24. A PEQUENA IRA E A GRANDE IRA

Por um breve momento eu a abandonei, mas com profunda compaixão eu a trarei de volta. Num impulso de indignação escondi de você por um instante o meu rosto, mas com bondade eterna terei compaixão de você, diz o Senhor o seu Redentor. Para mim isso é como nos dias de Noé, quando jurei que as águas de Noé nunca mais tornariam a cobrir a terra. De modo que agora jurei não ficar irado contra você, nem tornar a repreendê-la (Isaías 54.7).

 

Este texto é propriedade de todos os crentes. Seu título é visto no final do capítulo (v. 17). Não deixem de apreciá-lo. Vem em seguida às profecias das grandes tristezas do Senhor (Is 53). Nós nunca somos tão capazes de acreditar em uma grande promessa como quando estamos ao pé da cruz.

O povo de Deus é muitas vezes grandemente provado, e suas tristezas são às vezes espirituais e mais profundas do que aquelas dos maus.

Seu grande consolo está em que em todas as suas aflições não há ira penal, não há grande indignação, nem juízo final do Senhor.

Falaremos sobre:

 

I. A PEQUENA IRA E SUAS MODIFICAÇÕES.

O Senhor chama isso de "uma pequena ira" e chama o tempo de sua continuação -"um momento", "um pequeno momento".

1. Nossa visão difere da do Senhor. Para nós, parece ser um abandono completo e o esconder de seu rosto para sempre.

- Nós somos tolos demais, agitados demais, descrentes demais, para julgar com acerto.

- A visão de Deus é a própria verdade, por isso vamos acreditar nela.

2. O tempo dele é curto. O que é menor do que "um pequeno momento"?

- Comparado com amor eterno. -Quando lembrado depois de anos de paz santa.

- Na realidade só dura um pouquinho.

- Logo passará se nos arrependemos e oramos.

3. A recompensa é grande. Jeová promete dar-nos "misericórdias" - muitas, divinas, eternas, grande, eficazes: "com profunda compaixão eu a trarei de volta."

4. A ira em si é pequena. Uma ira de Esposo, uma ira de Redentor, uma ira de quem mostra piedade, ira ocasionada por amor santo.

5. A expressão dela não é severa.

- Não colocar meu rosto contra ti; nem mudar de idéia.

- Mas esconder meu rosto, e isso só por um momento.

- Assim Deus vê o assunto de nosso castigo, vendo o fim desde o princípio.

6. Isso é bem coerente com o amor eterno. Este amor durará para sempre, está presente durante a pequena ira, é a causa da ira, e continuará imutável para sempre.

- A criança castigada não é menos amada.

7. Isso não muda nosso relacionamento com o Senhor. Ele ainda é nosso Redentor (v. 8), e nós ainda somos os remidos do Senhor. Nossa obrigação é entristecer-nos por causa da ira do Senhor, ser humilhados e santificados por ela, mas não desfalecer, não desesperar sob ela.

 

II. A GRANDE IRA E NOSSA SEGURANÇA CONTRA ELA.

1. A ira de Deus contra seu povo não vai se arrebentar sobre eles mais, assim como o dilúvio de Noé não vai retornar para cobrir a terra. Esse dilúvio não retornou durante estes séculos todos, e nunca retornará. O tempo de semear e de colher continua, e o arco-íris está na nuvem. Não temos temor de outro dilúvio universal de água, nem crentes precisam temer uma volta da ira divina (amplie sobre o v. 9).

2. A grande inundação de ira já se arrebentou de uma vez por todas. Sobre nosso Senhor arrebentou, e assim acabou para sempre. "Cristo remiu-nos da maldição da lei, tendo sido feito uma maldição por nós" (Gl 3.13). "Como o Oriente está longe do Ocidente, assim ele afasta para longe de nós as nossas transgressões" (Sl 103.12). "Quem os condenará? Foi Cristo Jesus que morreu" (Rm 8.34). "Se procurará pela iniqüidade de Israel, mas nada será achado, pelos pecados de Judá, mas nenhum será encontrado" (Jr 50.20). Isso é a expiação real, verdadeira, efetiva, eterna.

3. Nós temos o juramento de Deus de que isso não voltará: "Assim jurei que eu nunca ficarei irado contigo, nem o repreenderei." Em modo de punição nem mesmo uma palavra dura será pronunciada - "nem o censurarei".

4. Temos uma aliança de paz tão segura como a que foi feita com Noé, e de um nível mais alto, pois é feita com Jesus, nosso Senhor.

5. Temos compromissos de misericórdia imutável, imóvel: "os montes e as colinas" (v. 10). Estes podem sumir e ser removidos, mas nunca a bondade do Senhor.

6. Tudo isso nos é falado por Jeová, o misericordioso: "diz o Senhor que tem compaixão de você." Como é maldoso duvidar e desconfiar! Como é segura a condição dos da aliança! Como é glorioso nosso Deus de eterna bondade! Como devemos ter cuidado para não magoá-lo!

 

PALAVRAS QUE ALEGRAM

Ah, filhas de Sião! não tenham medo
Da cruz, das cordas, pregos, e da lança,
Da mirra, fel, vinagre;
Pois com amor, Cristo, o Salvador
Bebeu o vinho da ira de Deus Pai!
E só ficou pequena espuma,
Foi menos para provar do que mostrar
Que amargos copos lhes seriam devidos:
Os copos que ele por vocês tomou (Herrick).

A escuridão de tristeza tem muitas vezes se revelado apenas "a sombra da asa de Deus quando ele se aproximou para abençoar."

Não podemos ter chuvas fertilizadoras na terra sem um céu nublado. É assim com as nossas provações.

Ó, Senhor, dá-me qualquer coisa exceto teu olhar de censura, e dá-me qualquer coisa com teu sorriso (R. Cecil).

Um pastor erudito, assistindo a um ancião cristão em vida humilde, quando estava em sua última enfermidade, observou que a passagem em Hebreus 13.5, "Nunca o deixarei; nunca o desampararei", era muito mais enfática na língua original do que em nossa tradução, por conter não menos que cinco negativas em prova da validade da promessa divina, e não meramente duas, como aparece na versão em inglês (ou português). A resposta do homem foi muito simples e impressionante. "Não duvido, senhor, que você tenha toda a razão, mas eu lhe posso assegurar que se Deus tivesse falado apenas uma vez, eu teria acreditado nele do mesmo modo."