13. REVELAÇÃO E CONVERSÃO

"A lei do Senhor é perfeita, e revigora a alma. Os testemunhos do Senhor são dignos de confiança, e tornam sábios os inexperientes" (Salmo 19.7).

 

As árvores são conhecidas pelo seu fruto, e os livros por seu efeito sobre a mente. Não é pela elegância de sua maneira de dizer, e sim pela excelência de sua influência que um livro deve ser avaliado.

Por "a lei do Senhor" Davi quer dizer a revelação toda de Deus, até onde já tinha sido dada em seus dias; mas sua observação é igualmente verdadeira de tudo que Deus se agradou dizer através de seu Espírito.

Esta lei santa pode ser julgada pelo seu efeito sobre nós mesmos. Ela toca na própria alma do ser humano, com o melhor resultado concebível; e por isso o salmista fala dela da maneira admirável como sendo tanto perfeita como certa.

 

I. A OBRA DA PALAVRA DE DEUS NA CONVERSÃO.

Não à parte do Espírito, mas conforme é usada pelo Espírito para diversos fins, tudo necessário para a salvação.

1. Convencer os homens do pecado: eles vêem o que a perfeição é, que Deus a exige, e que eles estão longe dela.

2. Afastar os homens de falsos métodos de buscar salvação, e trazê-los ao desespero, cercando-os para encaminhá-los ao método que Deus tem para salvá-los.

3. Revelar o caminho de salvação, pela graça, através de Cristo, por fé.

4. Habilitar a alma a abraçar Cristo com todo o seu ser. Apresentando promessas e convites, que são abertos ao entendimento e selados ao coração.

5. Aproximar o coração para estar cada vez mais perto de Deus. Emoções de amor, desejos de santidade, devoção, auto-exame, amor com outras pessoas, humildade etc. - todos estes são agitados, sustentados e aperfeiçoados no coração pela Palavra de Deus.

6. Restaurar a alma quando vagueia. Renovando ternura, esperança, amor, alegria etc. com suaves lembretes.

7. Aperfeiçoar a natureza. Os mais altos vôos de gozo santo não estão acima nem além da Palavra. Nada é mais puro nem mais elevado do que a Escritura Sagrada. A Palavra também mata todo pecado, promove toda virtude, prepara para todo dever.

 

II. A EXCELÊNCIA DESTE TRABALHO FEITO PELA PALAVRA.

As operações da graça pela Palavra são totalmente boas e não más, e são de horas certas e equilibradas com infinita prudência. A Palavra do Senhor funciona com perfeição e segurança.

1. Remove desespero sem apagar o arrependimento.

2. Dá perdão, mas não cria presunção.

3. Dá descanso, mas anima a alma a progredir.

4. Respira segurança, mas estimula vigilância.

5. Concede força e santidade, mas não cria ostentação.

6. Dá harmonia a deveres, emoções, esperanças, e alegrias.

7. Leva o homem a viver para Deus, diante de Deus, e com Deus, contudo não o faz menos apto para os deveres diários da vida.

 

III. A EXCELÊNCIA CONSEQÜENTE DA PALAVRA.

1. Nós não precisamos acrescentar nada a ela se queremos assegurar conversão em qualquer caso especial, ou em maior escala.

2. Nós não precisamos deixar de dar qualquer doutrina por medo de amortecer a chama de um verdadeiro avivamento.

3. Nós não necessitamos de dons extraordinários com os quais pregála: a Palavra fará seu próprio trabalho.

4. Temos apenas que seguir a Palavra para ser convertido. Seria inútil correr atrás de doutrina nova na esperança de ser afetado mais poderosamente. O velho é melhor, e nada melhor do que o velho Evangelho pode ser imaginado. Ele se adequa às necessidades de um homem como uma chave se ajusta à fechadura.

5. Só temos que ficar com ela para nos tornarmos verdadeiramente sábios: sábios como os idosos, sábios como a necessidade exige, sábios com a era, sábios como a eternidade demanda, sábios com a sabedoria de Cristo.

- Agarre-se às Escrituras.

- Estude toda a revelação de Deus.

- Use-a como seu principal instrumento em todo serviço santo.

 

INSTÂNCIAS MODERNAS

Uma prova notável de que a Bíblia é a sua própria testemunha é dada por um escritor de Oporto, que registra a seguinte resposta de um homem que ele encontrou acocorado numa valeta, à pergunta sobre que livro ele estava lendo: "Bem, se você não vai trair-me, eu confesso que este é um Novo Testamento. Comprei-o de um homem que estava vendendo tais livros, e resolvi conhecer algo de seu conteúdo. Não ouso contar a ninguém que eu o tenho, nem à minha esposa. Por isso, eu não tenho ninguém para me ensinar. Mas ele não é difícil de entender, porque enquanto eu o leio ele se faz claro para mim."

"O processo de esclarecimento em muitas mentes católicas," diz um observador, "aparece com a forma de uma sombra da experiência de um que vi há apenas poucos dias, na semana passada. Ele sentou-se para ler a Bíblia por uma hora a cada noite, com sua esposa. Dentro de poucas noites ele parou no meio da leitura e disse 'Esposa, se este livro é verdade, nós estamos errados.' Ele leu mais, e daí a poucos dias, disse 'Esposa, se este livro é verdade, nós estamos perdidos.' Preso ao livro, e profundamente ansioso, ele ainda lia, e em mais uma semana exclamou alegremente. 'Se este livro é verdade, nós podemos ser salvos.' Algumas semanas mais de leitura, e ensinados pelo Espírito de Deus através das exortações e instruções de um missionário da cidade, ambos colocaram sua fé em Cristo, e estão agora alegrando-se em esperança" (Christian Treasury).

Eu tenho muitos livros que não posso me sentar para ler; são, na verdade, bons e sadios, mas, como tostões, é preciso ter muitos para ter uma pequena quantia; há livros prata, e uns poucos livros ouro; mas eu tenho um livro que vale por todos eles, chama-se Bíblia (João Newton).

Quanto mais eu vivo, mais alta é minha estimativa de um ministério da pregação expositiva, abraçando toda a palavra de Deus. De propósito, tenho experimentado certas verdades para ver se elas produzirão conversão e não falhei em nenhum caso. Doutrinas extrínsecas, mais remotas, se encontram com certas mentes extrínsecas que não puderam ser alcançadas pela gama usual de ensino. O que pareciam ser as excentricidades da verdade são todas necessárias para impressionar condições excêntricas de pensamento e coração. Em espírito devoto preguei a ressurreição e muitos foram erguidos à vida espiritual. Eu preguei soberania divina quando um reavivamento estava em pleno andamento e isso aprofundou e continuou a obra. A omissão de certas verdades de certos ministérios pode explicar sua aridez. Ai, que ministros cressem que a palavra não precisa de melhoramento, mas já é perfeita, "convertendo a alma", e que ela não requer adequação aos tempos, pois ainda torna sábios os símplices.

Se há qualquer conhecimento que seja plenamente de nossa posse, certamente é aquele que nos vem pela experiência. Que um certo material flutuará na água pode ser provado por um conhecimento de gravidade específica, mas nos sentiremos mais completamente assegurados do fato se já vimos isso experimentado, e consideraremos nossa resposta a quem contesta isso, "Eu já o vi flutuando em água com freqüência," como simplesmente suficiente para silenciar todas as objeções. Sim, nós consideraremos isso como sendo plenamente mais conclusivo do que: "Deve flutuar, porque sua gravidade específica é mais leve do que a água." Neste mesmo princípio - e é o princípio do senso comum -, quão completamente podemos provar que a Bíblia é a Palavra de Deus! Sim, todo cristão leva consigo a prova em sua própria experiência. Uma pobre mulher italiana, vendedora de frutas, havia recebido a palavra de Deus em seu coração, e ficou persuadida da verdade dela. Sentada em sua banca modesta junto à entrada de uma ponte, ela aproveitava todos os momentos que estava desocupada para estudar o volume sagrado. "O que você está lendo aí, minha boa senhora?", perguntou um cavalheiro ao aproximar-se da banca para comprar frutas. "A palavra de Deus", replicou a vendedora de frutas. "A palavra de Deus! Quem lhe disse isso?" "Ele mesmo me disse isso." "Você já falou alguma vez com ele, então?" A pobre mulher sentiu-se um pouco embaraçada, mais especialmente pelo senhor insistir para que ela lhe desse uma prova do que ela cria. Não acostumada a discutir e sentindo-se muito perdida para achar argumentos, ela por fim exclamou, olhando para o alto: "O senhor pode provar para mim, meu senhor, que há um sol lá em cima no céu?" "Provar isso!", ele respondeu. "Ora, a melhor prova é que ele me aquece, e que posso ver sua luz." "É assim comigo também," ela respondeu alegremente, "a prova deste Livro ser a palavra de Deus é que ela me aquece e dá luz à minha alma" (Bertram's Homiletic Encyclopedia).

McCheyne em algum lugar diz: "Pode depender dela; é a palavra de Deus, não o comentário do homem sobre a palavra de Deus, que converte almas." Tenho observado freqüentemente ser este o caso. Um discurso tem sido o meio de convicção ou de decisão, mas geralmente perguntando melhor eu descubro que o instrumento real foi uma citação bíblica dita pelo pregador. Um grande fruto pode conter e nutrir uma pequenina semente; quando o fruto cai ao chão e o rebento aparece, a vida real estava na sementinha, e não na fruta suculenta que a envolvia. Assim a verdade divina está na semente viva e incorruptível: o sermão é tão necessário como a maçã para a sua semente, mas mesmo assim a vitalidade, a energia, o poder para salvar, estava na semente da palavra, e só em um sentido menor na maçã da exposição e exortação humana.