SEÇÃO 2

Contendo um panorama breve de empreendimentos anteriores para a conversão dos pagãos

Antes da vinda do nosso Senhor Jesus Cristo o mundo inteiro era ou pagãos ou judeus, e ambos, como um todo, era inimigos do evangelho. Depois da ressurreição os discípulos continuaram em Jerusalém até Pentecostes. Ocupados todos os dias com orações e súplicas, e depois de escolher Matias para preencher o lugar de Judas no ofício apostólico, naquele dia solene, quando estavam reunidos, ocorreu um derramamento muito notável do Espírito Santo, e foi-lhes concedida uma capacidade de falar em todas as línguas estrangeiras. Pedro aproveitou essa oportunidade para pregar o evangelho a um grande ajuntamento de judeus e prosélitos, originários de Pártia, Média, Elão, Mesopotâmia, Judéia, Capadócia, Ásia proconsular, Frígia, Pamfília, Egito, Líbia, Creta, Arábia, Roma etc, e no primeiro esforço Deus operou com tanto poder que três mil foram convertidos, logo em seguida batizados e acrescentados à igreja. Antes desse acréscimo eles somavam não mais de "aproximadamente cento e vinte pessoas" (At 1.15), mas dali em diante não pararam de crescer. (Atos 2.) Poucos dias depois disso Pedro e João, ao irem para o templo, curaram o paralítico; esse milagre atraiu uma grande multidão, e Pedro usou a ocasião, enquanto eles estavam admirados com o acontecido, para pregar-lhes Jesus Cristo. (Atos 3.) Em conseqüência mais cinco mil creram (At 4.4).

Isto não era feito sem oposição; os sacerdotes e saduceus tentaram todos os métodos que conseguiam inventar para impedi-los de pregar o evangelho. Os apóstolos, entretanto, afirmaram sua autoridade divina e, assim que foram colocados em liberdade, dirigiram-se a Deus, orando que o poder divino ajudasse seus esforços, no que foram atendidos, e seu ministério futuro foi de muito sucesso. Para atender às necessidades dos que estavam engajados nesta boa obra, aqueles dentre eles que tinham posses, ou bens, vendiam-nos, e consagravam o dinheiro para uso divino. (Atos 4.)

Por esta época um homem e sua esposa, fingindo grande espiritualidade, venderam um imóvel e trouxeram uma parte do dinheiro aos apóstolos, dizendo ser tudo; por essa mentira ele e sua esposa foram mortos pela mão de Deus. Essa catástrofe terrível, porém, foi ocasião para muito mais homens e mulheres serem acrescentados à igreja. Os milagres feitos pelos apóstolos, e o sucesso que acompanhava o ministério deles, despertou uma inveja ainda maior nos sacerdotes e saduceus, que os imprisionaram. Desse confinamento um anjo logo ou libertou, e eles foram imediatamente pregar no templo, como lhes fora ordenado. Ali foram presos e levados diante do conselho, onde Gamaliel falou a favor deles, e foram mandados embora. Depois disso continuaram com seu trabalho, felizes por serem considerados dignos de sofrer vergonha pelo nome de Cristo. (Atos 5.)

Por essa época a igreja em Jerusalém tinha aumentado tanto que a multiplicidade das suas preocupações temporais deu motivo a algumas negligências, que provocaram insatisfação. Por isso os apóstolos recomendaram à igreja que escolhesse sete homens consagrados, cuja função seria cuidar dos assuntos temporais, para que eles pudessem "se dedicar à oração e ao ministério da palavra" (At 6.4). Sete foram escolhidos de acordo com isso, sobre os quais os apóstolos oraram, ordenando-os ao ofício de diáconos pela imposição das mãos. Depois que essas coisas foram regulamentadas a igreja cresceu cada vez mais. (Atos 6.) Um desses diáconos, de nome Estêvão, uma pessoa de conhecimento e santidade eminentes, fez muitos milagres, e discutia com muitos argumentos e energia em favor da verdade do cristianismo, o que lhe acarretou diversos opositores. Estes logo buscaram a sua morte, e levaram seu ressentimento a ponto de causar uma perseguição tal que a igreja, que até então tinha estado confinada a Jerusalém, foi dispersa, e todos os pregadores, exceto os apóstolos, foram expulsos, indo para outros lugares pregar a palavra. (Atos 7.1-8.4.)

Um jovem chamado Saulo esteve muito ativo nessa perseguição. Ele tinha sido instruído sob Gamaliel, um membro do Sinédrio, era uma pessoa de gênio promissor, fariseu por profissão, e muito afeito às cerimônias judaicas. Quando Estêvão foi apedrejado ele ficou muito contente, tomando conta das roupas dos executores. Desse tempo em diante ele mesmo foi incendiado com um tal fogo de perseguição que andava ao redor arrastando alguns para a prisão e obrigando outros a blasfemar o nome do Senhor Jesus. Ele também não se contentou em dar vazão ao seu ódio em Jerusalém, mas foi aos sacerdotes principais e obteve documentos com autoridade para fazer o mesmo trabalho em Damaco. No caminho, porém, quando estava quase entrando na cidade, o Senhor mudou seu coração de uma maneira muito maravilhosa, de modo que, ao invés de entrar na cidade para perseguir, começou a pregar o evangelho assim que pôde. Isso acabou lhe acarretando a mesma perseguição que planejara para os outros, a ponto de pôr sua vida em perigo, e os irmãos acharam necessário descê-lo pela muralha da cidade à noite, para que ele pudesse escapar das mãos dos seus inimigos. Dali ele foi até Jerusalém, onde pregou a palavra, mas, perseguido ali, foi até Cesaréia, e dali para Tarso. (Atos 9.1-30.)

Na época dessas dificuldades da igreja Filipe foi e pregou em Samaria com muito sucesso, e o trabalho foi tão grandioso que um impostor, que tinha enganado o povo com truques mágicos por muito tempo, ficou tão impressionado, e até convencido, que se professou cristão e foi batizado. Mais tarde foi detectado e manifesto que ele era um hipócrita. Exceto ele um grande número creu de verdade, foram batizados e uma igreja formada ali. Depois disso o Senhor disse a Filipe que fosse até o caminho que ia de Jerusalém a Gaza, o que ele fez, encontrando um eunuco de muita autoridade na corte da Etiópia, a quem ele pregou Cristo. Este creu e foi batizado; depois disso Filipe pregou em Asdode, ou Azoto. (Atos 8.)

Mais ou menos na mesma época Pedro foi até Lida, ou Diospolis, e curou Enéias da paralisia, o que serviu de instrumento para a conversão não só dos habitantes daquela cidade, mas também da região em redor, que se chamava Sarom, tendo por capital Lasarom. Enquanto ele estava ali ocorreu uma circunstância que ajudou muito a espalhar a verdade. Uma mulher de Jope, um porto nas proximidades, morreu, e eles foram chamar Pedro em Lida. Pedro veio e orou por ela, e ela ressuscitou. Isso foi ocasião para a conversão de muitos naquela cidade. Pedro continuou pregando ali por algum tempo, hospedado na casa de um curtidor de couro. (Atos 9.32-43.)

Depois outra circunstância também ajudou a propagar mais o cristianismo. Um oficial militar romano que tinha algum conhecimento das Escrituras do Antigo Testamento, mas não era circuncidado, certo dia estava orando em sua casa em Cesaréia, quando lhe apareceu um anjo, dizendo-lhe que mandasse vir Pedro de Jope para pregar em sua casa. Antes disso o trabalho de Deus tinha estado confinado totalmente aos judeus e a prosélitos judeus, e até os apóstolos parecem ter tido idéias muito estreitas sobre a dispensação cristã; agora, através de uma visão, Deus revelou a Pedro que o cristianismo deveria ser espalhado entre todas as nações. Ele obedeceu e pregou na casa de Cornélio em Cesaréia, onde diversas pessoas foram convertidas e batizadas, e colocados os fundamentos de uma igreja naquela cidade. (Atos 10.)

Alguns dos obreiros dispersos fugiram para Antioquia na Síria e começaram a pregar aos gregos naquela cidade na mesma época, tendo um bom sucesso. Com isso os apóstolos enviaram Paulo e Barnabé, que os instruíram e fortaleceram, e também nessa cidade foi formada uma igreja, que em pouco tempo enviou vários pregadores eminentes. (Atos 11.19-26.)

Nos Atos dos Apóstolos temos um relato de quatro das principais viagens que Paulo e seus companheiros empreenderam. A primeira, em que ele foi acompanhado por Barnabé, está registrada nos capítulos treze a catorze, e foi a primeira investida contra o mundo pagão. A viagem foi para a Ásia Menor. A caminho passaram pela terra de Chipre. Não demorou muito para eles encontrarem grandes dificuldades, porque Marcos, que tinham levado como obreiro, desertou-os e voltou a Jerusalém, onde, parece, ele pensava que poderia viver com tranqüilidade. Paulo e Barnabé, entretanto, foram em frente. Em cada cidade pregavam a palavra do Senhor, entrando nas sinagogas judaicas e pregando Cristo primeiro a eles, para depois ir aos gentios. Alguns os ouviram com avidez e sinceridade, outros os rejeitavam com obstinação e ódio, e perseguição cruel. Certa ocasião eles tiveram muito trabalho para evitar que as pessoas os adorassem como se fossem deuses, para logo em seguida Paulo ser apedrejado, arrastado para fora da cidade e abandonado como morto. Tendo avançado até Derbe, eles acharam por bem retornar pelo mesmo caminho que tinham vindo, passando em cada cidade onde tinham plantado a boa semente. Na maioria desses lugares, se não em todos, eles encontraram alguns que tinham abraçado o evangelho, exortando-os e fortalecendo-os na fé. Eles os organizaram em igreja, ordenaram anciãos para eles, jejuaram e oraram com eles; tendo-os encomendado assim ao Senhor em quem eles tinham crido, retornaram a Antioquia na Síria, de onde tinham saído, e relataram à igreja tudo o que Deus tinha feito com eles, e como ele tinha aberto a porta da fé para os gentios. (Atos 13, 14.)

Por essa época surgiu uma disputa nas igrejas a respeito da circuncisão, e Paulo e Barnabé foram enviados para Jerusalém, para consultar os apóstolos e anciãos sobre esse assunto. Depois de resolver o assunto eles retornaram a Antioquia com a decisão, acompanhados de Judas e Silas, e permaneceram ali por um período, ensinando e pregando a palavra do Senhor. (Atos 15.1-35.)

Então Paulo propôs a Barnabé, seu cooperador, que visitassem os irmãos nos lugares onde já tinham estado, para ver como iam. Barnabé concordou prontamente com isso, mas surgiu uma diferença de opinião entre eles sobre se deviam levar João Marcos, que os desertara antes. Esses dois servos eminentes de Deus se separaram, e parece que nunca mais viajaram juntos. Entretanto, continuaram servindo na causa de Cristo, apesar de não poderem andar juntos. Barnabé levou Judas e embarcou para Chipre, sua ilha natal, e Paulo levou Silas, passando pela Síria e Cilícia até Derbe e Listra, cidades onde ele e Barnabé tinham pregado em sua primeira viagem. (Atos 15.36-41.)

Ali encontraram Timóteo, um jovem promissor, que convidaram para entrar no ministério.

Quando Paulo estava em Listra, que era o limite da sua primeira viagem, já tendo visitado as igrejas plantadas antes e deixando-lhes as decisões dos apóstolos e anciãos em relação à circuncisão, parece que ele sentiu seu coração se abrir e ser tentado a levar o trabalho glorioso da pregação do evangelho aos pagãos em extensão mais ampla. Com Silas e Timóteo acompanhando-o em sua segunda viagem ele tomou a direção do Oeste, passando pela Frígia e a região da Galácia. Depois de pregar o evangelho com sucesso considerável (At 18.23), ele e seus companheiros quiseram ter ido para a Ásia proconsular, e em seguida tentaram ir para a Bitínia. Foram, porém, impedidos pelo Espírito Santo, que parece ter tido um propósito especial de empregá-los em outro lugar. Passando pela Mísia eles desceram até Trôade, no litoral. Ali Paulo teve uma visão, na qual foi convidado para ir à Macedônia. Obedientes à visão celestial, e muito encorajados por ela, com toda pressa eles atravessaram o mar Egeu, passaram pela ilha de Samotrácia, ancoraram em Neápolis e dali foram até Filipos, a principal cidade daquela parte da Macedônia. Foi aqui que Paulo pregou num sábado para algumas mulheres na beira do rio, e Lídia, uma mulher de Tiatira, foi convertida e batizada, junto com sua família. Foi aqui que uma pobre moça, que dava um lucro considerável aos seus donos predizendo eventos futuros, seguiu os apóstolos, e teve seu espírito de adivinhação expulso. Com isso seus donos ficaram muito irritados, e levantaram um tumulto, em resultado do qual Paulo e Silas foram aprisionados. Mas até isso foi superado pelo sucesso do evangelho, pois o guarda da prisão e toda a sua família foram levados através disso a crer no Senhor Jesus Cristo, sendo batizados. (Atos 16.)

Saindo de Filipos, eles passaram por Anfípolis, Apolônia, Tessalônica (atualmente Saloniki), Beréia e Atenas até Corinto, pregando o evangelho em todos os lugares. Dali Paulo tomou um navio até a Síria, com uma passagem rápida em Éfeso, pretendendo estar em Jerusalém para a festa da Páscoa. Depois de saudar a igreja ele veio até Cesaréia, e dali até Antioquia. (Atos 17.1-18.22.)

Aqui terminou a segunda viagem de Paulo, que foi bastante longa e levou o tempo de alguns anos. Ele e seus companheiros encontraram dificuldades no transcurso, mas da mesma forma tiveram encorajamentos. Foram perseguidos em Filipos, como já observamos, e descobriram que geralmente os judeus eram seus inimigos mais inveterados. Estes levantavam tumultos, inflamavam as mentes dos gentios contra eles e seguiam-nos de lugar em lugar, fazendo todo o mal que podiam. Esse foi o caso especialmente em Tessalônica, Beréia e Corinto. Todavia, em meio a todas essas perseguições, Deus estava com eles, e os fortaleceu de várias maneiras. Em Beréia eles foram recebidos calorosamente, e sua doutrina avaliada com justiça com as Escrituras Sagradas; é dito que foi por isso que "creram muitos dentre os judeus" (At 17.12). Em outros lugares, apesar de eles desprezarem o apóstolo, alguns o seguiam. Em Corinto a oposição se levantou muito alto; mas o Senhor apareceu a seu servo numa visão, dizendo: "Não tenha medo, continue falando e não fique calado, pois estou com você, e ninguém vai lhe fazer mal ou feri-lo, porque tenho muita gente nesta cidade" (At 18.9,10). A promessa foi cumprida maravilhosamente por Gálio, o procônsul, que fez ouvidos surdos às acusações dos judeus, e honradamente se opôs a interferir em questões alheias à sua província. No fim das contas um bom número de igrejas foi plantado durante essa viagem, que por muitos séculos brilharam como luzes no mundo.

Depois de Paulo ter visitado Antioquia e gasto algum tempo ali, ele preparou uma terceira viagem para países pagãos, o relato da qual começa em Atos 18.23 e termina em Atos 21.17. No primeiro trecho ele passou por toda a região da Galácia e da Frígia, fortalecendo os discípulos; costeando pelo norte, ele chegou até Éfeso. Ali, pelo espaço de três anos, ele pregou ousadamente na sinagoga judaica, discutindo e tentando convencê-los das coisas concernentes ao reino de Deus. Porém, quando os judeus endurecidos tinham rejeitado abertamente o evangelho, e falavam mal desse caminho diante da multidão, Paulo separou os discípulos deles abertamente, reunindo-os na escola de certo Tirano. É dito que "isso continuou por dois anos, de forma que todos os judeus e gregos que viviam na Província da Ásia proconsular ouviram a palavra do Senhor Jesus" (At 19.10). Nessa época alguns mágicos foram desmascarados, e outros foram convertidos, que queimaram seus livros e confessaram seus atos. Assim a palavra do Senhor crescia com poder, e prevaleceu.

Depois que o ourives Demétrio provocou um tumulto Paulo foi para a Macedônia, visitou as igrejas plantadas em sua viagem anterior, e dali passou à Grécia. Tendo pregado aqui e ali por três meses, ele pensou em viajar de navio dali diretamente para a Síria; mas, para evitar os judeus, que o emboscavam perto da costa, ele tomou outro rumo através da Macedônia, e dali para Trôade, passando por Filipos. Na viagem anterior não há menção de ele ter pregado em Trôade, mas parece que sim, e uma igreja estava reunida, com a qual o apóstolo dessa vez "partiu o pão" (At 20.7). Foi aqui que ele pregou toda a noite e ressuscitou Êutico que, vencido pelo sono, caíra e morrera. Dali foram por mar até a Síria, parando no caminho em Mileto, onde Paulo mandou chamar os anciãos de Éfeso, falando-lhes em uma despedida muito solene e afetuosa, relembrada no capítulo vinte dos Atos dos Apóstolos. Dali viajaram até Tiro, onde fizeram uma escala de sete dias, seguindo até Jerusalém.

A quarta e última viagem missionária de Paulo (que não foi bem uma viagem missionária) foi para Roma, aonde chegou na condição de prisioneiro. Isto porque, quando estava em Jerusalém, ele foi rapidamente preso pelos judeus. Lísias, porém, o chefe da guarda, o socorreu e enviou até Cesaréia para ser julgado. Ali ele fez sua defesa perante Félix e Drusila, de uma maneira que o juiz tremeu, em vez do prisioneiro. Ele também fez sua defesa perante Festo, Agripa e Berenice, com evidências de tanta força que Agripa quase foi convencido a tornar-se cristão. Porém, como a maldade dos judeus era insaciável, e Paulo achou que estava em perigo de ser entregue às mãos deles, ele se viu forçado a apelar a César. Esta foi a ocasião do seu envio para Roma, onde chegou depois de uma viagem longa e perigosa, com um naufrágio na ilha de Malta, onde fez milagres e Públio, o governador, foi convertido. (Atos 21.17-28.10.)

Quando chegou a Roma ele falou aos seus patrícios judeus, dos quais alguns creram; todavia, quando outros rejeitaram o evangelho, ele se voltou deles para os gentios, e durante dois anos completos morou em sua própria casa alugada pregando o reino de Deus, e ensinando as coisas concernentes ao Senhor Jesus Cristo, com toda confiança, sem ninguém a impedi-lo. (Atos 28.16-31.)

Até aqui a história dos Atos dos Apóstolos nos informa do sucesso da palavra nos primeiros tempos; e a história nos informa de que na mesma época ela era pregada em muitos outros lugares. Pedro fala de uma igreja em Babilônia (1Pe 5.13), Paulo se propôs viajar à Espanha (Rm 15.24), e em geral se acredita que foi até lá, e também à França e Bretanha. André pregou aos citas, a norte do mar Negro. Diz-se que João pregou na Índia, e sabemos que ele esteve na ilha de Patmos, no arquipélago. Conta-se que Filipe pregou no norte da Ásia, na terra dos citas e na Frígia, Bartomoleu na Índia, deste lado do Ganges, na Frígia e na Armênia; Mateus na Arábia, ou Etiópia asiática, e na Pártia; Tomé na Índia, até na costa de Coromandel, e alguns dizem que até na ilha de Ceilão; Simão o cananeu no Egito, Cirene, Mauritânia, Líbia e em outras regiões da África, e que dali foi até à Bretanha; e diz-se que Judas esteve trabalhando especialmente no sul da Ásia e na Grécia. É evidente que seus empenhos foram bem abrangentes, e bem sucedidos; tanto que Plínio o moço, que viveu pouco depois da morte dos apóstolos, em uma carta ao imperador Trajano observou que o cristianismo tinha-se espalhado não só pelas cidades maiores e menores, mas por regiões inteiras. É verdade que já antes disso, na época de Nero, ele estava tão difundido que foi necessário resistir-lhe com um edito imperial, ordenando aos procônsules e aos outros governadores que o destruíssem.

Justino Mártir, que viveu mais ou menos na metade do segundo século, em seu diálogo com Trifo, observou que não havia nenhuma parte da humanidade onde não se trazia súplicas e ações de graças ao Pai e criador de todas as coisas, através do nome de Jesus Cristo: gregos ou bárbaros ou quaisquer outros, não importa o nome que tenham, samaritanos, ou os queneus da Arábia de Petra, que viviam em tendas entre seu gado. Ireneu, que viveu por volta do ano 170, fala de igrejas fundadas na Germânia, Espanha, França, os países orientais, Líbia, e o meio do mundo. Tertuliano, que viveu e escreveu em Cartago na África, uns vinte anos mais tarde, ao enumerar os países onde o cristianismo tinha penetrado, menciona partos, medos, elamitas, mesopotâmios, armênios, frígios, capadócios, os habitantes de Ponto, Ásia, Pamfília, Egito e as regiões da África para além de Cirene, os romanos, os judeus, primeiro em Jerusalém, muitos dos getúlios, muitas fronteiras dos mouros, ou mauros, na Mauritânia; ainda a Barbária, Marrocos etc, todas as fronteiras da Espanha, muitos povos gauleses, e os lugares na Bretanha que eram inacessíveis aos romanos; os dácios, sarmácios, germanos, citas e os habitantes de muitas nações e províncias escondidas, e de muitas ilhas desconhecidas para ele, que não podia alistar. Os esforços dos obreiros do evangelho neste primeiro período foram abençoados de modo tão marcante por Deus que este último escritor mencionado observou, em uma carta a Scápula, que, se começasse uma perseguição, a própria cidade de Cartago teria de ser dizimada por ela. Sim, eles foram tão abundantes nos três primeiros séculos, que dez anos de perseguição constante e quase universal sob Diocleciano não conseguiram erradicar os cristãos nem prejudicar a causa deles.

Depois disso eles foram muito ajudados por diversos imperadores, em particular Constantino e Teodósio, e um trabalho muito grande do Senhor foi levado a cabo. Porém a facilidade e riqueza que a igreja tinha nesse tempo serviu para trazer uma onda de corrupção, que aos poucos foi trazendo todo o sistema do papismo, com o qual tudo parece ter-se perdido de novo. Satanás estabeleceu seu reino de trevas, engano e autoridade humana sobre a consciência em todo o mundo cristão.

No tempo de Constantino certo Frumêncio foi enviado para pregar aos indianos, e obteve grande sucesso. Uma jovem mulher cristã foi capturada pelos ibérios ou geórgios perto do mar Cáspio, e os informou das verdades do cristianismo, sendo tão bem aceita que eles pediram que Constantino lhes enviasse mestres para lhes pregar a palavra. Na mesma época algumas nações bárbaras, fazendo algumas incursões na Trácia, levaram vários cativos cristãos, que lhes pregaram o evangelho. Com isso os habitantes ao norte do Reno e do Danúbio, os celtas e alguns outros grupos de gauleses, foram levados a abraçar o cristianismo. Tambem nessa época Tiago de Nisbia foi até a Pérsia para fortalecer os cristãos e pregar aos pagãos; seu sucesso foi tão grande que Adiabene era quase toda cristã. Por volta do ano 372 certo Moisés, um monge, foi pregar aos sarracenos, que naquela época viviam na Arábia, onde foi muito bem sucedido. Também nessa época os godos e outros povos do norte tiveram uma expansão maior do reino de Cristo entre eles, só que logo foram corrompidos pelo arianismo.

Pouco depois disso o reino de Cristo foi extendido mais entre os nômades citas, além do Danúbio, e por volta do ano 430 um povo chamado burgúndios recebeu o evangelho. Quatro anos depois disso Paládio foi enviado para pregar na Escócia, e no ano seguinte Patrício foi enviado da Escócia para pregar aos irlandeses, que antes dessa época eram completamente incivilizados e, dizem alguns, canibais. Todavia, ele foi útil, e lançou os fundamentos de diversas igrejas na Irlanda. Logo depois disso a verdade se espalhou mais entre os sarracenos, e em 522 Zato, o rei dos colchos, o encorajou, e muitos daquele povo foram convertidos ao cristianismo. Por esse tempo também o trabalho foi extendido na Irlanda por Finiano e na Escócia por Constantino e Columba. Esse último também pregou aos pictos, e Brudeu, o rei deles, junto com vários outros, foi convertido. Por volta de 541 Adade, o rei da Etiópia, foi convertido pela pregação de Mansionário; os hérulos além do Danúbio foram levados a obedecer à fé, assim como os abfágios nas montanhas do Cáucaso.

Porém então o papismo, em especial o grupo mais compulsivo, elevou-se a tamanha altura que o método usual de propagação do evangelho, ou o que assim chamavam, passou a ser conquistar pagãos por força das armas, obrigando-os a submeter-se ao cristianismo. Bispados foram organizados e enviadas pessoas para instruir o povo. Quero só mencionar alguns que se diz que trabalharam assim.

Em 596 o monge Agostinho, Melito, Justo, Paulino e Rufiano trabalharam na Inglaterra, e a seu modo foram bem sucedidos. Paulino, que parece ter sido um dos melhores dentre eles, teve um sucesso grande em Northumberland. Birínio pregou aos saxões ocidentais e Félix aos anglos orientais. Em 589 Amâncio Gálio trabalhou em Ghent, Celeno em Artois, e Gálio e Columbano na Suábia. Em 648, Egídio Gálio em Flandres e os dois Evaldos na Vestfália. Em 684, Vilifredo na ilha de Wight. Em 688, Ciliano no norte da Francônia. Em 698, Bonifácio, ou Vinifredo, entre os turíngios, perto de Erford, na Saxônia, e Vilibord na Frísia ocidental. Carlos Magno conquistou a Hungria no ano 800, e obrigou os habitantes a professar o cristianismo, enquanto Modesto pregou aos vênetos, na cabeceira dos rios Save e Drave. Em 833 Anigário pregou na Dinamarca, Gaudiberto na Suécia, e por volta de 861 Metódio e Cirilo na Boêmia.

Mais ou menos no ano 500 os citas arrasaram a Bulgária e o cristianismo foi extirpado, mas por volta de 870 eles foram reconvertidos. A Polônia começou a ser conquistada na mesma época, e mais tarde, aproximadamente em 960 ou 990, o trabalho foi mais extendido entre os poloneses e prussianos. Na Noruega o trabalho foi iniciado em 960 e na Moscóvia em 989. Os suecos propagaram o cristianismo na Finlândia em 1168, a Lituânia se tornou cristã em 1386, Samitoga em 1439. Os espanhóis impuseram o papismo sobre os habitantes da América do Sul, e os portugueses fizeram o mesmo na Ásia. Os jesuítas foram enviados à China em 1552. Xavier, que eles chamam de apóstolo dos indianos, trabalhou nas Índias Orientais e no Japão de 1541 a 1552, e várias missões dos capuchinhos foram enviadas à África no século dezessete. Porém o zelo cego, superstição grosseira e crueldades infames caracterizaram as manifestações da religião em todo esse tempo, tanto que os que professavam o cristianismo careciam de conversão tanto quanto o mundo pagão.

Umas poucas pessoas consagradas tinham fugido da corrupção generalizada e viviam ocultos nos vales de Piemonte e Savóia. Elas eram como a semente da igreja. Alguns deles vez ou outra tinham de viajar para outros lugares, onde fielmente testemunhavam contra a corrupção da época. Por volta de 1369 Wickliffe começou a pregar a fé na Inglaterra, e suas pregações e escritos foram o meio de conversão para grandes multidões, muitos dos quais se tornaram pregadores excelentes; foi começado um trabalho que mais tarde se espalhou na Inglaterra, Hungria, Boêmia, Alemanha, Suíça e muitos outros lugares. João Hus e Jerônimo de Praga pregaram com ousadia e sucesso na Boêmia e regiões vizinhas. No século seguinte Lutero, Calvino, Melancthon, Bucer, Martyr e muitos outros se levantaram contra o resto do mundo. Eles pregaram, oraram e escreveram; e as nações concordaram uma após outra com quebrar o jugo do papismo e abraçar a doutrina do evangelho.

Na Inglaterra a crueldade papista foi seguida pela tirania dos bispos, o que no ano 1620 obrigou muitas pessoas consagradas a deixar sua terra natal e estabelecer-se na América. Estas foram seguidas por outras em 1629, que lançaram os fundamentos de várias igrejas evangélicas, que cresceram de modo impressionante desde então, e o Redentor colocou seu trono naquele país onde há pouco tempo Satanás tinha domínio total.

Em 1632 o Sr. Elliott da Nova Inglaterra, um obreiro muito consagrado e zeloso, começou a pregar para os índios, entre os quais teve muito sucesso. Diversas igrejas de índios foram plantadas, e alguns pregadores e professores foram chamados dentre eles; desde esse tempo outros trabalharam entre eles, com resultados encorajadores. Mais ou menos no ano de 1743 o Sr. David Brainerd foi enviado como missionário a outros índios, onde pregou e orou, e depois de algum tempo foi realizado um trabalho extraordinário de conversão, e um sucesso maravilhoso seguiu seu ministério. No momento presente o Sr. Kirkland e o Sr. Sargeant estão empenhados na mesma boa obra, e Deus abençoou de modo considerável o trabalho deles.

Em 1706 o rei da Dinamarca enviou um Sr. Ziegenbalg e alguns outros para Tranquebar, na costa de Coromandel, nas Índias Orientais. Eles foram úteis aos nativos, de maneira que muitos pagãos foram voltados para o Senhor. A Companhia Holandesa das Índias Orientais igualmente, tendo expandido seu comércio, construiu a cidade de Batávia, e uma igreja foi aberta ali; e a Ceia do Senhor foi ministrada pela primeira vez no dia 3 de janeiro de 1621, por Tiago Hulzibos, o pastor deles. Dali alguns obreiros foram enviados para Amboyna, onde foram bem sucedidos. Um seminário para estudos foi construído em Leiden, onde obreiros e auxiliares foram instruídos sob o renomado Walaeus, e por alguns anos um grande número foi enviado para o Oriente, às custas da Companhia, de forma que, em pouco tempo, muitos milhares abraçaram a religião do nosso Senhor Jesus Cristo, em Formosa, Malabar, Ternate, Jafanapatnam, na cidade de Columba, em Amboyna, Java, Banda, Macassar e Malabar. O trabalho tinha decaído em alguns lugares, mas agora eles têm igrejas em Ceilão, Sumatra, Java, Amboyna e em algumas outras ilhas de especiarias, e no Cabo da boa esperança, na África.

Entretanto, ninguém dos modernos equiparou-se aos irmãos morávios nessa boa obra; eles enviaram missões à Groenlândia, Labrador e a várias ilhas das Índias Ocidentais, que têm sido bem abençoadas. Também enviaram à Abissínia na África, mas o sucesso que tiveram lá não sei dizer.

O falecido Sr. Wesley ultimamente fez um esforço nas Índias Ocidentais, e alguns dos obreiros deles agora estão trabalhando entre os caribes e os negros, e tenho visto relatos agradáveis do sucesso deles.

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