Capítulo 15

ALGUMA AJUDA GERAL PARA A
VIDA CELESTIAL

 

Como você valoriza os deleites dessa antecipação do céu, conscientize-se de realizar as seguintes responsabilidades.

 

I

Saiba que o céu é seu único tesouro, e trabalhe para também saber que tesouro é esse. Convença-se, de uma vez por todas, de que não existe outra felicidade e, depois, convença-se da felicidade que existe ali. Se você não acredita que esse é o bem principal de sua vida, você jamais dedicará seu coração a ele; e essa convicção deve ficar imersa em seus sentimentos; pois se for apenas uma noção, ela não será muito útil. [...] Enquanto seu julgamento a menosprezar, seus sentimentos não serão calorosos em relação a esse tesouro. [...] Se seu julgamento algum dia preferir os deleites da carne, em vez dos deleites da presença de Deus, é impossível que seu coração chegue até o céu. Como a ignorância quanto ao vazio das coisas aqui embaixo é o que leva os homens a valorizá-las em demasia, também é a ignorância dos sublimes deleites das alturas que leva os homens a se importar tão pouco com eles. Se você vir uma bolsa cheia de ouro, e acreditar que esse ouro não passa de contas ou pedras, então essa bolsa não instigará seus sentimentos por ela. O que provoca o desejo não é a maravilha em si de algo, mas a maravilha conhecida. Se um homem ignorante vir um livro contendo os segredos das artes, ou das ciências, ele, entretanto, não o valoriza mais que uma peça comum, pois não conhece seu conteúdo; mas aquele que o conhece, o valoriza muito; e sua mente se volta para ele. [...]

 

II

Trabalhe para conhecer o céu como a única felicidade, e também para que seja a sua felicidade. Embora o conhecimento da maravilha e da adequação possa incitar aquele amor que trabalha por meio do desejo, ainda assim precisa haver o conhecimento de nosso interesse ou propriedade para estabelecer um trabalho contínuo de nosso amor de complacência. Podemos confessar que o céu é a melhor condição, embora possamos nos sentir desesperados ao desfrutá-lo, e podemos desejá-lo e buscá-lo, se percebermos que a obtenção dele é proveitosa e possível; mas jamais nos regozijaremos de forma deleitosa nele até que sejamos persuadidos de que nossa posição ali está garantida. [...] Ó, cristãos, não descansem, portanto, até que possa dizer que esse descanso é seu; não se sente sem ter certeza; fique sozinho e questione-se; traga seu coração para a corte de julgamento; force-o a responder os interrogatórios que você lhe faz; estabeleça, de um lado, as condições do evangelho e as qualificações dos santos, e, de outro lado, seu desempenho em relação a essas condições e qualificações de sua alma, para depois julgar o quanto elas estão próximas. Você tem diante de você a mesma Palavra, aquela por meio da qual deverá ser julgado no grande dia, para julgar por si mesmo agora; faça essas questões agora para si mesmo. Ali você poderá ler os artigos segundo os quais será julgado. [...] Portanto, estabeleça o fundamento do julgamento de forma sábia e ponderada; prossiga nesse trabalho de forma deliberada e metódica; continue com ele até chegar a um resultado firme e diligente; não permita que seu coração escape e saia antes do julgamento, mas faça-o ficar até ouvir sua sentença. Se uma, duas ou três tentativas não forem suficientes, nem alguns dias de interrogatório não o levarem a um resultado, prossiga nessa responsabilidade de forma diligente e incansável e não desista até que o trabalho esteja completo, até que possa dizer se você é, ou não, um membro de Cristo; se esse descanso lhe está, ou não, garantido. Assegure-se de não descansar em incertezas obstinadas. Se você mesmo não pode realizar bem essa responsabilidade, peça ajuda de pessoas preparadas e habilidosas. Procure seu ministro, se ele for um homem de experiência; ou peça a um amigo capaz e experiente; fale abertamente de seu caso e peça para que eles lidem com o assunto com sinceridade; continue a agir desse modo até que tenha certeza. Observe que podem restar algumas dúvidas; mas, ainda assim, você deve ter tanta certeza a ponto de conhecê-las a fundo para que elas não interfiram em sua paz. [...]

 

III

Outra ajuda para adoçar sua alma com a antecipação desse descanso é esta: trabalhe para perceber o quanto ele está perto; pense seriamente na rapidez com que ele se aproxima. O que pensamos está ao alcance da mão, e somos mais sensíveis a isso que ao que olhamos à distância. Quando escutamos notícias de guerra ou de fome em outro país, isso não nos perturba tanto quanto as notícias de casa; [...] quando a praga chegou a uma cidade cerca de trinta quilômetros de distância, nós não a tememos; não tanto quanto se ela tivesse chegado à rua ao lado da minha. Mas se ela chegasse à porta ao lado ou se acometesse alguém de minha família, então começaríamos a pensar sobre o assunto de forma mais emocional. O mesmo que acontece com as misericórdias acontece com os julgamentos. Quando estamos distantes, referimo-nos a eles como maravilhas; mas quando nos aproximamos deles, regozijamo-nos com eles como verdades. Isso faz com que os homens pensem sobre o céu de forma bastante insensível, pois eles presumem que ele está muito distante. Eles olham para o céu como se estivesse distante cerca de vinte, trinta ou quarenta anos; e é isso que embota os sentidos deles. [...] Certamente, leitor, você está à porta. [...] Não foram os trinta ou quarenta anos de sua vida que passaram rapidamente? Quando olha para trás, não parece que tudo não passou de um breve período de tempo? E todo o tempo que resta também não será breve? [...] Olhe-se no espelho e veja como o tempo voa; olhe para seu relógio e veja como ele anda rápido. É muito breve o tempo que nos separa de nosso descanso; estamos a um passo da eternidade! Enquanto penso e escrevo sobre isso, ele se aproxima rapidamente, e entro nele antes que tome consciência disso. Enquanto você lê isso, ele se apressa, e sua vida desaparecerá como uma história que nos foi contada. [...]

 

IV

Outra ajuda para essa vida consagrada é falar muito seriamente sobre ela, especialmente com aqueles que podem falar do fundo de seu coração e já estão permeados por essa natureza divina. [...] É uma pena que os cristãos gastem tanto tempo em discursos vãos, em altercações tolas e em discussões inúteis, em vez de se dedicarem a falar solenemente a respeito do céu. Acho que deveríamos nos reunir com o propósito de aquecer nosso espírito ao conversarmos sobre nosso descanso. [...] Se as pessoas comuns se reúnem, elas conversam sobre o mundo; [...] e os cristãos também não deveriam deleitar-se em falar sobre Cristo, e os herdeiros do céu, sobre sua herança? Isso pode fazer com que nosso coração reavive em nós, como aconteceu com Jacó ao ouvir a mensagem que o chamava a Gósen e ao ver as carruagens que o levariam até José. Ó que estivéssemos equipados, com habilidade e resolução, a converter a cor-rente dos discursos habituais dos homens às coisas mais sublimes e preciosas! [...]

 

V

Outra ajuda para essa vida celestial é esta: tome para si a responsabilidade de elevar seus sentimentos em todas suas atividades para mais próximo do céu. As realizações dos homens e o que eles recebem de Deus são respostas aos desejos e aos objetivos deles mesmos; pois eles acham aquilo que buscam com sinceridade. A finalidade de Deus ao estabelecer suas ordenanças era que elas fossem degraus para nosso descanso, e as escadas por meio das quais, em submissão a Cristo, podemos ascender, em nossos sentimentos, diariamente a ele. Permita que essa seja sua finalidade, como foi a de Deus ao ordená-las, e, indiscutivelmente, essas ordenanças não serão infrutíferas. Embora os homens estejam pessoalmente bem distantes uns dos outros, ainda assim eles podem manter um relacionamento por meio de cartas. Como os homens se alegram com algumas linhas de um amigo, embora não possam vê-lo face a face! Que alegria temos quando lemos as expressões de seu amor; ou quando lemos a respeito da prosperidade e bem-estar de nosso amigo! [...] E não podemos ter um relacionamento com Deus por meio de suas ordenanças, embora estejamos bem distantes dele? Nosso espírito não pode regozijar-se ao ler essas linhas que contêm nosso legado e nossa garantia de que temos o céu? Com que alegria podemos ler as expressões de amor e ouvir sobre nossa posição no país celestial! Com que gritos triunfais aplaudimos nossa herança, apesar de ainda não termos a felicidade de vê-la! Homens separados por mares e terras podem, mesmo assim, por meio do relacionamento por cartas, fazer grandes e proveitosos negócios, cujo valor chega às vezes ao equivalente de todos seus bens e suas terras; e os cristãos, por meio da sábia melhoria de suas responsabilidades, não podem seguir adiante com esse feliz intercâmbio para obter esse descanso? Portanto, não venha com finalidades menores as suas responsabilidades; renuncie à formalidade, ao hábito e ao aplauso. Quando você se ajoelha em segredo ou em uma oração coletiva, permita que isso aconteça com a esperança de conseguir com que seu coração chegue mais próximo de Deus, antes de se levantar. Quando você abre sua Bíblia, ou qualquer outro livro, permita que isso aconteça com a esperança de encontrar uma passagem que contenha uma verdade divina, e outras com tantas bênçãos do Espírito, a ponto de seus sentimentos se aproximarem do céu e lhe darem a possibilidade de o saborear mais plenamente. Quando você põe os pés à porta de sua casa, para ir para suas ordenanças ou culto, diga: "Espero que, antes de voltar para casa, obtenha algo de Deus que faça com que meus sentimentos se elevem; espero que o Espírito venha me encontrar e adoçar meu coração com os deleites celestiais; espero que Cristo apareça para mim em meu caminho, brilhe ao meu redor com a luz do céu, e deixe-me ouvir sua voz instrutiva e rever a Gósen reavivadora, e faça com que as escamas caiam de meus olhos para que possa ver a glória de uma forma que jamais vi; espero que antes que volte a minha casa, o Senhor pegue meu coração em sua mão, e traga-o para ter uma visão do descanso, e deposite-o na presença de seu Pai para que eu possa retornar, como os pastores após a visão celestial, glorificando e louvando o Senhor por todas as coisas que ouvi e vi!". [...] Se essa for nossa finalidade e nosso caminho, quando começarmos nossas responsabilidades, não seremos tão estranhos ao céu. [...]

 

VI

Outra ajuda é esta: faça com que tudo--todo objeto que vir, e toda passagem da divina providência, e tudo que faça parte de suas responsabilidades e chamado--seja proveitoso para lembrar sua alma de seu descanso que se aproxima. Como todas as providências e as criaturas são os meios para nosso descanso, então elas também nos apontam para ele como sua finalidade. Toda criatura tem o nome de Deus e nosso descanso final escritos nela, e isso um crente atencioso pode verdadeiramente discernir, da mesma forma que pode ler, em uma placa em uma encruzilhada, o nome da cidade ou vilarejo na direção em que ela aponta. Esse uso espiritual das criaturas e das providências é a grande finalidade de Deus ao entregar-lhes aos homens; e eles, à medida que ignoram essa finalidade, necessariamente roubam de Deus seu maior louvor e negam grande parte do agradecimento que devem ao Senhor. A relação que nossas misericórdias presentes têm com nossas misericórdias eternas é a quintessência mesma e o espírito de todas essas misericórdias; os homens, portanto, perdem o espírito mesmo de todas as misericórdias e pegam apenas a casca e as migalhas, se ignoram essa relação, e não retiram a doçura delas em sua contemplação. A doçura de Deus, ao lidar conosco agora, se não sugerisse alguma doçura a mais, não representaria nem metade dessa doçura. [...] Não é a mesma coisa receber dez centavos apenas como dez centavos e recebê-los como sinal de uma fortuna; embora a soma seja a mesma, a relação estipulada faz uma grande diferença. Você, quando recebe suas misericórdias, mas se esquece de sua coroa, pega apenas o simples sinal e ignora a soma total. Ó, no entanto, os cristãos são habilidosos nessa arte! [...] Se você prosperar no mundo, e se seu trabalho for bem-sucedido, permita que ele o torne mais sensível em relação a sua perpétua prosperidade; se você estiver fatigado de seu trabalho, permita que o pensamento de seu descanso o torne mais doce; se as coisas são contrárias e difíceis para você no mundo, permita que isso o leve a desejar de forma mais genuína aquele dia em que todas suas tristezas e todos seus sofrimentos devem cessar. Seu corpo se revigora com o alimento e o descanso? Lembre-se do revigoramento inimaginável que teremos com Cristo. [...] Assim, você pode ver que vantagens para a vida consagrada todas as condições e as criaturas nos oferecem, se apenas tivermos coração para apreendê-las e melhorá-las. [...] E assim como os homens ensinaram seus pombos a levar mensagens a vários lugares, cartas de amizade de um amigo para o outro, percorrendo grandes distâncias, também um cristão sábio e diligente pode levar seus pensamentos ao céu e receber, por assim dizer, resposta de lá pelas mãos de criaturas com asas mais vagarosas que as dos pombos, por meio do auxílio do Espírito, o Pombo de Deus. Esse é o verdadeiro vôo dedáleo; e, assim, podemos tirar de cada pássaro uma pena e fazer uma asa para que possamos voar para Cristo.

 

VII

Outra ajuda singular é esta: esteja muito naquele trabalho angelical de louvor. Como os espíritos mais consagrados se ocuparam das responsabilidades mais consagradas, então quanto mais consagrada a responsabilidade mais ela contribuirá para que o espírito seja consagrado. Embora o coração seja a fonte de todas nossas ações, e as ações, usualmente, sejam da mesma qualidade do coração, ainda assim aquelas ações são um tipo de reflexão e trabalham muito no coração de onde brotam: o mesmo pode ser dito de nossas falas. Assim, o trabalho de louvar a Deus, o trabalho mais consagrado, provavelmente nos eleva à condição mais alta na consagração. Essa é a ocupação daqueles santos e anjos, e essa será nossa ocupação por toda a eternidade. Se nos ocupássemos mais com essa responsabilidade agora, seríamos mais parecidos com o que seremos na outra vida. [...] O emblema mais vivo do céu que conheço na terra é quando o povode Deus, no sentido mais profundo das maravilhas e da recompensa do Senhor, une o coração e a voz nos louvores alegres e melodiosos provenientes do coração cheio de amor e alegria. Aqueles que negam, em nosso tempo, o uso legítimo de salmos da Escritura em cantos revelam seu coração terreno e inexperiente, como também, assim considero, essa compreensão é bastante inadequada e inepta. Se tivessem sentido os deleites celestiais que muitos de seus irmãos que desempenhavam essa responsabilidade sentiram, acho que teriam outra opinião em relação ao assunto. [...] Mas a doce experiência seria um poderoso argumento e ensinaria o cristão sincero a dedicarse com afinco ao exercício dessa responsabilidade que eleva a alma.

Não sabemos como prejudicamos a nós mesmos ao eliminar de nossas orações o louvor a Deus, ou ao permitir que ele tenha espaço tão restrito, como fazemos habitualmente, enquanto somos copiosos em nossas confissões e petições. Leitor, imploro a você para que se lembre disto: permita que os louvores ocupem um espaço maior em suas responsabilidades; mantenha à mão material para alimentar seu louvor, como também suas confissões e petições; [...] permita que o louvor a Deus esteja muito em sua boca, pois, na boca dos corretos, o louvor a Deus é agradável. [...] Confesso que em um corpo abatido, em que o coração desfalece, e o espírito é frágil, o louvor alegre a Deus é mais difícil; como o corpo é o instrumento da alma, e quando repousa sem cordas, ou está desafinado, é provável que a música seja conformemente sombria. Ainda assim, quando há alegria espiritual em seu interior, e o coração está alegre, e a voz, no comando, que vantagem isso tem para essa responsabilidade consagrada! [...]

 

VIII

Se você tivesse seu coração no céu, ocuparia sua alma com os pensamentos da fé verdadeira quanto ao infinito e inesgotável amor de Deus. O amor atrai o amor. Nenhum coração humano se ocupa dele [...], se não o amar muito. Há poucos homens muito vis, mas que amam aqueles que o amam, e assim não são tão desprezíveis. Sem dúvida, ter pensamentos duros e cheios de dúvida em relação a Deus representa a morte de nossa vida celestial. [...] Se apenas conseguíssemos pensar em Deus da forma que pensamos em um amigo! O Senhor é aquele que verdadeiramente nos ama, muito mais do que nós nos amamos; o coração do Senhor se volta para nós para nos fazer o bem e, portanto, proveu uma habitação eterna para que habitássemos com ele para toda eternidade; então, não seria tão difícil de ter ainda nosso coração com ele. Pensamos com mais doçura e mais constantemente naqueles que amamos com maior fervor; e nada estimularia mais nosso amor que a fé de que ele nos ama. Assim, busque a idéia da natureza amorosa de Deus e armazene todas as experiências e descobertas de seu amor para com você; e, depois, veja se isso não o ajuda a ter uma mente mais con-sagrada e voltada para o céu. [...]

 

IX

Outra coisa que aconselharia você a fazer é isto: seja um observador cuidadoso do mover do Espírito, tema sufocar seus movimentos e resistir a sua obra. Se, alguma vez, sua alma ficar acima da terra esefamiliarizar com a vida do céu, o Espírito de Deus será, para você, o que a carruagem foi para Elias; sim, o princípio mesmo por meio do qual você deve se mover e ascender. [...] Quando o Espírito o estimula à oração secreta, e você recusa-se a lhe obedecer; quando ele lhe proíbe de prosseguir com suas transgressões conhecidas, e você, mesmo assim, prossegue com elas; quando ele lhe diz qual é o caminho que deve seguir e qual deve evitar, e você não lhe dá ouvidos; nesse caso, não é de admirar que o céu e sua alma não estejam familiarizados um com o outro. Se você não segue o Espírito quando ele o atrai para Cristo e a sua responsabilidade, como ele pode leválo ao céu e trazer seu coração à presença de Deus? Ó, aquele que está acostumado a obedecer com freqüência ao Espírito, que ajuda sobrenatural, que acesso ousado sua alma deve encontrar em suas aproximações do Todo-Poderoso. [...] Suplico a você, leitor cristão, que aprenda bem essa lição e experimente esse caminho; permita que não só os movimentos de seu corpo, mas também os pensamentos de seu coração, estejam no riacho do Espírito. Você, às vezes, não sente um grande impulso para se retirar do mundo a fim de se aproximar de Deus? Ó, não desobedeça a esse impulso, mas aceite essa oferta e levante a vela enquanto puder ter esse abençoado vento forte. Quando o vento sopra mais forte, você vai mais longe, quer para frente quer para trás. Quanto mais resistimos a esse Espírito, mais profunda é a ferida; e quanto mais obedecemos a ele, mais rápido é nosso passo; como aquele que tem o vento contra sua face se torna mais pesado, também aquele em quem o vento bate em suas costas caminha mais facilmente.

Finalmente, aconselho [...] que você não negligencie o cuidado devido à saúde do corpo e que mantenha uma alegria vigorosa em seu espírito; e não mime nem agrade demais sua carne. Aprenda como andar com prudência com seu corpo. O servo útil é aquele que dá a seu corpo o que lhe é devido, e só o que lhe é devido; mas ele se torna o tirano mais predador se você lhe der o controle, ou o fizer sofrer para obter o que ele irracionalmente deseja. E ele será como uma faca cega, um cavalo manco, ou um boi inanido, se você o prejudicar ao negar-lhe o que é necessário para sua subsistência. Quando consideramos como o homem muitas vezes ofende seu corpo com os dois extremos, e como poucos deles usam seu corpo corretamente, não é de admirar que haja tantos impedimentos em sua conversão para o céu. [...] Observe isso em especial, você é jovem, e saudável, e cheio de cobiça. [...] Você ama ter sua faca afiada e todos os instrumentos que usa em ordem: quando seu cavalo caminha cheio de entusiasmo, como você viaja com alegria! A alma também precisa de um corpo sadio e alegre. Se os que abusam de seu corpo e negligenciam sua saúde fizessem apenas mal para a carne, a questão seria de menor importância, mas eles acabam por arruinar a alma também; como aquele que estraga a casa faz malefícios para seus habitantes. Quando o corpo está doente, a disposição definha, e aí nos movemos pesadamente nessas meditações e alegrias! No entanto, quando Deus nega essa misericórdia, é melhor suportar isso, pois o Senhor, muitas vezes, proporciona nosso benefício por meio da negação.