36. SI PRÓPRIO OU DEUS

Pergunte a todo o povo desta terra e aos sacerdotes: Quando vocês jejuaram no quinto e no sétimo meses durante os últimos setenta anos, foi de fato para mim que jejuaram--para mim mesmo? E quando comiam e bebiam, não era para vocês mesmos que o faziam? (Zacarias 7.5-6).

 

Os deveres religiosos não podem ser aceitos apenas como sendo natural. Devemos fazer perguntas penetrantes sobre eles, porque o próprio Senhor fez isso. Compete a ouvintes darem muita atenção a perguntas pessoais que dizem respeito a coisas sagradas.

Durante longos anos, "mesmo aqueles setenta anos", observâncias piedosas podem ter sido mantidas e, contudo, pode não ter havido qualquer virtude nelas.

Este fato torna sábio questionarmos a nós mesmos, pois podemos ter sido religiosos por hábito, e, no entanto, também nunca termos feito nada "para o Senhor".

Duas reflexões surgem diante de nossa mente:

 

I. OBSERVAÇÕES RELIGIOSAS DEVEM SER PARA O SENHOR.

"Foi de fato para mim que jejuaram?"

1. Deveriam ser cuidadas por respeito à ordem dele. Cerimônias que não são de ordenação dele são mera adoração da vontade. Nós tomamos parte em ordenanças, não por causa de costume, ou regra da igreja, mas "para o Senhor" (Rm 14.6).

2. Deveriam ser realizadas com nossa dependência da graça de Deus para fazê-las úteis a nós, pois formas exteriores nada são em si. A não ser que o Espírito de Deus as aplique a nós, são baldes vazios puxados de um poço seco (Jo 6.63).

3. Deveriam ser cumpridas olhando-se de tal forma em Deus como sua natureza e sentido sugerem: por exemplo, no jejuar deve haver tristeza para com Deus por tê-lo entristecido; e em festa santa a alegria não pode ser carnal, mas sim "alegria no Senhor".

4. Devem ser acompanhadas com aquele entendimento espiritual sem o qual são mera arte cênica aos olhos de Deus. Deve haver o verdadeiro jejum, que é abstinência de pecado, e a verdadeira festança que é a recepção de Cristo com alegria.

5. Devem ser cuidadas com vistas a glorificar Deus nelas. Para esse fim, nós assistimos ao batismo, comunhão, louvor. Se essas coisas não são feitas ao Senhor, o que são senão os ritos de ateísmo?-- ou um tipo de bruxaria, repetição de fórmulas mágicas, genuflectir? (Is 66.3).

 

II. OBSERVÂNCIAS RELIGIOSAS PODEM SER FEITAS PARA NÓS MESMOS.

"Quando comiam e bebiam, não era para vocês mesmos que o faziam?" São assim muito claramente:

1. Quando o elemento espiritual está ausente. Então mesmo na Santa Ceia não há nada mais do que mero comer e beber como no caso da igreja de corinto. Com que freqüência, em geral, têm as festas religiosas se tornado meras desculpas para se banquetear!

2. Quando a ordenança é cuidada e assistida porque traz crédito pessoal, motivações de costume, respeitabilidade ou dignidade podem levar homens até para a mesa do Senhor! Isso é comer para nós mesmos.

3. Quando a observância exterior é usada como meio de apaziguar a consciência, e é tomada como um narcótico espiritual. Sem se chegar perto de Deus, o homem se sente mais leve porque ele executou um pouquinho de ritual piedoso. Isso é comer e beber para nós mesmos.

4. Quando o ritual externo é praticado com a esperança de que fiquemos salvos com isso. A motivação é egoísmo religioso, e o ato deve ser inaceitável.

5. Quando não há nenhuma intenção de agradar a Deus nisso: pois assim como é a intenção, assim é o ato; e onde não há intento para com Deus, a matéria toda deixa de alcançar aceitação com Deus. Veja como são vãs as efetuações de descrentes. Leia versículos 1 a 3 deste capítulo de Zacarias. Vamos nos chegar a Jesus que é a soma e a substância de todos os jejuns, e festas, e tudo mais da observância certa. Vamos viver como para o Senhor (Rm 14.8).

 

PARÁGRAFOS MARCANTES

Se, depois que você ouviu cultos, celebrações e reuniões, e já participou de santa comunhão, e orações, você vai ser mais bondoso para o seu vizinho, e amá-lo mais, e ser mais obediente a seus superiores, mais misericordioso e pronto a perdoar, se você despreza mais o mundo, e tem mais sede por coisas espirituais, então estas coisas aumentam a graça. Se não, são uma mentira (Tyndale).

Um certo rei quis construir uma catedral, e, para que o prédio fosse dele, ele proibiu qualquer pessoa de contribuir para a construção dela. Uma placa foi colocada no lado do prédio, e nela seu nome foi esculpido pelo construtor. Mas, numa noite, ele viu em sonho um anjo que desceu e apagou o nome dele; e o nome de uma pobre viúva apareceu ali. Isso se repetiu três vezes, quando o rei zangado mandou que a mulher viesse à presença dele, e exigiu: "O que você tem feito e por que desobedeceu ao meu mandado?" A mulher tremendo respondeu: "Eu amava ao Senhor e desejava fazer algo pelo seu nome, e para a construção de sua igreja. Eu era proibida de tocá-la de qualquer maneira, então, na minha pobreza, eu trouxe um tufo de feno para os cavalos que puxavam as pedras." Então, o rei viu que ele havia trabalhado para sua própria glória, mas a viúva para a glória de Deus, e ele ordenou que o nome dela fosse inscrito na placa (Encyclopaedia of Illustrative Anecdotes).

Em nenhuma parte do grande universo há qualquer ser fervorosamente devoto por acaso. Em toda parte, mesmo no céu, as criaturas são devotas de propósito, por esforço. Isso é verdade na terra; nenhum homem algum dia por acaso tornou-se religioso (Dr. Stoughton, em "Lights of the World").

Uma historia que precisa ser contada cuidadosamente e que pode ser muito útil. Conta-se história que um sultão dormiu demais e não acordou à hora da oração. Então o diabo veio, acordou-o e mandou que se levantasse e orasse. "Quem é você?", perguntou o sultão. "Ah, não importa!", respondeu o outro, "meu ato é bom, não é? Não importa quem faz a boa ação, contanto que seja boa." "Sim", replicou o sultão, "mas eu acho que você é Satanás. Conheço sua cara; você tem algum motivo mau." "Mas", disse o outro, "eu não sou tão mau como sou pintado. Eu já fui um anjo um dia, e ainda guardo um pouco de minha bondade original." "Tudo bem," respondeu o sagaz e prudente califa, "mas você é o tentador: é seu negócio, e eu desejo saber por que você quer que eu me levante e ore." "Bem", disse o diabo, com um tom de impaciência, "se você precisa saber, eu conto. Se você tivesse dormido e esquecido de suas orações, você se arrependeria depois e ficaria penitente, mas se você continua como agora, e não negligencia nem uma só oração por dez anos, você vai ficar tão satisfeito que será pior para você do que se você tivesse perdido uma oração de vez em quando e se arrependido disso. Deus ama a sua falta misturada com penitência mais do que sua virtude temperada com orgulho."

O que é toda a justiça que os homens inventam, o que--senão uma barganha sórdida dos céus? Mas Cristo mais depressa abdicaria o seu lugar do que se abaixaria do céu para vender ao orgulhoso um trono (Cowper).