57. CARREGAR CARGAS
"Levem os fardos pesados uns dos outros, e assim cumprirão a lei de Cristo. Pois cada um deverá levar a própria carga" (Gálatas 6.2, 5).
Os gálatas aparentemente gostavam da lei e de suas cargas. Pelo menos, pareciam estar dispostos a eles mesmos assumirem cargas e a cumprirem a lei de Moisés.
Paulo quis que pensassem em outras cargas, pelas quais, ao assumirem, cumpririam a lei de Cristo.
Nós não estamos sob a lei, e sim sob o amor.
Mas amor também é lei no melhor sentido. A lei de Cristo é amor.
Amor é o cumprimento da lei. "Levem as cargas uns dos outros e assim cumprirão a lei de Cristo".
Para que não haja abuso do princípio dessa lei, ele menciona o princípio da responsabilidade individual. "Cada um deverá levar a sua própria carga."
I. COMUNIDADE.
"Levem as cargas uns dos outros."
1. Negativamente:
Tacitamente ela proíbe certos modos de agir.
- Não é para sobrecarregarmos os outros. Alguns tomam liberdade de fazer isso como se este texto dissesse: "Deixe os outros carregarem suas cargas", que é justamente o inverso do que ele insiste em dizer.- Não é para espiarmos as cargas de outros e informarmos a respeito.
- Não é para desprezarmos estes outros por terem tais cargas para carregar.
- Não é para agirmos como se todas as coisas existissem para nós mesmos, e para voltarmos tudo para nossos próprios objetivos.
- Não é para sairmos pelo mundo insensíveis às tristezas de outros. Não podemos fechar nossos olhos às aflições da humanidade.
2. Positivamente:
É para compartilharmos as cargas de outros.
- Por compaixão, agüentar com os antigos pecados deles (v. 1).- Por paciência, tolerar suas enfermidades e até seu orgulho próprio (v. 7).
- Por simpatia, compartilhar suas tristezas (v. 2-3).
- Por assistência, suportar suas vontades (v. 6, 10).
- Por comunhão, em amor e consolo, suportar suas lutas.
- Por oração e ajuda prática, levar a carga de seus trabalhos, e assim, torná-la mais leve (v. 6).
3. Especialmente, devemos considerar:
- O irmão que erra. Referido no versículo 1 como tendo sido "apanhado em falta". Precisamos restaurá-lo ternamente.
- O irmão que provoca, que se acha importante (ver v. 3). Agüente com ele; seu erro vai trazer-lhe muito peso antes que isso termine.
- O irmão que é cansativo e difícil é para ser agüentado até setenta vezes sete vezes, até a medida da lei de Cristo.
- O que se sente muitíssimo provado deverá ter nossa maior comiseração. Tratemo-lo com simpatia.
- O ministro de Cristo deve ser liberado de cargas temporais para que possa se dar inteiramente a carga do Senhor.
II. IMUNIDADE.
"Pois cada um deverá levar a sua própria carga." Nós não carregaremos todas as cargas de outros.
Nós não estamos tão ligados um ao outro a ponto de sermos participantes em transgressões intencionais, negligência ou rebelião.
1. Cada um precisa carregar seu próprio pecado se persiste nele.2. Cada um precisa carregar sua própria vergonha, que resulta de seu pecado.
3. Cada um precisa carregar sua própria responsabilidade em sua própria esfera.
4. Cada um precisa carregar sua própria sentença no juízo final.
III. PERSONALIDADE.
"Cada pessoa... sua própria carga."
Piedade verdadeira é um negócio pessoal, e não podemos jogar de
lado nossa individualidade. Portanto, peçamos graça para parecer
bem a nós mesmos nos seguintes assuntos:
1. Religião pessoal. O novo nascimento, arrependimento, fé, amor, santidade, comunhão com Deus. São todos pessoais.2. Auto-exame pessoal. Não podemos deixar a questão da condição de nossa alma para o julgamento de outros.
3. Serviço pessoal. Temos de fazer o que ninguém mais pode fazer.
4. Responsabilidade pessoal. Obrigações não podem ser transferidas.
5. Esforço pessoal. Nada pode ser um substituto por isso.
6.Tristeza pessoal. "O coração conhece sua própria amargura."
7. Consolo pessoal. Precisamos do Consolador para nós mesmos, e precisamos levantar os olhos ao Senhor pessoalmente para as operações dele.
Tudo isso pertence ao cristão e podemos julgar a nós mesmos de acordo.
Portanto, carregue sua própria carga como não esquecendo os outros.
Portanto, viva de modo a não cair sob a culpa de pecados de ou-tras pessoas.
Portanto, ajude outros de modo a não destruir sua autoconfiança.
BREVIDADES CHEIAS DE CONTEÚDO
Uma antiga anedota sobre o grande Napoleão conta que, enquanto andava por uma estrada campestre atendido por alguns de seus oficiais, ele encontrou um camponês sobrecarregado com a lenha que carregava. O camponês estava prestes a ser empurrado para o lado quando o imperador, colocando a mão no braço do membro de sua escolta que estava na frente, segurou todo o grupo e deu a preferência do uso da estrada para o trabalhador, com o comentário, "Senhores, respeitem a carga."
Que aquele que espera que uma classe na sociedade prospere ao grau mais elevado enquanto outros estão em aflição experimente se um lado de seu rosto pode sorrir enquanto o outro está atormentado (Thomas Fuller).
Há um provérbio, mas nenhum dos de Salomão, "Cada homem para si, e Deus por nós todos." Mas onde cada homem é por si, o diabo terá todos (William Secker).
"Cada homem deverá levar sua própria carga": esta é a lei da necessidade. "Levai as cargas um do outro", esta é a lei de Cristo. Que um homem alivie sua própria carga compartilhando a carga do próximo (T. T. Lynch).
Há um portão na entrada de uma passagem estreita em Londres acima da qual está escrito: "Não é permitido a passagem de cargas." "E contudo passamos constantemente com as nossas", disse um amigo a outro ao se aproximarem dessa passagem, saindo de uma rua mais larga e mais freqüentada. Eles não estavam carregando cargas visíveis, mas eram como muitos que, embora não tenham um volume sobre os ombros, muitas vezes se abaixam interiormente por causa da presença de uma carga pesada sobre o coração. As piores cargas são aquelas que nunca se fazem óbvias à vista.
O bispo Burner, em suas recomendações ao clero de sua diocese, costumava ser extremamente veemente em seu clamar contra as pluralidades. Em sua primeira visita oficial a Salisbury, insistiu com a autoridade de São Bernardo que, sendo consultado por um de seus seguidores para saber se poderia aceitar dois postos, dois benefícios eclesiásticos, replicou: "E como você poderia servir a ambos?" "Eu pretendo", o sacerdote respondeu, "oficiar em um deles por meio de um representante." "Seu representante vai sofrer castigo eterno por você também?", perguntou o santo bispo. "Creia-me, você pode servir ao seu curato por represen-tação, mas você precisa sofrer a penalidade em pessoa." Essa anedota causou tão forte impressão no senhor Kelsey, o clérigo piedoso e abastado que estava presente, que ele imediatamente pediu demissão da reitoria de Bernerton, em Berkshire, que lhe valia duzentas libras por ano, que ele tinha mantido juntamente com outro de grande valor (Whitecross).
Com muitos, serviço pessoal na causa da humanidade é prestado por um pagamento em dinheiro. Mas é para nós sermos carvoeiros na campanha contra o mal e não simplesmente pagarmos o imposto de guerra (de Ecce Homo).