Introdução
Que todas as orações já oferecidas possam ser respondidas
abundantemente e com presteza! Que mais rogos dessa natureza possam seguir
à prece em que já nos unimos! A parte mais memorável
das conferências passadas tem sido sempre a santa união da
oração de fé, e creio que não diminuímos
nosso empenho em relação a isso, e sim temos sido mais fervorosos
e prevalentes na intercessão. De joelhos, o crente é invencível.
Já me preocupo com esta mensagem muito antes de proferi-la: com
certeza, para mim é o fruto de muitas orações. Desejo
ser capaz de falar bem em ocasião tão digna, em que os melhores
oradores podem ser convocados, mas, como a oração de nosso
irmão já disse, quero estar completamente nas mãos
do Senhor nesse assunto como em todos os outros. Estaria disposto a falar
de forma balbuciante se assim o propósito de Deus pudesse ser mais
completamente alcançado; até ficaria contente de perder todo
o poder de fala se, ao ficar faminto de palavras humanas, vocês puderem
se alimentar melhor daquela carne espiritual que só nele é
encontrada, a Palavra de Deus encarnada.
Posso dizer-lhes, como oradores, que estou persuadido de que devemos nos
preparar com diligência e procurar fazer nosso melhor para servir
o Mestre. Creio ter lido que quando um punhado de gregos, como leões,
impediu a passagem dos persas, um espião, que veio ver o que estavam
fazendo, voltou e disse ao grande rei tratar-se de pobres criaturas, pois
estavam ocupados em pentear seus cabelos. O déspota viu as coisas
sob uma luz verdadeira quando aprendeu que um povo que podia ajeitar o
cabelo antes que a batalha passasse a ser importante para eles, não
aceitaria uma morte de covarde.
Ao ser muito cuidadosos em usar nossa melhor linguagem para proclamar verdades
eternas, deixamos nossos adversários concluírem que somos
ainda mais cuidadosos em relação às próprias
doutrinas. Não podemos ser soldados desmazelados quando uma grande
batalha está diante de nós, pois isso poderia parecer desânimo.
Na batalha contra a falsa doutrina, e mundanismo, e pecado avançamos
sem nenhum temor em relação ao resultado final; portanto,
nossa fala não deve ser de áspera paixão, e sim de
princípio bem considerado. Não nos é permitido ser
desmazelados, uma vez que queremos ser triunfantes.
Nessa hora, faça bem seu trabalho, para que todos vejam que você
não fugirá dele. O persa quando, em outra ocasião,
viu um pequeno número de guerreiros avançando em sua direção
disse: "Aquele punhado de homens! Certamente não estão
dispostos a lutar!". Contudo, alguém, que estava perto, disse:
"Sim, estão, porque poliram seus escudos e lustraram suas armaduras".
Homem é sinônimo de ocupação, ele depende dela
quando não se apressa para a desordem. Entre os gregos, quando tinham
um dia sangrento pela frente, preocupavam-se em estar bem apresentáveis
para mostrar a firme alegria de guerreiros.
Irmãos, creio que quando temos uma grande obra para fazer por Cristo,
e tencionamos fazê-la, não devemos subir ao púlpito
ou plataforma para dizer a primeira coisa que vem à mente. Ao falar
por Jesus, devemos fazê-lo da melhor maneira, ainda que homens não
sejam mortos pelo brilho de escudos nem pela maciez do cabelo de um guerreiro,
mas se faz necessário um poder superior para penetrar as armaduras.
Ao Deus dos exércitos, ergo os olhos. Possa ele defender o certo!
No entanto, avanço sem nenhum passo descuidado e sem ser possuído
por qualquer dúvida. Somos fracos, mas o Senhor nosso Deus é
poderoso, e a batalha é do Senhor, não nossa.
Até certo ponto, tenho apenas um temor: que meu profundo senso de
responsabilidade não diminua minha eficiência. Um homem pode
sentir que deve fazer algo tão bem e, por isso, pode não
conseguir fazê-lo tão bem quanto poderia. Um sentimento excessivo
de responsabilidade pode paralisar a pessoa. Certa vez, recomendei um jovem
para ser empregado por um banco, e, com razão, seus amigos o instruí-ram
para que fosse muito cuidadoso com seus números. Ele ouviu vezes
sem-fim esse conselho. Tornou-se tão cuidadoso que ficou inseguro
e apesar de que anteriormente fizesse seu trabalho corretamente, a ansiedade
o fazia cometer um erro após outro, até que saiu do emprego.
É possível ficar tão ansioso em relação
ao assunto e ao como falar a ponto de bloquear seu desempenho e esquecer
aqueles pontos específicos que pretendia enfatizar.
Irmãos, eu lhes conto alguns de meus pensamentos particulares porque,
como recebemos o mesmo chamado e temos as mesmas experiências, é
bom saber que é assim com todos. Nós líderes temos
as mesmas fraquezas e dificuldades que vocês, seguidores. Precisamos
preparar, mas também confiar naquele sem o qual nada começa,
continua nem termina corretamente.
Tenho esse consolo, mesmo que eu não fale adequada-mente sobre o
tema, o tópico fala por si mesmo. Há uma coisa, mesmo no
iniciar um assunto apropriado. Se um homem fala bem sobre um assunto que
não tem nenhuma importância prática, seria melhor que
não tivesse falado. Como disse um dos anciãos: "É
fútil falar muito sobre um assunto que não vem ao caso".
A pessoa pode esculpir um caroço de cereja com a maior habilidade
e por mais que faça, é apenas um caroço de cereja;
enquanto um diamante, mesmo que mal lapidado, é uma pedra preciosa.
Se o assunto for de peso, mesmo que a fala do homem não esteja à
altura do tema, ainda assim, nunca é inútil chamar a atenção
para o assunto. Os assuntos que trataremos agora devem ser considerados,
e considerados neste momento. Eu escolhi verdades atuais e prementes, e
se meditar consigo mesmo sobre elas, esse tempo não é perdido.
Oro com muito fervor interior, para que todos possamos aproveitar esse
tempo de meditação!
Felizmente, esses tipos de temas podem ser exemplificados nesta mensagem.
Como um ferreiro ensina seu aprendiz enquanto faz uma ferradura; sim, e
por meio do fazer uma ferradura; assim nossos sermões podem ser
exemplos da doutrina que contêm. Nesse caso, se o Senhor está
conosco, podemos praticar o que pregamos. Um professor de culinária
ensina seus alunos fazendo suas receitas. Ele prepara um prato diante de
seu auditório e enquanto descreve as iguarias e seu preparo, ele
mesmo prova a comida, e seus amigos são também agraciados.
Ele alcançará êxito ao fazer seus pratos delicados,
mesmo que não seja eloqüente. É mais fácil o
homem que alimenta ser bem sucedido, do que aquele que apenas toca bem
um instrumento e só deixa em seu auditório a lembrança
daquele som agradável. Se os assuntos que trazemos à atenção
de nosso povo são bons em si mesmos, eles compensarão nossa
falta de perícia em apresentá-los. Enquanto nossos hóspedes
receberem a carne espiritual, o criado que serve à mesa deve ficar
contente em ficar esquecido.
Meus tópicos têm a ver com a obra de nossa vida, com a
cruzada contra o erro e o pecado no qual estamos envolvidos. Espero
que cada homem aqui use a cruz rubra em seu coração e esteja
comprometido para agir e ousar por Cristo e sua cruz e que não fique
satisfeito até que os inimigos de Cristo sejam extirpados, e o próprio
Cristo esteja satisfeito. Nossos pais falavam sobre "A Causa de Deus
e da Verdade", e é para isso que empunhamos armas, os poucos
contra os muitos, os fracos contra os poderosos. Ah, sermos vistos como
bons soldados de Jesus Cristo!
Neste momento, três coisas são de extrema importância,
na verdade, sempre estiveram e estarão na fileira de frente para
propósitos práticos. A primeira é nosso arsenal,
a Palavra inspirada; a segunda, é nosso exército,
a igreja do Deus vivo convocada por ele mesmo, a qual devemos liderar sob
o comando de nosso Senhor; e a terceira, é nossa força,
pela qual vestimos a armadura e brandimos a espada. O Espírito Santo
é nosso poder de ser e atuar; de sofrer e servir; de crescer e batalhar;
de lutar e vencer. Nosso terceiro tema é de suma importância,
e embora esteja como último, o consideramos o primeiro.