Sua mãe disse aos serviçais: "Façam tudo o que ele lhes mandar" (Jo 2.5).

Não precisamos de boa imaginação para retratar Maria, a mãe do Senhor, provavelmente viúva já nessa ocasião. Ela está cheia de amor e disposição naturalmente bondosa e simpática. Ela se encontra em uma festa de casamento, muito contente pela presença do Filho com o primeiro grupo de discípulos. A presença deles ali era uma sobrecarga dos provimentos para o número de hóspedes esperados, e os suprimentos estavam no fim; ela, portanto, com a ansiedade natural de sua idade, e com espírito manso, pensou em falar com o Filho, e lhe contar a necessidade, de modo que lhe disse: "Eles não têm mais vinho".

Não havia muita coisa errada nisso, por certo; mas o Senhor não vê as coisas como o homem as vê, e percebeu que ela estava colocando em primeiro plano seu relacionamento de mãe dele, em uma ocasião par colocá-lo em segundo plano. A história demonstra quão necessário seria o segundo plano: a igreja apóstata de Roma chegou a fazer de Maria uma mediadora, e orações são dirigidas a ela, inclusive no sentido do emprego de sua autoridade materna sobre o Filho. Foi bom que o Salvador refreasse qualquer coisa que tendesse a oferecer a mínima tolerância à mariolatria, algo totalmente maléfico; foi necessário falar com a mãe com um pouco mais de rispidez que, talvez, a conduta dela, por si só, exigisse. Assim, o Filho augusto se sentia na obrigação de lhe dizer: "O que temos nós em comum, mulher, em uma questão assim? Como operador de milagres, não sou seu filho; não posso realizá-los para lhe agradar. Não; se eu operar um milagre como Filho de Deus, não pode ser como seu filho; terei que fazê-lo em outra condição. O que temos nós em comum nesta questão?". E ele apresenta sua razão: "A minha hora ainda não chegou".

Era uma repreensão suave, absolutamente necessária com base na presciência do que se seguiria. Você pode facilmente retratar como Maria a aceitou. Ela conhecia a mansidão de Cristo, seu amor infinito, e como, durante trinta anos, nada houve da parte dele que magoasse o espírito dela. Por isso, ela assimilou a repreensão, e pensou mais do que falou; porque era uma mulher que guardava as coisas no coração e ponderava. Diz bem pouco, mas pensa muitíssimo; e vemos na conduta posterior, no tocante a esse milagre, que ela pensou bastante a respeito do que Jesus lhe dissera. Irmãos, vocês e eu, com as melhores intenções possíveis, às vezes podemos errar para com o Senhor; e se ele, então, nos repreender, se nos negar algo, se decepcionar nossas esperanças e não permitir que prosperem nossos desígnios ambiciosos, aceitemos isso da parte dele como Maria aceitou a repreensão de Jesus. Tenhamos a convicção de que isso deve forçosamente ser certo, e nos mantenhamos em silêncio diante da sua presença.

Notem, portanto, a quietude dessa mulher santa, que cessou de falar, assimilou tudo em silêncio; e depois, observem sua admoestação sábia ao serviçais presentes para atender aos convidados à festa. Visto que ela já quisera tomar a dianteira de Jesus, agora desejava que eles fossem simples seguidores, e com muita sabedoria e bondade lhes disse: "Façam tudo o que ele lhes mandar. Não vão para ele com nenhuma das suas observações. Não procurem apressá-lo, nem conclamá-lo a fazer algo; ele sabe melhor que nós. Fiquem em segundo plano, e esperem até ele falar; e então, precipitem-se a obedecer qualquer palavra que ele pronunciar". Amados, meu desejo é, depois de termos aprendido a lição, esforcemo-nos a ensiná-la. Às vezes, nosso Mestre nos dirige uma palavra ríspida em particular, e não contaríamos a outra pessoa o que ele disse. Nas devoções particulares, ele fala à nossa consciência e ao coração, e não precisamos repeti-lo, pois Maria não o fez. Mas, tendo aprendido bem a lição, digamos, então, ao amigo mais próximo: "Não cometa o erro que cometi. Evite a rocha na qual acabei de tropeçar. Lastimo ter entristecido meu Senhor. Minha irmã, eu não gostaria que você o entristecesse; irmão, eu gostaria de dizer-lhe exatamente o que fazer a fim de agradar-lhe em todas as coisas". Vocês não acham que, fazendo assim, ministraríamos à edificação mútua? Em vez de comentar as falhas dos outros, vamos, das descobertas que fazemos nas nossas falhas, extrair a essência, e então administrá-la, como remédio útil, às pessoas que temos a nosso redor.

Essa mulher santa deve ter falado com bastante poder. Seu tom deve ter sido notavelmente contundente, e seus modos devem ter impressionado muito os serviçais, pois fizeram exatamente o que ela mandou. Não é todo serviçal que deixará a hóspede recém-chegada à casa agir como dona; mas aconteceu que ao falar com os empregados, com tons profundos e sinceros, como mulher que aprendera algo que não poderia contar, mas que extraíra da experiência uma lição para os outros. Ela deve ter falado com maravilhosa força derretedora quando lhes disse: "Façam tudo o que ele lhes mandar"; e todos a ficaram olhando com respeito, assimilando o recado, como ela assimilara o recado do Senhor.

Ora, quero ensinar nesta noite, de forma bem simples essa lição a mim mesmo e a vocês. Acho que nossa experiência serve para mostrar que a sabedoria mais sublime, nosso melhor sucesso, serão encontrados na permanência cautelosa atrás de Cristo, sem jamais correr à sua frente, sem nunca procurar obrigá-lo a agir, sem nunca tentá-lo, como fizeram os que tentaram a Deus no deserto, preceituando-o a fazer isto ou aquilo; pelo contrário, com obediência santa e humildade, devemos adotar de agora em diante estas palavras como lema de nossa vida: "Façam tudo o que ele lhes mandar". Vou lidar com o texto da seguinte maneira: Em primeiro lugar: O quê? Em segundo lugar: Por quê? Em terceiro lugar: O que se fará, então?

 

I. O que somos ordenados a fazer aqui? Em uma só palavra: obedecer. Vocês que pertencem a Cristo, e são seus discípulos, prestem atenção a esta palavra de exortação: "Façam tudo o que ele lhes mandar".

Quero que notem, em primeiro lugar, que essas palavras foram dirigidas, não aos discípulos de Cristo, mas aos servos (no grego, aqui, chamados diakonois), as pessoas trazidas para atender às mesas e para servir aos hóspedes. Não sei se eram empregados pagos, ou amigos que bondosamente ofereceram seus préstimos; mas na festa, eram garçons. Não foram ordenados a deixar o patrão, nem a abandonar o emprego de garçons. Eram servos, e deviam permanecer servos; mesmo assim, e apesar de tudo isso, deviam reconhecer em Cristo o Mestre sem repudiar a obediência ao encarregado da festa. Maria não disse a essas pessoas: "Deixem de lado os cântaros, parem de levar os pratos"; mas enquanto continuam a fazer o trabalho, ela lhes diz: "Façam tudo o que ele lhes mandar". Considerei valiosa a informação de que os servos, permanecendo servos, deviam mesmo assim prestar obediência a Cristo.

Essa obediência, em primeiro lugar, seria preparada. Maria preparou-lhes a mente para fazer o que Cristo ordenasse. Ninguém obedecerá a Cristo em um ímpeto repentino, e continuará obedecendo. E necessário pesar na balança, fazer considerações; deve haver conhecimento bem-pensado e cuidadoso do que sua vontade é, e prontidão de coração, no sentido que seja qual for a vontade, será cumprida tão logo se conheça. De início, esses servos não fizeram nada. Os hóspedes queriam vinho, mas os servos não foram até Jesus para dizer: "Mestre, falta vinho". Não; esperaram até ele lhes mandar encher os cântaros de água; e então os encheram até a borda; mas nada fizeram sem Jesus lhes ordenar. Boa parte da obediência acha-se em não fazer. Acredito que, na ansiedade de muitos corações trêmulos, a fé mais sublime será vista em não fazer coisa alguma. Quando vocês não sabem o que fazer, façam nada; e fazer nada, meus irmãos, às vezes será achado o serviço mais pesado de todos. No caso de um homem de negócios, que entrou em dificuldades comerciais, ou de uma irmã com um filho doente, ou um marido enfermo, vocês sabem que o impulso é fazer uma coisa ou outra. Mesmo sem ser a primeira coisa que nos ocorre, sentimo-nos na obrigação de fazer algo; muitas pessoas já agravaram a tristeza fazendo alguma coisa, ao passo que se tivessem corajosamente deixado de mexer com o assunto, e o deixado com fé nas mãos de Deus, teria sido infinitamente melhor para elas. "Façam tudo o que ele lhes mandar". Mas não faça tudo o que cada fantasia e veneta que seu fraco cérebro o conclamar a fazer. Não corra antes de ser enviado. Quem corre adiante da nuvem de Deus, terá que voltar para trás; e se dará por muito feliz se achar o caminho de volta. Onde as Escrituras silenciam, guarde silêncio você também. Se não houver mandamento específico, seria melhor esperar até conseguir alguma orientação. Não ande desorientado com ansiedade precipitada, para não cair no fosso. "Façam tudo o que ele lhes mandar"; mas antes de ele falar, fique sentado quieto. Minha alma, seja paciente diante de Deus, e espere até conhecer suas ordens!

Essa obediência bem disposta devia ser a obediência, pois é ali que a obediência se acha principalmente. A verdadeira obediência nem sempre se vê no que fazemos ou deixamos de fazer; ao contrário, manifesta-se na submissão perfeita à vontade de Deus e na resolução firme que satura totalmente o espírito, de modo que desejarmos fazer o que ele nos manda.

Que sua obediência seja ainda perfeita. "Façam tudo o que ele lhes mandar". É a desobediência -- não a obediência -- que nos leva a fazer a seleção dos mandamentos de Cristo que achamos por bem obedecer. Se você disser: "Farei o que Cristo me manda fazer, dentro das minhas opções", você realmente diz: "Não farei o que Cristo me mandar, apenas o que me agradar". A obediência não universal não é verdadeira. Imagine um soldado no exército que, em vez de obedecer a todas as ordens do capitão, omite isto e aquilo, e diz que não consegue evitar fazer isso, ou até mesmo que pretende omitir certas coisas. Amado, tome cuidado para não jogar no monturo qualquer preceito do seu Senhor. Cada palavra dele é mais preciosa que um diamante. Estime-a; entesoure-a; use-a como ornamento e beleza. "Façam tudo que ele lhes mandar", quer se relacione à igreja de Deus e suas ordenanças, ou com seu procedimento em público com os semelhantes, ou com seu relacionamento com seus familiares, ou com os serviços prestados particularmente ao Senhor. "Tudo." Veja, aqui não é para podar nada, nem cortar fora alguns aspectos: "Façam tudo o que ele lhes mandar". Respire esta oração agora mesmo: "Senhor, ajuda-me a fazer tudo o que mandas! Que eu não faça minha escolha; que eu jamais deixe minha vontade interferir; se tu me mandaste fazer algo, capacita-me a fazê-lo, seja o que for!".

Essa obediência, portanto, sendo bem disposta e perfeita, deve também ser prática: "Façam tudo o que ele lhes mandar". Não fique pensando a respeito, muito menos por longo tempo, para então esperar que fique mais impressionado sobre você, ou até que surja uma ocasião mais conveniente: "Façam tudo o que ele lhes mandar". Um dos grandes males dos nossos tempos é deliberar a respeito de um mandamento nítido de Cristo, e perguntar: "Qual será o resultado disso?". O que você tem que ver com resultados? "Mas se eu seguir a Cristo em todas as coisas, posso perder minha posição". O que você tem que ver com isso? Quando um soldado é ordenado a avançar contra a boca do canhão, é muito provável que perca sua "posição", e algo mais; no entanto, é obrigado a fazê-lo. "Oh, poderei perder a chance de ser útil!". O que você quer dizer com isso? Pretende praticar o mal a fim de que disso resulte o bem? É isso que está envolvido. Diante de Deus, você realmente encarará essa questão? "Façam tudo o que ele lhes mandar". Seja qual for a despesa, e seja qual for o risco, faça-o. Já ouvi pessoas dizerem: "Não gosto de fazer as coisas apressadamente". Tudo bem, mas o que diz Davi? "Eu me apressarei e não hesitarei em obedecer aos teus mandamentos" (Sl 119.60).

Lembre-se que pecamos em todo momento que adiamos o cumprimento de qualquer coisa ordenada por Cristo. Se cada momento de atraso é um novo pecado, não sei dizer; mas se negligenciarmos qualquer mandamento dele, estaremos vivendo na condição de perpétuo pecado; e essa não é a condição desejável para qualquer discípulo de Cristo viver. Amados: "Façam tudo o que ele lhes mandar". Não argumente contra ele, nem procure desculpa para se livrar do dever. Já conheci crentes que não gostavam da leitura de determinados trechos das Escrituras no culto familiar por sentirem um pouco perturbada a consciência por elas. Se existir alguma coisa na Bíblia que se lhe opõe, você está errado, e a Bíblia, não. Entre em acordo com ela de imediato, e as únicas condições desse acordo serão obedecer, obedecer, e obedecer à vontade do seu Senhor. Não estou lhes apresentando isso como meio de salvação; vocês sabem que eu nunca pensaria em fazê-lo. Falo àqueles que estão salvos. Vocês são servos de Cristo, são salvos; e agora vieram à santa disciplina da sua casa, e esta é a regra: "Façam tudo o que ele lhes mandar". Façam-no na prática. Não falamos demais a respeito do que nossos amigos devem fazer, ou observamos o que outras pessoas não fazem? Que o Espírito de Deus venha sobra nós, a fim de que nosso andar seja bem próximo de Deus, que nossa obediência seja precisa e exata, nosso amor a Cristo seja comprovado por seguirmos continuamente seus passos! Nossa obediência deve ser prática.

Essa obediência deve, também, ser pessoal: "Façam tudo o que ele lhes mandar". Vocês sabem quanta coisa é feita por procuração hoje. A caridade é praticada assim. A sofre grande necessidade, B fica sabendo a respeito, e sente muita dó, e assim pede a C para ajudá-lo; e então vai para a cama, e acha que fez uma boa coisa. Ou, de outra forma, depois de A ter contado a história a B, B verifica se existe alguma sociedade que possa ajudá-lo, embora nunca tenha contribuído para com essa sociedade porque nunca pensaria em fazer isso. Seu papel se restringe a repassar A a C, ou à sociedade; e, tendo feito isso, se sente satisfeito. Você quer que o Salvador diga, no último grande dia: "Tive fome, e vocês me mandaram a outra pessoa", ou: "Tive sede, e vocês me mandaram à bomba municipal?". Nada disso. Devemos fazer alguma coisa pessoalmente para Cristo. Assim também é na questão do esforço para ganhar almas para Cristo. Nada há como falar pessoalmente com as pessoas, detê-las em pessoa, olhar nos seus olhos, conversar com elas a respeito de sua experiência, e implorar que fujam para Cristo buscando refúgio. A obediência pessoal é necessária. Se uma das pessoas que estavam esperando tivesse dito, quando Cristo mandou encher os cântaros: "João, faça isso; Guilherme, faça aquilo", não teriam cumprido a ordem de Maria: "Façam tudo o que ele lhes mandar". Nesta questão, estou mexendo na consciência de alguma coisa aqui? Ora, se for assim, a partir de agora, deixe de ser um servo de Deus por procuração, para não ser salvo por procuração, pois ser salvo por procuração é estar perdido. Mas você confia em Cristo por conta própria, para então servi-lo por conta própria, com a ajuda da poderosa graça divina: "Faça tudo o que ele lhes mandar".

A obediência deve também ser diligente. Faça-o imediatamente; a demora murchará a flor da obediência. "Façam tudo o que ele lhes mandar", fiquem em prontidão para obedecer. No mesmo momento em que a ordem de marchar é dada ao soldado, ele marcha. No momento em que uma ordem surge no coração, e você percebe estar realmente na Palavra de Deus, faça-o. Oh, quantas resoluções assassinadas jazem ao redor da vida da maioria dos homens! O que teriam feito, o que poderiam ter feito, se apenas o tivessem feito; mas estavam construindo castelos no ar, imaginando que tipo de vida gostariam de viver, mas sem cumprir literalmente os mandamentos de Cristo. Quem dera que houvesse serviço pronto, pessoal e prático ao Senhor Jesus Cristo!

E, em nosso caso, deve ser obediência perpétua. Maria disse aos garçons: "Façam tudo o que ele lhes mandar". "Continuem fazendo; não somente a primeira coisa que diz, mas tudo o que diz. Enquanto a festa durar e ele estiver aqui, façam o que meu Filho lhes mandar". Assim, amados, enquanto estivermos neste mundo, até a última hora de vida, que o Espírito Santo nos capacite a fazer exatamente o que Jesus nos mandar! Vocês podem dizer, meus irmãos e irmãs:

Vocês têm o desejo de levar sempre o seu jugo e de seguir nos seus passos até entrar no repouso de Cristo,? Cristãos temporários não são cristãos. Quem quer tirar férias desse serviço divino nunca entrou nele. Vestimos o uniforme para nunca mais tirá-lo. Como certos cavaleiros da Antigüidade dormiam na armadura em tempos de guerra, sempre com a lança e o escudo à mão, também deve ser o cristão, doravante e para sempre. "Não nos cabe raciocinar o motivo", não nos cabe tardar quando chegar a ordem; mas a nós cabe, enquanto houver respiração no corpo e vida no espírito, servir àquele que nos redimiu com seu sangue precioso.

E assim coloquei diante de vocês, de modo fraco, o que somos chamados a fazer, ou seja: obedecer às ordens de Cristo.

 

II. Agora, gastemos poucos minutos com a pergunta: Por que isso deve ser feito? Amados, por que esses homens deviam fazer o que Jesus mandou? Que isso se transforme em: "Por que você e eu devemos fazer o que Jesus nos manda?".

Primeiro: Cristo, por sua natureza, é digno de obediência. Considero uma honra servir a Cristo. Oh, o que é ele? Ele é o Homem perfeito, que em sua nobreza está acima de todos nós; é o Deus perfeito, infinitamente majestoso com suas duas naturezas. Ora, parece-me que devamos amar cumprir suas ordens, e ansiar pela conformação à sua imagem! Aqui há repouso para o espírito que aspira. Aqui estão a glória, honra e imortalidade pelas quais aspiramos. Pela glória de Cristo, a quem vocês adoram sem ver: "Façam tudo o que ele lhes mandar".

Além disso, Cristo é nossa única esperança. Todas as nossas perspectivas para o futuro dependem dele. Glória seja ao seu bendito nome! Não há ninguém semelhante a ele. Se estivesse longe de nós, e não pudéssemos confiar nele, a vida se transformaria em trevas perpétuas, um abismo de ais. Por toda a glória da sua natureza, e por tudo o que devemos a ele, e por tudo que esperamos da parte dele, eu os conclamo, amigos amados: "Façam tudo o que ele lhes mandar!".

Mais que isso, ele é onisciente e, por isso, capacitado para liderar. Quem, senão ele, poderia livrar as pessoas da sua aflição, quando lhes faltava vinho? Ele sabia a saída para tudo isso, o modo de manifestar a própria glória, levar os discípulos a crer nele, e deixar contentes todos em redor. Mas, se ele não mostrasse o caminho, ninguém mais poderia. Obedeçamos a ele, portanto, porque seus mandamentos são muito sábios. Ele nunca cometeu um engano, e jamais o fará. Entreguemos nossos caminhos a seus cuidados; e façamos tudo o que ele nos mandar.

Além disso, amados, até aqui Cristo recompensou nossa obediência. Você alguma vez agiu corretamente, para então descobrir que foi um engano? Alguns de nós tiveram que fazer coisas muito dolorosas na ocasião -- totalmente avessas a nosso feitio. Nós as faríamos de novo? Sim, certamente, mesmo que isso nos custasse dez vezes mais! Ninguém, ao relembrar o passado, teve que se lastimar por seguir a voz da consciência, e os ditames da Palavra de Deus; e nunca se lastimará disso, embora fosse à prisão e à morte por amor a Cristo. Você pode perder algo por amor a Cristo, mas nunca perderá nada da parte de Cristo. Quando tudo chegar a ser computado, você terá lucrado mais pelo que parecia perda. Ele nunca o enganou, e nunca o desorientou. A obediência a ele sempre lhe traz paz verdadeira e sólida. Portanto: "Façam tudo o que ele lhes mandar".

E, mais: Cristo é nosso Mestre, e devemos obedecer-lhe. Espero, amados, que não haja ninguém entre nós que chame Cristo de Mestre sem, porém, fazer o que ele manda. Não nos referimos a ele como alguém grandioso no passado, mas que foi embora, e cuja influência agora declina, por não estar em dia com "o espírito do nosso tempo". Não; ele continua vivo, e nós continuamos tendo comunhão com ele. É nosso Mestre e Senhor. Quando fomos batizados na sua morte, não era mera questão de forma; estávamos mortos para o mundo, e vivíamos para ele. Quando tomamos sobre nós seu sagrado nome e fomos chamados cristãos, não era fingimento; nossa intenção era que ele fosse Capitão, Rei e Mestre do nosso espírito. Ele não é baali, ou seja, senhor dominador; mas é ishi, nosso Homem, nosso Marido; e, nesse relacionamento, ele é Senhor e Governador de todo pensamento e de toda tendência da nossa natureza. Jesus, Jesus, teu jugo é suave, e teu fardo é leve! (Mt 11.30). Carregá-lo nos deixa contentes e alegres. Escapar desse jugo seria uma verdadeira desgraça; e esse é mais um motivo para lhes dizer nesta noite: "Façam tudo o que ele lhes mandar", porque, se não o fizerem, repudiam toda a sua lealdade a ele; e o que farão então? A quem vocês se voltarão caso se desviem dele? Todo homem deve ter um mestre. Você quer ser seu mestre? Não poderia arrumar um tirano pior. Vai deixar o mundo ser seu mestre? Será servidor da "sociedade"? Não existem escravos piores que estes.

Viverá para o próprio eu, para as honrarias, para o que é chamado "prazer"? Ah, seria o mesmo que descer ao Egito, à fornalha de fogo, de imediato! A quem podemos ir? Jesus, a quem podemos ir, se nos afastarmos de ti? Tu tens as palavras da vida eterna. "Amarrem o sacrifício da festa com cordas e levem-no até as pontas do altar" (Sl 118.27). Lança outro vínculo de amor em mim, outra corda de doce constrangimento, e não me deixa nunca pensar em separar-me de ti. Que eu seja crucificado para o mundo, e o mundo para mim (Gl 6.14). O coração de vocês não ora assim? Quem nos dera sermos total, inteira e eternamente de Cristo! Sim, sim, escutaremos o mandamento: "Façam tudo o que ele lhes mandar". Acabo de apresentar-lhes a razão por que devemos obedecer às ordens de Cristo.

 

III. E agora, amados, quero ocupar esses poucos minutos em responder a esta pergunta: O que se seguirá dessa obediência? Suponha termos feito tudo o que Cristo nos ordena, o que acontecerá? Vou lhes contar o que acontecerá.

A primeira coisa é que se sentirão livres da responsabilidade. O servo que cumpriu a ordem do senhor talvez sinta, na própria opinião, que algumas conseqüências terríveis possam se seguir, mas diz para si: "Não será culpa minha. Fiz o que fui ordenado a fazer". Ora, amado, se você quiser se ver livre de todas as sobrecargas da vida, faça, pela fé, tudo o que Cristo lhe ordenar. Depois, caso pareça que os céus estão para cair, não será problema seu tentar sustentá-los. Não lhe cabe corrigir a obra de Deus e sustentá-la. Lembro-me do que João Wesley dizia a seus pregadores: "Ora, irmãos, não quero que vocês corrijam minhas regras. Quero que obedeçam". Da parte de João Wesley, fica um pouco forte; mas isso, da parte do Senhor Jesus Cristo, vem de modo muito adequado. Ele não quer que andemos alterando, remendando, retocando o que ele nos manda, nem procurando examinar as conseqüências. Não; faça exatamente o que ele lhe ordena, e você não terá nada que ver com as conseqüências. É possível que tenha que arcar com elas, mas ele lhe dará graça para fazer isso; e será sua alegria suportar quaisquer conseqüências desagradáveis que surgirem da firme obediência a Cristo. Esse tipo de doutrina não se adapta ao ano 1889. Se você passar pela fronteira da Escócia, e olhar onde estão os túmulos dos pactuantes, qualquer pessoa que pensa segundo o espírito da presente era consideraria que não passaram de um grupo de tolos que chegaram a ser tão teimosos e rigorosos a respeito da doutrina que morreram por ela.

Ora, realmente, na nova filosofia de hoje, nada existe que valha a pena morrer por ela! Duvido que haja alguma doutrina do "pensamento moderno" que valesse o preço da vida de um gato. Segundo os ensinos da "escola ampla", o que é supostamente verdadeiro hoje talvez não seja verdadeiro amanhã, por isso, não valeria a pena morrer por isso. Talvez seja melhor adiar a morte até outra data, na qual essa doutrina fosse alterada; e se esperarmos um mês, será alterada, e assim, no fim, você pode receber de volta o credo antigo. Que o Senhor nos envie esse credo, e nos envie, ainda, uma estirpe de homens que obedecerão ao que o Senhor lhes ordena, e que crerão no que ele lhes ensinar, e que abrirão mão da própria vontade em completa obediência a seu Senhor e Mestre! Essas pessoas se sentirão isentas de culpa e responsabilidade.

Você sentirá, ainda, o doce fluir do amor a Cristo. O filho desobediente não será expulso de casa por não querer fazer o que o pai e a mãe pedem; mas enquanto não se submeter às regras da casa, a situação será mais difícil para ele, e assim deve ser. Há o beijo de boa-noite, não tão caloroso quanto devia ser; e a saudação "bom dia", depois de longa desobediência, não contém alegria; e, realmente, quanto mais bondosos o pai e a mãe, tanto mais infeliz o filho se sente. E o doce amor de Cristo é tal, que nos torna infeliz quando andamos na desobediência. Você não pode andar de modo contrário a Cristo, e ainda desfrutar de comunhão com ele; quanto mais querido e próximo quiser ficar de Cristo ficar, maior parecerá o abismo quando não fizer o que ele lhe pede.

Além disso, você só coloca a fé em prática quando faz o que Cristo lhe pede. A fé subsistente apenas em um credo, ou em um livrinho piedoso, não lhe é de muito proveito. A fé cumpre o que Cristo manda, e se deleita em fazer assim. Regozija-se em correr riscos, alegra-se em se afastar da praia para alcançar o alto mar. Está contente em sacrificar-se quando Jesus assim requer, pois a fé não consegue se sentir satisfeita sem dar frutos, e o fruto da fé é a obediência àquele em quem cremos.

Amados, acho também que, se obedecermos a Cristo no que ele nos disser, estaremos aprendendo a ser líderes. Wellington dizia que ninguém é digno de dar ordens antes de ter aprendido a obedecer; e estou certo de que assim é. Nunca veremos a estirpe de homens de primeira categoria a não ser que nossos filhos e filhas sejam levados a obedecer aos pais já na infância. Perde-se a glória essencial da varonilidade quando a desobediência é tolerada; e certamente, na igreja de Deus, o Senhor faz seus servos principais passar por ordálios muito severos. Não raro, o melhor lugar para os livros de um ministro não é a biblioteca, mas seu leito de enfermidade. A aflição é nossa escola; e antes de podermos lidar com outras pessoas, Deus precisa lidar conosco. Quem não quiser obedecer, não será colocado em posição de comando.

E, finalmente, creio que aprender a obedecer é um dos preparativos para desfrutarmos do céu. Ora, no céu, não terão outra vontade senão a vontade de Deus! Seu desejo será servir a ele, e deleitar-se nele; e se você e eu não aprendermos aqui embaixo o que é a obediência a Deus, e não a praticarmos, e não a levarmos a efeito, como poderemos esperar a felicidade no meio de espíritos obedientes? Caros ouvintes, se nunca aprenderam a confiar em Cristo e a confiar nele, como poderão ir ao céu? Vocês ficariam tão infelizes ali que pediriam que Deus os deixasse recorrer ao abrigo do inferno, pois nada lhes pareceria mais horroroso que estar no meio de um povo perfeitamente santo que se deleita no serviço a Deus. Que o Senhor nos leve a essa obediência completa a Cristo! Então, este mundo será um plano inclinado, ou uma escada do tipo que Jacó viu, e subiremos com santa alegria até chegar no topo, e veremos o céu na santa obediência a Deus.

Não é Maria que lhes fala nesta noite: é a igreja de Deus, a mãe de todos os que realmente amam a Cristo; e ela lhes diz: "Façam tudo o que ele mandar", e se fizerem assim, ele transformará a água em vinho para vocês. Ele tornará seu amor mais feliz e alegre do que teria sido sem a obediência a ele, e ele proverá suas necessidades. Obedeçam a ele, e ele os confortará. Estejam com ele nos caminhos do dever, e estarão com ele no lar da glória.

O Senhor nos conceda por sua graça infinita, o conhecimento da vontade de Cristo, e que então, opere em nós para desejarmos e praticarmos o que é do seu beneplácito. Amém e amém.