Que nós, quando vemos nas crianças alguma coisa boa, ficamos contentes com essa verdade, mesmo quando não conseguimos dizer como isso aconteceu. Ao amor eletivo de Deus, nunca faltam meios para desempenhar seu propósito: Ele pode mandar sua graça eficaz para o cerne da família de Jeroboão, e enquanto o pai está prostrado diante de seus ídolos, o Senhor pode achar um verdadeiro adorador para si no filho do próprio rei. "Dos lábios das crianças e dos recém-nascidos firmaste o teu nome como fortaleza, por causa dos teus adversários." Teus passos nem sempre são vistos, ó, Deus da graça, mas nós aprendemos a adorar-te em tua obra, mesmo quando não discernimos teu caminho.
Essa "boa coisa" é descrita até certo ponto. Foi uma "coisa boa para Jeová, o Deus de Israel". A coisa boa olhava para o Deus vivo. Nas crianças muitas vezes se encontram coisas boas com respeito aos seus pais: que estas sejam cultivadas - mas não são evidências suficientes de graça. Nas crianças, às vezes, serão encontradas coisas boas no que diz respeito à amabilidade e excelência moral: que todas as coisas boas sejam louvadas e nutridas, mas não são frutos seguros de graça. É em relação a Deus que a coisa boa deve estar para que possa salvar a alma. Lembre-se de como lemos no Novo Testamento sobre o arrependimento no que diz respeito a Deus e sobre a fé em nosso Senhor Jesus Cristo. Como a face da coisa boa se revela é um ponto principal a seu respeito. Há vida em um olhar. Se um homem está viajando para longe de Deus, cada passo que ele dá amplia a distância; mas se seu rosto estiver voltado para o Senhor, ele pode ser apenas capaz do passo cambaleante da criancinha, mas mesmo assim ele está se aproximando mais e mais a cada momento. Havia algo de bom nessa criança em relação a Deus, e esta é a marca mais distinta de uma coisa realmente boa. A criança tinha amor, e havia nela amor para com Jeová. Tinha fé, mas era fé em Jeová. Seu temor religioso era o temor do Deus vivo; seus pensamentos infantis, desejos, orações e hinos diziam respeito ao verdadeiro Deus. É isso que desejamos ver não só em crianças, mas em adultos; desejamos ver seus corações voltados para o Senhor, com a mente e as vontades movendo-se em direção ao Altíssimo.
Nessa querida criança, aquela "coisa boa" criou um caráter exterior tal que ela se tornou muito amada. Estamos certos disso, porque foi dito que "todo o Israel chorou por ele" (1Re 14.18). Ele era provavelmente o herdeiro à coroa de seu pai, e havia corações piedosos em Israel que esperavam ver tempos de reforma quando aquele jovem chegasse ao trono; e talvez mesmo aqueles que não se importavam com religião, mas de algum modo tinham marcado o jovem e observado sua entrada e saída diante deles, teriam dito: "Ele é a esperança de Israel; ainda haverá melhores dias quando aquele menino se tornar homem"; de modo que, quando Abias morreu, só ele de toda sua raça recebeu tanto lágrimas quanto uma sepultura; morreu lamentado, e foi enterrado com respeito, enquanto todos os restantes da casa de Jeroboão foram devorados por cães e abutres.
É uma grande benção quando há uma coisa tão boa em nossos filhos que eles venham a ser queridos em suas esferas. Eles não têm todo o raio de influência que esse jovem príncipe gozava de modo a ter admiração universal; mas, ainda assim, a graça de Deus numa criança é uma coisa muito bela, e atrai aprovação geral. A piedade juvenil é coisa muito tocante para mim; eu vejo a graça de Deus em homens e mulheres com muita gratidão, mas não consigo percebê-la em crianças sem chorar de alegria. Há uma grande beleza nesses botões de rosa do jardim do Senhor; eles têm uma fragrância que não encontramos nos lírios mais lindos. Ganha-se o amor para o Senhor Jesus em muitos corações com essas pequeninas setas do Senhor, das quais a própria pequenez é parte de seu poder de penetrar o coração. Os ímpios podem não amar a graça que está nas crianças, mas visto que amam as crianças nas quais essa graça é encontrada, não conseguem mais falar contra a religião como fariam de outro modo. Sim, e mais, o Espírito Santo usa essas crianças para fins mais elevados ainda, e aqueles que as vêem muitas vezes ficam marcadas com desejos de coisas melhores.