30. CAMINHOS ESTRANHOS DO AMOR
Portanto, agora vou atraí-la; vou levá-la para o deserto e falar-lhe com carinho (Oséias 2.14).
Na primeira parte do capítulo, encontramos palavras de acusação e ameaça dirigidas com grande justiça contra uma nação culpável. Nesta segunda parte, chegamos a um trecho todo de graça. A pessoa com quem se trata é a mesma, mas ela é tratada sob uma outra dispensação, o próprio pacto da graça do qual achamos um sumário no versículo 23.
Deus, pretendendo tratar com seu povo pecador em amor, fala palavras que são do mais extraordinário conteúdo.
I. AQUI ESTÁ, PARA SEUS ATOS DE AMOR, UMA RAZÃO ALÉM DE TODA RAZÃO.
O texto começa com "portanto". Deus sempre tem uma razão.
O contexto descreve o pecado mais baixo, e como poderia Deus achar uma razão ali?
1. Deus encontra uma razão para a graça onde não há nenhuma. Que outro motivo ele tinha para abençoar Israel, ou qualquer um de nós?2. Deus cria uma razão que supera quaisquer outras razões. Porque seu povo persistira em ser tão mau, ele demonstrará mais amor até que os ganhe de seus desvios.
3. Deus cria uma razão a favor partindo dos motivos contra. "Ela se esqueceu de mim, diz o Senhor. Portanto eu a atrairei." (Veja todos os versículos anteriores). O grande pecado que em si já é motivo para julgamento agora é por divina graça transformado em argumento a favor da misericórdia.
4. Deus justifica sua própria lógica com os homens por uma razão. De acordo com a margem, "Eu falarei ao coração dela", é a promessa do texto, e o Senhor dá um "portanto" por isso. Ele tem um motivo gracioso para arrazoar conosco em amor.
A graça soberana de Deus havia escolhido seu povo, e seu amor imutável resolve ganhar este povo, portanto, ela se põe a realizar a obra.
II. ESTÁ AQUI UM MÉTODO DE PODER QUE VAI ALÉM DE TODO O PODER.
"Eu a atrairei."
1. Atração de amor excede em poder a todas as outras forças. Parece que outros métodos tinham sido usados, tais como:
- Aflição com sua sebe de espinheiros (v. 6).
- Instrução com todas as suas aplicações práticas (v. 8).
- Privação até mesmo de coisas necessárias (v. 9).
- Exposição de pecado acima de toda negação. (v. 10).
- Tristeza em cima de tristeza (v. 11 e 12).
2. A doce atração de ternura vence a vontade de resistir.
- Assaltados, nós nos defendemos; atraídos, nós nos rendemos.
3. A atração da graça tem muitas armas de conquista.
- A pessoa, a obra, os ofícios e o amor de Jesus levam os homens cativos.
- A liberalidade e a abundância do perdão divino vencem a oposição.
- A graça e a verdade do pacto desafiam a resistência.
- A adoção e a herança tão graciosamente concedidas persuadem o coração com a força tremenda da gratidão.
- A sensação de paz presente e a perspectiva de glória futura cativamnos acima de tudo.
III. AQUI HÁ UMA CONDIÇÃO DE COMPANHIA ALÉM DE TODAS AS COMPANHIAS.
1. Ela é feita para ser só. Livre de tentação, distração, ou companhia assistente. Todos os seus amantes longe dela. Sua esperança neles foise.
2. Sozinha com Deus. Ele se torna sua confiança, desejo, alvo, amor.
3. Só como no deserto. Ilustrado por Israel, que, no deserto, conheceu o Senhor como libertador, guia, guarda, luz, maná, médico, campeão, glória central e rei.
4. Só--com o mesmo objetivo como Israel, para treinamento, crescimento, iluminação e preparação para o descanso prometido: acima de tudo para que pudessem ser indivíduos separados especiais do próprio Senhor.
IV. AQUI ESTÁ UMA VOZ DE CONSOLO ALÉM DE TODO CONSOLO.
"E falar-lhe com carinho" (OS 2.14).
1. Conforto real é dado a almas a sós com Deus. A fala divina é aplicada ao coração, e assim seu consolo é compreendido e apropriado, e efetivamente toca os afetos.
2. Consolo abundante é concedido, recebido e reconhecido:
- Por gratidão renovada: "Ali ela me responderá como nos dias de sua infância" (ou "mocidade", v. 15, trad. Almeida).
- Por um espírito mais confiante "você me chamará 'meu marido'" (v. 16).
- Por uma paz estabelecida (v. 18).
- Por uma revelação mais clara de vida eterna (v. 19 e 20).
- Por um senso mais claro do futuro eterno e sua união-casamento de felicidade eterna; pois contrato de casamento prenuncia casamento.
Agora que seja tudo isso conhecido e sentido, e nós estamos certos que o coração é ganho: não pode haver revolta depois disso.
Que a oração de cada um de nós seja:
Amor Celeste, domine meu coração,
Quero ser conduzido em triunfo também,
Atraído a viver para Deus apenas,
No trono curvar-me submisso. Amém.Quando a livre graça de Deus pousa sobre seu objeto, muitas vezes solicita a alma à sua maneira peculiar: quer dizer que a graça namora e ganha por sua própria graciosidade, conquista não por armas, mas por fascinação. Você já não observou uma mãe atraindo seu filho para que corra para o seu abraço com a promessa de um beijo? Você nunca ouviu os pássaros pequenos atraindo seus pares com canto extasiado? Você não conhece o caminho do amor pelo qual o amor ganha suas vitórias? Se conhece, você também entende por que a amada deve ser procurada no ermo para se falar com ela. O amor é acanhado, foge à multidão: a solidão é seu elemento. Quando uma alma é obrigada a ficar a sós com Deus, ela ouvirá muitas coisas que até então não podiam ser faladas a ela. Falar ao coração é reservado para a intimidade; não fica bem demonstrar os segredos da comunhão divina a um ajuntamento misto. Compreenda, portanto, ó solitário, porque você é obrigado a ser um solitário, e agora entregue o coração às seduções da graça soberana! (C. H. S.).
Há alguns anos, um incidente comovente foi reportado em referência à ex-imperatriz Charlotte, uma princesa austríaca, cujo esposo foi por um curto tempo imperador do México. No ano de 1867, ele foi alvejado com um tiro pelos revolucionários. A imperatriz, em sua viúva infeliz, tornou-se vítima de loucura de melancolia, que seus médicos abandonaram todas as esperanças de cura. Como em casos semelhantes, ela voltou aos gostos e hábitos da infância, um dos quais foi uma paixão por flores, e ela passava a maioria de seu tempo com elas. A atração delas para a ex-imperatriz Charlotte foi manifesta de modo comovente (patético) na ocasião em que, tendo se evadido da vigília de seus atendentes, ela tinha fugido do castelo. Quando encontrada, soube-se que era impossível induzi-la a voltar, exceto pelo uso de meios que certamente a deixariam machucada. Um de seus médicos felizmente pensou em seu amor por flores e, mostrando-lhe as flores aos poucos, ela foi gradualmente atraída de volta para sua casa. Será que esta história não pode ser tomada como ilustração do modo como Deus atrai almas perambulantes de volta a si pelos convites e promessas do evangelho?