29. PÂNTANOS
Mas os charcos e os pântanos não ficarão saneados; serão deixados para o sal (Ezequiel 47.11).
O profeta viu em visão o fluir do rio doador de vida e destacou seus efeitos maravilhosos e benéficos.
Que o capítulo seja lido e um breve resumo dele seja dado.
O profeta também observou que aqui e ali o rio não levava bênção: havia pântanos que permaneciam sempre improdutivos.
I. HÁ ALGUNS HOMENS QUE O EVANGELHO NÃO ABENÇOA.
1. Fica estagnado neles: eles escutam em vão, aprendem, mas não praticam; sentem, mas não decidem, resolvem, mas não põem em prática.
2. Ele se mistura com suas corrupções, como água limpa com a lama. Eles enxergam com olho cego, entendem de uma maneira carnal e recebem a verdade, mas não o poder dela.
3. Ele torna-se alimento para seus pecados, assim como capim malcheiroso é produzido em águas paradas de lugares lodosos.
- Sua descrença transforma mistérios em pretextos para infidelidade.
- Sua inimizade é atiçada pela soberania da graça.
- Sua impenitência toma liberdades com a graça, e tira desculpas de misericórdia divina.
- Sua segurança carnal se alimenta do fato de ter ouvido o evangelho.
4. Torna-os cada vez piores. Quanto mais chuva, mais lama.
- Quanto mais graça usada mal, tanto mais mau o coração.
- Quanto mais conhecimento não-santificado, maior a capacidade para o mal.
- Quanto maior número de profissões falsas, mais deslealdade.
II. ALGUMAS DESTAS COISAS NÓS JÁ SABÍAMOS.
Estes pântanos não estão a grande distância. Constituem algo feio para ser visto e uma dor bem próxima ao coração.
1. O homem muito falante, que vive em pecado, é alagado de conhecimento, mas destituído de amor; tem expressão fluente, mas nenhuma experiência.
2. Os críticos que notam só os defeitos dos cristãos, e são rápidos para estender-se a respeito, são eles mesmos falsos.
3. Aqueles que recebem verdade ortodoxa, mas ainda assim amam o mundo.
4. Aqueles que ficam impressionados e comovidos, mas nunca obedecem à palavra. Têm prazer em ouvir o evangelho, e só o evangelho, contudo, não têm nenhuma vida espiritual.
III. TAIS PESSOAS ESTÃO EM SITUAÇÃO TERRÍVEL.
Sua condição é mais do que comumente terrível.
1. Porque não estão apercebidas dela: pensam que tudo está bem com eles.
2. Porque os meios comuns de abençoar os homens falharam no seu caso. Aquilo que é um rio de vida para os outros não é isso para eles.
3. Em alguns casos os melhores meios falharam. Um rio especial de oportunidade graciosa fluiu até eles, mas seus rios os visitaram em vão.
4. Não há meios conhecidos que ainda lhe restem. "Que farei para ti?" Que mais pode ser esperado da economia da misericórdia?
5. Sua ruína parece certa: serão entregues, se deixados por conta própria, para serem charcos.
6. Sua ruína é tão terrível como certa: como aquela das cidades da planície - entregues ao sal; só que seu destino será menos tolerável do que o de Sodoma e Gomorra.
IV. COM ESTES NÓS PODEMOS APRENDER.
1. Uma lição de advertência, para que nós mesmos não sejamos visivelmente visitados por rios de graça sem nunca tirar proveito disso.
2. Uma lição de despertamento, para não descansarmos em regulamentos, que em si não são necessariamente uma bênção salvadora.
3. Uma lição de gratidão: se nós somos mesmo curados pelo rio da vida, vamos bendizer a graça efetiva do Senhor nosso Deus.
4. Uma lição de aceleração para pastores e outros obreiros, para que olhem bem pelos resultados de seu trabalho, e não façam pântanos onde desejam criar campos ricos para a ceifa.
A RESPEITO
Ninguém parece menos provável de ser salvo do que seus descrentes religiosos. Eles vestem uma armadura de provas. Você não consegue dizer-lhes nada de novo e marcante, a cabeça deles está sempre protegida com capacetes de conhecimento religioso; você não pode tocar seus corações, pois embaraçam sempre o escudo do endurecimento do evangelho. Eles fazem mesura a toda verdade e, contudo, não crêem em nada; dão atenção a toda observância religiosa, mas não têm religião. Nenhuma armadura tem a metade da eficácia para repelir os ataques da verdade como aquela forjada nos arsenais da religião. Tenho mais esperança de um que se diz pagão do que de um ouvinte que está precavido contra o evangelho (C. H.).
Ou as águas não chegaram a estes pântanos, ou se chegaram, estes as recusaram, e assim foi-lhes dado sal, foram feitos como Sodoma, estéreis e amaldiçoados. Alguns lugares não têm as águas do santuário, a doutrina do evangelho, e são áridos, e perecem por falta dessas, como Tiro e Sidom. Outros lugares as têm, e porque são impenitentes e não querem receber a verdade com o amor dela, porque não beberão nestas águas, são, pois, entregues ao sal, são improdutivos e amaldiçoados. Assim foi com Cafarnaum e Jerusalém (Mt 11.23; 23.37-38); e assim é com muitos lugares nesta nação, temo eu (William Greenhill).
Certas pessoas são encontradas em reuniões de avivamento e são as primeiras a entrar na sala de consulta após o sermão, mas quando se pergunta sobre o seu histórico descobre-se que são velhos praticantes e passaram por conversão muitas vezes antes. São a praga e a desgraça de um despertamento religioso. Facilmente comovidas, sua própria piedade é uma falsidade: elas não são hipócritas exatamente, mas há tão pouca profundidade nelas que estão na porta vizinha. Soubemos de uma delas que tinha sido curada de coxeadura, dizia ela, mas, depois de poucos dias, tornou a pegar as muletas e assim lançou grave dúvida sobre aquele confesso curador. É dessa forma que esses convertidos ordinários levantam um clamor contra movimentos admiráveis. São pessoas que nem o evangelho abençoam - pântanos, que nem o rio da vida fertiliza.
Quem é o homem mais triste do mundo e onde vamos procurá-lo? Não no botequim, não no teatro pornô, nem mesmo no bordel, mas sim na igreja! Aquele homem que se sentou domingo após domingo, sob os chamados do despertamento e emoção do evangelho, e que endureceu seu coração contra esses chamados, ele é o homem cuja condição é a mais desesperada de todos. "Ai de Corazim! ai de ti, Betsáida" E tu, Cafarnaum, que és exaltado até o céu, "descerás até o inferno" (Richard Cecil).
As pessoas que falavam latim costumavam dizer: "A corrupção daquilo que há de melhor é a pior de todas as coisas."
De todas as combinações de fraqueza e depravação humana, a mais repulsiva é uma fogueira de beatice religiosa, que é toda emoção e nada de princípios, toda conversa e nada de caráter, toda de oração e nada de vida, toda domingos e nenhum dia de semana. Sepulcros caiados! (Mt 23.27) "Geração de víboras." Os mais santos dos homens se unem ao clamor indignado do mundo contra tal hipocrisia nauseante. Um pedido sábio e sempre oportuno da Igreja Anglicana. "Da falsidade do mundo, das artes do diabo, bom Senhor, livra-nos!" (Austin Phelps).