55. EM MEMÓRIA
E tendo dado graças, partiu-o e disse: "Isso é o meu corpo, que é dado em favor de vocês; façam isto em memória de mim" (1Coríntios 11.24).
Os homens têm feito mau uso desta ordenança tão abençoada. Contudo não têm desculpa de qualquer obscuridade da Escritura. Nada se diz de um sacrifício em um altar, mas tudo é bem claro. A ceia, como a encontramos na Bíblia sagrada, é um culto de rememoração, testemunho e comunhão, nada mais.
Nenhuma cerimônia pomposa é preparada. Nem mesmo uma postura é prescrita, e sim meramente o providenciar do pão e do suco da vinha: tomar, quebrar, comer, beber e nada mais.
A ação espiritual é prescrita de modo especial. A lembrança de nosso Senhor precisa estar ali, ou deixamos de celebrar a ceia.
I. OUTRAS MEMÓRIAS VIRÃO, MAS NÃO DEVEM IMPEDIR AQUELA MEMÓRIA ÚNICA DA CEIA.
As lembranças seguintes podem ser naturais, permissíveis e proveitosas, mas devem ser mantidas em um lugar secundário:
1. De nós mesmos quando éramos pessoas de fora e estranhos.
2. De antes estar olhando e desejando estar à mesa.
3. Da nossa primeira vez de chegar à mesa e a graça de receber a ceia desde então.
4. Dos queridos que já partiram e que um dia estavam conosco à mesa.
5. De queridos que não podem estar conosco na ocasião por doença.
6. De muitas pessoas presentes conosco e como a graça operou em seus casos. Mas podemos pensar em suas necessidades e em suas vidas santas.
7. Dos apóstatas que provaram sua falsidade, como Judas. Seja qual for a maneira em que essas memórias possam pressionarnos, precisamos lembrar principalmente daquele em cuja honra a festa é ordenada.
II. A ORDENANÇA AJUDA AQUELA MEMÓRIA SAGRADA SINGULAR.
1. Expostos, os sinais mostram a pessoa de nosso Senhor como realmente homem, carne e sangue substancial.
2. Colocados na mesa, sua presença assinala a familiaridade de nosso querido Senhor conosco e nossa proximidade a ele.
3. Quebrado e derramado, mostram os sofrimentos dele.
4. Separados, pão à parte do vinho, a carne dividida do sangue, declaram sua morte por nós.
5. Comendo, simbolizamos o poder sustentador da vida de Jesus e nossa recepção dele em nosso ser íntimo.
6. Remanescendo quando a ceia termina, os fragmentos sugerem que ainda há mais pão e vinho para outras festas de ceia, e, que, mesmo assim, nosso Senhor é totalmente suficiente para todos os tempos. Cada partícula da ordenança aponta para Jesus, e nós precisamos contemplar nela o Cordeiro de Deus.
III. ESTA MEMÓRIA SAGRADA É EM SI MAIS NECESSÁRIA PARA NÓS.
É necessária para nos lembrar de nosso Senhor crucificado, pois ela:
1. É a sustentação contínua da fé.
2. É o estímulo do amor.
3. É a fonte de esperança.
4. É uma chamada para se voltar do mundo, de si, de controvérsia, de trabalho, de nossos semelhantes - para o Senhor.
5. É o toque de alvorada, o sinal de acordar para sair. É o prelúdio da ceia de casamento e faz-nos suspirar pela "festa nupcial lá em cima". Acima de todas as coisas, compete-nos conservar o nome de nosso Senhor gravado em nossos corações.
IV. ESTA FESTA SIMBÓLICA É ALTAMENTE BENÉFICA EM REFRESCAR NOSSAS MEMÓRIAS E DE OUTRAS FORMAS.
1. Nós ainda estamos no corpo, e o materialismo é uma força muito real e potente. Precisamos ter um sinal e um formato prescrito para encarnar o espiritual e torná-lo vívido para a mente.
- Além do mais, como o Senhor realmente assumiu sobre si nossa carne e nosso sangue e como ele pretende salvar até a nossa parte material, ele nos dá esse elo com o materialismo, para não sumirmos com as coisas e não as espiritualizarmos completamente.
2. Jesus, que sabia de nosso esquecimento, designou este festival de amor e podemos estar certos de que ele o abençoará para o fim designado.
3. A experiência tem freqüentemente provado seu valor eminente.
4. Enquanto revivendo as memórias dos santos, tem sido também selado pelo Espírito Santo, pois ele o tem utilizado com grande freqüência para despertar e convencer os espectadores de nossa festa solene a observarem:
- Que a ceia é obrigatória para todos os crentes.
- Que ela compromete no sentido de ser "freqüente".
- Que só na medida em que assegura o lembrar de Cristo ela pode ser útil. Busquem graça amorosamente para lembrar de seu Senhor.
MEMORIAIS
É bastante comum encontrarmos celebrações periódicas, aniversários do dia de nascimento ou morte de alguém, celebradas em honra daqueles que se distinguiram muito pelas suas virtudes, seu gênio ou seus valiosos serviços a seu país ou à humanidade. Mas onde, a não ser aqui, lemos que alguém em seu próprio tempo de vida originou e estabeleceu o método pelo qual seria lembrado, ele próprio presidindo à primeira celebração do rito e deixando uma ordem explícita para todos os seus seguidores de se reunirem regularmente para sua observância? Quem dentre todos aqueles que têm sido os maiores ornamentos de nossa raça, os maiores benfeitores da humanidade, teria algum dia arriscado seu bom nome, sua perspectiva de ser lembrado pelas eras que viriam, exibindo um desejo tão ansioso e prematuro de preservar e perpetuar a lembrança de seu nome, seu caráter, seus feitos? Eles deixaram para outros que vieram depois inventar os meios de fazer isso, eles próprios nem vaidosos nem ousados o suficiente para fazer o que nenhum outro já fez? Quem é este, então, que antes de morrer, por seu próprio ato e feito coloca a instituição memorial pela qual sua morte será mostrada? Certamente, deve ser alguém que sabe e sente que tem reivindicações para ser lembrado como nenhum outro foi em qualquer tempo - nas atenções de seus seguidores, ele não tem temor nenhum daquilo que faz ser atribuído a qualquer outro, nenhuma motivação menor do que o mais puro, mais profundo e mais altruísta amor! Será que Jesus Cristo, no próprio ato de instituir durante seu próprio tempo de vida este rito memorial, não está imediatamente acima do nível da humanidade, afirmando para si uma posição para com a humanidade que é totalmente e absolutamente única? (Dr. Hanna).
A senhora Edgeworth, em um de seus contos, relata a anedota de um artista espanhol, que foi contratado para pintar "A última ceia". Era propósito dele colocar toda a sublimidade de sua arte na figura e no rosto do Mestre, mas ele pôs na mesa em primeiro plano umas taças com entalhes, cujo trabalho era muitíssimo lindo, e quando seus amigos vieram ver a pintura no cavalete disseram: "Que lindas taças elas são!" Respondeu ele: "Ah!, eu errei. Estas taças distraem os olhos do espectador do Mestre, a quem eu desejei dirigir a atenção do observador." Ele pegou o pincel e apagou-as da tela, para que a força e vigor do objeto principal do quadro pudesse ser visto como deveria (G. S. Bowes).
Aquele que não lembra a morte de Cristo, para que tente ser como ele, esquece o fim de sua redenção e desonra a cruz na qual sua satisfação foi operada (Anthony Horneck).