CAPÍTULO I

PREFÁCIO

Colossenses tem apenas 95 curtos versículos e pode ser lido de oito a dez minutos. Ainda assim é um livro para meditação, um livro para embeber a alma, um livro a cujas insondadas profundezas espirituais nós demos descer e ver as gloriosas e escondidas verdades da pessoa que apressadamente passa por elas. Colossenses revela seus tesouros àqueles que desejam pôr em prática os princípios básicos da nova vida em Cristo.

Paulo, o autor de Colossenses, tinha sido levado para Roma como prisioneiro e lá esperava ser julgado por César. Enquanto lá estava, Epafras veio com notícias da Igreja Colossense--tanto dos seus progressos como das suas dificuldades. Paulo ficou perturbado e resolveu por fim a certas tendências na Igreja. Ele assim o fez lançado a luz das glórias de Cristo sobre eles. Mas antes que Epafras pudesse retornar com a carta, foi aprisionado (Filemon 23). Porisso, esta carta foi enviada pelas mãos de Tíquico (4:7-9).

Vamos olhar por sobre os ombros dos anciãos de Colossos enquanto eles lêem esta carta daquele grande guerreiro, Paulo. Ao focalizarmos nossos corações na mensagem, nossos desejos, nossos planos e nossos prazeres perdem sua significação. Em seu lugar permanece Jesus Cristo, o majestoso Filho de Deus. Vistas em relação a Ele, todas as pessoas e todas as coisas reduzem-se ao seu tamanho real. Poucas passagens da Escritura ascendem às alturas cristológicas atingidas nesta carta de Paulo aos colossensses. Paulo rejeita o conceito de não ser Jesus nem Deus nem Homem. Em vez disso, Ele é declarado ser ambas as coisas. É um glorioso hino de louvor, exaltação e adoração a Jesus Cristo--o Filho de Deus e homem perfeito.

Esboço. Que escreveu Paulo? Depois de uma breve introdução Paulo apresenta seu desejo de duplo aspecto para o crente: que ele conheça a vontade de Deus e que ele conheça o valor da pessoa e da obra de Jesus Cristo. Daí Paulo mostra sua relação com a Igreja em geral e com a Igreja Colossense em particular. Depois de lançar este fundamento, ele faz a tremenda proclamação de que Cristo é igual a Deus e superior a TODOS os outros "seres". Deste alto ponto concluido em 2:15 o Apóstolo brada dois grandes avisos: "Não consintais que coisa alguma usurpe o lugar de Cristo" e "Não consintais que pessoa alguma faça com que O negueis". Então, com um grande "Pelo que" ele lança-se nas várias relações do crente: primeiro com Cristo, em seguida com o mal e o bem e, finalmente, de um para com outro. O capítulo quatro uma espécie de coleção de exortações e informações. Nós bem podemos considerá-lo uma conclusão prolongada, o resumo de um número de pontos mais ou menos relacionados.

A heresia. Que os falsos mestres eram de conviccão judaica deduz-se pela menção do sábado e da explicação concernente à circuncisão e à lei. (2:16,13,14). Ao mesmo tempo eles pelo menos fingiam ser crentes, de outra forma sua influência não teria sido perigosa. Eles criticavam Paulo e chamavam o seu Evangelho de defeituoso. "Com estes Judaizantes Essênios ou Gnósticos a Lei Mosaica não era nem o motivo, nem o padrão, era apenas o ponto de partida para suas severidades."1 Sua heresia estava principalmente em dois campos: primeiro, na ética; isto é numerosos regulamentos elaborados da Lei de Moisés (2:16-23). Desde que a matéria era considerada má, estas regras tomaram a forma, em larga escala, de uma restrita abstinência ascética de certos alimentos e bebidas, na base de que somente desta forma "era possível ao crente obter liberdade adequada da matéria e das forças que regem a mesma."2

O segundo elemento da sua heresia era teológico; isto é, envolvia a pessoa de Cristo. Embora eles adorassem ao Senhor, exaltavam e proclamavam que certos seres espirituais possuiam vastos poderes mediadores (1:16) . Desde que eles eram judeus e cristãos, por pouco deixaram de adorar estes anjos (2:18).3 Contudo estes espíritos não eram capazes de ligar a brecha existente entre Deus e os homens, porque não eram eles nem homens, nem Deus.

Propósito. Escrevendo para corrigir as idéias falsas que estavam devastando as Igrejas de Colossos e Laodicéia, o grande apóstolo abriu as portas para nos mostrar grandes variedades que de outra maneira nunca teriamos conhecido . Ele destroi sua falsa ética mostrando que a verdadeira santificação vem por andarmos com Cristo; isto é, completa identificação com Ele (2:6, 19, 20; 3:1-3, 10). Não devemos matar nossos corpos físicos, mas em lugar disso, matar os desejos e ações da nossa velha natureza (3:5-9). Devemos substituí-la pelo desenvolvimento das virtudes cristãs (3:10-17) . Paulo igualmente destroi sua falsa teologia mostrando o quanto a pessoa e o trabalho de Jesus Cristo excedem o de todos os outros seres (1:14-22). Por isso ele anula a necessidade desses ídolos. A medida que Paulo combatia idéias e erros específicos, ia deixando princípios importantes que têm auxiliado a responder outros problemas surgidos em épocas posteriores.

Composição. A Igreja Colossense era composta na sua maior parte de gentios convertidos (1:21; 2:11, 13). Que havia nela elementos judaicos é visto pela introdução de conceitos judaicos (ver acima) . Havia, de fato, uma grande colônia judaica situada em Laodicéia e cidades vizinhas . Embora a maior parte da igreja permanecesse firme nos dias de Paulo (2:5), a prontidão para seguir estes mesmos ensinos heréticos permaneceu, como deduz-se por alguns dos cânones votados por um concílio eclesiástico reunido em Laodicéia nos meados do século quarto.4 Aparte esta referência indireta, a história da Igreja Colosscnse permanece na obscuridade.

Autoria paulina. A mais antiga referência a Colossenses ainda existente é uma má interpretação de 2:18 na Pregação de Pedro, a qual foi composta. perto de 100 A. D. Cerca de 45 anos mais tarde ela aparece no Apostolicon de Marcion como uma genuina carta de Paulo. Estas duas referências são suficientes para colocar a autoria bem dentro do primeiro século cristão. Além disso, não há razão para um falsário do segundo século citar Colosos como destinatário desta carta em lugar de alguma igreja famosa . "Na literatura inteira da igreja primitiva Colossos não é mencionada nem uma só vez."5 Se a carta foi forjada, suas notícias pessoais e históricas são uma "obra prima sem paralelo" na literatura antiga, vendo-se como elas são absolutamente independentes e contudo não contraditórias às outras cartas paulinas do período. Os críticos de Colossenses têm sido incapazes de demonstrar, que as condições históricas não existiram até mais tarde, nem que a linguagem e o estilo não se harmonizam com as epístolas aceitas como sendo de Paulo. Por isso nós aceitamos Colossenses sem reservas, como uma epistola genuina de Paulo.

Data . Há inúmeras razões para se escolher a prisão em Roma em vez da de Cesaréia. Contra esta última estão as seguintes considerações:

1) Na enumeração de seus cooperadores Paulo dificilmente teria omitido o evangelista. Filipe, com quem tinha estado alojado pouco antes da sua prisão (Atos 21:8-14) . 2) Não há sugestão em Atos da atividade extensa de pregação mencionada nas epistolas companheiras, Colossenses e Filipenses. 3) É difícil imaginarmos o que poderia induzir o escravo pagão, fugitivo, Onésimo, a ir para Cesaréia, sendo que Roma estava cheia de pessoas como ele. 4) Paulo esperava para breve sua libertação (Filip. 1:19-25), o que estava fora de cogitação em Cesaréia, desde que ali ela só poderia ser conseguida por meio de suborno. Por isso, a carta foi escrita de Roma, provavelmente durante o segundo dos dois anos mencionados em Atos 28:30.

Texto. A base para o estudo foi o Novo Testamento Grego, conforme edição do Dr . Erwin Nestle. Portanto, quem estiver seguindo a versão de Almeida ocasionalmente encontrará uma diferença no texto. Em nenhum ponto, contudo, é uma doutrina importante modificada de maneira alguma por estas correções. Os dois manuscritos mais antigos e mais importantes de Colossenses são: um papiro do terceiro século (p 46) e um codex do quarto século (B). Sua combinação é considerada praticamente conclusiva como sendo o texto original. De outro lado, o TEXTUS RECEPTUS, sobre o qual a Versão de Almeida. foi feita, representa manuscritos do nono século.

Há apenas 56 diferenças (cerca de 3 por cento) entre o texto de Nestle e o velho TEXTUS RECEPTUS. Dessas 56, 36 são palavras colocadas como interpolações. Um terço destas está limitado à questão de adicionar ou subtrair a conjunção "e" (vide 3:16), ou o artigo definido "o" (vide 1:16) . Doze diferenças são ocasionadas pelo desvio de pronomes, nomes divinos ou outras palavras. Isto deixa outras oito modificações de vários tipos. Em apenas dois casos (1:4 e 4:8) o Dr. Nestle adicionou palavras que ele conclue que os manuscritos autorizam. Dos 56 casos de variações entre o texto do Dr . Nestle e o TEXTUS RECEPTUS somente quatro6 envolvem três ou mais palavras.

Aqueles que estudam o Novo Testamento em uma tradução podem possivelmente estranharem a causa de certas referências cruzadas serem escolhidas. Embora, possivelmente traduzida por outra palavra. portuguesa, a referência é para a mesma palavra grega e é dada para mostrá-la em outro contexto e para ajudar o leitor a melhor defini-la. Quando a mesma palavra. grega não ocorrer, a referência é introduzida para comparar o sentido da passagem.

No decorrer do comentário aparecem palavras e frases em grifo-maiúsculas. Tais palavras e frases se ajuntam numa nova tradução da carta aos colossenses. Foram incorporadas, nesta, várias frases da revisão feita pela Sociedade Bíblica do Brasil em 1955. De vez em quando uma dessas palavras grifo maiúsculas está colocada entre parenteses, assim (VOSSO) . Como as palavras grifadas na versão de Almeida, estas pa.lavras são necessárias para o senso mas não constam na língua original.