51. FÉ SEM O ENXERGAR
Jesus lhe disse, Tomé, porque me viu, você creu? Felizes os que não viram, e creram (João 20.29).
Aqueles que viram e não creram, estavam longe de serem abençoados.
Aqueles que o viram, e creram, sem dúvida foram abençoados.
Aqueles que não viram, e mesmo assim creram, são enfaticamente abençoados.
Ainda há o grau superlativo de bem-aventurança em se ver Jesus face a face sem a necessidade de crer no mesmo sentido como agora.
Mas, no momento presente, esta é a nossa bem-aventurança, este é o nosso lugar na história do evangelho--nós não vimos e, contudo, acreditamos. Quanto consolo há em que tão alto grau de bem-aventurança esteja aberto a nós.
I. NÃO NOS DEIXE DIMINUIR ESTA BEM-AVENTURANÇA.
1. Não a diminuamos por desejar enxergar.
- Ansiando por alguma voz, ou visão, ou revelação imaginária.
- Desejando ardentemente providências maravilhosas e dispensações singulares.
- Tendo fome por desesperos ou arrebatamentos.
- Perpetuamente exigindo argumentos e demonstrações lógicas.
- Clamando êxito manifesto ligado com a pregação da palavra, e as operações missionárias da igreja.
- Sentindo a ansiedade de crer com a maioria. A verdade geralmente tem estado com a minoria.
2. Não a diminuamos por deixar de crer.
- Creia de modo prático, de modo a agir em cima de nossa fé.
- Creia de modo intenso, de modo a rir de contradições.
- Creia de modo vivencial, para ser simples como uma criança.
- Creia continuamente, para ser equilibradamente confiante.
- Creia pessoalmente, para estar seguro sozinho, mesmo se todos os outros desmentem as doutrinas do Senhor. Creia inteiramente para que você possa encontrar o descanso da fé.
II. NÃO NOS PERMITAMOS PENSAR QUE ESTA BEM-AVEN-TURANÇA SEJA INALCANÇÁVEL.
1. Esta bem-aventurança é ligada para sempre à fé que nosso Senhor aceita; de fato, ela é a recompensa marcada para ela.
2. Deus merece tal fé de nossa parte. Ele é tão fiel que sua palavra sem apoios já é suficiente para a fé construir em cima. Será que só cremos nele até onde nós o podemos ver?
3. Milhares de santos têm rendido, e estão rendendo-lhe tal fé, e estão gozando tal bem-aventurança neste momento. Nós somos comprometidos para ter comunhão com eles em fé preciosa igual.
4. Até aqui nossa própria experiência tem garantido tal fé, não tem?
5. Aqueles de nós que estamos agora apreciando a paz abençoada da fé podemos falar com grande confiança sobre o assunto. Por que, então, estão tantos desanimados? Por que não crêem?
III. NÃO DEIXE QUE NENHUM DE NÓS PERCA ESSA FÉ.
A fé que nosso Senhor descreveu é muitíssimo preciosa, e nós devemos buscá-la, pois:
1. É a única fé verdadeira e salvadora. Fé que exige vista não é fé nenhuma; não pode salvar a alma.
2. Ela é em si muito aceitável com Deus. Nada é aceitável sem ela (Hb 11.6). Ela é a prova da aceitação do homem e de suas obras.
3. Ela é uma prova de graça em uma mente espiritual, uma natureza renovada, um coração reconciliado, um espírito nascido de novo.
4. Ela é a raiz, o princípio fundamental, de um caráter glorioso.
5. Ela é muitíssimo útil a outros para consolar os abatidos, impressionar descrentes, alegrar os interessados.
6. Ela enriquece o seu possuidor até o auge, dando poder em oração, força mental, decisão de caráter, firmeza contra a tentação, ousadia em empreendimento, alegria de alma, percepção real do céu. Você conhece esta fé? Bem-aventurança está naquela direção. Procure-a!
CONTRIBUIÇÕES
Mas por que especialmente abençoados? Porque o Espírito Santo tem operado essa fé em seus corações. Eles são abençoados por ter um coração que sabe crer, são abençoados no instrumento de sua crença, abençoados em ter uma prova de que passaram da morte para a vida: "a quem, não tendo visto, vocês amam." É mais abençoado crer do que ver, porque põe mais honra na palavra de Deus. É mais abençoado porque apresenta-nos com um objeto mais invariável. Aquele que pode confiar em um Salvador que não é visto pode confiar nele em todas as circunstâncias: feche a pessoa numa masmorra, separeo de tudo que se vê e da luz, não importa, pois ela tem sempre um coração para crer na justiça, e sua alma descansa em uma rocha que nunca se moverá. A mesma fé que nos segura sem ser vista, o Salvador ressurreto, segura cada verdade que há no evangelho (Richard Cecil).
"Com os homens", diz o bispo Hall, "é uma boa regra experimentar primeiro e depois confiar; com Deus é o contrário. Primeiro, porei confiança nele, como o mais sábio, onipotente, misericordioso, e experimentá-lo-ei depois." Com vista constante, o efeito de objetos vistos decresce; por fé constante, o efeito de objetos em que se acredita torna-se maior. O motivo provável disso é que a observação pessoal não admite a influência da imaginação em imprimir o fato; enquanto objetos não vistos, reconhecidos por fé, têm a ajuda da imaginação, não para exagerá-los, mas para revesti-los com cores vivenciais e imprimi-las no coração. Quer seja esta a razão ou não, é verdade que quanto mais freqüentemente vemos, menos sentimos o poder de um objeto, mas quanto mais freqüentemente nos concentramos em um objeto pela fé, tanto mais sentimos o seu poder (J. B. Walker).
A fé torna coisas invisíveis visíveis, coisas ausentes presentes, faz as coisas que estão muito longe ficarem bem próximas da alma (Thomas Brooks).
A região da descrença é obscura com o franzir de sobrancelhas de Deus, e cheia de pragas e ira; mas a região da fé é como o chão do céu quanto ao brilho. A justiça de Cristo a abriga, as graças do Espírito a embelezam e o sorriso eterno de Deus lhe proporciona conforto e a glorifica (Dr. Hoge).
Um pai indulgente ficaria triste de ver seu próprio filho entrar numa corte, e ali dar testemunho contra ele e acusá-lo de alguma inverdade em suas palavras, mais do que se um estranho fizesse isso. O testemunho de uma criança, contudo, quando é a favor da vindicação de um dos pais, parece perder algum crédito na opinião de quem ouve, com a suspeita de parcialidade; mas, quando é contra um pai, parece ter maior probabilidade de verdade do que o que um estranho diz contra ele. A faixa de afeto com que uma criança é atada a seu pai é tão sagrada que não será facilmente suspeita. Não se pode supor que ele ofereça violentá-la, exceto na necessidade mais inviolável de dar testemunho da verdade.
Ora, pense nisso, cristão, outra e mais outra vez--pela tua descrença, tu dás falso testemunho contra Deus! E se tu, um filho de Deus, não falas mais bem de teu pai celeste e não o apresentas com o caráter mais belo o mundo, não será de admirar se for confirmado em seu pensar duro de Deus, mesmo até a impenitência e descrença final, quando verás que pouco crédito ele acha em ti, apesar de toda a tua grande profissão de amor para com ele e a proximidade de parentesco com ele (William Gurnall).