Capítulo 10: Samuel e seus mestres Nos dias de Eli, a palavra do Senhor era preciosa, e não havia visão aberta. Foi ótimo que quando a palavra veio mesmo, um indivíduo escolhido tinha o ouvido que escutava para recebê-la, e o coração obediente para executá-la. Eli não educou seus filhos para serem os servos dispostos e os ouvintes atentos à palavra do Senhor. Nisso lhe faltava a desculpa de ser incapaz, porque treinou a criança Samuel com bom êxito em ser reverentemente atento à vontade divina. Ah, que aqueles que são diligentes com as almas de outros olhassem bem as suas próprias famílias. Mas ai do pobre Eli--como muitos em nossos dias, fizeram-te guarda dos vinhedos, mas tua própria vinha tu não guardaste. Sempre que olhava a criança graciosa, Samuel, deve ter sentido a dor de coração. Quando se lembrava de seus próprios filhos negligenciados e não punidos, e como se tornaram vis aos olhos de toda Israel, Samuel era o testemunho vivo do que a graça pode operar quando as crianças são educadas no temor do Senhor; e Hofni e Finéias eram tristes exemplos do que a tolerância demasiada dos pais pode causar nos filhos dos melhores dos homens. Ai, Eli, se você tivesse sido tão cuidadoso com seus próprios filhos como com o filho de Ana, não teriam sido homens de Belial como foram, nem Israel teria detestado as ofertas do Senhor por causa da fornicação que aqueles réprobos sacerdotes cometiam bem na porta do tabernáculo. Ah, que tenhamos graça para cuidar de nossos pequeninos pelo Senhor, para que eles possam ouvir o Senhor quando ele se agradar em lhes falar.
Samuel foi abençoado com um pai gracioso, e, o que é mais importante ainda, era filho de uma mãe eminentemente santa. Ana era uma mulher de grande talento poético, como fica evidente pelo seu cântico memorável--"Meu coração exulta no Senhor; no Senhor minha força é exaltada. Minha boca se exalta sobre os meus inimigos, pois me alegro em tua libertação" (1Sm 2.1). A alma da poesia vive em cada sentença. Mesmo a Virgem Maria, a mais abençoada entre as mulheres, não pôde senão usar expressões de significado semelhante. Melhor ainda, Ana era uma mulher de grande oração. Fora uma mulher de espírito triste, mas suas orações pelo menos voltaram para ela em bênção, e Deus lhe concedeu esse filho. Ele era muito precioso para o coração de sua mãe, e ela, então, para mostrar sua gratidão, e em cumprimento do voto que na sua angústia havia feito ao Senhor, consagrou a coisa melhor que ela tinha, apresentando seu filho diante do Senhor em Siló--uma lição a todos os pais piedosos, para que não descuidem de dedicar seus filhos a Deus.
Como seremos favorecidos se nossos filhos forem todos como Isaque--filhos da promessa! Que pais abençoados seríamos se víssemos nossos filhos se levantarem para chamar o Redentor de abençoado! Já foi a sorte de alguns de vocês verem todos os seus filhos contados com o povo de Deus; todas as suas jóias já estão agora na caixa de jóias de Jeová. Na sua primeira infância, vocês já os deram a Deus, e dedicaram-nos em sincera oração, e agora o Senhor lhes deu a resposta da petição que a ele dirigiram. Eu gosto que nossos amigos façam um cultinho em sua própria casa quando sua família é aumentada; parece-me bom e proveitoso os amigos se reunirem, e uma oração ser oferecida para que o bebê possa cedo ser chamado pela graça poderosa e recebido para fazer parte da família divina. Você perceberá que logo que Samuel foi colocado sob o cuidado e tutela de Eli, foi instruído até certo ponto no espírito da religião, mas Eli não lhe parece ter explicado a forma e a natureza daquelas manifestações especiais e particulares de Deus que eram dadas a seus profetas; sonhando um pouco, ouso dizer que Samuel fosse algum dia o objeto delas. Naquela noite memorável, quando perto do amanhecer a lâmpada de Deus estava para se apagar, o Senhor clamou, "Samuel, Samuel", e o garotinho não pôde discernir--porque não lhe fora ensinado--que era a voz de Deus, e não a voz do homem.
Que ele havia aprendido o espírito da religião verdadeira é indicado pela sua obediência instantânea, e o hábito da obediência tornou-se uma diretriz valiosa nas perplexidades daquela hora cheia do evento. Ele corre para Eli, e diz: "Estou aqui; o senhor me chamou?"; e embora isso fosse repetido três vezes, mesmo então ele parecia não se importar de sair de sua cama quentinha, e correr para seu pai de criação, para ver se lhe podia buscar algum conforto que sua idade avançada poderia exigir durante a noite, ou de outra forma obedecer seu mando - um sinal seguro de que a criança havia adquirido o princípio saudável da obediência, embora não entendesse o mistério do chamado profético. Bem melhor ter o jovem coração treinado a carregar o jugo do que encher a cabeça infantil de conhecimento, por mais valioso que fosse. Um grama de obediência vale mais do que uma tonelada de instrução.
Quando Eli percebeu que Deus chamara a criança, ele o ensinou sua primeira oração. É curta, mas diz muito: "Fala, Senhor, pois o teu servo está ouvindo" (1Sm 3.10b). Que os pais cristãos expliquem à criança o que é a oração. Diga-lhe que Deus responde às orações; dirija-o ao Salvador, e então anime o menino a expressar seus desejos em sua própria linguagem quando ele se levanta ou quando vai para o descanso. Reúna os pequenos à sua volta e ouça suas palavras, sugerindo-lhes suas necessidades, e lembrando a eles a promessa graciosa de Deus. Você ficará maravilhado, e, posso acrescentar, às vezes, divertido também; mas também ficará surpreso com as expressões que usarão, as confissões que farão, os desejos que expressarão; e eu estou certo de que qualquer pessoa cristã que possa ouvi-los e escutar a simples oração de uma criancinha pedindo com sinceridade por aquilo que ela pensa querer nunca mais desejaria ensinar a uma criança uma oração já formulada, porém, diria que como matéria de educação para o coração a fala improvisada foi infinitamente superior à melhor fórmula, e que se deveria desistir da fórmula para sempre.
No entanto, não me deixe falar tão radicalmente. Se você precisa ensinar seu filho a dizer uma forma de oração, pelo menos não lhe ensine nada que não seja verdade. Se você ensina a seus filhos um catecismo, que seja bem bíblico, ou você os ensina a dizer mentiras. Não ensine nada senão a verdade como está em Jesus até onde eles podem aprendê-la, e ore ao Espírito Santo para que escreva essa verdade sobre o coração deles. Melhor não fornecer postes de sinalização para o jovem viajante que levá-lo a errar o caminho por ter indicadores falsos. O farol de um demolidor é pior do que o escuro. Ensine nossa juventude a fazer afirmações mentirosas em assuntos religiosos, e o ateísmo pode corromper ainda mais suas mentes. A religião formal é inimiga mortal da piedade viva. Se você ensina um catecismo, ou se ensina uma fórmula de oração a seus pequenos, que seja tudo verdade; e, até onde for possível, nunca ponha na boca de uma criança uma palavra que a criança não possa dizer de todo seu coração.
Precisamos ser mais cuidadosos no que se refere a dizer o que é verdade e correto na fala. Se uma criança olhasse por uma janela para algo que estivesse acontecendo na rua, e depois lhe dissesse que ela o viu da porta, você deveria fazê-lo contar de novo o caso para imprimir nela a necessidade de ser verdadeiro a respeito de tudo. Principalmente sobre as coisas ligadas à religião, não deixe a criança usar nenhum formato feito até que tenha o direito de ser um participante. Nunca a incentive a vir à mesa do Senhor a não ser que você creia realmente que há uma obra de graça em seu coração; pois por que você o levaria a comer e beber para sua própria condenação? Insista de todo coração que a religião é uma realidade solene que não é para ser imitada ou feita de conta, e procure levar a criança a entender que não há vício que aborreça mais a Deus do que a hipocrisia. Não faça seu pequeno Samuel ser um jovem hipócrita, mas instrua seu queridinho a falar diante do Senhor com uma profunda solenidade e uma conscienciosa veracidade, e não o deixe ousar dizer, nem em resposta a uma pergunta de catecismo, nem como forma de oração, nada que não seja positivamente verdade. Se precisa ter uma oração decorada, que ela não expresse desejos como uma criança nunca teria, mas que seja adaptada à sua capacidade.
A respeito do reverendo John Angell James, diz-se: "Como a maioria dos homens que foram eminentes e honrados na igreja de Cristo, ele teve uma mãe piedosa, que costumava levar seus filhos a seu quarto, e com cada um separadamente orar pela salvação de sua alma. Esse exercício, que cumpria sua própria responsabilidade, estava formatando o caráter de seus filhos, e a maioria, se não todos, levantou-se para chamá-la abençoada. Será que tais meios já chegaram a falhar algum dia?" Eu lhes peço, professores da Escola Dominical, embora isso talvez nem seja necessário, pois sei como são zelosos nessa matéria--, logo que virem o primeiro prenúncio do dia em suas crianças, incentive seus desejos juvenis. Creia na conversão de crianças quando crianças; creia que o Senhor pode chamá-las por sua graça, pode renovar seus corações, pode dar-lhes um papel e uma sorte dentre seu povo muito antes de chegarem à plenitude da vida.