22. UM SERMÃO PARA OS IDOSOS

"Mesmo na sua velhice, quando tiverem cabelos brancos, sou eu aquele que os susterá. Eu os fiz e eu os levarei; eu os sustentarei, e eu os salvarei"(Isaías 46.4).

 

A doutrina do texto é a natureza imutável de Deus, e a constância de sua bondade para com seu povo na providência e graça.

Quase não precisamos provar a natureza imutável de Deus, e a constância de sua bondade para com seu povo, durante o curto período de vida mortal, quando:

- Na natureza, nós vemos muitas coisas que parecem não ter sofrido mudança durante setenta ou oitenta anos: sol, oceano, rochas.

- Nós vemos sua palavra e o evangelho serem ainda os mesmos.

- Oração, louvor, comunhão, e culto santo são os mesmos.

- Nossa experiência é semelhante àquela dos santos no tempo antigo.

- Lembramo-nos, especialmente, de que a própria natureza de Deus coloca a mutabilidade além do alcance da suposição. Das operações do Senhor na providência e graça, dificilmente é necessário provar a imutabilidade, quando nós lembramos a vocês: -Que as misericórdias de uma época são no geral idênticas àquelas de outra, e as promessas são totalmente as mesmas.

- Que homens santos estão prontos para testificar da fidelidade de Deus, e que tanto agora como no passado as testemunhas à sua verdade divina e imutável são muitas.

- Que a força divina não é dependente das fraquezas do homem, e que o amor divino não muda devido à passagem dos anos.

- Que o completar do corpo de Cristo requer a preservação de todos os santos e, portanto, o Senhor precisa permanecer o mesmo para cada um deles.

Contudo, sem dúvida a idade avançada tem suas peculiaridades, que só servem para evidenciar a firmeza da graça de Deus.

 

I. ELA TEM SUAS LEMBRANÇAS PRÓPRIAS.

1. Lembra muitas alegrias, e vê nelas provas de amor.

2. Lembra muitas chegadas à casa da doença, e relembra como o Senhor alegrou o cômodo tristonho.

3. Lembra muitas tribulações com suas perdas de amigos e suas mudanças de condições, mas vê que ELE tem sido sempre o mesmo.

4. Lembra muitos conflitos como a tentação, a dúvida, Satanás, a carne, e o mundo; mas lembra como ELE cobriu a cabeça dele no dia da batalha.

5. Lembra seus muitos pecados; e não está esquecida de quantos professos em Cristo naufragaram na fé; mas ela estima muitíssimo a fidelidade pactual em sua própria preservação. Todas as nossas lembranças são unânimes em seu testemunho a um Deus que não muda.

 

II. ELA TEM SUAS PRÓPRIAS ESPERANÇAS .

Ela tem agora poucas coisas para aguardar, mas essas poucas são as mesmas como em dias mais jovens, pois o pacto dura sem alterações.

1. A base de sua esperança ainda é Jesus, e não um longo tempo de serviço.

2. A razão de sua esperança ainda é a fé na palavra infalível.

3. A preservação de sua esperança está nas mesmas mãos.

4. O fim de sua esperança ainda é o mesmo céu, a mesma coroa da vida e bem-aventurança.

5. A alegria de sua esperança ainda é tão brilhante e alegre quanto antes.

 

III. ELA TEM SUAS SOLICITUDES PRÓPRIAS.

São menos os cuidados, pois os trabalhos são reduzidos, e as necessidades que permanecem só servem para mostrar que Deus é o mesmo.

1. O corpo é enfermo, mas a graça compensa pelas alegrias que se foram, de juventude, saúde e atividade.

2. A mente é mais fraca, a memória retém menos e a imaginação é menos vivaz; mas doutrinas graciosas são mais doces do que nunca e as verdades eternas sustêm o coração.

3. A morte está mais próxima, mas então o céu está mais perto também. A terra pode estar menos bonita, mas o país do lar eterno é mais querido, visto que mais pessoas amadas já entraram nele, e nos deixaram menos amarrados à terra.

4. A preparação por exame é agora mais imperativa, mas também ficou mais fácil, visto que a repetição tirou suas dificuldades, a fé tem mais constância, e promessas provadas oferecem consolo mais rico e abundante. Tudo isso prova que Deus é o mesmo.

 

IV. ELA TEM A SUA PRÓPRIA BEM-AVENTURANÇA.

Destituída de certas alegrias, a idade é enriquecida com outras:

1. Ela tem uma longa experiência para ler, provando ser verdadeira a promessa.

2. Tem menos oscilações em suas doutrinas, sabendo agora o que antes só supunha.

3. Tem menos a temer no futuro da vida, vendo que o caminho é mais curto.

4. Tem mais manifestações das regiões celestes, porque é agora na terra prometida.

5. Tem menos negócios na terra, e mais no céu, e por isso tem incentivos para ter mais pensamentos celestes. Aqui há amor divino que se tornou manifesto por ainda ser o mesmo

 

V. TEM SEUS DEVERES PECULIARES.

Há provas de fidelidade divina, visto que fazem pessoas produzir frutos em idade avançada. Estes são:

1. Testemunho da bondade de Deus, a imutabilidade de seu amor, e a certeza de sua revelação.

2. Consolo a outras pessoas que estão batalhando, assegurando-lhes que sairão com segurança.

3. Aviso ao instável e/ou desobediente: tal aviso vem com dez vezes a força quando é de um santo idoso.

4. E freqüentemente pode-se acrescentar: instrução, visto que a experiência do idoso já abriu muito mistério antes desconhecido. Do todo, nós adquirimos:

- Uma lição para os jovens para tornar este Deus o seu Deus, visto que ele nunca abandonará os seus.

- Um consolo para os homens da meia-idade para que perseverem, pois eles ainda chegarão a ser carregados nos braços da graça.

- Um cântico para os idosos, com respeito ao amor imorredouro e à misericórdia invariável.

Com voz amadurecida que seja cantado.

ISSO VEM AO CASO

O dr. O. W. Holmes diz: "Homens, como pêssegos e pêras, se tornam doces um pouquinho antes de começarem a enfraquecer." Isso é verdade, mas homens cristãos devem ser doces desde a hora em que são renovados no coração. Contudo, mesmo então a maturidade traz com ela uma certa doçura.

Do cristão já foi dito, "O declínio, o enfraquecimento e as enfermidades da velhice", como o dr. Guthrie chamou esses sintomas de sua própria morte que se aproximava, "serão somente 'aves da terra, pousando nas mortalhas, contando ao velho marinheiro que ele está se aproximando do porto desejado'".

Uma reflexão predileta minha é que, se ficarmos vivos até os sessenta anos, nós então entramos na sétima década da vida humana, e que esta, se possível, deveria ser um sabático de nossa peregrinação terrestre, e ser gasta sabaticamente, como nas praias de um mundo eterno, ou nas cortes exteriores, digamos, do templo lá em cima, o tabernáculo que está no céu (Dr. Chalmers).