21. O AMARGO E O DOCE

"Foi para o meu benefício que tanto sofri. Em teu amor me guardaste da cova da destruição; lançaste para trás de ti todos os meus pecados" (Isaías 38.17).

 

Aqui está o caso de um homem que, quando se tratava de ajuda mortal, era um homem morto, e, contudo, a oração prevaleceu para sua recuperação e o prolongamento de sua vida. Ele registra sua experiência para a glória de Deus, para seu próprio refrigério e para nosso encorajamento. Em nossas depressões profundas nós temos o mesmo Deus para ajudar-nos. Aqui Ezequias coloca diante de nós neste versículo:

 

I. AMARGURA SAUDÁVEL.

"Por paz eu tive amargura".

1. Ele tinha estado em paz. Provavelmente, tinha trazido consigo um estado perigoso, no qual sua mente se tornou carnalmente segura, contente consigo, estagnada, adormecida, descuidada, mundana.

2. Ele passou por uma mudança. Foi repentina e surpreendente - "Amargura." "Grande amargura." Em condição do corpo e em emoção mental ele provou a losna e o fel. Leia os versículos anteriores e veja como ele lamentava.

3. Seu novo estado era de tristeza enfática - "Amargura". "Grande Amargura." Em sua condição corporal e em sua emoção mental ele provou do absinto e da losna. Leia os versículos anteriores e veja como ele lamentava.

4. Isso afetou sua saúde. "Tu me restauraste a saúde e deixaste-me viver" (v. 16).

- Isso levou-o ao arrependimento pelo passado. Ele fala de "meus pecados".

- Levou-o a se ajoelhar em oração.

- Revelou-lhe seu declínio interior e fraqueza na graça.

- Isso o fez desfazer-se de seus aviltamentos.

- Aprofundou sua fé em Deus. "O Senhor estava pronto para me salvar" (v. 20).

5. A paz voltou e com ela cânticos de alegria. Se algumas pessoas estão agora bebendo o copo amargo, que fiquem bem contentes, pois há um copo de salvação na mão de Deus.

 

II. AMOR QUE LIVRA.

"Em teu amor me guardaste da cova da destruição" (v. 17).
A princípio, o sentido que vemos é a recuperação de doença, mas
pretende muito mais: na superfície, acha-se benefício à sua alma.

Observemos:
1. O ato de amor. "Tu amaste minha alma desde a cova" (margem).

- O Senhor livra a alma da cova do inferno, do pecado, do desespero, da tentação, da morte. Só ele pode fazer isso.

2. O amor que realizou o feito.

- O amor sugeriu e ordenou isso.

- O amor realmente realizou isso pelas suas próprias mãos. Em amor à minha alma, tu a tens amado desde a cova.

- O amor parte o coração e o ata de novo.

- O amor liberta-nos e depois nos captura.

- Somos amados para sair da tristeza, rebelião, desânimo, frieza e fraqueza. Reconheça isso de todo coração. -Meça esse amor pelo seu demérito, seu perigo, sua atual segurança completa e pela grandeza do Libertador, e o que a libertação lhe custou.

- Entesoure este amor e cante sobre ele todos os dias de sua vida.

 

III. PERDÃO ABSOLUTO.

"Tu lançaste todos os meus pecados para trás de tuas costas."

1. Esta foi a causa da paz restaurada dele. Ele estava sobrecarregado enquanto o pecado existiu, mas quando ele sumiu, a paz voltou.

2. Isso removeu toda a carga: "Pecados", "meus pecados", "todos os meus pecados."

3. Isso envolveu esforço da parte de Deus. "Tu lançaste..." Lembramos os trabalhos mais do que hercúleos de Jesus, que arremessou nossa carga no profundo sem fundo.

4. Isso é descrito maravilhosamente. "Atrás de tuas costas" que é:

- O lugar de deserção. Deus saiu de nosso pecado para nunca mais retornar a ele. Ele o deixou para sempre, e nunca vai cruzar o caminho dele de novo, porque nunca anda para trás.

- O lugar de esquecimento: ele não mais se lembrará dele.

- O lugar de não existência: nada está atrás das costas de Deus. Portanto, contaremos a outros nossa história, como Ezequias contounos a dele. Vamos buscar um ou mais que nos ouvirão com atenção.

"Portanto cantaremos meus cânticos ao som dos instrumentos de cordas (20). A esta hora vamos elevar a voz de gratidão.

 

AMPLIAÇÕES

Thomas Bilney, o mártir, depois de sua submissão ao papado, sendo levado outra vez ao arrependimento, foi, como Latimer reporta, por um tempo inconsolável. "Seus amigos não ousavam deixá-lo sozinho nem de dia nem de noite. Consolaram-no como podiam, mas nenhuma consolação bastava, e quanto aos lugares confortáveis da Escritura, trazê-los a ele era como se um homem atravessasse o coração com uma espada."

Ora, amigo, dê-me sua resposta. É melhor ver o pecado e culpa agora, enquanto você pode ver um Salvador também; ou ver pecado e um juiz no porvir, mas nenhum Salvador? Pecado você verá, como dizemos, apesar de seus dentes, sem desculpas. Ah, então, deixe-me ver pecado e culpa agora; Ah, agora, com um doce Salvador, para que eu tenha esta vista triste já passada quando eu chegar a morrer (Giles).

"Tu tens lançado" etc. Estas últimas palavras são emprestadas, pegas do maneirismo de homens, que costumam lançar atrás de si coisas que não têm vontade de ver, de cuidar ou de lembrar. Uma alma graciosa tem sempre seus pecados diante de sua face. "Eu reconheço minhas transgressões, e meu pecado está sempre diante de mim"; e, portanto, não se admira que o Senhor as lance atrás de suas costas. Um pai esquece logo e joga, para o passado, as faltas que a criança lembra e tem sempre diante de seus olhos, e assim faz o Pai dos espíritos humanos (Thomas Brooks).

Li em alguma parte sobre um grande homem de Deus (acho que foi Ficolampadius) que, tendo se recuperado de uma doença séria, disse: "Tenho aprendido! sob esta doença a conhecer o pecado e Deus." Será que não conhecia estes antes? Sem dúvida, sabia pregar bons sermões a respeito de Deus e do pecado, mas o Espírito, ao que parece, naquela doença, ensinou-lhe estes diferentes do que os conhecia antes (Giles Firmin).

Alguns dos abismos a que a Bíblia se refere eram prisões; um eu vi em Atenas, e outro em Roma. Para esses, não havia aberturas a não ser um buraco no alto que servia tanto de porta como janela. Os fundos dessas prisões sempre estavam imundos e eram revoltantes e, por vezes, encontravam-se numa lama imensa. Isaías fala de "o poço de corrupção" ou "putrefação e imundície (John Gatsby).

O dr. Watts, desde a infância até a morte, quase não conheceu o que era saúde; mas por mais surpreendente que pareça, ele via as aflições como a maior bênção de sua vida. A razão que ele atribuía a isso era que, sendo naturalmente de temperamento esquentado e de disposição ambiciosa, essas visitações da divina providência "desmamaram" suas afeições do mundo e trouxeram cada paixão à sujeição de Cristo. Ele mencionou isso várias vezes ao seu amigo, Thomas Abney, em cuja casa ele viveu muitos anos (John Whitecross).