Ao entrar num povoado, dez leprosos dirigiram-se a ele. Ficaram a certa distância e gritaram em alta voz: "Jesus, Mestre, tem piedade de nós!". Ao vê-los, ele disse: "Vão mostrar-se aos sacerdotes". Enquanto eles iam, foram purificados (Lc 17.12-14).
Vários temas interessantes podem ser achados de modo legítimo nesses versículos. Vemos aqui o fruto sobejante do pecado, pois aqui havia dez leprosos agrupados, e a abundância do poder divino para atender-lhes, pois todos foram curados. Vemos, também, que Cristo deve vir em primeiro lugar, e as cerimônias, em segundo lugar: primeiro, a obra da graça, e depois, a demonstração externa dela. A ternura do Senhor para com os marginalizados, sua atenção às orações à distância, e a consideração pela lei cerimonial enquanto estivesse em vigor--cada um desses temas daria ensejo a uma meditação instrutiva. Tenho, no entanto, um só pensamento que desejo submeter à sua atenção, e instar com vocês, talvez quase a ponto de me tornar repetitivo e monótono. Esse pensamento, eu queria gravar, com estilete de ferro, no coração e na mente de todas as pessoas aqui à procura da salvação eterna. Que o Espírito Santo o imprima em toda alma vivente.
O Salvador exigiu que esses dez leprosos realizassem um ato de fé em sua pessoa antes de receber a mínima evidência pessoal de que neles operasse uma boa obra. Antes de começar a sentir a purificação do sangue poluído, antes de a horrível secura da lepra ter cedido lugar à perspiração saudável, deviam caminhar até a casa do sacerdote, para serem por este examinados e declarados puros. Deviam demonstrar fé no poder de Cristo para curá-los, por meio da apresentação como pessoas curadas, embora permanecessem na mesma condição anterior. Deviam iniciar a caminhada até o local onde seriam examinados pelo sacerdote, crendo que Jesus os tivesse curado, ou que estivesse para curá-los, embora, por enquanto, não possuíssem a mínima evidência interna de que sua carne se assemelhasse à de uma criancinha. É essa a questão à qual desejo dedicar-me: o Senhor Jesus Cristo conclama os pecadores a crer nele, e confiar-lhe a alma, embora não discirnam neles mesmos qualquer obra da graça. Como esses homens eram leprosos, e nada além de leprosos, também vocês são pecadores, e nada além de pecadores, mas, mesmo assim, vocês são ordenados a demonstrar fé em Jesus Cristo no estado atual. Do mesmo modo que esses homens deviam pôr-se a caminho da casa do sacerdote com toda a lepra branca sobre eles, e ir até ele como se sentissem já curados, também vocês, com todos os seus pecados, e com seu senso de condenação pesando na alma, devem crer em Jesus Cristo exatamente como estão, e acharão de imediato a vida eterna. Os pecadores, por serem pecadores, devem crer em Jesus para a vida eterna. A voz dirigida a cada um deles é: "Desperta, ó tu que dormes, levanta-te dentre os mortos, e Cristo resplandecerá sobre ti" (Ef 5.14).
Ora, em primeiro lugar, notarei os sinais geralmente procurados pelos inconversos como razões para crer em Cristo; estes realmente não são razões. Depois, em segundo lugar, procurarei demonstrar o verdadeiro fundamento e razão da fé em Cristo; e, em terceiro lugar, o resultado da fé em Cristo semelhante à dos leprosos.
I. Em primeiro lugar, portanto, digo que devemos crer em Jesus Cristo--confiar nele para nos curar da grande doença do pecado--embora não tenhamos ainda nenhum sinal ou prova interna da realização em nós de alguma boa obra. Não devemos procurar sinais e evidências dentro de nós mesmos antes de arriscarmos a alma nas mãos de Jesus. A suposição contrária é um erro que destrói a alma, e procurarei expô-lo pela demonstração dos sinais que os homens geralmente procuram.
Um dos mais freqüentes é a consciência de grande pecado e o pavor horrível da ira divina que levam ao desespero. Por estranho que pareça, encontramos constantemente pessoas dizendo: "Eu poderia crer em Jesus Cristo se tão-somente me sentisse mais consciente do fardo do meu pecado. Poderia confiar nele se fosse mais fortemente impelido ao desânimo e desespero; mas não estou suficientemente deprimido nem quebrantado de coração; estou certo de não ter sido rebaixado o suficiente, e por isso não posso confiar em Cristo". É um conceito estranho, como se conseguíssemos ver melhor se a noite estivesse mais escura! É uma idéia incomum: se estivéssemos mais perto da morte, teríamos melhor esperança de vida! Ora, meu amigo, você fala e age em nítida desobediência a Cristo; seu desejo era que você confiasse nele, não pela razão de sentir muito ou pouco, nem pela razão de sentir qualquer coisa, mas simplesmente por estar enfermo, e ele o veio curar; Jesus é capaz de operar sua cura de forma abundante. Se você disser: "Senhor, não posso confiar em ti sem sentir isso ou aquilo", isso equivale a declarar: "Posso confiar nos meus sentimentos, mas não posso confiar no Salvador determinado por Deus". O que é isso, senão fazer dos seus sentimentos um deus, e um salvador das mágoas internas? Seu coração os salvará por meio das insinuações sombrias contra o amor divino? A incredulidade, por fim, lhe trará a salvação por se recusar a crer no seu Deus? E o desespero -- maligno, que quer desmentir a Deus -- devemos confiar no desespero em lugar do Salvador a quem Deus enviou ao mundo a fim de salvar os pecadores? Existe, portanto, um novo evangelho, que diz: "Quem nega o poder de Jesus e desespera do seu amor será salvo?".
Você sabe que Jesus justifica os ímpios e os purifica dos pecados mediante seu sangue precioso; embora você saiba ser essa a verdade, diz: "Não posso confiar no Crucificado, não posso depender da sua plena expiação a não ser que eu sinta imperdoável minha culpa, e descreia do meu Deus". Oro para que nunca venha a se sentir do modo que você imagina ser o correto, porque os sentimentos de desespero desonram ao Senhor e provocam seu Espírito, e certamente não podem ser bons para vocês. A verdade se reduz a esta: você faz do desespero um deus, e um cristo dos seus horrores, e assim estabelece um anticristo no lugar onde somente Cristo deve estar. Vamos, amigo! Embora você não tenha ficado aterrorizado, alarmado e quebrantado à semelhança de alguns, você quer confiar a alma às mãos de Cristo, sem questionamento? Rogo-lhe: confie em Cristo de uma vez por todas.
É essa a questão em pauta. Você consegue confiar em Jesus? Pois é isto que ele o convida a fazer. Como parece estranho alguém levantar dúvidas a respeito da confiança nele! Que loucura e que delito, nos dispor a confiar nos próprios sentimentos e não no Salvador! Esses dez leprosos não sentiram a mínima mudança operada neles quando Jesus os mandou ao exame pelo sacerdote; mas foram, e enquanto estavam a caminho, foram purificados. Confie em Jesus exatamente como você está, sem os sentimentos que você considerava necessários até agora como um tipo de preparativo. Confie nele sem demora, e siga-o; ele o curará antes de você ter dado muitos passos no caminho da fé e da obediência. Ó Senhor Deus, leva todos os meus ouvintes e leitores a confiar de imediato no teu Filho.
Muitas outras pessoas imaginam a necessidade, antes de poder confiar em Cristo, de experimentar uma explosão de alegria. "Oh", diz alguém, "ouvi um crente dizer que ao achar o Salvador, ficou tão feliz que não sabia nem se refrear, e que cantou, como uma banda inteira de música em uma só pessoa --
Quem me dera pudesse ficar tão cheio de júbilo como essas pessoas do "dia feliz". Tudo bem. Mas que tipo de problema você quer fazer disso? Vai descobrir maldade mesmo em nossos deleites? Vai alimentar sua incredulidade com a alegria no Senhor? Que perversidade estranha! "Ora", diz você, "não devo me sentir feliz antes de poder crer em Cristo?". O quê? O quê? Você precisa ter alegria antes de exercer fé? Que coisa ilógica! Por lhe contarmos que certa raiz produz uma fruta doce, você afirma a necessidade de receber a fruta antes de aceitar a raiz? Certamente esse raciocínio é faltoso. Nós, que experimentamos essa alegria, viemos a Cristo a fim de obtê-la, e não fomos esperar até a recebermos; caso contrário, estaríamos esperando até agora. Chegamos a Cristo assim como éramos: alguns entre nos eram muito desgraçados, mas chegamos assim como estávamos, confiamos em Cristo e fomos recuperados. Então, se seguiram a alegria e a paz; mas se tivéssemos esperado alegria e paz antes de Cristo, teríamos contrariado o plano do evangelho, que é o seguinte: os homens devem confiar no Salvador antes de sentir o mínimo benefício da parte dele. Ó pecador, não é este o bom senso? Não devemos tomar o remédio antes da cura? Não comemos o pão antes da eliminação da fome? Não devemos abrir os olhos antes de enxergar? Antes de o Senhor Jesus tê-lo consolado ou curado de modo perceptível, você deve vir até ele, e fazer exatamente o que ele ordena, e confiar nele para ser salvo. Nem a sombra do horror nem a explosão do deleite devem ser procuradas antes da fé; a fé, porém, deve anteceder a tudo, e essa fé é a confiança singela e humilde em Cristo.
Já soubemos de outras pessoas que esperavam receber um texto impresso na mente. Surgiu um tipo de superstição no sentido de um texto bíblico especial precisar pairar sobre a mente, de uma maneira ou outra, e continuar ali, de modo que não se possa livrar dele, e que então você poderá esperar ser salvo. Nas famílias antigas existem superstições a respeito de aves brancas que chegam à janela antes da morte, e considero com o mesmo tipo de desconfiança a superstição mais comum, que se um texto continua na sua mente dia após dia você pode concluir com segurança tratar-se de uma garantia da salvação. Espero que eu nunca tenha lhes ensinado a tirar qualquer conclusão desse tipo. Longe de mim ajudá-los a confiar em algo de fundamentação tão questionável! O Espírito de Deus muitas vezes aplica mesmo as Escrituras com poder à alma; mas esse fato nunca é proposto como a rocha sobre a qual devemos edificar. Você consegue achar alguma coisa na Bíblia para apoiar a suposição de que a lembrança vívida de um texto é o selo da conversão? Muitas vezes acontece que alguma palavra da parte de Deus consola grandemente a alma; mas por que você exigiria esse selo? Você tem o direito de dizer: "Não crerei na Palavra de Deus a não ser que ele a imprima em mim?". Essa palavra é uma mentira, então? "Não, é verdadeira", diz você. Lembre-se: se não é verdadeira, a impressão na sua mente não a tornará verdadeira, e se é verdadeira, por que você não crê nela? Se é verdadeira, aceite-a. Se a promessa tiver alguma força, ore para Deus fazê-lo sentir sua força e poder; mas você deve sentir sua força e poder e, se não os sentir, o pecado já está à sua porta. Como leitor das Escrituras, você não deve cair na idéia de ficar aguardando até que algum texto bíblico abra caminho até penetrar na sua alma; você deve ler com atenção, e crer no que o Senhor Deus lhe diz. Além disso, preciso recordar-lhes que não é a leitura das Escrituras que os salva, mas, sim, crer em Cristo.
O que disse o próprio Cristo? Disse aos leitores bíblicos de seus dias: "Vocês estudam cuidadosamente as Escrituras, porque pensam que nelas vocês têm a vida eterna. E são as Escrituras que testemunham a meu respeito; contudo, vocês não querem vir a mim para terem vida" (Jo 5.39,40). Por excelente que seja o estudo cuidadoso das Escrituras, ele não possui nenhum valor sem a pessoa vir a Cristo. Você lerá apenas a sua condenação na Bíblia, se permanecer fora de Cristo. Mesmo a Bíblia pode ser transformada em pedra de tropeço se você colocar a leitura bíblica por substituta da aceitação de Cristo e de colocar nele toda a sua confiança. Seu dever imediato é confiar em Jesus, e nenhuma quantidade de leitura compensará a negligência à fé. Mesmo que nenhum texto específico das Escrituras chegasse a ser aplicado ao seu coração, nem por isso deixa de constar: "Creia no Senhor Jesus, e serão salvos, você e os de sua casa" (At 16.31). Esse é seu dever, caro ouvinte, caso receba a paz de imediato; e espero com sinceridade que alguns de vocês a recebam antes de este sermão chegar ao fim. Pedi a meu Deus sua alma; desejo-as como meu despojo hoje. Serão como o despojo de Davi, e vocês serão levados a Jesus, acorrentados pela graça. Quem entre vocês quer pôr em Jesus sua confiança? Se confiarem, certamente acharão a salvação eterna no momento em que crerem no seu amado nome.
Existe outra maneira de alguns tentarem escapar de crer em Cristo, e é esta: esperam que a conversão literal seja manifestada neles antes de confiar no Salvador. Ora, compreendam que Cristo não realizou a salvação de nenhum homem que não se converteu. Deve haver uma perfeita reviravolta em nós -- a conversão completa do pecado para a santidade. Mas isso é a salvação, e não um preparativo para ela. A conversão é a manifestação do poder de Cristo para salvar. Mas isso você não deve receber antes de confiar nele; deve-se confiar nele exatamente para isso. Quando alguém com uma enfermidade consulta um médico eminente, pergunta: "Doutor, vou confiar meu caso nas suas mãos quando alcançar determinada etapa?". "Não", responde o médico, "se já alcançou essa etapa, estará bem encaminhado para a cura, e não precisará de mim". Sua escolha mais aconselhável é consultar o médico exatamente como você está; e se você tiver certeza de que ele cura sem falta, é só você se colocar nas suas mãos como se você nada soubesse, e ele soubesse tudo, e como se você não quisesse impor sua vontade ou jeito, mas se deixasse inteiramente nas mãos dele. É assim que você deve agir com o Senhor Jesus Cristo, o Médico infalível da alma humana. Ora, pobre pecador desgraçado, você diz: "Não sou santo. Não posso ser salvo". Quem disse que você era santo? É obra de Cristo transformar você em santo. "Oh, mas não me arrependo da maneira devida". É obra de Cristo fazer você se arrepender como deve, e é diante dele que deve comparecer para se arrepender. "Oh, mas meu coração não quer se quebrantar".
Cristo deve quebrantar seu coração--não é você que deve quebrantá-lo para depois chegar a ele já quebrantado. Venha a Jesus como você está, com o coração de pedra, duro e insensível, e confiar esse coração, e todas as outras coisas, ao seu poder salvífico. "Nem pareço possuir um desejo forte nesse sentido", diz alguém. O próprio Cristo outorga todos os desejos espirituais mediante seu Espírito Santo. Ele é o Salvador que começa o abecedário da misericórdia pela letra A. Ele não pede que você chegue à letra B, C, D, para então encontrar-se com você ali; ao contrário, ele começa pelo início. O bom samaritano, quando achou o homem espancado pelos assaltantes, chegou até onde ele estava. É assim que Jesus faz. Ele não diz: "Pois bem, homem ferido, levante-se, venha a mim, e eu derramarei o óleo e vinho nas suas feridas". Pelo contrário, vai até onde jaz o ferido, totalmente incapacitado, curva-se sobre ele, remove seus farrapos, limpa as feridas, derrama o óleo e o vinho, levanta-o do chão e o leva até a casa da misericórdia. Pobre alma! Meu Mestre não é um Salvador pela metade--é inteiriço; e se você jaz diante das portas do inferno, ele é tão capaz de salvá-lo como se você estivesse sentado nos degraus da porta do céu. Exatamente onde você está, e como está, confie em Cristo para salvar você, e será salvo. Não fique esperando a conversão em primeiro lugar, mas espere-a em decorrência da fé.
Conhecemos algumas pessoas com uma idéia muito curiosa, que dificilmente consigo expressar em palavras, mas que é assim: se fosse para serem salvos, experimentariam alguma sensação muito singular. Poderiam crer em Cristo se tivessem uma sensação misteriosa. É um pouco difícil entender certas pessoas, mas ao falar com alguns interessados, achava que esperassem até mesmo uma sensação física--uma sensação no próprio corpo. Lembro-me que um deles me disse: "Senhor, fiquei tão certo de ter sido salvo, pois me senti tão leve". Pobre simplório, o que importa se você se sentiu leve ou pesado! O que isso tem que ver com o caso? Talvez você tenha ficado estonteado ou meio fora de si com a emoção. Tenha cuidado com semelhante bobagem. Sentir-se leve pode ser interpretado no sentido de estar pesado na balança e achado em falta; é uma sensação que pode tanto assustar quanto consolar. "Oh", disse alguém, "mas me senti tão diferente". Sim, e muitos outros que agora estão no manicômio poderiam dizer o mesmo.
O que importa o que você sentiu? Não é a sensação que o salvará. Crer em Jesus lhe trará as bênçãos da graça; mas sensações estranhas podem ser produzidas pelo que você come, ou pelo clima, ou por histeria, ou por uma centena de outras coisas. Você não sabe que quando há um debate político, ou quando algum outro assunto é disputado, o orador zeloso muitas vezes consegue comover os homens até lhes arrepiar? E daí? Esse estado alterado não salva ninguém. Muitos derretem em lágrimas ao ler um romance ou ver uma peça de teatro; mas qual é o benefício? Você pode ficar comovido com o frenesi religioso, e metade dessa emoção pode ser meramente física, e nada da graça de Deus esteja envolvida nisso. O modo mais sábio é sentar-se com calma e dizer: "Aqui está o caminho que Deus oferece para a salvação--salvação mediante seu Filho crucificado, Jesus Cristo; e ele prometeu que, se eu confiar em seu Filho, ele me salvará do pecado, e fará de mim um novo homem, e me curará das minhas enfermidades espirituais. Confiarei nele, porque estou certo de que o testemunho de Deus é verdadeiro". Mediante esse ato simples e deliberado de fé, você está salvo; a capacidade de crer em Deus é evidência de que a cura teve início, um bom começo. Se você realmente confiou nele, Jesus assumiu seu caso, e ele o salvará.
O próprio fato de você poder crer, e de realmente ter crido, contém em si a força essencial pela qual será libertado da alienação da sua mente. Quem crê em Deus já não é seu inimigo. Àqueles em quem confiamos, aprendemos cedo a amar. Isso, você percebe, não exige sensação ou sentimento excepcional; isso é bastante claro e simples. "Mas não precisamos nascer de novo?", diz um. Sim, verdadeiramente; e o que crê em Cristo nasce de novo. Embora ainda não o saiba, a primeira marca da vida está dentro da alma, pois o primeiro comprovante do seguro de vida espiritual é confiar somente em Jesus Cristo. A melhor evidência não é confiar em sinais, balizas, evidências, sentimentos internos, impressões, e assim por diante; mas em só sair deles e confiar em Jesus. Nisso se acha a essência da mudança salvífica, de sair do próprio eu para o Senhor Deus em Cristo Jesus. Certo marinheiro tem uma âncora excelente, uma das mais bem feitas da marinha. Ele a tem a bordo do navio, mas não vale um tostão para ele. Embora permaneça a bordo do navio, não corresponde ao propósito de uma âncora: seu navio vai à deriva com a âncora a bordo. Coloca-a no convés, e olha para ela. Que âncora! Ela não se manteria firme no dia da tempestade? Admira a âncora como se fosse um monte de ouro.
Os ventos uivam e as ondas rugem, mas ele se sente seguro com a âncora a bordo. Tolo, essa âncora não tem utilidade para você enquanto puder vê-la. O ancoradouro do navio não pode estar no próprio navio. "Que tal pendurar a âncora ao lado do navio?". Não tem utilidade ali. O que você deve fazer com ela? Lançá-la fora do navio. Deixe-a cair nas profundezas, até o fundo do mar. Ela se foi! Você não consegue ver onde ela está. Tudo bem! Assim surtirá efeito. Agora, ó alma, lança para fora sua âncora de confiança. Não a deixe agarrada a qualquer coisa que estiver dentro de você, tal como seus sentimentos ou impressões; deixe-a descer pelo lado do navio, entrando profundamente pelas águas do amor infinito, e deixe-a firmar-se em Jesus. Você precisa ter a esperança fora de si mesmo, pois enquanto a confiança estiver dentro de si mesmo, ou tiver qualquer dependência sua, é como a âncora a bordo -- apenas aumenta o peso do navio, mas certamente não poderá ajudá-lo no dia da tempestade. A verdade é esta. Deus lhe conceda graça para aceitá-la.
II. E agora, em segundo lugar, e de modo tão breve quanto conseguir, desejo apresentar a razão de crermos em Jesus Cristo. Que justificativa tenho eu, como pecador, para confiar minha pessoa às mãos de Jesus Cristo?
Não precisamos procurar nenhuma justificativa em nós mesmos. A justificativa para crermos em Cristo acha-se nisto: primeiro, existe o testemunho de Deus no tocante a seu Filho Jesus Cristo. Deus, o Pai Eterno, apresentou Cristo "para ser a propiciação pelos nossos pecados, e não somente pelos nossos, mas também pelos pecados do mundo inteiro" (1Jo 2.2) Deus Pai diz aos homens: "Posso perdoar vocês, de modo justo, mediante a morte e retidão do meu Filho. Confiem em mim, e eu os salvarei". O que vocês querem mais que isso? Quem não crê, tratou Deus como mentiroso, por não ter crido no testemunho a respeito de seu Filho. Ora, certamente, se Deus declara alguma coisa, você não precisa de evidências adicionais. "Que Deus seja verdadeiro, e todo homem, mentiroso" (Rm 3.4). O que pode ser mais firme que a voz de Deus, incapaz de mentir? Caros ouvintes, penso que eu não deveria apresentar qualquer outra evidência a vocês. Parece um crime contra o Senhor tentar defendê-lo, como se sua verdade perfeita precisasse do meu testemunho para apoiá-la. Os anjos nunca duvidam de Deus. Os seres fulgurantes e gloriosos jamais suspeitam do Criador. Vermes do pó, Vermes do pó! Como podem duvidar do Deus que os criou? Oh, que não seja assim! E quando seu testemunho é de sua disposição de perdoar os culpados, aguardando para perdoar a quem confiar em seu Filho, por que duvidaríamos de tão graciosa declaração? Minha alma, eu lhe ordeno confiar no Salvador, sem levantar mais questões--que o assunto seja firmado e estabelecido dentro de você.
Mais uma garantia para crermos é o próprio Jesus Cristo. Ele dá testemunho na terra assim como o Pai, e seu testemunho é verdadeiro. Considerem a identidade do Cristo em quem somos convidados a crer. Olhem para sua Pessoa. Ele é Deus, "verdadeiro Deus de verdadeiro Deus". Podemos duvidar dele? Ele é o homem perfeito, e tomou sobre si a perfeita varonilidade por amor a nós. Podemos duvidar dele? Viveu de forma perfeita. Quando ele mentiu? Quem pode acusá-lo de falsidade? Ele morreu, "o justo pelos injustos, para conduzir-nos a Deus" (1Pe 3.18); e Deus aceitou o sacrifício do Filho querido. Que prova mais segura de sua veracidade pode nos dar que a morte a nosso favor? Ó tremente, por que você recusará confiar em quem é tão digno? Você pode duvidar do Calvário? Desprezará a cruz? Dirá: "Quero outra justificativa para confiar em Cristo, além da sua pessoa e da obra consumada?". Sinto-me envergonhado por estar quase implorando aqui por uma coisa dessa. Diga-me em que assunto meu Senhor foi falso.
Ó filhos dos homens, digam-me quando, uma só vez, ele se recusou a receber o pecador que chegou até ele. Vocês sabem que ele ressuscitou dentre os mortos, e foi para o céu, e agora está sentado à destra de Deus, e que virá em breve, e vocês ousam tratá-lo como mero fingido? Não conseguem confiar nele? Ousam desconfiar dele? Vocês querem sinais e milagres além dos que estão nele mesmo? Se alguém ressuscitasse dentre os mortos, vocês não creriam, se não acreditam em Jesus, porque possuem mais que Moisés e os profetas--vocês têm o próprio Jesus ressuscitado dentre os mortos. E não quer confiar nele? Eu gostaria de pegá-lo pela mão, meu irmão, e apresentar a questão pessoalmente a você,--Você está certo de suspeitar do meu Salvador e de não lhe confiar a alma? Você leva isso a sério? Não, mas com lágrimas imploro: não o trate tão mal assim, entregue sua alma a ele neste instante, e creia nele como você está, e ele o salvará. Ele não deixará de cumprir a própria promessa; lavará sua culpa no sangue dele, se você consentir em ser purificado.
E ainda, por outras palavras: vocês querem saber por que devem crer: a autorização para crer acha-se no fato de Deus ordená-los a crer. "Quem crer e for batizado será salvo, mas quem não crer será condenado" (Mc 16.16). "Creia no Senhor Jesus Cristo, e será salvo" (At 16.31). Este mandamento recebemos do Mestre: Preguemos esse evangelho a toda criatura debaixo do céu; e realmente pregamos no nome dele, e lhes ordenamos, em nome de Jesus Cristo, o Filho de Deus: creiam nele. Esse mandamento divino é autorização suficiente para vocês. Já que Deus ordena que o façam, vocês não precisam dizer: "Posso crer?". Ninguém precisa de permissão para cumprir a lei: o mandamento inclui a autorização. Se a lei do evangelho provém do próprio Deus, caro ouvinte, o que mais deve ser feito senão obedecer-lhe e crer de imediato? A porta está aberta, pode entrar. A festa está na mesa, pode comer. A fonte está cheia, lave-se.
Além disso, existe a promessa feita a você e a toda criatura: "Creia no Senhor Jesus Cristo, e você será salvo" (At 16.31). "Quem nele crê não é condenado" (Jo 3.18). Você está escutando? "Quem nele crê tem a vida eterna" (Jo 5.24). Ele tem a vida eterna, e a tem agora. Essas são promessas ricas e livres para você. O que mais você quer? Oh, não sei o que mais posso dizer -- quando Jesus lhe ordena, quando ele o convida, como você pode hesitar? Ó bendito Espírito, deixa isso claro para as pessoas, e leva-as a crer.
Acrescentarei somente esta consideração: posso imaginar que esses pobres leprosos tenham crido em Jesus porque ouviram falar de outros leprosos aos quais ele purificara. Ora, aqui vocês têm na sua frente, em pé, um representante de muitas outras pessoas neste local, as quais, se a ocasião fosse adequada, poderiam se levantar e dizer o mesmo. Cheguei a Jesus estando eu cheio de pecado, culpado e perdido, com o coração endurecido e o espírito sobrecarregado; olhei para ele, confiando somente nele para me salvar; e ele me salvou. Transformou minha natureza, apagou meu pecado, e me levou a amá-lo, e a amar tudo que é bom e verdadeiro e generoso por amor a ele. Não estou, eu mesmo, sozinho para lhes contar isso; mas, como já falei, existem milhares neste Tabernáculo, neste próprio momento, nos quais foi operado esse mesmo milagre da misericórdia divina. Portanto, confiem no meu Senhor Jesus, e vocês sentirão o mesmo milagre operado em si. Onde está você, amigo, que precisa receber tanta persuasão para o seu bem? Se eu tivesse dinheiro para doar, não acho que precisaria persuadir alguém a aceitá-lo. Seria preciso apenas fazer retinir a libra de ouro, e que bons ouvidos as pessoas têm! Quão rapidamente se lançarão para onde a moedas fazem soar suas notas douradas. É só distribuir pães no frio do inverno, ou mesmo um pouco de sopa, e como os pobres acorrerão para recebê-lo! Mas quando se trata de: "Confiem em Jesus, e seus pecados serão perdoados, sua natureza será transformada, e vocês serão salvos de pecar, e serão feitos puros e santos", ó meu Mestre, o que estão fazendo para ser necessário chamá-los com tanta freqüência? Os homens não precisam só ser chamados, é necessário compeli-los a entrar.
III. Preciso, agora, encerrar com o terceiro tema, que não ocupará vocês por muitos minutos; é o seguinte: qual é o resultado deste tipo de fé que estou pregando? Essa doutrina de "confiar somente em Jesus"--leva a quê? Essa confiança em Jesus sem marcas, sinais, evidências, penhores, qual é o resultado e efeito final dela?
A primeira coisa que tenho para dizer a esse respeito é a seguinte: a própria existência de fé deste tipo na alma é evidência da existência da transformação salvífica. "Oh", diz você, "Não o percebo. Como se comprova que sou novo homem porque me confio a Cristo?". Considere um pouco: será evidência da transformação salvífica já levada a efeito porque demonstrará sua obediência a Jesus no tocante a uma questão contra a qual sua natureza orgulhosa lutou durante longo tempo. Todo homem, por natureza, recalcitra contra a simples confiança em Cristo; e quando finalmente se rende ao método divino de misericórdia, é a rendição da própria vontade, o fim da rebelião e o estabelecimento da paz. A fé é obediência. A fé é a evidência de que a guerra terminou pela capitulação incondicional. Disseram a Jesus nos tempos antigos: "O que precisamos fazer para realizar as obras que Deus requer?" e ele respondeu: "A obra de Deus--a obra mais semelhante à de Deus que vocês podem fazer--é esta: crer naquele que ele enviou" (Jo 6.28,29). É assim mesmo: em certo sentido a fé não é obra--de modo algum, e em outro, é a mais grandiosa de todas as obras. É nesta questão que há desavença entre Deus e você, é este o ponto principal da contenda: você quer ser salvo por meio de alguma coisa em seu interior, mas Deus diz que ele o salvará se confiar em Cristo. Ora, se você realmente confiar em Cristo exatamente como está, será evidência de ter sido feito obediente a Deus, e tão obediente que evidencia a ocorrência da renovação completa, profunda e radical de sua natureza.
Servirá também de evidência de sua humildade; pois o orgulho leva as pessoas a querer fazer algo, ou a ser algo, no tocante à própria salvação, ou de ser salvo de uma maneira maravilhosa, a fim de poder dizer às outras pessoas quão maravilhosamente foram salvas. Quando você estiver disposto a simplesmente ser salvo como miserável pecador imprestável--como você está--, então já estará salvo do orgulho. Não vou bajulá-lo: você é um miserável e imprestável pecador; e se quiser confiar em Jesus, como o homem realmente pecador precisa fazer, será comprovada sua humildade, o que evidenciará a passagem de seu espírito por uma transformação.
Além disso, a fé em Jesus será a melhor evidência da reconciliação com Deus, pois a pior evidência da inimizade com Deus é você não gostar do caminho da salvação apresentado por ele. Você tem tanto desamor a Deus que não aceitará o céu segundo as condições impostas por ele. Você, pecador, está em tal pé de guerra que preferiria ir ao inferno que ser salvo da maneira proposta por Deus. A questão se resume nisso mesmo. E quando abrir mão dessa atitude, e disser: "Senhor, conquanto que eu possa ser tornado íntegro--conquanto eu possa ser levado a amar-te--estou disposto a ser salvo do jeito que for", haverá evidência da grande mudança em você. Quando exclamar: "Senhor, quero ser salvo do modo estabelecido por ti e, portanto, confiarei em Cristo como tu me ordenaste", então estará reconciliado na questão da máxima importância. Não há mais desavença entre você e Deus pela mútua concordância sobre a confiança em Cristo. Deus confiou sua honra nas mãos de Cristo, você confia sua alma às mesmas mãos, de modo que você e Deus concordam em honrar a Jesus. No momento em que confiou em Cristo, esse mesmo fato se torna, por si só, o reconhecimento distinto e a prova indisputável da grande mudança operada no seu relacionamento com Deus, e nos seus sentimentos para com ele.
Pode tomar nota: em breve, mais cedo ou mais tarde, você se tornará deliciosamente consciente do fato de estar salvo. Muitas pessoas são salvas, e por algum tempo questionam a veracidade dessa obra graciosa, mas no devido tempo a bênção lhe ficará clara. Quando o homem confia em Jesus da maneira que esses dez leprosos fizeram, e põe em prática sua confiança, sempre resulta em bem. Veja esses dez homens! Vão ao sacerdote, embora ainda não se sintam curados. Agem segundo a autoridade de Cristo, e ele não os fará de bobos, pois quem nele confia não será envergonhado ou confundido (Rm 10.11). Devem começar sua caminhada antes de sentir a cura; mas enquanto caminham, vão senti-la. E você, também, ao confiar em Cristo sem sentir nada de bom acontecer, não demorará antes de sentir esse poder bendito no coração. Desejo falar da minha experiência, com o simples intuito de ajudar quem vem a Jesus. Embora estivesse vindo a Cristo, eu não o sabia; e quando olhei para Cristo, dificilmente sabia ser o tipo certo de olhar, ou não; mas quando senti finalmente Jesus me curar, então fiquei sabendo o que tinha feito. Deus tem me dado muitas bênçãos, e quanto a algumas delas, não descobri que as possuía, a não ser algum tempo depois de recebê-las. Li a respeito dos sentimentos de certos bons homens, e cheguei a dizer: "Gostaria de me sentir do mesmo jeito deles"; e algum tempo depois, a relembrar, percebi mover-me realmente na mesma órbita deles, e passando pela mesmíssima experiência.
Muitas pessoas desejam ser humildes, e só por pensarem que não são humildes, são humildes mesmo. Muitas pessoas suspiram: "Gostaria de ter um coração e ternura", mas estou certo de que seu coração é tenro, por lastimar-se de sua dureza. Anseia por ser profundamente sensível diante do Senhor, mas se evidencia a posse da ternura que não reconhece em si mesmo. Seu ideal de ternura é muito elevado, e isso com toda a razão, por isso teme grandemente ficar aquém desse ideal. Ó meu caro amigo, se você confiar em Jesus no escuro, um dia você vai entrar na luz; e se você não sentir o gosto do consolo, você ainda estaria seguro--se no decurso da caminhada inteira entre este lugar e o céu você nunca possuir a consciência de estar salvo, forçosamente é salvo, e assim será, por ele não poder permitir de modo algum que a fé nele fosse exercida em vão. Se você confiar em Jesus, não demorará em conhecer-lhe o amor. Confie nele enquanto afunda, e você viverá. Confie nele enquanto sentir que morre, e viverá. Se você confiar nele antes de sentir qualquer obra de graça, logo descobrirá já haver essa obra em você, apenas sem discerni-la. Se você confiar no Senhor já é objeto do poder divino, visto que nada menos que a graça onipotente o poderia ter levado a crer e viver. O estado e o ato da fé são a própria simplicidade; mas, para nos levar a essa simplicidade, o próprio Deus precisa nos criar de novo.
Juntando tudo em uma só declaração: se você estiver disposto a vir a Cristo, e confiar nele sem milagres, sinais ou evidências, mas confiar nele somente, terá dentro de si o poder que o acompanhará a vida inteira, e o conservará na santidade até o fim. Hoje de manhã, falei a respeito de Davi, que se estimulou em Deus. Quando Ziclague foi incendiada, e suas esposas tinham sido levadas embora, e seus homens falavam em apedrejá-lo, Davi se refugiou em Deus somente. Essa foi uma realização importante, porém já tem seu paralelo no raiar da fé dentro do pecador. Para você, miserável pecador, é um excelente começo da vida, iniciá-la ao confiar somente em Cristo, dizendo: "Eu, sem o mínimo bem em mim mesmo, sem nada em que posso agarrar como esperança, lanço-me, quer para afundar, quer para nadar, em Cristo Jesus, o Salvador dos pecadores, e 'se perecer, pereço' ". Este é um começo glorioso. Para muitas vidas santas, semelhante fé no Senhor somente, é uma atitude triunfante, mas você, pobre pecador, pode exercer essa mesma fé enquanto ainda é criancinha em Cristo. Você, não raro, precisará confiar dessa maneira ao passar pela vida, e por isso será melhor começar da mesma maneira que terá que continuar.
Você será levado, no serviço, na família e nas várias provações da vida, à condição na qual terá que exercer fé exatamente do mesmo tipo da que você teve no início; eu gostaria, portanto, que você aprendesse a lição enquanto ainda está jovem. Você terá que dizer: "Embora eu seja a própria fraqueza, e a própria pobreza, e não perceba a fonte do meu sustento; mesmo assim, do modo que são alimentados os corvos e os pardais, também eu; por isso, lanço minha nudez diante de Deus para receber roupas, e minha fome diante de Deus para ser alimentado, e a própria vida lanço diante dele para ser preservada mesmo entre as mandíbulas da morte". Essa fé é grandiosa, e você deve começar ali, pois, de outra forma, nem teria começado a edificar sobre a rocha. A primeira camada da construção deve ser de rocha maciça, senão, todo o restante não estará seguro. O que começa bem termina bem: tome cuidado de deitar um alicerce inamovível porque a vida inclui muitas provações, e ai do homem cujo alicerce sucumbe!
Não só é grandioso viver com essa fé, mas também morrer com ela. Agora, as cortinas estão fechadas, a luz do sol está excluída, as vozes dos amigos começam a ser menos audíveis, o ouvido fica fraco e os controles dos olhos falham. Minha alma, você agora está para se lançar ao mundo invisível. O que fará agora? O que, senão desmaiar nos braços do seu Pai e Deus! Oh, meu caro ouvinte, se você aprendeu a confiar bem no início, por ser Jesus quem ele é, e não por causa do que você é, então saberá morrer; isto porque, em pé ali na perspectiva da grande prestação de contas ou, melhor, deitado ali na cama, aguardando a vinda do Senhor, surgirão temores, dúvidas e terrores, caso você esteja olhando para dentro de si, ou relembrando a vida passada na tentativa de descobrir ali motivo de confiança. Mas se puder dizer: "Meu Salvador, nas tuas mãos entrego meu espírito: coloco de novo minha alma desnudada nas tuas mãos traspassadas", então poderá render o último suspiro em paz, sabendo em quem creu, e estando persuadido de seu poder para o preservar até o dia final o que lhe entregou. Quando John Hyatt estava acamado, morrendo, um dos amigos perguntou: "Sr. Hyatt, pode agora confiar a alma nas mãos de Jesus?". A resposta foi: "Homem, confiar-lhe uma só alma? Isso é nada. Poderia confiar a ele um milhão de almas, se as tivesse. Sei que ele é poderoso para salvar todos os que nele confiam".
Quero que você comece, portanto, da mesma forma que esses pobres leprosos, simplesmente aceitando a promessa de Cristo, e caminhando com a força dessa promessa antes de sentir qualquer mudança que conceda esperança em seu interior. Dessa mesma maneira, quando morrer, pode aguardar e esperar a glória, embora seu fulgor ainda não o tenha transfigurado; você pode ficar na expectativa da coroa eterna, da harpa, da esperança de ver o rosto do Bem-amado, e receber a bem-aventurança inefável, e manter essa expectativa embora as nuvens se acumulem ao redor. Antes de você passar pela porta de pérola, ou mesmo atravessar o mar frio, pode desfrutar da visão beatífica pela fé inabalável. A esperança contemplada não é esperança; mas é gloriosa a fé que enxerga o invisível e capta a substância das coisas ainda não vistas. Mediante esse poder, agora mesmo antegozo as alegrias dos mais altos céus. Procurem, amados, fazer o mesmo. Precisamos de mais fé! Será maravilhoso conhecer todo o céu, embora vocês não o tenham visto nem sentido, porque conheceram o Senhor do céu e nele confiaram. Até aqui têm descoberto que a promessa é fiel; agora, confiem no Senhor para lhes dar a glória, como antes confiaram nele para receber graça, e vocês se descobrirão, antes de passar muito mais tempo, seguros nas suas mais ricas promessas.
Deus os salve, a cada um de vocês, amados; e que ele o faça nesta mesma hora, por amor ao seu Filho amado. Amém.