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"Porque tu estás falando isso"

"Simão respondeu: 'Mestre, esforçamo-nos a noite inteira e não
pegamos nada. Mas, porque és tu quem está dizendo isto,
vou lançar as redes'" (Lucas 5.5).

Quão abundantemente a simples obediência pode participar do sublime! Pedro foi pegar a rede, e a desceu no mar, e disse com toda a naturalidade: "Porque és tu quem está dizendo isso, vou lançar as redes"; mas naquele instante ele estava apelando a um dos mais grandiosos princípios que governam os seres inteligentes, e à força mais poderosa que domina o universo: "Porque és tu quem está dizendo isso." Grande Deus, é "diante da tua palavra" que os serafins e os querubins se curvam! Teus anjos que sobrepujam na força cumprem os teus mandamentos ao escutarem o som da tua palavra. "Mediante a tua palavra" o tempo e o espaço vieram originalmente a existir, bem como todas as demais coisas que existem. "Mediante a tua palavra" - aqui temos a causa das causas, o princípio da criação por Deus. "Pela palavra do Senhor foram feitos os céus", e por aquela palavra foi determinada a constituição deste mundo esférico conforme ele agora existe. Quando a Terra estava in-forme e escura, e tua voz, Senhor, foi ouvida dizendo "Haja luz", "mediante a tua palavra" brotou a luz. "Mediante a tua palavra" o dia e a noite assumiram os seus lugares, "mediante a tua palavra" apareceu a terra seca, e os mares recuaram aos seus canais. "Mediante a tua palavra" o globo terrestre foi revestido de verde, e começou a vida vegetal. "Mediante a tua palavra" apareceram o sol, a lua e as estrelas para servirem de "sinais, para marcar estações, dias e anos" (Gn 1.14). Mediante a tua palavra" os seres vivos encheram o mar, o ar e a terra, e finalmente apareceu o homem. De tudo isso temos total certeza, posto que, pela fé, sabemos que os mundos foram criados pela palavra de Deus. Ao agirmos de conformidade com a palavra do nosso Senhor, nos sentimos em comunhão com todas as forças do universo, viajando pela estrada principal de toda a existência real, embora tudo isso seja visto nas ações comuns da nossa vida do dia a dia?

Não é somente na Criação que a palavra do Senhor é suprema, mas também na Providência seu poder majestoso é manifestado, pois o Senhor sustenta todas as coisas pela sua palavra poderosa. A neve e a névoa e o vento tempestuoso, todos estão cumprindo a sua palavra. A sua palavra corre com muita rapidez. Quando a geada congela a seiva vital do ano, o Senhor envia a sua palavra e a derrete. A natureza obedece à palavra de Deus e age de acordo com ela. Assim, também, todas as questões dos fatos e da História estão sujeitas à palavra suprema. Deus está no centro de todas as coisas, e como Senhor de tudo, ele permanece no alto comando, e todos os eventos das eras passam marchando, diante da sua palavra, curvando-se diante de sua vontade soberana. "Mediante a tua palavra", ó Deus, os reinos ascendem e os impérios florescem; "mediante a tua palavra" raças de homens se tornam dominantes e esmagam os seus semelhantes; "mediante a tua palavra" dinastias morrem, reinos se desfazem, grandes cidades se transformam em ermo, e os exércitos dos homens se derretem como a geada matutina. A despeito do pecado dos homens e da fúria dos diabos, existe um sentido sublime no qual todas as coisas, desde o princípio, desde quando Adão saiu do Éden pelo limiar, até agora mesmo, têm acontecido segundo o propósito e a vontade do Senhor dos Exércitos. A profecia declara os seus oráculos, e a História escreve suas páginas, "mediante a tua palavra", ó Senhor.

É maravilhoso pensar no pescador da Galileia baixando sua rede em consonância perfeita com todas as disposições das eras. Sua rede obedece à lei que regulamenta as esferas. Sua mão faz, conscientemente, aquilo que Arcturo e Órion estão fazendo sem pensar. Esse sininho no lago da Galileia soa em harmonia com o carrilhão eterno. "Diante da tua palavra", diz Pedro, ao obedecer prontamente, e nisso repete a palavra de ordem dos mares e das estrelas, dos ventos e dos mundos. É glorioso estar acompanhando o compasso da marcha dos exércitos do Rei dos reis.

Existe outra maneira de desenvolver esse pensamento. "Diante da tua palavra" tem sido a senha de todos os homens bons desde o princípio até agora. Os santos têm agido à altura dessas palavras e nelas têm achado sua ordem de marchar. Uma arca é construída em terra seca, e a multidão dos zombadores se reúne em derredor do patriarca idoso, rindo dele; mas ele não se envergonha, pois, levantando seu rosto ao céu, ele diz: "Construí esse grande barco, ó Senhor, diante da tua palavra." Abraão deixa o lugar da sua infância, deixa a sua família, e vai com Sara até uma terra da qual nada sabe, e para isso atravessa o amplo rio Eufrates, e entra num país possuído pelos cananeus, e ali peregrina como estrangeiro e forasteiro durante toda a sua vida. Mora em tendas com Isaque e Jacó. Se alguém zomba dele por ter renunciado assim aos confortos da sua vida estabelecida, ele também levanta o seu rosto calmo ao céu, responde, sorridente, ao Senhor: "É diante da tua palavra." Sim, e mesmo quando sua testa fica enrugada, e a lágrima quente está a ponto de forçar caminho para sair de baixo da pálpebra do patriarca, se alguém o acusar de assassinato, ou o considerar louco, ele levanta o mesmo rosto plácido diante da majestade do Altíssimo e diz: "É diante da tua palavra." Diante daquela palavra. Ele alegremente embainha o cutelo sacrificial, pois já comprovou a sua disposição de ir até às últimas consequências diante da palavra do Senhor seu Deus. Se eu fosse apresentar vocês a um milheiro de fiéis que demonstraram a obediência da fé, em cada caso justificariam os seus atos ao dizerem a vocês que assim fizeram "diante da palavra de Deus." Deus levanta a sua vara na presença do faraó altivo, "diante da tua palavra," grande Deus! E ele não levanta em vão aquela vara, diante da palavra do Senhor, pois as pragas caem grossas e pesadas nos filhos de Cam. São levados a saber que a palavra de Deus não volta a ele vazia, mas cumpre o seu propósito, quer seja de ameaça, quer seja de promessa.

Irmãos, vejam Moisés dirigir o seu povo para fora do Egito, a hoste inteira com suas miríades! Notem como ele os levou até o mar Vermelho, onde o deserto os cerca. De cada lado, os pináculos altos fazem carranca, e o estrondar dos carros de guerra do Egito se ouve por detrás deles. Como é que Moisés ficou bobo a ponto de levá-los para lá? Não existiam sepulcros no Egito - seria que por isso Moisés tinha trazido o povo de lá, para morrer na praia do mar Vermelho? A resposta de Moisés é a reflexão calma que ele assim fez diante da palavra do Senhor, e Deus justifica aquela palavra, pois o mar abre uma estrada ampla para os eleitos de Deus, e estes atravessam o mar, marchando com júbilo, e com tamborins e danças no outro lado, cantam ao Senhor, que triunfou gloriosamente. Se, em dias posteriores, vocês virem Josué cercando Jericó, sem a atacar com aríetes, mas somente com um grande sonido de trombetas, seu motivo é que Deus lhe falou mediante a sua palavra. E assim continua, pois o tempo me faltaria para falar de Sansão, de Jefté e de Baraque; o que esses homens fizeram, fizeram-no diante da palavra de Deus; e ao fazerem assim, o Senhor estava com eles. Seria o caso de descermos das coisas sublimes para as corriqueiras, ao falarmos de Pedro e da rede que ele lança para o lado de fora do seu barquinho? Nada disso! Nós mesmos somos ridículos quando não tornamos a nossa própria vida sublime pela obediência da fé. Certamente, pode haver tanta sublimidade em lançar uma rede quanto em construir uma arca, em levantar uma vara, ou em soar um chifre de carneiro; e fica claro que, a ação mais singela na vida, se for feita pela fé, pode ser sublimemente grandiosa. A espuma brilhante da onda que cobre a rede de Pedro pode ser tão sublime diante do Senhor quanto a glória das ondas do mar Vermelho quando voltaram com toda a força. Deus, que vê um mundo numa gota, vê maravilhas no menor ato da fé. Peço a vocês que não pensem que a sublimidade se acha em massas que possam ser pesadas na balança, de modo que um quilômetro seja sublime, e um centímetro, absurdo. Não medimos questões morais e espirituais por unidades de cinco ou vinte metros. O ato singelo, diante da palavra de Cristo, liga Pedro com todos os principados, poderes e forças que, no decurso de todas as eras, só têm conhecido a seguinte como sua única lei: "Ele falou, e foi feito; ele ordenou, e ficou firme." Nós, também, teremos comunhão com o sublime, se soubermos ser perfeitamente obedientes à palavra do Senhor.

Esta deve ser a regra para todos os cristãos durante a totalidade da sua vida: "Diante da tua palavra." Essa regra deve nos dirigir na igreja e no mundo; deve nos guiar em nossas crenças espirituais e em nossos atos seculares: "Diante da tua palavra." Eu gostaria que fosse assim. Ouvimos a jactância de pessoas que alegam seguir o princípio da Bíblia, e a Bíblia somente, ser a religião dos protestantes. É mera jactância. Poucos protestantes podem repetir com honestidade essa asseveração. Eles têm outros livros, aos quais pres-tam deferência, e outras regras, ou outros orientadores, além da única Palavra de Deus, acima dela, e até mesmo em oposição a ela. Não deve ser assim. O poder da igreja e o poder do indivíduo para agradar a Deus nunca serão plenamente conhecidos a não ser quando voltarmos para a regra singela, porém sublime, do nosso texto: "Diante da tua palavra."

Portanto, vou simplesmente martelar nas seguintes palavras, com a ajuda de Deus: "Diante da tua palavra." Essa regra tem muitas aplicações. Em primeiro lugar, vou repetir parcialmente o que já falei, ao dizer que deve se aplicar às questões da vida corriqueira; em segundo lugar, deve se aplicar às questões do proveito espiritual; e em terceiro lugar, e nesse assunto vou entrar em pormenores: deve achar sua aplicação principal na atividade suprema da nossa vida, que é sermos pescadores dos homens.

I. "Diante da tua palavra" deve ser aplicável a todas as questões da vida cotidiana. Em primeiro lugar, me refiro a continuar com firmeza as atividades honestas. "Cada um deve permanecer na condição em que foi chamado por Deus" (1Co 7.20). Muitos homens na presente crise dolorosa estão quase dispostos a abandonar o seu serviço e fugir dos seus empreendimentos, porque labutaram a noite inteira, sem nada pegar. Verdadeiramente, as trevas financeiras já duraram muito, e ainda não cedem diante do amanhecer; no entanto, os cristãos não devem se queixar, nem deixar seus postos. Vocês que estão sendo provados, continuem diligentes nos seus deveres, continuem a apresentar coisas honestas diante da vista de todos os homens. Continuem a labutar na esperança. Digam, assim como Pedro: "Mas, porque és tu quem está dizendo isso, vou lançar as redes." "Se não for o SENHOR o construtor da casa, será inútil trabalhar na construção" (Sl 127.1); vocês conhecem bem essa verdade; conheçam esta, também: o Senhor não abandonará o seu povo. Seus melhores esforços não lhes trarão prosperidade; mesmo assim, não relaxem esses esforços. Assim como a palavra que Deus lhes dirige é comportar-se como homens, ser fortes, arregaçar as mangas da sua mente, ser sóbrios, e manter-se firmes. Não joguem fora o seu escudo, não deixem de lado a sua obediência, mas fiquem firmes nas suas fileiras até voltar a maré da batalha. Deus colocou cada um de vocês onde vocês estão, não saiam de mudança até a providência divina os chamar. Não corram adiante da nuvem. Amanhã cedo, abram as portas de sua loja e exponham as suas mercadorias, não deixem o desânimo levá-los a fazer nada de precipitado ou impróprio. Digam: "Mas, porque és tu quem está dizendo isso, vou lançar as redes."

Se eu estiver falando com pessoas que estão sem emprego nessa ocasião, procurando algum lugar onde possam conseguir pão para si e para sua família, conforme o dever delas, que escutem e meditem. Se algum homem não se dispõe de seus máximos esforços para prover as necessidades da sua família, ele não está dentro da bênção do evangelho, mas é declarado pior do que o pagão e do publicano - é dever de todos nós realizar com as nossas mãos aquilo que é bom, a fim de que tenham o que dar aos necessitados, bem como àqueles que dependem de nós. Se vocês, depois de terem percorrido essa cidade até ficarem com bolhas nos pés, não acharam nenhuma atividade, não fiquem em casa na segunda-feira seguinte, dizendo, amuados: "Não vou tentar de novo." Apliquem meu texto a essa provação difícil, e, mais uma vez, saiam com esperança, e digam juntamente com Pedro: "Esforçamo-nos a noite inteira e não pegamos nada. Mas, porque és tu quem está dizendo isso, vou lançar as redes." Que os homens vejam que o cristão não é facilmente levado ao desespero. Pelo contrário, deixem-nos ver que quando o jugo se torna mais pesado, o Senhor tem um jeito secreto de forçar as costas dos seus filhos para poderem suportar os seus fardos. Se o Espírito Santo tornar vocês calmos e resolutos, vocês honrarão mais a Deus com sua perseverança alegre do que o loquaz como seus discursos finos, ou o formalista com sua exibição exterior. A vida comum é a localidade certa para comprovar a veracidade da piedade e para Deus ser glorificado. Não é pela prática de obras extraordinárias, mas pela piedade na vida de todos os dias, que o cristão é conhecido e sua religião honrada. Diante da palavra de Deus, fiquem firmes até ao fim. "Confie no SENHOR e faça o bem; assim você habitará na terra e desfrutará segurança" (Sl 37.3).

É possível, também, que vocês tenham feito um esforço na sua vida diária, a fim de adquirir mais conhecimentos com o intuito de melhor cumprir sua vocação, mas, por enquanto, não prosperaram conforme poderiam desejar. Não cessem por isso os seus esforços. Nosso Senhor Jesus nunca desejaria que fosse comentado que seus discípulos são covardes que, se não tiverem sucesso da primeira vez, nunca tentarão de novo. Nós devemos ser modelos de todas as virtudes bem como de todas as graças espirituais; portanto, diante da ordem do Senhor, continuem a trabalhar com a mente e as mãos, e confiar nele para receber a bênção. "Diante da sua palavra" desçam a rede de novo; ele pode ter a intenção primária de abençoar vocês quando, através das provações, vocês tiverem sido preparados para suportar a bênção.

Isso se aplica muito diretamente àqueles que estão se esforçando bastante para criar crianças. É possível que você ainda não tenha tido sucesso com seus próprios filhos. É possível que o espírito do menino ainda seja indomável e orgulhoso, e que a menina ainda não tenha aprendido a obediência e a submissão. Ou é possível que você esteja trabalhando na escola dominical, ou no primário municipal, procurando transmitir conhecimentos, e formando corretamente a mente juvenil, e que você tenha se sentido desconcertado; mas se sua vocação é ensinar, não se deixe vencer. Fique firme no seu trabalho, como se estivesse escutando Jesus dizer: "Tudo o que fizerem, façam de todo o coração, como para o Senhor, e não para os homens" (Cl 3.23). Zelosamente, portanto, diante da sua palavra, desça de novo a rede.

Aconselho vocês, caros amigos, em tudo quanto fizerem, que seja uma coisa certa, façam com todas as suas forças; e se não for uma coisa certa, não tenham nada que ver com ela. É possível que vocês tenham sido chamados para ensinar alguma verdade moral a essa geração. Na maioria das gerações, indivíduos têm sido vocacionados para realizar reformas e para promover progresso. Você tem a obrigação de amar o seu próximo como a si mesmo, e, por isso, conforme surgem as oportunidades, faça o bem a todas as pessoas. Se você já fez uma tentativa, e ninguém quis lhe prestar atenção, não abandone o seu argumento. Se a causa é boa, e você é cristão, que nunca seja dito que você ficou com medo ou vergonha. Admiro em Palissy o oleiro, não somente o seu cristianismo, que não podia ser vencido pela perseguição, como também a sua perseverança na sua profissão de fabricar porcelana. Ele teria gastado seu último tostão ou seu último hálito para descobrir algum vidrado ou para ressaltar uma cor. Amo ver tais pessoas como crentes. Não gostaria de ver nosso Senhor seguido por um conjunto de covardes que não conseguissem enfrentar as batalhas comuns da vida; como pessoas assim poderiam ser dignas do cavalheirismo mais nobre que luta contra a iniquidade espiritual nas regiões celestiais? A nós cabe sermos os mais corajosos entre os corajosos nas planícies da vida comum, a fim de que, quando formos convocados a campos de batalha superiores, onde são necessários ainda maiores feitos de bravura, possamos ir para lá treinados para o serviço superior.

A vocês, parece um pouco impróprio falar assim no púlpito? Não concordo. Noto como no Antigo Testamento lemos a respeito das ovelhas e do gado, e dos campos e das colheitas dos homens bons; e essas coisas tinham relação com a sua religião. Noto como a mulher virtuosa cuidava bem do seu lar; e observo que temos na Bíblia um livro de Provérbios, e outro chamado Eclesiastes, com poucos ensinamentos espirituais neles, mas grande dose de bom senso sadio e prático. Fica evidente que o Senhor pretende que nossa fé não seja limitada ao nosso assento na igreja, mas que andasse nas lojas, e fosse vista em todas as atividades da vida. O grande princípio do texto que estamos referindo caiu dos lábios de um trabalhador, e o devolvo ao trabalhador: tinha que ver com uma rede e um barco, os implementos do seu serviço, e quero vincular esse princípio a essas coisas comuns; e eu diria a todos quantos servem ao Senhor, neste presente mundo mau - em nome de Deus, se você tiver algo para fazer, não fique tão desanimado e desesperado a ponto de cessar de fazêlo, mas, diante da sua palavra, continue nos seus esforços honestos, e diga: "Lançarei as redes."

II. Nas questões do proveito espiritual devemos, diante da palavra de Cristo, lançar a rede de novo. Apresento isso, em primeiro lugar, àqueles que já vieram a esse Tabernáculo muitas vezes e vêem com bom ânimo se devo acreditar neles, na esperança de achar a salvação. Vocês oram antes do início do sermão, pedindo ao Senhor que realmente abençoe o sermão para vocês. Agora, prestem atenção: não consigo entender vocês de modo algum; não dá para decifrar vocês; isso porque o caminho da salvação está aberto diante de vocês neste mesmo momento, e é: "Creia no Senhor Jesus Cristo, e você será salvo." Não existe nada que vocês precisam aguardar, e ficar aguardando assim é pecaminoso. Se disserem que estão aguardando até as águas do tanque serem movidas, vou lhes dizer que não há tanque para ser remexido, e nenhum anjo para remexê-lo. Aquele tanque ficou seco há muito tempo, e os anjos nunca passam por ali hoje em dia. Nosso Senhor Jesus Cristo fechou Betesda quando ele chegou ali e disse ao homem que ali estava deitado: "Levante-se! Pegue a sua maca e ande." São as mesmas palavras que ele dirige a vocês. Vocês não devem ficar esperando; mas convido com sinceridade vocês que estão aqui nesta manhã, por meio da palavra de Cristo, que nos ordenou que pregássemos o evangelho a toda criatura - "creiam e vivam". Lancem a rede de novo, e desçam-na da seguinte maneira; digam: "Meu Senhor, eu creio; ajude a minha incredulidade." Sussurrem agora uma oração a Jesus para ele aceitá-los. Submetam-se a ele e roguem que ele se torne Salvador de vocês neste momento. Vocês serão ouvidos. Há peixes bastantes esperando para serem apanhados na rede da fé. Diante da palavra do Senhor, lancem a rede.

Mas agora falarei a outras pessoas presentes, que têm lançado suas redes em vão, talvez na forma de oração inoportuna. Vocês estavam orando pela conversão de um parente, ou implorando por alguma outra coisa que acreditam estar de conformidade com a vontade de Deus, e depois de pleitearem durante longo tempo - com petições durante a noite, pois o seu espírito estava triste -, vocês são tentados a nunca mais fazer aquela petição? Agora, pois, diante da palavra de Cristo, que disse que os homens devem sempre orar e não desanimar - diante da palavra de Cristo, que diz: "Orem sem cessar", lancem a rede e orem de novo. Não porque as circunstâncias ao seu redor sejam mais favoráveis, mas simplesmente porque Jesus manda vocês continuarem na oração; e quem sabe vocês possam ser coroados de sucesso nessa mesma ocasião!

Ou vocês estavam perscrutando as Escrituras para acharem uma promessa que seja apropriada para o seu caso? Vocês querem lançar mão de alguma boa palavra da parte de Deus que animará você? Cardumes de semelhantes peixes estão ao redor do seu barco; o mar das Escrituras está cheio deles; estou me referindo aos peixes das promessas, mas ai! - vocês não conseguem pescar nenhum deles! Apesar disso, tentem de novo. Vão para casa nesta tarde e estudem de novo as Escrituras, com oração, e roguem que o Espírito Santo aplique um texto precioso ao seu coração, a fim de que possam, pela fé, desfrutar da doçura dele; e quem sabe, possam obter, hoje mesmo, o seu desejo, e receber uma bênção maior do que a sua mente pode conter plenamente, a fim de que, no caso de vocês, também a rede rompa por ser tão grande a bênção.

Ou pode ser que vocês tenham labutado durante muito tempo para atingirem alguma realização; vocês querem vencer um pecado predominante, exercer a fé mais dominante, exibir mais zelo e ser mais úteis, mas ainda não foram realizados os seus desejos. Uma vez que é vontade do Senhor que vocês sejam "perfeitos em toda boa obra para realizar o seu desejo", não desistam do seu propósito, mas, diante da sua palavra, lancem sua rede de novo. Nunca se desesperem. O seu mau temperamento ainda será conquistado; a sua incredulidade cederá lugar à fé santificada. Desçam a rede, e todas as graças ainda poderão ser pescadas, para pertencerem a vocês durante o restante da sua vida. É só continuarem, diante da palavra de Cristo, a se esforçar em favor das melhores coisas, e ele as dará a vocês.

Ou vocês estão procurando, exatamente agora, a presença mais próxima de Cristo, e uma comunhão mais íntima com ele? Vocês estão ansiando por uma vista do seu rosto - aquele rosto que brilha mais do que o amanhecer? Vocês querem ser levados para sua sala de banquete para ficarem satisfeitos com o seu amor? E vocês clamaram em vão? Então, vocês percebem que existe uma aplicação justa do grande princípio do nosso texto ao nosso proveito espiritual.

Uma vez que vocês percebem que existe aplicação justa do grande princípio do texto ao nosso proveito espiritual, Deus nos ajude, através do seu Espírito da graça, a levá-lo a efeito, dia após dia.

III. O grande princípio do nosso texto deve ser aplicado à ocupação da nossa vida. E qual é a ocupação da vida de todo cristão? Não é ganhar almas? O grande objetivo da nossa continuada presença aqui na Terra é que glorifiquemos a Deus por meio de levarmos outras pessoas à fé em Cristo; não fosse isso, já teríamos sido arrebatados para aumentar a harmonia dos cânticos celestiais. É para o bem de muitas ovelhas desgarradas aqui embaixo que permanecemos aqui até as termos dirigido ao Lar, ao grande Pastor e Bispo das almas.

Nosso modo de conquistar homens para Cristo, ou, para usarmos a própria metáfora dele, nosso método de pescar os homens, é lançando a rede do evangelho. Não aprendemos nenhuma outra maneira de fazer a pesca santa. Os homens, com grande zelo e pouco conhecimento, estão inventando métodos engenhosos para pescar homens, mas não acredito em outra coisa senão lançar a rede do evangelho e contar publicamente a história do amor de Deus aos homens, em Cristo Jesus. Nenhum evangelho novo foi confiado a nós por Jesus, e ele não autorizou nenhum modo de torná-lo conhecido. Nosso Senhor chamou todos nós à obra de proclamar livre perdão mediante o seu sangue a todos quantos nele crerem. Todo e qualquer crente recebeu a ordem de buscar a conversão do seu próximo. Não pode cada um procurar poupar seu irmão de ser queixado? Jesus não vai abençoar o esforço feito por qualquer pessoa para livrar seu próximo de descer à morte eterna? Ele não tem dito: "Que aquele que ouve, diga: Venha"? Todo aquele que ouve o evangelho deve convidar outros a vir a Cristo. A palavra do Senhor é nossa justificativa para ficarmos firmes na nossa única obra de disseminar o evangelho: seria um ato lastimável de motim se mantivéssemos silêncio, ou pregar outro evangelho, que não é outro. A palavra do Senhor é a autorização que certifica o homem que a ela obedece. "Onde estiver a palavra de um rei, ali há poder." De qual autoridade superior a esta podemos precisar? As pessoas dizem: "Oh, mas você deve avançar para algo superior à mera doutrina elementar da graça, e oferecer ao povo alguma coisa mais em harmonia com o progresso do período." Não vamos fazer assim enquanto Jesus nos manda ir ao mundo inteiro e pregar o evangelho a todas as pessoas. Se fizermos o que ele nos manda, a responsabilidade do assunto já não pesará nos nossos ombros. Seja qual for o resultado, estamos livres de culpa se obedecemos às ordens. O empregado não precisa justificar o recado do seu patrão, mas simplesmente entregá-lo. Esse fato torna a pregação uma alegria se pregarmos "diante da tua palavra." Nosso dever é fazer aquilo que Cristo nos mandou, e fazer assim repetidas vezes, enquanto tivermos fôlego. A palavra da ordem sempre exclama a nós: "Preguem o evangelho, preguem o evangelho a todas as pessoas!" Nossa justificativa para apresentar Cristo crucificado e para convocar incessantemente os homens a crerem e a viverem acha-se naquela mesma palavra que mandou Pedro andar pela superfície do mar, e que mandou Moisés fazer água sair de uma rocha.

O resultado dessa pregação justificará aquele que a ordenou. Ninguém poderá dizer ao Salvador, no fim: "Tu deste aos teus servos uma tarefa impossível, e tu lhes deste um instrumento para manipular que não estava adaptado para produzir a sua finalidade." Não, mas no encerramento de todas as coisas se perceberá que, para a salvação dos eleitos, nada havia de melhor do que um Salvador crucificado, e para tornar conhecido aquele Salvador crucificado não havia modo melhor do que a simples proclamação da sua palavra por lábios honestos no poder do Espírito do Senhor. A loucura da pregação revelará ser a maior comprovação da sabedoria de Deus. Irmãos, vocês que ensinam na escola, ou que pregam do púlpito, ou que distribuem folhetos, ou que falam pessoalmente aos indivíduos, vocês não precisam temer que a sabedoria não se exonera de todas as acusações, e vindicará seus próprios métodos. Talvez você seja chamado hoje de tolo por pregar o evangelho, mas aquela acusação, como a ferrugem numa espada, vai se desfazer à medida que você usar aquela arma nas guerras do Senhor. A pregação da palavra não demora em acabar com todos os clamores contra ela mesma; as reclamações ocorrem principalmente porque ela não é pregada. Ninguém chama o evangelho de acabado onde ele está golpeando para a esquerda e para a direita como uma grande espada que se maneja com as duas mãos. Nossa resposta às reclamações sobre o fracasso do púlpito é entrar nele e pregar com a ajuda do Espírito Santo que foi enviado do céu.

Essa palavra de Cristo, com a qual ele nos autoriza a lançarmos a rede, vale por uma ordem, e nos deixará culpados se não o obedecermos. Suponhamos que Simão Pedro tivesse dito: "Mestre, esforçamo-nos a noite inteira e não pegamos nada. Mas porque és tu quem está dizendo isso, não vou lançar as redes." Nesse caso, Simão Pedro teria sido culpado de desobediência contra seu Senhor, e de blasfêmia contra o Filho de Deus. O que posso dizer a alguns dos meus colegas cristãos que professam ter sido chamados por Deus, e serem discípulos de Cristo, porém nunca realmente lançam a rede? É verdade que vocês não estão fazendo nada em favor da verdade? Que nunca disseminam o evangelho? É verdade que vocês se chamam luzes do mundo, porém nunca brilham? Que são semeadores, porém se esquecem de que têm um cesto de sementes? Estou me dirigindo a algum membro da igreja, que neste aspecto está desperdiçando a sua vida? É verdade que vocês professam que o objetivo de sua vida é ser pescadores, porém, nunca lançaram uma rede, nem sequer ajudaram a arrastar uma rede para a praia? Vocês estão habitando entre nós, usando uma máscara de fingimento? Vocês estão zombando de Deus mediante uma profissão infrutífera de fé, que nunca tentam tornar frutífera? Não tenho forças para condenar vocês, mas desejo, diante de Deus, que a consciência de vocês cumpra esse papel. O que se pode dizer do homem a quem o Senhor encarrega de tornar conhecidas as boas novas da salvação da desgraça eterna, porém mantém silêncio pecaminoso? O grande Médico confiou a vocês o remédio que cura os enfermos; vocês os vêem morrendo ao seu redor, mas nunca falam do remédio! O grande Rei deu a vocês a refeição para alimentar os famintos, e vocês trancam a porta do armazém, enquanto a multidão passa fome. Não é isso um crime que pode muito bem levar um homem de Deus a chorar por causa de vocês? Esta nossa cidade está se tornando pagã até o âmago, embora nosso Senhor tenha entregado o evangelho nas mãos das suas igrejas; qual pode ser o motivo da indiferença dos piedosos? Se conservarmos esse evangelho para nós mesmos exclusivamente, certamente as eras vindouras nos condenarão, diante da nossa posterioridade, como cruéis. As gerações sucessivas indicarão nossa era e dirão: "Que tipo de ho-mens eram aqueles, que possuíam a luz, e a fecharam numa lanterna furtafogo?" Num século vindouro, quando outras pessoas ficarão em pé nesta cidade, e andarão por estas ruas, dirão: "Maldita seja a memória dos ministros e das suas congregações, que falharam no seu dever, que vieram até esse reino num tempo de crise, mas nunca puseram em prática a sua vocação, e assim perderam a finalidade e o objetivo da sua existência!" Que nos seja poupada uma calamidade como esta. Sim, temos autorização para labutarmos a fim de divulgarmos a verdade da parte de Deus, e mais do que uma autorização; temos um estatuto proveniente do trono, um mandamento peremptório, e ai de nós se não pregarmos o evangelho.

Ora, irmãos, essa autorização da parte de Cristo é uma que, se tivermos um coração como o de Simão Pedro, será onipotente conosco sempre. Foi muito poderoso com Simão Pedro. Observem, pois, ele sentia a influência de uma grande decepção, porém lançou a rede. "Mestre, esforçamo-nos a noite inteira." Alguns dizem: "Tivemos toda essa pregação do evangelho, tivemos todos esses reavivamentos, toda essa comoção, mas não deu em nada." Quando foi isso? Ouço muitos comentários desse tipo, mas quais são os fatos? "Oh", vocês falam, "você sabe que tivemos bastante reavivamento há pouco tempo." Não sei de nada disso. Tivemos alguns relâmpagos de luz aqui ou ali, mas comparativamente tão poucos que é lastimável fazer tantos comentários a respeito. Além disso, considerando quão pouco já foi feito em favor da disseminação do evangelho, têm sido maravilhosos os resultados. Vejam o trabalho do evangelho no presente momento na Índia! As pessoas dizem que a fé cristã não está se propagando. Eu digo que sua disseminação é maravilhosa, levando-se em conta os poucos esforços feitos e o pouco sacrifício feito em seu favor. Se, na Índia, você gasta um cobre e recebe mil libras em resultados, você não tem direito de dizer: "O que é isso? Queremos um milhão." Se são tão exigentes os seus desejos, comprovem a sinceridade delas, mediante atuação correspondente. Aumentem seu capital empatado. A colheita é maravilhosa, em contraste com as poucas sementes, mas se vocês quiserem colher mais molhos, lancem mais sementes. A igreja tem recebido um retorno enorme em troca do pouco que ela tem feito. Na Inglaterra, ocorreram reavivamentos parciais, mas qual é o resultado? Um raio de luz foi visto em determinado distrito, mas as trevas continuaram reinando supremas no país inteiro, de norte a sul, de leste a oeste. Os jornais relataram uma grande obra em determinado local, mas se tivesse havido uma reportagem a respeito dos lugares onde não houve reavivamento, teríamos um conceito diferente das coisas! Um cantinho no início de uma só coluna seria suficiente para o lado bom, mas coluna após coluna dos jornais não seriam suficientes para divulgar o lado sombrio da situação. A verdade é que a igreja quase nunca ficou num estado de reavivamento universal desde o dia do Pentecostes. Tem havido uma movimentação parcial entre os cristãos de vez em quando, mas a massa inteira, em toda a parte, nunca ardeu e flamejou com a sinceridade que a grande causa exige. Que o Senhor coloque a igreja inteira em chamas! Não temos o mínimo motivo para decepção. Consideradas como proporção do pequeno esforço investido, grandes coisas já vieram até nós. Voltemos, portanto, às nossas redes, e nada mais digamos a respeito da noite dos trabalhos pesados.

Mas, além disso, essa ordem a Pedro venceu seu amor ao repouso. Segundo parece, estava cansada quando disse: "Esforçamo-nos a noite inteira." A pesca é trabalho esforçado, mesmo quando nenhum peixe é pescado. É natural que alguém queira ser isentado de mais labutas, depois de já ficar cansado com muito serviço sem recompensa. Já ouvi alguns cristãos dizerem: "Vocês sabem que já dediquei meu tempo à escola dominical há muitos anos, mas então trabalhava demais para as minhas forças." Não duvidamos de que os esforços deles fossem muitos na juventude; mal podemos imaginar como eles eram, uma vez que nada sobrou da sua obra para nos dar idéia. No tempo presente, acham-se autorizados para ficar à vontade, porque não devem mais nada ao seu Senhor, ou pelo menos não pretendem pagar mais. É verdade que alguém entre nós pode cessar o serviço enquanto fica claro que nós não cessamos de receber misericórdia das mãos do Senhor? Não ficamos com vergonha do caso, quando este é expresso com clareza? "Não se preocupe!" Sim, dentro em breve, muito breve, vamos ficar à vontade, pois haverá bastante descanso no sepulcro. Atualmente, enquanto as almas humanas estão perecendo, relaxar os nossos esforços é iniquidade. Não, não, Pedro, embora você esteja gotejando suor por ter se esforçado durante a noite inteira, você precisa pôr mãos à obra de novo. E assim ele faz. O trabalho da noite não é nada, ele precisa trabalhar de dia também, se é para pescar peixes.

Além disso, a ordem de Cristo era tão suprema sobre Pedro que este não se deixou impedir pelo raciocínio carnal, pois o raciocínio diria: "Se você não conseguiu pescar peixes de noite, você certamente não o fará de dia." A noite era o período especial para pescar no lago de Genesaré, e de dia, quando o sol brilhante iluminava as ondas e deixava os peixes ver todas as mechas da rede, não teriam a probabilidade de entrar nela; mas quando Cristo ordena, o horário mais improvável é provável, e a esfera menos prometedora fica cheia de esperança. Nenhuma atividade está fora do tempo quando Cristo a ordena. Não digam: "Faltam quatro meses para a ceifa." "Os campos já estão brancos para a ceifa." Pedro lança a rede de imediato, e age sabiamente diante da palavra de Cristo.

A lição para você e para mim é a seguinte: Façamos conforme fez Pedro, e lancemos a rede pessoalmente, pois o apóstolo disse: "Vou lançar as redes." Irmão, você não pode fazer alguma coisa pessoalmente com seu próprio coração, lábios e mãos? Irmã, você mesma não pode fazer alguma coisa com seu espírito suave?" "Tive a idéia de reunir meia dúzia de amigos para formar uma comissão para dar alívio aos pobres da vizinhança." Não surtirá nenhum efeito: os pobres não receberão uma única tigela de sopa nem um pedaço de pão. Ponha mãos à obra pessoalmente. "Mas acho que poderia levar uma dúzia para se reunir, e organizar uma sociedade." Sim, e então vocês podem propor resoluções e emendas o dia inteiro, e acabar votando uma proposta de mútua aprovação. Seria mais proveitoso pôr as mãos à obra, conforme fez Pedro.

E seria melhor você fazer isso de imediato, pois Pedro lançou imediatamente a rede, tão logo que chegou às águas profundas. É possível que você nunca tenha outra oportunidade; seu zelo pode ter evaporado, ou sua vida pode se ter acabado. Pedro, no entanto, somente lançou uma rede, e foi uma grande pena. Se João e Tiago e todos os restantes tivessem lançado as suas redes, o resultado teria sido muito melhor. "Por quê?" vocês perguntam. Porque, havendo uma só rede lançada, aquela rede teve de aguentar peso excessivo, e ela se rompeu. Se todas as redes tivessem sido lançadas, poderiam ter pescado mais peixes, e nenhuma rede teria se quebrado. Li, faz algum tempo, a respeito de uma pesca de cavalinhas em Brighton; quando a rede ficou cheia, as cavalinhas presas em todas as mechas tornaram a rede tão pesada que os pescadores não conseguiram içá-la, e o próprio barco corria perigo de afundar, de modo que tiveram de cortar fora a rede e perder os peixes. Se houvesse muitas redes e barcos, poderiam ter levantado toda aquela grande pesca; e assim poderia ter sido feito no caso em estudo aqui. No caso, muitos peixes foram perdidos pelo rompimento da rede. Se uma igreja pode ser despertada de tal maneira que cada indivíduo entre na obra do poder do Espírito Santo, e todos os indivíduos combinarem entre si, quantas almas serão cativadas para Jesus! Multidões de almas são perdidas do bendito evangelho por causa das nossas redes rompidas, e porque não estamos bem unidos no cumprimento do serviço santo, e nós, pela nossa falta de sabedoria, provocamos perdas à causa do nosso Mestre. Os ministros não precisariam ficar esgotados com as labutas se todos os membros de igreja fizesse a parte destes: um barco não começaria a afundar-se se os demais barcos levassem parte da carga bendita.

E agora, irmãos e irmãs, encerro, dizendo que se consegui alguma coisa mediante a ajuda do Espírito de Deus, espero que tenha deixado vocês prontos para as seguintes diretrizes para o serviço, tiradas do texto bíblico. O modo de servir ao Senhor Deus é fazê-lo diante da sua palavra. Oro para que ninguém entre nós deixe o serviço ao Senhor rebaixar-se à mera rotina. Que nunca decaiamos a ponto de servirmos a ele nas suas próprias forças. Devemos pregar, ensinar e labutar em seu nome, porque o ouvimos mandando que assim façamos. Devemos agir diante da sua palavra. Se agíssemos dessa forma, trabalharíamos com muito mais fé, com muito mais seriedade, e com muito mais probabilidade de sucesso. É uma coisa bem-aventurada ver Cristo sentado no barco enquanto você lança a rede. Se captar um relance do sorriso de aprovação de Cristo enquanto ele o observa, você trabalhará com muito bom ânimo. Devemos labutar em total dependência dele, não pregando nem ensinando por julgarmos que é a coisa certa a fazer - Pedro não pensava assim -, mas porque Jesus fala a palavra, e a sua palavra é lei. Você não deve trabalhar por causa da sua expectativa de sucesso na base da excelência do seu serviço, ou da natureza das pessoas com as quais trabalha, mas porque Jesus lhe deu a ordem. Você fica em pé ali, fazendo uma coisa que os críticos, com zombaria, chamam de absurda, mas você o faz com toda a confiança, acreditando que deve ser coisa certa, porque Jesus manda você fazer. Alguns dos nossos irmãos diziam: "Você prega o evangelho a pecadores mortos; você fala para eles se arrependerem e crerem. Não é mais válido do que sacudir um lenço de bolso sobre um túmulo e mandar o cadáver sair de lá." É exatamente assim. Falaram a verdade. Mas, por outro lado, eu me deleitaria em ir abanar um lenço sobre os túmulos e mandar os mortos voltarem a viver se Jesus me mandasse fazer assim. Esperaria ver o cemitério se rachar e se remexer de ponta a ponta se o Senhor tivesse me enviado com semelhante missão. Aceitaria com alegria esse dever. Quanto mais absurdo os sábios da nossa era alegam que o evangelho seja, e quanto mais querem demonstrar que ele é incapaz de produzir o efeito pretendido, tanto mais perseveraremos em nosso método antigo de pregar Jesus crucificado. Nossas resoluções não devem ser abaladas por esse modo de raciocinar. Nunca obtivemos nossos argumentos em prol de pregar o evangelho a partir da própria obra, mas das ordens que recebemos para fazer assim, e preferíamos estar agindo segundo a responsabilidade de Cristo do que segundo a nossa própria responsabilidade. Eu preferiria ser um tolo que faz tudo quanto Cristo me ordena do que ser mais um sábio na escola moderna e desprezar a palavra do Senhor. Preferiria colocar a responsabilidade da minha vida aos pés daquele que me manda viver de acordo com a sua palavra do que procurar por minha conta um objetivo para a minha vida e sentir o peso da responsabilidade nos meus próprios ombros. Estejamos dispostos a seguir as ordens de Cristo, dispostos a perseverar em meio das dificuldades, dispostos a voltar a dedicar-nos ao seu serviço, a partir desta hora. Amém.