Capítulo 7: Pastoreie os meus cordeiros O motivo de pastorear, de alimentar os cordeiros era para o cordeiro pertencer ao Mestre, e não mais pertencer a si mesma. Se Pedro tivesse sido o primeiro papa de Roma, e tivesse sido como seus sucessores, o que de fato ele nunca foi, certamente teria cabido ao Senhor ter-lhe dito: "Pastoreie as suas ovelhas. Eu as entrego a você, ó Pedro, Vigário de Cristo na Terra." Não, não, não. Pedro deve alimentá-las, mas elas não são dele, são ainda de Cristo. O trabalho que vocês têm que fazer para Jesus, irmãos e irmãs, não é de modo nenhum para si mesmos. Sua classe não é de suas crianças, e sim de Cristo. A exortação que Paulo deu foi para "cuidar da igreja de Deus", e que o próprio Pedro escreveu em sua epístola: "Pastoreiem o rebanho de Deus que está aos seus cuidados. Olhem por ele, não por obrigação, mas de livre vontade, como Deus quer. Não façam isso por ganância, mas com o desejo de servir" (1Pe 5.2). Que esses cordeiros se tornem o que podem, a glória será do Mestre e não do servo, e todo o tempo gasto, o trabalho dispensado e a energia gasta serão em cada partícula para redundar em louvor dele de quem são esses cordeiros.
Contudo, enquanto isso é uma ocupação de abnegação, e honrada também, podemos cuidar dela sentindo que é uma das mais nobres formas de serviço. Jesus diz: "Meus cordeiros; Minhas ovelhas." Pense neles, e admire-se de Jesus tê-los entregue a nós. Pobre Pedro! Certamente, quando aquela refeição matinal começou, ele se sentia desajeitado. Eu me coloco no lugar dele e sei que mal poderia olhar para Jesus do outro lado da mesa, enquanto me lembrava de que eu o havia negado com imprecações e maldições. Nosso Senhor quis deixar Pedro bem à vontade ao levá-lo a falar sobre seu amor, que tão seriamente fora colocado em dúvida. Como um bom médico, ele pôs o bisturi onde a ansiedade estava inflamada, e ele pergunta: "Você me ama?" (Jo 21.13ss).
Não era porque Jesus não conhecesse o amor de Pedro; mas para que Pedro soubesse com certeza e fizesse uma nova confissão, dizendo: "Sim, Senhor, tu sabes que te amo." O Senhor estava prestes a ter uma discussão delicada com o errante por alguns minutos, para que nunca mais houvesse uma controvérsia entre ele e Pedro. Quando Pedro disse: "Sim, Senhor; tu sabes que te amo", você quase pensou que o Senhor responderia: "Oh, Pedro, e eu te amo"; mas ele não disse isso, embora tenha dito isso, sim.
Talvez Pedro não tenha entendido o que ele queria dizer; mas nós podemos entender porque nossa mente não está confusa como estava a de Pedro naquela manhã memorável. Em outras palavras, Jesus disse: "Eu te amo tanto que confio a você aquilo que eu comprei com o sangue de meu coração. A coisa mais preciosa que tenho em todo o mundo é o meu rebanho: veja, Simão, eu tenho tanta confiança em você, dependo inteiramente da sua integridade como sendo uma pessoa que me ama sinceramente, que eu lhe faço um pastor de meus cordeiros. São tudo que eu tenho na Terra, dei tudo por eles, até minha vida; e agora, Simão, filho de Jonas, cuide deles por mim." Ah, foi "falado bondosamente". Foi o grande coração de Cristo dizendo: "Pobre Pedro, entre já e compartilhe comigo os meus mais estimados protegidos." Jesus acreditou de tal modo na declaração de Pedro que não lhe disse isso com palavras, e sim com atos. Três vezes, ele o disse: "Cuide de meus cordeiros: pastoreie as minhas ovelhas, cuide das minhas ovelhas", para mostrar o quanto o amou. Quando o Senhor Jesus ama muito uma pessoa, ele lhe dá muito para fazer ou muito para sofrer.
Muitos de nós fomos apanhados como brasas da fogueira, pois fomos "inimigos de Deus por causa do mau procedimento"; e agora estamos na igreja entre seus amigos, e nosso Salvador confia em nós com os seus mais amados. Eu fico pensando, quando o filho pródigo voltou, e seu pai o recebeu, se quando chegou o dia da feira ele mandou seu filho mais novo ao mercado para vender o trigo e trazer para casa o dinheiro. A maioria de vocês teria dito: "Estou contente que o menino voltou; ao mesmo tempo, enviarei o irmão mais velho para negociar, pois ele sempre ficou do meu lado." Quanto à minha pessoa, o Senhor Jesus me recebeu como um pobre filho pródigo, e não se passaram muitas semanas antes de ele me colocar em confiança com o evangelho, esse o maior de todos os tesouros; e esse foi um grande sinal de amor. Não conheço nenhum que o exceda.
A comissão dada a Pedro provou como foi completa a cura da brecha, como o pecado foi totalmente perdoado, pois Jesus tomou o homem que tinha praguejado e jurado negando-o, e mandou que alimentasse seus cordeiros e ovelhas. Ah, trabalho bendito, não para si, e contudo para si! Aquele que se serve se perderá, mas aquele que se perde realmente se serve da melhor maneira possível.
A motivação-mestre de um bom pastor é o amor. É para pastorearmos os cordeiros de Cristo por amor. Primeiro, como prova de amor. "Se vocês me amam, obedecerão aos meus mandamentos." Se me amam, alimentem os meus cordeiros. Se você ama Cristo, mostre isso, e mostre-o fazendo o bem aos outros, desgastando-se para ajudar os outros, para que Jesus possa ter a alegria desses outros.
Em seguida, como um influxo de amor, "Pastoreie meus cordeiros", porque se você ama Cristo um pouco quando você começa a fazer o bem, logo você o amará mais. O amor cresce por ser ativamente exercitado. É como o braço do ferreiro que aumenta em força por manejar o martelo. O amor ama até que ama mais, e ama mais até que ama mais; e ainda ama mais até que ama mais de tudo, e então não está satisfeito, mas aspira um alargamento do coração para que possa copiar ainda mais plenamente o modelo perfeito de amor em Cristo Jesus, o Salvador.
Além de ser um influxo de amor, o alimentar de cordeiros é um escoadouro de amor. Quantas vezes contamos ao Senhor que nós o amamos quando estávamos pregando, e eu não duvido que vocês, professores, sentem mais do que prazer em amar a Jesus quando estão ocupados com suas aulas do que quando estão a sós em casa. Uma pessoa poderá voltar para casa, sentar-se e suspirar: "É um ponto que quero muito saber, que me faz pensar e não sei responder", e enxugar a testa e esfregar os olhos, e entrar num desânimo sem fim; mas se a pessoa se levanta e trabalha para Jesus, o ponto que ela tanto deseja saber logo estará resolvido, porque o amor virá jorrando do seu coração até que não possa mais questionar se está lá.
Portanto, permaneçamos nesse trabalho abençoado para Cristo para que o deleite do amor seja o próprio oceano em que o amor nadará, o sol em que se aquecerá. A recreação de uma alma amorosa é trabalhar por Jesus Cristo; e dentre as formas mais altas e mais deliciosas dessa recreação celeste está o cuidar de cristãos novinhos; procurando edificá-los no entendimento e na compreensão, para que se tornem fortes no Senhor.