72. OS TRIBUNAIS INFERIORES

Quando o nosso coração nos condenar. . . Deus é maior do que o nosso coração, e sabe todas as coisas. Se o nosso coração não nos condenar, temos confiança diante de Deus (1Jo 3.20-21).

 

O erro de muitos é que eles não levam coisas espirituais a sério no coração de modo algum, mas tratam delas como coisas superficiais. Isso é tolice, pecaminoso, fatal. Devemos pôr nosso caso em julgamento sério na corte de nossa própria consciência.

Certas pessoas de uma classe melhor ficam satisfeitas com o veredicto de seu coração e não se lembram de cortes superiores; e, portanto ou se tornam presunçosas ou ficam desnecessariamente estressadas. Nós estamos prestes a considerar o julgamento desta corte inferior. Aqui podemos ter:

 

I. UM VEREDITO CORRETO CONTRA NÓS MESMOS.

Vamos resumir o processo.

1. A corte se reúne sob as armas do rei, para julgar por autoridade real. A acusação contra o prisioneiro é lida. A consciência acusa, e ela cita a lei conforme aplicável aos pontos alegados.

2. A memória apresenta provas. Quanto ao fato do pecado em anos passados e do pecado mais recentemente cometido. Pecados de guarda de sábado. Transgressões de cada um dos dez mandamentos. Rejeição do evangelho. Omissões em mil maneiras. Falhas em motivo, espírito, em perder a calma.

3. Conhecimento entra com provas de que o presente estado de mente e coração e vontade não está de acordo com a Palavra.

4. Amor-próprio e orgulho urgem boas intenções e atos piedosos em pausa de procedimentos. Ouça a defesa! Mas que infelicidade! Não vale ouvir. A defesa é apenas um dos refúgios de mentiras.

5. O coração, julgando pela lei, condena. Daqui em diante, o homem vive como em uma cela de condenado sob o temor da morte e do inferno. Se até mesmo nosso coração meio erudito condena, podese bem tremer em pensar em aparecer diante do Senhor Deus. A corte mais alta é mais estritamente justa, melhor informada, mais autoritativa, e mais capaz de punir. Deus sabe tudo. Pecado esquecido, pecados de ignorância, pecados meio vistos estão todos diante do Senhor. Que caso terrível é este: Condenado na corte inferior e certo de ser condenado na superior!

 

II. UM VEREDITO INCORRETO CONTRA NÓS MESMOS.

O caso como antes. A sentença aparentemente claríssima. Mas quando revisada pela corte superior ela é revertida, por boas razões.

1. A dívida foi quitada pelo glorioso fiador.

2. O homem não é o mesmo homem; embora ele tenha pecado, já morreu para o pecado, e está agora vivendo como um nascido do alto.

3. As evidências em seu favor, tal como a expiação e o novo nascimento, foram esquecidos, desvalorizados, ou mal julgados pela corte inferior, por isso foi condenado. A sentença de condenação não se mantém quando estes assuntos são devidamente notados.

4. A evidência procurada por uma consciência doentia foi o que ela não pôde achar, pois ela não existia, a saber, bondade natural, perfeição, alegria não quebrada. O juiz era ignorante e inclinado à legalidade. O veredicto foi, portanto, um veredicto errado. Um apelo desobstrui o caso. "Deus é maior do que nosso coração, e conhece todas as coisas."

 

III. UM VEREDITO CORRETO DE ABSOLVIÇÃO.

Nosso coração às vezes com justiça "não nos condena". O argumento para a não condenação é bom: os principais itens que evidenciam estarmos cheios de graça são os seguintes:

1. Somos sinceros em nossa profissão de amor para com Deus.

2. Estamos cheios de amor para com os irmãos.

3. Estamos descansando em Cristo, e só nele.

4. Estamos ansiando por santidade.

5. O resultado deste veredicto feliz do coração é que nós temos:

- Confiança em Deus de que realmente somos dele.

- Confiança em nossa reconciliação com Deus por Cristo Jesus.

- Confiança de que ele não nos prejudicará, mas sim, nos abençoará.

- Confiança na oração de que ele aceitará e responderá.

- Confiança no juízo futuro de que receberemos a recompensa graciosa no grande último dia.

 

IV. UM VEREDICTO INCORRETO DE ABSOLVIÇÃO.

1. Um coração enganado pode recusar condenar, mas Deus nos julgará a todos assim mesmo. Ele não permitirá que presunção fique de pé.

2. Um coração falso pode absolver, mas isso não dá nenhuma confiança para com Deus.

3. Um coração enganoso faz de conta que absolve enquanto, no âmago, ele condena. Se nos encolhemos agora, o que faremos no juízo? Que rude acordar, achar-nos condenados no fim!

 

CITAÇÕES

Quando Walter Raleigh deitou a cabeça sobre o bloco de pedra, diz um eloqüente prelado, o carrasco perguntou se estava colocado certo. Com a calma de um herói e a fé de um cristão, ele devolveu uma resposta, cujo poder todos nós sentiremos quando nossa cabeça se agitar no travesseiro desconfortável da morte: "Pouco importa, meu amigo, como está deitada a cabeça, contanto que o coração esteja certo" (Steele).

Como diz Lutero: "Embora a consciência nos pese e nos diga que Deus está zangado, mesmo assim, Deus é muito maior do que o nosso coração. A consciência é apenas uma gota; Deus reconciliado é um oceano de consolação" (Critical English Testament).

Uma consciência queimada tem melhor opinião de si, uma ferida se julga pior do que deveria; a primeira pode achar todo pecado um esporte, a segunda achar todo esporte um pecado; homens melancólicos, quando doentes, estão prontos a conceber qualquer resfriado como sendo a tosse dos pulmões, e uma ferida ser não menos do que uma ferida da praga. Assim, as consciências feridas concebem pecados de enfermidade como se fossem pecados de presunção, pecados de ignorância como pecados de conhecimento, entendendo seu caso como sendo muito mais perigoso do que é na realidade (Thomas Fuller).

A consciência opera segundo a maneira maravilhosa apresentada no anel que um grande mágico, segundo um conto do Oriente, apresentou a seu príncipe. O presente era de valor inestimável, não pelos diamantes e rubis e pérolas que o abrilhantavam, mas por uma propriedade rara e mística do metal. Ela ficava à vontade no dedo em circunstâncias comuns, mas logo que o usuário formulava um pensamento mau, projetava ou cometia uma ação má, o anel se tornava um monitor. De repente, contraindo, apertava e doía no dedo, avisando o príncipe do pecado. Tal anel, graças a Deus, não é a propriedade peculiar de reis; os mais pobres de nós, aqueles que não usamos nenhum outro, podemos possuir e usar esta jóia inestimável; pois o anel da fábula é só aquela consciência que é a voz de Deus dentro de nós, que é a lei dele gravada pelo dedo de Deus não nas tábuas de granito do Sinai, mas nas tábuas de carne do coração, que, entronizado como um soberano em todo peito, louva-nos quando fazemos o bem e condena-nos quando fazemos o mal (Dr. Guthrie).

O espírito do homem, aquela vela do Senhor, muitas vezes dá uma luz fraca e tremeluzente, mas o Espírito de Deus sopra nela para que queime com mais brilho (Benjamin Beddome).