47. TÃO PERTO
Vendo que ele tinha respondido sabiamente, Jesus lhe disse: "Você não está longe do Reino de Deus" (Marcos 12.34).
O reino de Deus é estabelecido entre homens.
Aqueles que estão dentro dele são:
- Vivificados com vida divina. "Ele não é Deus de mortos, mas de vivos." (v. 27).
- Recebidos sob o reino de graça (Rm 5.21).
- Obedientes à lei do amor (1João 4.7).
- Favorecidos com privilégios divinos (Mt 6.33; Lucas 12.32). -Elevados a dignidades especiais (Ap. 1.6).
- Beneficiados com felicidade singular (Mt 25.34).
Aqueles que estão fora dele, estão em certos aspectos em um certo nível. Mas em outros aspectos, alguns estão "longe" e outros "não tão longe." O escriba deste caso estava às bordas do reino.
De tal personagem vamos agora tratar.
I. QUAIS SÃO SUAS MARCAS?
1. Veracidade de espírito.
- Esse homem era tão sincero como um estudante da lei.
- Esse homem era tão honesto como um mestre da lei.
- Esse homem era imparcial como um controversista.
- Um espírito de retidão geral, sinceridade e eqüidade, é uma grande vantagem moral.
2. Percepção espiritual. Este escriba deve ter falado com grande discrição, ou o Senhor Jesus não teria observado de forma tão especial a sua resposta. Ele viu ali:
- Mais que um papista, que dá tanta importância a cerimônias.
- Mais que um doutrinalista, que põe sabedoria mental acima de experiência do coração e santidade.
- Mais que um moralista, que esquece o amor do coração.
3. Familiaridade com a lei.
- Aqueles que vêem a unidade e também a amplitude e espiritualidade das demandas da lei estão em uma condição esperançosa.
- Ainda mais, os que percebem que sua própria vida está aquém dessas demandas e se afligem por conta disso.
4. Ser ensinável, o que este homem demonstrou claramente, é bom sinal, especialmente se estamos dispostos a aprender a verdade, mesmo quando quem a propõe é uma pessoa impopular.
5. Um senso de precisar de Cristo, que não apareceu no caso deste escriba, mas é visto em muitos que dão atenção ao ministério.
6. Um horror de mau procedimento e de impureza de toda espécie.
7. Um alto apreço por coisas santas e um interesse prático por elas.
8. Um diligente começo de oração, leitura da Bíblia, meditação, de ouvir a leitura da palavra, e de outros hábitos graciosos. Há outros sinais, mas o tempo nos faltaria para mencionarmos mais. Muitos destes aparecem como flores numa árvore, mas frustram as esperanças que estimulam.
II. QUAIS SÃO OS SEUS PERIGOS?
Nenhum homem está seguro até que realmente esteja no reino: a região limítrofe é cheia de perigos. Há o perigo a cuidar:
1. Para que você não escorregue desta esperança toda.
2. Para que não se contente em parar onde está.
3. Para que seu orgulho não cresça e o sentimento de justiça própria.
4. Para que você não proceda de ser simples e aberto a se tornar indiferente.
5. Para que você não morra antes que o passo decisivo seja tomado.
III. QUAIS SÃO SUAS OBRIGAÇÕES?
Embora a sua condição não seja a de descansar, ela o envolve em muitas responsabilidades, visto que é uma condição de privilégio singular.
1. Agradeça a Deus por tratar tão misericordiosamente com você.
2. Admita com profunda sinceridade que você precisa de ajuda sobrenatural para a entrada no reino.
3.Trema de pensar naquele último passo decisivo e salvador não ser dado nunca.
4. Decida de imediato pela graça divina. Ah, pelo Espírito de Deus trabalhar efetivamente sobre você! Que pena que qualquer um pereça que está tão perto! Que horror ver os tão esperançosos lançados fora! Como é fatal parar a tão pouca distância da fé salvadora!
PROTESTOS E ADMOESTAÇÕES
Entre aqueles que têm se tornado os inimigos mais decididos do evangelho, há muitos que um dia estavam tão perto da conversão que foi incrível que a tivessem evitado. Tais pessoas parecem que sempre se vingam sobre a influência santa que quase provou ser muito para eles. Disso vem nosso medo por pessoas que estão sob a pressão da graça, pois, se não se decidem agora por Deus, elas vão se tornar ainda mais desesperadas no pecar. O que fica exposto ao sol, se não amolece, endurece. Lembro-me bem de um homem que, sob a influência de um avivalista sincero, foi levado a pôr os joelhos em terra, a chorar por misericórdia, na presença de sua esposa e de outros, mas depois disso nunca mais entraria num lugar de culto, ou daria atenção à conversa religiosa. Declarou que era tão estreita a margem em que ele escapou que nunca correria o risco de novo. Que tristeza uma pessoa tocar levemente o portal do céu, e assim mesmo caminhar em frente para o inferno! (C. H. S.).
Alguns estão nos subúrbios da cidade de refúgio. Quero avisá-los contra o fato de permanecerem ali. Ah, que pena que uma pessoa morra às portas da salvação por falta de mais um passo!
Aquele que subiu apenas um degrau de uma escada, embora não esteja muito mais perto do alto da casa, deixou de estar pisando na entrada, e está livre da sujeira e da umidade de lá. Então, aquele que dá o primeiro passo da oração exclamando de verdade "Ó Senhor, seja misericordioso comigo, um pecador!", embora não esteja estabelecido no céu, deu um passo saindo do mundo e de seus consolos miseráveis (Dr. Donne).
Um ministro cristão diz: "Quando, depois de circunavegar o globo, o navio The Royal Charter se despedaçou na baía Moelfra, no litoral de Gales, foi meu dever visitar e procurar consolar a esposa do comandante, que pela calamidade ficou viúva. O navio havia dado notícia antes, de Queenstown, e a senhora estava sentada na sala esperando o esposo, com a mesa arrumada para o jantar, quando o mensageiro chegou para lhe contar que ele tinha morrido afogado. Nunca vou esquecer a tristeza, tão abalada e sem lágrimas, com que ela me deu a mão, dizendo: "Tão perto de casa, e contudo perdido!" Isso me pareceu o mais horrível da tristeza humana. Mas, ah! não é nada comparado à angústia que deve apertar a alma que é forçada a dizer por fim: "Uma vez, estive ali na porta do céu e quase entrei, mas agora estou no inferno!
Eu me lembro de um homem que chegou até mim em grande estresse de alma, e seu caso impressionou-me profundamente! Era um homem de um navio de guerra, com toda a franqueza de um marinheiro britânico, mas também tinha a predileção de marinheiro por bebida forte. Enquanto conversamos e oramos juntos, as lágrimas escorriam pelo rosto judiado pelas intempéries do pobre homem. "Ah, senhor", ele exclamou, "eu podia lutar por isso!" Certamente, se a salvação pudesse ter sido obtida por algum ato de bravura, ele a teria ganhado! Ele me deixou, sem encontrar paz, e no dia seguinte voltou bêbado para retomar seu navio, e nunca mais tive notícia dele depois disso (J.W. H.).